sábado, 2 de maio de 2020

Entenda a estratégia da China com sua moeda soberana digital (Luís Nassif)

Compartilhado do portal Diário do Centro do Mundo (DCM), disponível pelo link <https://www.diariodocentrodomundo.com.br/entenda-a-estrategia-da-china-com-sua-moeda-soberana-digital-por-luis-nassif/>.

Entenda a estratégia da China com sua moeda soberana digital. Por Luis Nassif

 
Bandeira da China. Foto: AFP
PUBLICADO NO GGN
POR LUIS NASSIF
A estratégia geopolítica da China, e o lançamento de uma moeda soberana digital vai ser o fato geopolítico do ano.
Um artigo do China Daily detalha bem a estratégia.

Fato 1 – a desconexão entre mercado financeiro e economia real nos EUA

  1. O petróleo está sendo negociado a preços negativos.
  2. O desemprego nos Estados Unidos é nove vezes maior do que nos momentos seguintes ao crash de 2008.
3 O mau gerenciamento da crise do Covid-19 e um sistema médico que favorece apenas os ricos estão produzindo 2 mil mortes por dia.
Mesmo assim, o mercado de ações norte-americano subiu por 5 semanas, mostrando uma desconexão impressionante entre a realidade econômica e o mercado financeiro. Foi necessário o colapso no preço do petróleo para fazer o mercado americano acordar.

Fato 2 – o colapso do modelo americano.

Os bloqueios são uma hibernação deliberada da atividade econômica que força uma completa reestruturação econômica. Expõem e matam as empresas que dependiam de crédito porque seca o fluxo de caixa. Muitas empresas não ressurgirão dessa hibernação.
Além disso, a concentração de renda, a despreocupação com o emprego provocou um empobrecimento das classes média e pobre dos EUA. Por isso mesmo, é grande o potencial de uma extrema contração do mercado interno.

Fato 3 – a campanha de Trump para desconectar a China.

O início foi a tentativa do Missouri de processar a China, um golpe publicitário porque Estados não podem ser processados. Mas esta abordagem de Trump altera profundamente os fluxos de comércio e investimentos, mas trarão também consequências para países que desejam continuar fazendo negócios com a China.
Aí, tem-se que analisar três fatores relevantes:

1. O dólar como braço forte da política externa norte-americano.

O instrumento de pressão seria a ameaça de excluir empresas do sistema de liquidação do dólar SIWFT. Esses sinais já foram emitidos por Trump. Foi como procedeu com empresas europeias que negociavam com o Irã, em conformidade com as resoluções da ONU. A exclusão se aplicava a todos os negócios e não apenas aos negócios com iranianos.
Sanções semelhantes foram aplicadas à Venezuela e, mais recentemente, o governo da Austrália for forçado a abandonar um acordo com a Huawei para fornecer serviços à sua nova rede ferroviária, em parte devdio à difivuldade de concluir as transferências financeiras.

2. A ação chinesa para combate o uso político do dólar

Está em andamento o desenvolvimento de um sistema de liquidação comercial baseado em RMB. Ponto central será. Desenvolvimento de uma moeda digital soberana da China, seguida pela adoção regional.
O primeiro teste já ocorreu em Shenzhen, Suzhou, Chengdu e Xiong’an. A moeda foi adotada no sistema monetário, para pagamento de partes dos salários dos setores do governo e do Estado a partir deste mês.
A moeda digital soberana é uma alternativa ao sistema de liquidação do dólar e atenua o impacto de sanções ou ameaças de exclusão do sistema SWIFT.
Segundo o jornal, a moeda não apenas facilita a integração nos mercados de moedas negociados globalmente, como afasta o risco de perturbações de inspiração política.
A estabilidade do yuan chinês, durante a crise do COVID-19 aumentou seu apelo para muitos investidores. Consolidados, o digital soberano da China poderia operar lado a lado com o dólar ou, se necessário, de forma mutuamente exclusiva.
3. Fortalecimento do Belt end Road Iniciative (BRI)
Trata-se de uma estratégia de desenvolvimento global implementada em 2013 pelo governo da China, visando estimular investimentos em infraestrutura em quase 70 países e organizações internacionais na Ásia, Europa e África.
A lógica da China repete as tentativas (fracassadas) de Nelson Rockefeller, nos anos 40, de uma New Deal para a América Latina, como forma de estimular a economia de ambos os lados.
Segundo o jornal,
Economias levadas a tirar os pobres da pobreza para desenvolver uma nova classe de consumidores fornecem mercados em crescimento. Muitos já adotaram o BRI e podem ser receptivos a se afastar da dependência do dólar.
A China priorizou a Rota da Seda na ajuda contra o COVID-19. E o BRI continua sendo uma alternativa fundamental para a estrutura econômica pós-COVID-19.
Tudo isso ganha força com a queda do mercado interno dos EUA e a política deliberada de isolamento e desconexão dos EUA em relação à China.
 A substituição e o crescimento de mercados dentro da estrutura do BRI, juntamente com a liberdade da ameaça de armamento do dólar na atividade comercial e na liquidação, criam uma estrutura diferente do engajamento econômico global da China.

Os estadistas

A modelagem do mundo pós-Segunda Guerra se deveu ao papel de estadistas como Franklin Delano Roosevelt (que morreu antes de encerrada a guerra), Winston Churchill, Charles De Gaule. No Brasil, as mudanças da geopolítica mundial foram aproveitadas por Estadistas como Getúlio Vargas, na fase de implantação da indústria de base, e Juscelino Kubitscheck, na fase de reconstrução da Europa.
Agora, enquanto a China é conduzida por Xi Jinping, os Estados Unidos são por Donald Trump e o Brasil por Jair Bolsonaro. Enquanto Trump e Bolsonaro jogam palitinhos, a China mostra por que é a pátria do xadrez.

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