quarta-feira, 29 de novembro de 2017

MARIA DE FÁTIMA DA SILVA FRANCO (IN MEMORIAM)



Maria de Fátima da Silva Franco (in memoriam)
Nesta segunda-feira, de manhã, início dos trabalhos da 16ª edição do Fórum Infantojuvenil do Pantanal, recebemos a notícia do falecimento da querida Maria de Fátima da Silva Franco, funcionária do Objetivo de Corumbá, aos 37 anos, vítima de acidente vascular-cerebral (AVC) ocorrido no dia de seu aniversário. Mais que uma dedicada funcionária, era um anjo da guarda, como disseram o Omar e a Sofia, meus filhos, quando rezavam pela sua recuperação na noite de véspera da fatídica notícia: “É a Tia que sempre cuida da gente no banheiro ou no bebedouro.”
Dona Fátima, como era conhecida na comunidade escolar, era mãe de três filhos: um casal de filhos adultos e o Vítor, de apenas 8 anos, órfão numa idade em que o referencial materno é fundamental para toda a sua vida. Trabalhou na escola por mais de uma década, com uma discrição só comparada à dedicação à sua labor. Reservada, sua simpatia conseguia cativar o(a)s aluno(a)s do período vespertino, em cujo piso era uma presença constante. Afinal, o seu zelo pelo asseio do ambiente escolar foi responsável pela preservação da saúde e da integridade de todos, sobretudo das crianças, as mais vulneráveis no contexto educacional.
A escola, primeira comunidade depois da família para a maioria das pessoas, é um ambiente em que todo(a)s compartilham os mais diferentes momentos, em que os sentimentos e a emoção sempre vêm à tona. Nesta, digamos, comunidade-laboratório (pois é nela que nossas crianças vivenciam as suas primeiras experiências de vida) desde ainda bebês, crianças, pré-adolescentes, adolescentes, jovens, maduro(a)s e idoso(a)s vão de forma salutar evoluindo num ambiente fecundo e fraterno, ideal para o desenvolvimento de nossa plenitude humana, tão maltratada nestes mesquinhos tempos de competição e desumanidade mercadológica.
Desde os anos em que minha querida sobrinha Dúnia Schabib Hany (hoje a concluir a graduação em Ciência Política no Rio) estudava em Corumbá, no Instituto Baruki de Educação e Cultura (IBEC), unidade do sistema Objetivo de ensino no coração do Pantanal, tive oportunidade de conhecer não só educadore(a)s dedicado(a)s, mas colaboradore(a)s com uma singular cordialidade maternal que nos permitem confiar nossas crianças a partir de tenra idade. Na dificuldade de enumerar todo(a)s, que sempre estarão em nossos corações, dedicamos este singelo, mas sincero, reconhecimento à sempre grata e querida memória da agora saudosa Maria de Fátima da Silva Franco, nossa Dona Fátima.
Sua presença, agora espiritual, povoará os bons sentimentos, as boas lembranças e os bons exemplos destes anos fundamentais para a formação do caráter e da cidadania não só de nosso(a)s filho(a)s, de nosso(a)s educadore(a)s e de nosso(a)s contemporâneo(a)s. No dizer de Omar e Sofia, cuja sincera inocência faz o melhor testemunho: “hoje sentimos falta da Tia Fátima, que pensamos encontrar no final do corredor...”
Com todas as dificuldades que nossa Corumbá de todos os povos pode aparentar (até porque nem os grandes centros estão livres dos estigmas da modernidade), essa única oportunidade de chegar mais perto de todas as pessoas que fazem uma comunidade escolar funcionar é o que nos permite poder conhecer e, sobretudo, reconhecer o valor de cada vida, de cada ser humano que dedica o melhor de seus dias para construir, ainda que no anonimato, uma sociedade mais generosa, mais fraterna e mais solidária. Afinal, uma escola que forma cidadãos está impregnada da humanidade que palpita em todos os cantos em que produz conhecimento e que faz de seu rico cotidiano um laboratório único para a vida de todos, inclusive de seus mais humildes funcionários.
Que a Família de Dona Fátima encontre forças para superar este momento doloroso, e saiba que as anônimas testemunhas de sua digna existência também partilham deste sentimento de ausência, mas com muito reconhecimento e gratidão. Por certo, desde onde estiver agora estará a velar pelo seu querido Vítor e as outras crianças para as quais se dedicou generosamente todos estes anos. Até sempre, Dona Fátima!
Ahmad Schabib Hany

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

MARLENE MOURÃO, A QUERIDA PENINHA, LANÇA NOVO LIVRO EM CORUMBÁ



A querida Amiga Marlene Terezinha Mourão, a Peninha de todos os encantos e criações, está lançando seu novo livro -- Um altar para as valorosas sandálias do Frei Mariano de Bagnaia --, nesta quinta-feira, dia 23 de novembro (Dia Municipal da Cultura, em homenagem à eterna Helô Urt), às 19h30min, no SESC Corumbá (rua Treze de Junho, 1703, centro, esquina com a Vinte e Um de Setembro, fone 3232-3130). O preço do livro é de R$15,00 (quinze reais), em razão de ter sido contemplado com recursos do FIC Pantanal (Fundo de Investimentos Culturais do Pantanal).

A obra da artista plástica, poeta e cartunista busca resgatar a memória do frade franciscano que durante a ocupação paraguaia de Corumbá assistiu crianças e famílias cujos pais haviam partido para os combates da Guerra da Tríplice Aliança. No pós-guerra, quando ele conseguiu concluir a construção da Igreja Matriz, acabou sendo vítima de uma campanha difamatória que causou sua transferência para o interior de São Paulo, onde veio a falecer depois de longa e penosa agonia decorrente de um corte na garganta. Os descendentes de seus desafetos, na década de 1950, quando Corumbá amargava o início do declínio econômico, se encarregaram de promover um segundo linchamento moral, ao difundir uma bizarra lenda de que "as sandálias do Frei Mariano teriam amaldiçoado Corumbá".

Muito discreta, a Peninha não é muito chegada a divulgação (sobretudo quando se trata de suas obras), mas graças ao igualmente querido Jornalista Luiz Taques, que nos enviou desde Londrina a notícia e a ilustração do convite, aproveito de compartilhar com Vocês. Quem estiver em Corumbá na quinta-feira, aproveite de participar do Café Literário, coordenado pela querida e incansável Marcelle de Saboya Ravanelli, competente gestora e promotora cultural do SESC Corumbá, e levar para casa o novo livro da Peninha.

Ahmad Schabib Hany

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

RÉQUIEM PARA RUITER CUNHA DE OLIVEIRA



Esta véspera de Dia de Finados entra para a história de Corumbá como a data em que Ruiter Cunha de Oliveira, um dos poucos prefeitos a conquistar três mandatos pelo voto popular –- direta, secreta e democraticamente -–, teve interrompida a sua existência humana. Data em que Corumbá se enluta e que doravante terá para celebrar a memória de um de seus filhos mais queridos.

Ruiter não foi apenas o primeiro prefeito petista na história bicentenária do município mais antigo de Mato Grosso do Sul. Foi, sobretudo, o primeiro prefeito de origem popular, um “filho do povo”, no dizer embolorado dos cultuadores de pedigree: ele era filho do saudoso Oswaldo de Oliveira, o popular “Rolinha” da pequena mas concorrida Drogaria Dom Bosco –- instalada, na Frei Mariano, estrategicamente defronte à Farmácia Santa Maria, dos Irmãos Bertazzo, quase ao lado da Farmácia Santo Antônio, do saudoso Heldo Delvizio.

Ruiter não foi apenas eleito e reeleito pelo voto popular por conta da identificação com que o povo o acolhera: ele não só trazia estampada no semblante a identidade da miscigenação pantaneira, mas, sem qualquer dúvida, era a expressão da veia afrodescendente no empoderamento tão caro e custoso na história da construção da democracia étnica brasileira.

Nosso primeiro contato com Ruiter foi durante o profícuo processo de fundação do Centro Padre Ernesto de Promoção Humana e Ambiental (CENPER), entre 2000 e 2001. Na residência do senhor Jorge José Katurchi e da agora saudosa Dona Anna Thereza, que carinhosamente acolheram a ideia, os também saudosos Padre Ernesto Sassida e o Doutor Salomão Baruki, ao lado de outros poucos Amigos, foram construindo as bases daquilo que viria a ser o CENPER. Não por acaso a proposta do Senhor Jorge, e logo apoiada pelo Doutor Salomão, de que o primeiro presidente da entidade fosse Ruiter, que reunia os atributos para encabeçar a gênese da entidade. Padre Ernesto, de pronto, assumiu com simpatia a proposta, e com a aquiescência de Ruiter, acabou por acontecer.

Nessa oportunidade, Ruiter deu provas de sua sensibilidade social, e logo explicitou o gosto pelas políticas inclusivas emanadas de dois governos de forte perfil popular: o do governador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca, e o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Independente de qualquer simpatia ideológica, os dois primeiros mandatos de Ruiter tiveram a marca da inclusão social plena, daí por que a ineludível simpatia de que gozava junto às camadas populares em toda a região do Pantanal. Obviamente, a saudosa Helô Urt foi determinante nesse direcionamento, que exigiu sempre do gestor municipal uma convicção inarredável.

Podemos dizer que fomos testemunha do compromisso de Ruiter, já fora da administração municipal, quando, por acaso, ao lado do igualmente saudoso Professor Deusmar Espíndola, manifestou sua preocupação com alguns procedimentos administrativos de seu então aliado e sucessor, entre os quais o lamentável episódio com os bolivianos. Quando de sua candidatura para deputado estadual, ainda em seu primeiro partido, tentou ser um vaso comunicante entre as expressivas camadas populares e as instituições, já em clima de fragmentação, sob a influência dos movimentos conservadores que hoje permanecem inertes diante das comprovadas falcatruas cometidas pelos que tomaram de assalto os destinos da nação.

Nosso derradeiro encontro foi numa casual fila de banco, bem antes da deflagração da campanha eleitoral de 2016. Na oportunidade trocamos algumas ideias sobre a conjuntura nacional, e ele, sempre discreto, se manteve atento aos comentários indignados que na ocasião emitíamos. Na verdade, até então, eu não acreditara nas notícias de que sairia da agremiação que mais identidade tinha com seu proceder enquanto cidadão e dirigente político. Desde os tempos da criação do CENPER, Ruiter fazia questão de ouvir a todos com muita atenção, o que o tornou popular e simpático para os amplos setores sociais na região.

Os primeiros meses de seu terceiro mandato foram marcados por muitas dificuldades políticas, financeiras e, sobretudo, institucionais. Não temos dúvida de que a opção pela legenda com a qual se elegeu muito contribuiu para isso: partido de perfil conservador e com profundos compromissos com um governador com precários vínculos populares, as dificuldades acabaram por se ampliar. As suas entrevistas derradeiras conformam esse contexto de cortes e cancelamentos de compromissos, sobretudo do emblemático Festival América do Sul, diferentemente dos generosos tempos anteriores.

Mas, a despeito de eventuais equívocos que o tempo haverá de explicar, Ruiter passa para a história como um dos mais queridos gestores de seu tempo e da história de Corumbá. Pena que muitos de seus correligionários, atuais e anteriores, não tivessem clareza ou generosidade para admitir tal fato e, aceitando-o como realidade, transformar aquilo que hoje é adversidade em fator de superação, sobretudo das condições sociais da imensa maioria da população corumbaense.

Que este modesto réquiem para Ruiter permita uma reflexão sincera, ainda que solitária e tardia, àqueles que tiveram muito mais tempo e oportunidades de convivência com um “filho do povo” cuja razão de ser, sem dúvida, foi sua cidade, independentemente das opções por ele feitas.

Até sempre, Ruiter! Que sua Família encontre forças e fé para superar este momento doloroso, compartilhado por pessoas anônimas que sempre se identificaram com seu semblante popular.

Ahmad Schabib Hany