sábado, 17 de novembro de 2018

UM GOVERNO DE OUTRO MUNDO


UM GOVERNO DE OUTRO MUNDO
Quando você acha que já viu tudo, vêm mais novidades...

Com todo respeito, mas nem nosso imortal Dias Gomes -- o genial criador de Odorico Paraguaçu, de O Bem-Amado, que entre 1974 e 1980 abalou homeopaticamente as estruturas do regime de 1964 -- teria sido capaz de imaginar algo tão bizarro quanto estes (sic) “lampejos de lucidez” da mais nova cópula, perdão, cúpula política brasileira...

Não é que o, digamos, chanceler da exodiplomacia Ernesto Araújo fez uma palestra em que defendeu (toc, toc, toc!) o estabelecimento de relações diplomáticas com seres de outros planetas?! Tal como seu chefe, o futuro ministro das Relações Exteriores também negou tudo, dizendo tratar-se de “brincadeira”...

Saudades dos sisudos chanceleres da ditadura Mário Gibson Barbosa, Antônio Azeredo da Silveira e Ramiro Saraiva Guerrero, que conduziram a diplomacia brasileira com altivez e sobriedade. Apesar das imposições do regime, quando era o caso, discreta e polidamente se limitavam a dizer, com a voz grave e solene dos diplomatas de carreira: “Houve um mal-entendido...”

Brincadeira, não, nunca, jamais: isso é coisa de “emebelistas, lavajatistas, vemprarruístas e revanchistas”, para prestar uma homenagem ao atualíssimo Odorico Paraguaçu, encarnado pelo imortal Paulo Gracindo, de saudosa memória.

Mas, parodiando um secular ditado espanhol, “o que a natureza não dá, Instituto Rio Branco não empresta...” (Para os hispanofalantes, “lo que natura no da, Salamanca no presta”.)

Então os arremedos de viúva Porcina – “aquela que foi sem nunca ter sido” –, também da genial criação do camarada Dias Gomes, dirão peremptoriamente que é “ranço do PT”. Não é: foi o circunspecto “Estadão”, baluarte e porta-voz oficial da tradição, família e propriedade, que deu o furo (no sentido jornalístico, bem entendido).

Aliás, se o saudoso autor de Roque Santeiro estivesse entre nós, não há dúvida de que finalmente o Nobel de Literatura viria a contemplar a célebre genialidade brasileira, numa perspicaz amálgama de Gabriel García Márquez e Eduardo Galeano, ambos também ausentes para testemunhar até que nível a desfaçatez de nossas elites néscias consegue chegar.

Pior, quando acreditamos termos chegado ao fundo do poço é quando nos damos conta de que ainda temos muito mais por submergir. Uma verdadeira tortura. Primeiro, o ex-quase desertor que vira capitão (e agora presidente eleito) usa o que mais lhe causa repulsa -- os Direitos Humanos! -- para “defender” os agora “pobres cubanos, vítimas de trabalho escravo” (mas trabalhadores rurais em situação de trabalho escravo, aí é “coisa de comunista”), que já podem pedir penico, digo, asilo a ele (como que já tivesse tomado posse), mas não sem antes arrogantemente pôr em dúvida a sua formação de médicos.

O deliberadamente ignorante da origem do Programa (ou depois Estratégia) de Saúde da Família, como no Brasil foi denominado, finge não saber que seu ex-aliado José Serra, quando ministro da Saúde de FHC, trouxe esse know how de Cuba depois de conhecer as experiências pioneiras de Santos e Fortaleza. Além disso, a medicina cubana é mundialmente reconhecida, inclusive por seus ídolos da Comunidade Europeia. Para seu raciocínio primário, tal qual Calabar, “o que é bom para a Holanda, é bom para o Brasil”...

E depois mais uma (novamente sic) “fraquejada” para falar em Direitos Humanos. Desta vez dos “pobres” que têm que se submeter a tratamento (desumano?) prescrito por aqueles médicos (impostores?), membros de uma missão sanitária coordenada pela Organização Panamericana de Saúde (OPAS), da qual o Brasil é país-membro. Pois é, capetão, por que não se lembrou disso quando era deputado de oposição? Ao lado de seu ídolo Caiado, poderia ter-lhe rendido uma belíssima CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito), até para tirar seus obscuros mandatos parlamentares do ostracismo.

Mas não para aí. Como numa obra de Hitchcock, mal entregou seu pedido de exoneração o carcereiro-mor da Republiqueta de Curitiba (a contar de 19 de novembro, “a posteriori”, como que ele tivesse que ter tratamento diferenciado dos demais servidores públicos), o futuro “super-hiper” da Justiça e Segurança Pública já começa a convocar seus colegas da Lava Jato para postos-chave de seu futuro ministério. Não poderia faltar a tristemente célebre delegada cuja operação levou ao suicídio o reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, e, não se dando por satisfeita, indiciou todos os responsáveis por um ato de desagravo à memória do Reitor Cancelier (o que a levou para um distante estado do Nordeste).

Esse é o preço com que pagaremos por não termos agido à altura quando os tais “emebelistas, lavajatistas, vemprarruístas e revanchistas” iniciavam, em 2013, sua (sic) “jornada cívica” para a sucessão de atropelos à Constituição Federal de 1988 e as ações ilegais orquestradas por membros do Executivo, Legislativo e Judiciário. Não nos esqueçamos das palavras do maestro do golpe, “com Supremo, com tudo”...

Peço licença à saudosa memória do igualmente magistral José Wilker para trazer à lembrança seu... Bye, bye, Brasil! E acrescento: Wellcome, Brazil!

Schabib Hany

sexta-feira, 2 de novembro de 2018

Sem apoio de prefeitos e de candidato a governador do segundo turno, Haddad é bem votado em Corumbá e Ladário

Sem apoio de prefeitos e de candidato a governador do segundo turno, Haddad é bem votado no Coração do Pantanal e da América do Sul (Corumbá e Ladário, MS)

O Jornalista Luiz Taques, um brilhante corumbaense que trabalha no Paraná há décadas, participou esta semana, por telefone, do programa do incansável radialista e Amigo Joel de Souza, na FM Pantanal, e revelou alguns dados das eleições de 2018 que nos enchem de orgulho.

A população de Corumbá e Ladário, sem apoio dos prefeitos municipais e de qualquer candidato a governador no segundo turno, deu seu voto espontâneo, de reconhecimento aos programas sociais implantados por Lula e Dilma, ao Professor Fernando Haddad (do PT), cujo percentual foi, respectivamente, de 42,47% em Corumbá e de 42,39% em Ladário – bem próximos, aliás, do percentual nacional. O Coração do Pantanal deu provas de que não se curva à pressão psicótica exercida por mensagens apócrifas de ódio, medo e intolerância, e com toda a altivez peculiar exerceu seu direito pelo voto sem covardia nem subserviência.

Corumbá tem 69.208 eleitores.
Somente 50.332 compareceram às urnas no segundo turno (72,73%).
O candidato do PSL teve 27.107 (57,53%)
Fernando Haddad/PT: 20.013 (42,47%)
Votos em Brancos: 856 (1,70%)
Nulos: 2.356 (4,68%)
Deixaram de votar: 18.876
*
Ladário tem 13.347 eleitores.
Somente 9.431 compareceram às urnas (70,66%)
O candidato do PSL teve 5.073 (57,61%)
Fernando Haddad/PT: 3.732 (42,39%)
Brancos: 141
Nulos: 485

É necessário reiterar que nenhum dos dois candidatos a governador do segundo turno apoiou Haddad em Mato Grosso do Sul, como também dos dois prefeitos municipais. Aliás, nas inserções televisivas ficou a bizarra disputa dos dois candidatos a governador do estado pelo candidato do PSL, agora presidente eleito, expondo a decadência das lideranças políticas deste estado criado em plena ditadura para dar mais três senadores para a antiga Arena (Aliança Renovadora Nacional), o partido de sustentação do regime por quinze anos, depois mudado para PDS (Partido Democrático Social).

Entre 1982 e 2006, apesar do conservadorismo das elites econômicas e políticas, havia um mínimo de racionalidade democrática, em que a aceitação da diversidade, da diferença e do antagonismo fazia de Mato Grosso do Sul um estado de vanguarda. Depois que André Puccinelli foi empossado governador do estado e se tomou para si a liderança do partido que lutou contra a ditadura durante o regime de 1964, setores democráticos liberais e de perfil social-democrático foram ofuscados ou simplesmente anulados. Não por acaso, um dos mais influentes ministros do presidente golpista Michel Temer é do que restou do núcleo duro de Puccinelli, hoje preso com seu filho em Campo Grande.

No entanto, o ranço reacionário que capitaneou a política do sul de Mato Grosso desde os tempos da República Velha -- e que entre 1982 e 2006 esteve ligeiramente menos intenso --, em certos momentos do primeiro governo eleito pelo voto direto, do grande democrata Wilson Barbosa Martins (ex-governador, ex-senador, ex-deputado federal e ex-prefeito), se manifestou, como na morte nunca elucidada do líder Guarani Marçal Tupã-i de Souza, em 1983, e do primeiro governo popular, do líder de esquerda José Orcírio Miranda dos Santos (primeiro também a ser reeleito), como na morte da prefeita Dorcelina Follador, de Mundo Novo, em 1999.

Obviamente, no tocante à votação em Corumbá e Ladário do Professor Haddad, há de se reconhecer e destacar o incansável trabalho anônimo de membros de coletivos e movimentos sociais (sobretudo de mulheres, da juventude, universitários, professores e demais trabalhadores da educação, ativistas de Direitos Humanos, LGBT, religiosos, anarquistas) e dos militantes e simpatizantes do PT, PSOL, PCdoB, PCB, PSTU, PROS, PCO, PSB e PDT, além da leal e árdua presença do candidato a governador Humberto Amaducci, do PT, e do candidato a senador Anísio Guató, do PSOL, em diversas oportunidades no Coração do Pantanal, e dos ex-candidatos a deputados federais Rosinha e Machado, e ex-candidatos a deputados estaduais Corumbá e Jairto, fazendo o corpo a corpo com alguns dirigentes municipais, estaduais e nacionais desses partidos.

Por outro lado, devemos registrar, com sincera perplexidade, a bizarra e injustificável conduta (sic) “pessoal” do ex-governador e ex-candidato a senador Zeca do PT, de apoiar o atual governador -- e seu apoio foi determinante para a sua reeleição --, em vez de peregrinar pelo estado para pedir o voto para o Professor Haddad. Não esqueçamos que em 1998, no emblemático comício da virada de Zeca, foi o presidente Lula e outros dirigentes nacionais que impulsionaram sua candidatura, então vitoriosa, tendo sido o primeiro governador eleito e reeleito (1998 e 2002).