sexta-feira, 24 de maio de 2019

AS BOTAS DE VERNIZ DO DR. EUCLIDES (José Gonçalves do Nascimento)


AS BOTAS DE VERNIZ DO DR. EUCLIDES

José Gonçalves do Nascimento

Era perto do meio dia quando Dr. Euclides, de botas de verniz, calça branca, camisa de seda e chapéu de fina palha, retornou do monte sagrado, onde passara toda a manhã acompanhado de colegas da imprensa e do exército. Estava suado, cansado, mas radiante. Afinal, havia realizado um grande feito. Durante horas, percorrera por inteiro aquele “milagre de engenharia rude e audaciosa” (como ele mesmo diria depois), quer visitando as capelas, com seus afrescos e ex-votos, quer tomando notas da paisagem, das rochas, dos bichos, das folhas, das flores. Para tal, contara com o auxílio de uma máquina fotográfica, um aneroide e uma bússola, além da velha e clássica caderneta de campo, em que ia registrando tudo que via pela frente.

A vila, outrora pacata, agora fervilhava de gente. Milhares de pessoas, de todos os cantos do país, se comprimiam por entre ruas e vielas, num burburinho como nunca se vira. Eram soldados rasos, oficiais graduados, praças doentes – uns em estado terminal, outros convalescentes – engenheiros militares, médicos, cirurgiões, estudantes de medicina, padres, filantropos, vendedores de bugigangas, agiotas, retratistas ambulantes, jornalistas, mulheres da vida, poetas populares, benzedores, adivinhos, fazedores de mandinga, gente de tudo que era tipo. Na extensão da praça, a única ali existente, dezenas de barracas e canhões dividiam espaço ao lado de muares, carroças, e demais apetrechos. É que a vila fora escolhida como base das operações contra Canudos, passando assim a atrair a atenção do Brasil e do mundo. Até o ministro da guerra ali se instalara a fim de acompanhar de perto o desenrolar da ação bélica contra os insubordinados de Antônio Conselheiro.

De volta à vila, Dr. Euclides foi direito ao chalé do líder local, coronel João Cordeiro, onde um farto banquete era oferecido à alta oficialidade. Estavam presentes, além dos anfitriões, o ministro da guerra, marechal Bittencourt, o coronel João Coiqui, barão do Acaru, o coronel Caldas, fornecedor das tropas em operação, o coronel Ludgero Costa, dono da Laginha, o Dr. Armando Calasans, chefe de polícia, o fazendeiro Joaquim da Motta Botelho, mesário da Irmandade do Senhor dos Passos, o jornalista Alfredo Silva, correspondente d’A Notícia, do Rio, o poeta José de Jesus, representando a imprensa local, a professora Eduvirgens Santana, em nome do Comitê Cívico Tiradentes, o major Antônio Brito, representando o Conselho Municipal, a maestrina Eurides Silva, pela filarmônica Santa Cruz, o Dr. Salustiano Gonçalves, 3º juiz substituo da comarca, e, claro, o Dr. Euclides, adido do exército, e enviado especial do jornal dos Mesquitas. 

Após reunião fechada com o ministro, João Cordeiro aproximou-se da sala de estar, deu boas-vindas aos presentes, e pediu que tomassem assento à mesa. Estavam já a postos, quando o caudilho, de pé, à cabeceira do grande móvel de tábuas largas e torneadas, sacou da algibeira do paletó um pedaço de papel, contendo alguns apontamentos e, de improviso, ainda que solene, começou a falar: 

— Meus senhores, — consertou a garganta — Antônio Conselheiro é o principal responsável pelos males que se têm abatido sobre essa infeliz paragem; a primeira vez que aqui pôs os pés já se fazia acompanhar de uma legião de matutos provenientes de todos os quadrantes do Nordeste; a maioria eram índios de antigas aldeias, negros 13 de maio, e trabalhadores do eito, que, largando seus lugares de origem, lançaram-se sertão afora, a procura de uma terra, onde diziam haver rios de leite e barrancos de cuscuz; o povo miúdo, antes tão ordeiro e pacífico, migrou quase todo para os Canudos, onde vive homiziado, sem qualquer vínculo com o estado republicano, e sob a liderança absoluta do beato Conselheiro; com isso, a escassez de mão de obra iniciada com a Lei de 88 acentuou-se mais e mais, deixando nossas fazendas relegadas às piores condições. 

Inclinou a cabeça, correu o olho no papel, e continuou:

— De maneira, que a nossa situação é assaz delicada e poderemos ruir por completo, caso esse estado de coisas não seja tratado com a devida urgência; contudo, estamos certos de que a ação nobilitadora dos heróis da república não nos deixará à mercê da horda de fanáticos que ora infesta a terra baiana e põe em risco os alicerces sacrossantos da propriedade, base e sustentáculo da nação brasileira; tenho dito!

Brados de “viva a república” fizeram-se ouvir entre os convivas, reverberando-se por todo o recinto. 

Era sete de setembro e João Cordeiro fez questão de lembrar a data. Ainda de pé, levantou um brinde à memória dos heróis da pátria, e outro às ilustres presenças do ministro da guerra, do Dr. Euclides, e do barão do Acaru. Depois, seguiram-se mais três brindes, um do ministro aos anfitriões, outro do Dr. Euclides ao exército, e o último do barão do Acaru ao novo regime.

Serviu-se o almoço. No cardápio, leitão assado, cozido de carne de bode com legumes, galinha caipira, feijão de corda verde no leite de licuri, ovos estrelados na banha de porco, salada, cuscuz, e farinha de mandioca. Na sobremesa, doce de abóbora, coalhada e mel de abelha.

Depois do café e do charuto, os convidados deixaram o chalé do coronel, uns indo pras suas residências, outros retomando os seus negócios. Dr. Euclides fez as últimas anotações, passou um telegrama pro Mesquita, e arrumou a bagagem, preparando-se pra a viagem. 

A tarde caía. Dr. Euclides, após despedir-se de um colega de ofício, deixou a hospedaria com destino a Canudos. Antes, porém, passou na sede do quartel-general, a fim de conferenciar com o ministro. O sobrado, alto, imponente, contendo no frontispício o brasão de armas da república, era a sede da intendência municipal. Fora, durante o império, (e continuava sendo na república), a Casa de Câmara e Cadeia, onde se concentravam as funções executivas, legislativas e policiais. Naqueles dias, hospedava o alto comando do exército, em perseguição aos camponeses reunidos em Canudos. 

Dr. Euclides se aproximou do ministro, que rabiscava uma espécie de livro-caixa, tirou o chapéu, e, cerimonioso, apresentou-se: 

— Com sua permissão, excelência! 

— Pois não. — reagiu secamente — o que traz de novo o nobre correspondente da Província de... quer dizer, do Estado de S. Paulo?

— Nenhuma só noticia de Canudos, excelência.

— Pois é. É aí que mora o x do problema — disse o ministro, diabólico, maquiavélico.

— Não entendi, excelência.

— Noticias há, e até demais, meu senhor. Ocorre que elas não nos interessam. Neste momento o que menos importa é a verdade, o Mesquita sabe disso.

Dr. Euclides nada disse. O ministro continuou:

— Fato é que o Brasil periclita diante da horda de fanáticos que ora se agitam contra as instituições da república. 

— São nossos compatriotas, excelência.

— Não! — protestou, elevando a voz — Não são patriotas, são fanáticos, bandidos, inimigos da república, do governo.

— Mas excelência...!

— Mas havemos de esmagá-los, custe o que custar — vociferou, interrompendo o outro — Para isso, temos um plano que, aliás, é urgentíssimo, haja vista não termos tempo a perder. As águas de novembro estão prestes a cair, e quando isso acontecer essas vias ficarão de todo intransitáveis, dificultando a marcha da expedição.

— O que pretende fazer, excelência?

O ministro acendeu um charuto, no que foi acompanhado por Dr. Euclides, ajeitou-se na cadeira e, entre uma baforada e outra, expôs o seu plano. Disse que diante das inúmeras e sucessivas derrotas, com milhares de mortos e feridos – não obstante o emprego de todos os meios de que dispunha o governo – e na ausência de alternativas mais plausíveis, só havia uma forma de atacar a crise e evitar danos mais significativos, e esta forma seria dotar aquela fração do exército do maior número possível de muares, a quem seria confiada a tarefa que até então pertencera aos heróis e aos canhões, mesmo que de forma um tanto desastrosa.

— Burros, meu senhor! Muitos burros! Os burros salvarão a república — disse o ministro, ao despedir-se do Dr. Euclides.

O sol começava a esconder-se por trás do monte sagrado, quando Dr. Euclides, montado num velho burrico, e em meio a uma nuvem de poeira, deixou a vila de Monte Santo, seguindo um comboio que ia para Canudos. 

FIM

PARA UMA JOVEM CINEASTA (Luiz Taques)

Filme rodado em Campo Grande ganha crítica do escritor Luiz Taques

Do portal de cultura ENSAIO GERAL (Campo Grande, MS), disponível em: <http://ensaiogeral.com.br/noticias/criticas/filme_rodado_em_campo_grande_ganha_critica_do_escritor_luiz_taques>.


Edilson Silva e Maria Eny: atores que interpretam os irmãos Wagner e Luana.

PARA UMA JOVEM CINEASTA
Por Luiz Taques
O título do filme, “De tanto olhar o céu gastei meus olhos”, de Nathália Tereza, é poético.
E o roteiro não deixa de ser um soco artístico brasileiro, seco e direto, na fuça daquele espectador dissimulado, ao abordar com maestria um tema espinhoso: a separação dos pais.
Sim, sim, sim: casais se separam todos os dias.
Então, para escapar dessa aparente banalidade cotidiana, ela resolveu se aprofundar um pouco mais no assunto e falar do sumiço duradouro do pai.
Do seu abandono.
Ao entrar nessa delicada situação, que, na vida real, atinge milhões de crianças e adolescentes país e mundo afora, a jovem cineasta recorreu à ficção. Jogou-se nela de corpo e alma. Jogou-se, como se estivesse pulando para nadar, para nadar contra a correnteza, bem lá no talvegue do caudaloso rio Paraguai, em pleno Pantanal de Corumbá. Para realizar tal proeza, não era apenas necessário saber nadar. Era preciso não perder a noção de como estava nadando e qual rumo tomaria, para não correr o risco de se atrapalhar, perder a linha imaginária do rio, bater braços e pernas em vão, afogar-se e aí afundar.
Em “De tanto olhar o céu gastei meus olhos”, o pai afasta-se da esposa e dos filhos Luana e Wagner. Os motivos não são revelados. Subentende-se que o pai já estava em outra, constituíra nova família. O filme o mostra morando numa casa confortável – os filhos e a ex, em apartamento de residencial modesto.
A filha Luana já é mãe. É mãe solteira. O seu menino dormindo no colchão, no colchão estendido no chão do quarto. No mesmo quarto em que Luana e Wagner dormem. Os dois dormem em beliche – Wagner, na parte de cima. Wagner trabalha como mototaxista.
Certo dia, Luana recebe carta do pai, buscando reaproximação.
Wagner fica tentado a se encontrar com o pai; Luana, não pensa nessa possibilidade.
Os diálogos do filme giram mais em torno de Wagner e de Luana.
É Luana quem fala “é claro que não; você está doido a mãe ver uma coisa dessa”, quando diz ao irmão que não iria mostrar à mãe a carta que recebeu do pai.
Ao personagem Wagner, coube assegurar que o pai jamais pagou pensão alimentícia.
Não se vê, no filme, reclamação da mãe quanto a isso – tampouco, a versão do ex-marido. Luana é inflexível: não acredita nas boas intenções do pai.
Nathália Tereza abordou um lado da história.
Do seu script, porém, não saiu algo rasteiro, vingativo.
Pelo contrário: mostrou, em “De tanto olhar o céu gastei meus olhos”, o drama da separação, pela ótica da família que se sentira mais prejudicada. Família a qual, ao término do filme, a gente se junta e da qual se torna cúmplice, para acarinhar Luana e Wagner. Principalmente, compreender a carência afetiva paterna de Wagner que, a certa altura do filme, diz: – Não tenho lembrança nenhuma dele.
“De tanto olhar o céu gastei meus olhos” foi rodado em 2017.
No entanto, quase que por acaso, ontem é que tomei conhecimento do filme, ao acessar o site Porta Curtas.
Foi uma pena que, somente agora, eu tenha descoberto esse interessante filme. Mas, como arte de boa qualidade de modo algum perde a validade, a obra de Nathália Tereza continua mais atual do que nunca.
O abraço do pai ausente na cintura do filho que o diga.
Ainda que esse abraço tenha ocorrido na garupa de uma moto.
O olhar do filho nas mãos entrelaçadas do pai reconforta.
Isso é cinema.
Emociona.
Luiz Taques é escritor. Autor, entre outros livros, da novela “MULAS” (editora Kan/ 2019). Nasceu em Corumbá, mas mora em Londrina, PR.
SERVIÇO
Diretora: Nathália Tereza.
Elenco: Edilson Silva, Maria Eny.
Duração: 25 min.
Local de Produção: Campo Grande, MS.
Cor: Colorido.
Produção: Dora Amorim, Nathália Tereza, Thaís Vidal.
Fotografia: Eduardo Azevedo.
Roteiro: Nathália Tereza.
Edição: Nathália Tereza.
Som Direto: Lucas Maffini.
Direção de Arte: Maíra Espíndola.
Edição de som: Tiago Belo.
Direção de produção: Ana Paula Málaga.
Produção Executiva: Dora Amorim e Thaís Vida.
O filme pode ser assistido pelo endereço eletrônico: http://portacurtas.org.br/filme/?name=de_tanto_olhar_o_ceu_gastei_meus_olhos

Filme rodado em Campo Grande ganha crítica do escritor Luiz Taques

Filme rodado em Campo Grande ganha crítica do escritor Luiz Taques: pLuiz Taques é escritor. Autor, entre outros livros, da novela “MULAS” (editora Kan/ 2019)/p

Militares venderam a terra, o mar e o ar!

domingo, 19 de maio de 2019

"DORES SÃO AMORES QUE CHORAM" (EDSON MORAES)

Bela e profunda homenagem do Amigo Jornalista Edson Moraes ao agora saudoso Jornalista Farid Yunes, voz da resistência democrática que não se calará jamais.

(Recorte da edição de 19 a 26 de maio de 2019 do Semanário Correio de Corumbá, disponível pelo link https://www.correiodecorumba.com.br/)

IMBECILIDADE POUCA É BOBAGEM...


IMBECILIDADE POUCA É BOBAGEM...

O mandato presidencial 2019-2022 entrará para a história, sobretudo, pelo explícito desprezo da sensatez, do equilíbrio e, sobretudo, do convívio democrático. Como é possível teimar em reincidir na imbecilidade, na bizarrice e no contubérnio explícito de uma família de idiotas deslumbrados quando um país-continente como o Brasil vai perdendo credibilidade junto ao concerto das nações e despencando nos índices duramente atingidos no contexto de um mercado volátil cuja voragem é de fazer inveja aos abutres mais impiedosos?

O atual inquilino do Palácio da Alvorada e a maioria de seus sinistros -- encabeçados por Sérgio “Conje” Moro, Abraham “Kafta” Wintraub, Damares “Frozzen” Alves, Ernesto “Ocde” Araújo e Paulo “Pinochet” Guedes -- são pródigos na curiosa “arte” do absurdo (por favor, não confundir com o teatro do absurdo, dignamente criado e desenvolvido, em plena resistência contra o regime de 1964, pelo eterno e terno dramaturgo brasileiro Augusto Boal, de saudosa memória), e passam a maior parte de seu tempo em controvérsias desnecessárias, para saciar a sede do titular que os nomeou como que quisesse replicar o fantoche encarnado em sua própria essência mal resolvida.

Que o capitão que foi sem nunca ter sido jamais serviu de referência de sensatez e equilíbrio fosse na caserna ou no Parlamento, isso sempre foi uma unanimidade entre os analistas políticos. Convenhamos, entretanto, que, tendo tido a sorte de ganhar uma eleição disputadíssima sem nenhum esforço pessoal -- afinal, não participou de debates que pudessem ter avaliado sua capacidade de enfrentar desafios e de mostrar ao eleitor seu equilíbrio, ou melhor, a falta de equilíbrio --, poderia se dar ao luxo de dar o melhor de si, até para provar que até ele pode evoluir e ser digno de credibilidade, opinião que os próprios filhos demonstram reiteradas vezes não comungar.

Cá pra nós, momento de vacilo, de idiotice, quem não teve na vida? Creio que até o genial Albert Eintein deva ter tido. Ser humano que se preste, que tente acertar, comete erros e mais erros, mas sempre no afã de acertar. Lamentavelmente, pelo que se depreende das atitudes dos últimos 140 dias de governo -- digo, de desgoverno --, não é o caso da dinarquia (a pretensa dinastia que insiste em querer governar, formada pelo núcleo familiar do ex-capitão que amanheceu eleito sem ter-se dado conta).

Não dá pra justificar tanta imbecilidade junta, e, pior, cometida coletiva e simultaneamente. Quando parece quererem engrenar, os membros deste desgoverno, ajuntamento de avis raras, conseguem fazer o trem descarrilar sem dozinha ou compaixão, parecendo coisa de inimigo! Até os membros da oposição se sentiram no dever de dar um “ajutório” diante da tragédia anunciada, e correm atrás de medidas institucionais que atenuem, senão evitem, as péssimas repercussões de tanto desatino...

Obviamente, não tendo havido um fio condutor, uma idéia-força, que unificasse organicamente tantos “do contra”, tantos exímios “conspiradores”, ficou difícil organizar, articular, um amontoado de especialistas em (sic) “detonar” tudo para governar com tirocínio e galhardia... Afinal, quem é o capetão que foi sem nunca ter sido? Um especialista em disparates nos 27 anos de uma medíocre carreira parlamentar em que parecia mais um lobo solitário, um ovo da serpente que os golpistas permitiram que fecundasse e os engolisse graças às articulações dos filhos igualmente especialistas me conspirações, que procuraram a ajuda de Olavo de Carvalho, Steve Bannon e John Balton e acabaram vendendo a alma (e o rico patrimônio brasileiro) para os abutres de Donald Trump e de Benjamin Netanyahu...

O problema real é que esse excesso de amadorismo e improviso está custando vidas humanas para o País e muito caro para o mercado brasileiro, apoiador incondicional dessa incógnita que se revela perigosíssima para os interesses nacionais. Daí por que o crescente apoio estratégico ao general-vice-presidente, Hamilton Mourão, pois não é qualquer um que vira general e, mais, para ser general com o currículo de Mourão é para pouquíssimos, essa é a verdade. É por isso, também, os ataques reincidentes dos filhos do capitão, cada vez mais rasteiros.

Ou o Brasil para essa aventura suicida, ou a aventura suicida parará o Brasil, mas com estragos irreversíveis a curto e médio prazo. Se o Povo não continuar a se manifestar nas ruas contra os sucessivos absurdos propostos, anunciados e decretados por alguém que jurou respeitar e fazer respeitar a Constituição Federal, mas o que faz desde que tomou posse é atropelá-la e alterá-la ao gosto e sabor de seu desvario e de interesses inconfessáveis, atendendo a compromissos dos que, do exterior, permitiram a um custo inaudito sua eleição.

Porque o Povo Brasileiro, este sim, merece respeito. Não apenas por ser a maior riqueza do Brasil, mas porque não há soberania nacional, não há Estado, sem povo: a História registra várias invasões estrangeiras em nome disso. Por acaso alguém esqueceu a consigna sionista, de “uma terra sem povo para um povo sem terra”, de Theodor Herzl e David Ben Gurion? A mesma Israel de Benjamin Netanyahu e das empresas especializadas em manipular eleições está, por coincidência, a apoiar o projeto de barbárie preconizado pelos estafetas de Donald Trump, ao lado da cobiçada Venezuela com as maiores reservas de petróleo e gás natural e do território em que estão as maiores reservas de água doce do Planeta (Aquífero Guarani) e os biomas mais cobiçados do mundo (Amazônia, Pantanal, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Chaco). Imbecilidade pouca é bobagem...

Ahmad Schabib Hany

QUEM, AFINAL, É “IDIOTA ÚTIL”? E IDIOTA INÚTIL, QUEM É?


QUEM, AFINAL, É “IDIOTA ÚTIL”?
E IDIOTA INÚTIL, QUEM É?

Exatos cento e trinta e cinco dias posteriores à posse do ajuntamento de seres bizarros, recalcados, de proceder anacrônico e que dizem ter constituído um autoproclamado (des)governo “patriota” e “de cristãos”, a soberba de um recém-nomeado sinistro da deseducação -- como sempre, imediatamente respaldada pelo ex-capitão que acordou presidente --, vemos a população brasileira retomar a indignação neste dia 15 de maio, depois de algum tempo de letargia inexplicável.

Ao ver centenas de milhares, senão milhões, de cidadãos altivos tomados de indignação pelos absurdos insultos e cortes de verbas para a Educação -- com o evidente (des)propósito de chantagear parlamentares para votar por um absurdo e criminoso projeto de desmonte da Previdência Social --, o imprevisível e camaleônico “mito” mefistofélico proferiu impropérios à altura de sua razoabilidade. Não é que, para aquele ser nostálgico da ditadura e cultor de torturadores, quem manifesta sua contrariedade em plena luz do dia e com urbanidade, altivez e cidadania não passa de (sic) “idiota útil” e “imbecil”? E, pior, quebrando pela enésima vez o decoro imposto pelo cargo mais elevado da República, desafiou os manifestantes a ir “pra cima” dele...

Não fosse suficiente, no dia seguinte, com o maior acinte (já em solo pátrio), ofende com absurda desproporção uma jovem repórter da “Folha de S.Paulo” que lhe perguntara sobre os cortes na Educação, como que ele, como chefe de governo e de Estado pudesse dispor de prerrogativa bizarra, própria de quem, numa função republicana, acredita que pode defecar na frente de todos o que quiser e como quiser. Como bem observou o Jornalista Luiz Taques, do alto de sua experiência de quase quatro décadas no Jornalismo investigativo, com prêmios na área de Direitos Humanos, a passividade dos colegas da repórter moralmente agredida, ou melhor, a falta de solidariedade desses profissionais acabou por endossar um gesto digno de repúdio.

Bastaria que um dos profissionais presentes inquirisse o dignitário destemperado sobre sua formação acadêmica (isto é, se ele tiver) e quais os critérios por ele usados para avaliar a formação dos demais profissionais. Mais ainda: como fazer uma correlação entre a formação militar e a formação acadêmica, até porque a caserna dispõe de outros critérios e mecanismos de avaliação, distantes dos adotados pela academia, independentemente se de origem proletária ou não. Mas com alguém que, como esse ovo da serpente do fascismo priitivo, padece de um narcisismo desmedido e de uma falta de equilíbrio a olho nu, não há como esperar diálogo em nível elevado ou inteligível.

Pobre diabo! Tudo isso execrado diante dos holofotes ávidos da imprensa internacional. Mais uma prova de seu despreparo, de sua falta de estatura moral e política para o exercício de um mandato popular, a despeito de suas quase três décadas de vida parlamentar, em que sua destreza foi escandalizar a todos com impropérios como “você não merece ser estuprada por mim” ou “usava o apartamento funcional para comer gente”. Portanto, não causa qualquer surpresa uma conduta desconexa como essas...

Agora, se nos recordarmos que pessoas de conduta bipolar como as recorrentes desse indivíduo costumam analisar o próximo pelas próprias atitudes, temos diante de nós duas indagações: primeiramente, quem, afinal, tem feito o papel de “idiota útil”? E, por contraponto, “idiota inútil” quem é?

Basta recorrer ao arquivo da mídia hegemônica para resolver essa equação tão rasa quanto o, digamos, “genial” autor do destemperado vaticínio. Antes mesmo de tomar posse, o despreparado confesso para as prerrogativas presidenciais andou exercitando o seu esporte preferido -- de se oferecer às maiores potências de passado colonial para entregar as riquezas do País, e a preço de banana! --, e assim anunciou, mas só depois de ter levado a melhor na disputa presidencial, seu atrelamento incondicional e caudatário à política dos Estados Unidos de Donald Trump e de Israel de Benjamin Netanyahu, ambos autêntica expressão da extrema-direita de seus respectivos países.

E, no devir dos dias, a conta começa a fechar. Sábado, dia 18 de maio -- em que se observam os 43 anos do estupro seguido de morte com requintes de crueldade da eternamente angelical Aracelli Cabrera Sánchez, de 9 aninhos, por (sic) “filhos bem nascidos” de próceres do regime de 1964, como Paulo Helal, Alfredinho Buzaid e Euriquinho Rezende (filhos de ninguém menos que de dois ex-ministros capixabas do sanguinário general-presidente Emilio Garrastazu Médici), cujo denunciante, o Jornalista José Louzeiro, foi o único preso, por ter driblado a nefasta censura para publicar o livro-denúncia, intitulado “Aracelli, meu amor” --, duas notícias surpreendem o mundo: países europeus expulsam executivos de empresas israelenses especializadas em manipular eleições e a rede social Facebook fecha contas de empresas israelenses especializadas em disseminar “fake news” principalmente na América Latina.

Coincidência? Jamais! Essa família de canalhas desequilibrados apoiadores de milicianos e impostores de bispos malditos vendeu o Brasil, via Olavo de Carvalho, Steve Bannon e John Balton, para seus assemelhados dos Estados Unidos e Israel, que colocaram empresas especializadas a serviço dessa estratégia criminosa e flagrantemente antidemocrática, replicada na Argentina, Honduras e Colômbia. Daí por que esses, nas palavras peçonhentas do “patriarca” dessa dinarquia, “imbecis” são simplesmente “idiotas inúteis” transformados pelos agentes do império em “idiotas úteis”, fantoches, para conseguir saciar os seus nefastos interesses, inconfessáveis como eles mesmos...

Portanto, é hora de o povo voltar às ruas, sim, e sem medo. Não foi o próprio fantoche-mor que desafiou a cidadania a ir pra cima dele? O fascismo, quando não esmagado sem dó na origem, tem que ser enfrentado com altivez e coragem, até porque seus covardes seguidores só agem de tocaia, à sorrelfa, como agiram com a eterna guerreira Marielle Franco e tantos outros combatentes do amor e da solidariedade. Esses canalhas não atingirão seus malditos objetivos, jamais, porque há um povo altivo e verdadeiramente patriota -- não de patrioteiros ou patriotários -- que luta pela soberania de sua nação. Viva o Povo Brasileiro!

Ahmad Schabib Hany

sábado, 18 de maio de 2019

BOLSONARO COM SARNA?


            Bolsonaro com sarna?
                                 Por Luiz Taques
            George W. Bush era presidente dos Estados Unidos quando, em novembro de 2005, visitou o Brasil.       
            Bush hoje mora em Dallas, no Texas – Lula, o presidente que à época o recepcionou, cumpre pena em Curitiba, no Paraná. Sua condenação é questionada por parcela significativa da população e, também, pelos mais renomados juristas nacionais e do exterior.
            O Brasil de 2019 é presidido por Jair Bolsonaro.
            Dia desse, ele foi a Dallas, receber homenagem que, geralmente, é concedida a sabujos estrangeiros domesticados pelos gringos.
            Lá chegando, tirou por uns instantes a coleirinha, estufou o peito feito um capitão exemplar e aí resolveu conhecer Bush.
            Surpreendido pela assessoria que anunciava a presença de Jair Bolsonaro bem ali na sala de espera, George W. Bush, a contragosto, atendeu o presidente brasileiro em seu escritório.
            O encontro, que não estava agendado, foi rápido e frio.
            Bush havia sido alertado pela assessoria: esse político é aquele que costuma deixar sarna por onde passa.  
            Não, não, não: ninguém está chamando Bolsonaro de cachorro.
            Ou de vira-lata sarnento.
            Nem disto; muito menos daquilo.
            Longe de entrarmos nessa polêmica.
            Pois, sem coceira ou com coceira provocada pela sarna, vira-lata é animal educado e geralmente fareja antes o lugar em que irá colocar as patas.
            Além do mais, diferente do vira-lata, Bolsonaro tem raça determinada, apesar de a grande mídia ainda não tê-la escancarado, para o público brasileiro, com clareza e precisão – quando muito, a grande mídia faz jornalismo soltando piadinhas maliciosas a respeito do temperamento explosivo do presidente.
            Tampouco, aqui, se está insinuando que Bolsonaro causa alergia apenas aos petistas.
            Não é esse o propósito.
            O propósito é falar da visita de Bush ao Brasil.
            Voltemos a ela.          
            Naquele ano de 2005, focos de febre aftosa atingiam algumas áreas de pecuária de Mato Grosso do Sul.
            O medo de consumir carne da região estava no ar.
            Mas saiu justamente de lá, do rebanho bovino do estado de Mato Grosso do Sul, o churrasco que Bush, a convite de Lula, saboreou na Granja do Torto, em Brasília.
            Lula explicou ao colega norte-americano que aquela carne não estava contaminada.
            Bush ficou satisfeito com o esclarecimento sucinto, porém sincero, porque a CIA já o tinha informado: Lula honrava o que dizia.
            À vontade, Bush até fez questão de se servir primeiro, tamanha a confiança na palavra empenhada pelo seu anfitrião brasileiro.
            Então, Bush fartou-se de picanha, costela desossada, alcatra...