sábado, 29 de junho de 2019

A MALA DO MULA: "TURMA DO BAGULHO"


A mala do mula (2):

“Turma do bagulho”

A bem da verdade, parece termos chegado ao fundo do poço: uma comitiva presidencial cujo membro de apoio é preso por ser mula, isso é o cúmulo. Se tivesse ocorrido com Lula ou Dilma, era caso de bater panela, fazer “manifestos” e chegar aos orgasmos coletivos nas principais avenidas de todas as cidades brasileiras. Mas, pasmem, isso não é tudo. Ainda virão absurdos inimagináveis, providencialmente revelados pelo Jornalista Glenn Greenwald e seus desdobramentos imponderáveis, porque essa, sim, é a “turma do bagulho” -- e pobre do Brasil que foi induzido a esse vexame, “para não dar (sic) petê (‘perda total’)”. Só que não: está dando petê...

Na primeira parte, questionamos a “falta de sorte” alegada pelo general Augusto Heleno e a “ínfima exceção” manifestada pelo ex-juiz e “superministro” Sérgio Moro, como que não houvesse mecanismos de controle institucional e se tratasse de um traficante isolado levando uma inusitada quantidade como a encontrada no avião reserva da comitiva presidencial. Além de pinçarmos alguns ensinamentos da novela-reportagem de Luiz Taques, “Mulas”, entre eles que todo mula tem prazo de validade, isto é, será fatalmente delatado por concorrentes ou pelo capo da própria quadrilha.

Nesta segunda parte, voltamos à Bolívia sob a ditadura do sanguinário coronel Hugo Banzer Suárez, cuja patente de general foi adquirida já em sua condição de ditador, em 1971. Na verdade, o líder do golpe foi o coronel Andrés Selich, de inspiração fascista, que sofrera um “acidente” nunca elucidado ao subir as imponentes escadarias do Palacio Quemado, sede da presidência. Pois sua “conje”, Yolanda Prada de Banzer, como primeira-dama, passou pelo constrangimento de ter em sua comitiva um membro flagrado no Aeroporto de Congonhas com uma mala contendo aproximadamente dez quilos de cocaína. Denunciado pelo combativo diário católico “Presencia”, de La Paz, o episódio ficou registrado em pelo menos duas obras que desmascaram as milícias, os paramilitares e as ditaduras militares bolivianas e seus vínculos com a cocaína: “Com a pólvora na boca”, de Júlio José Chiavenatto, e “La veta blanca” (“O veio branco”), de René Bascopé Aspiazu, então diretor do emblemático semanário boliviano “Aquí”.

Oriundo de um povoado próximo à ferrovia Corumbá -- Santa Cruz de la Sierra, Concepción, na Chiquitanía (departamento de Santa Cruz), Banzer era neto de alemão chegado à Bolívia no final do século XIX. Passou a juventude no Exército, a que ingressou por meio do colégio militar. Foi sinistro da Educação de outro golpista igual ele, o general René Barrientos Ortuño, que golpeou o presidente eleito em seu terceiro mandato, Victor Paz Estenssoro, em novembro de 1964. Fez diversos cursos no Colégio Interamericano de Washington e na Escola das Américas, em plena guerra fria. Daí por que seu posicionamento de anticomunista empedernido, tendo-se brindado a fiel serviçal do império.

Durante o breve governo do general progressista Juan José Torres, responsável pela nacionalização das concessões de jazidas de gás, petróleo e estanho, o seu futuro algoz, então obscuro coronel, foi diretor do colégio militar do exército em Cochabamba, quando se articulou a outros oficiais golpistas, entre os quais o coronel Andrés Selich, líder dos amotinados em agosto de 1971, com quem, meses antes, havia participado de uma conspiração frustrada, o que o levou a se exilar no Peru, e de onde voltara clandestinamente. O golpe foi uma demonstração do que viria depois: um verdadeiro massacre de estudantes, operários, camponeses, intelectuais, jornalistas e religiosos -- como prenúncio do que aconteceria nos anos seguintes na América Latina, sobretudo no Chile, na Argentina e nos desdobramentos da “Operação Condor”.

Para o seu golpe, ele contou com 140 mil dólares, entregues por agentes da CIA em território boliviano depois de iniciado o amotinamento em Santa Cruz de la Sierra (as notas taquigráficas da Casa Branca, do Departamento de Estado e da CIA foram tornadas públicas em 2010, em que aparecem os diálogos entre Richard Nixon, Henry Kissinger e Thomas Karamessines, respectivamente presidente dos EUA, secretário de Estado e segundo diretor de planejamento da CIA). Em uma das transcrições, num diálogo entre Nixon e Kissinger em que este comunica o sucesso do golpe apoiado por eles, uma lacônica e sugestiva alusão ao Chile de Salvador Allende, golpeado e morto com o total apoio dos Estados Unidos.

O jornalista germano-boliviano Mario Busch, então analista político do O Estado de S. Paulo, descreveu os bastidores do apoio da ditadura do general Emílio Garrastazu Médici ao sangrento golpe de Banzer, em 1972, quando repercutiu a denúncia do diário católico Presencia, de La Paz (fundado e dirigido por outro germano-boliviano, o memorável Jornalista Huáscar Kajías Kauffman), de que o ditador boliviano havia cedido uma significativa área da região de Abuná (Abunã em português), na Amazônia, para o Brasil, em sinal de gratidão pelos “préstimos” do governo brasileiro ao seu governo (ou melhor, ao sangrento golpe)...

Entretanto, muito mais grave foi o desvio de 600 milhões de dólares emprestados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para a execução de um programa de plantio de algodão em escala industrial, em 1976, destinado para abastecer a indústria têxtil estadunidense, em decorrência da longa estiagem nos estados americanos produtores de algodão. Segundo levantamento fartamente documentado do Jornalista René Bascopé Aspiazu, em “La veta blanca”, a iniciativa tinha propósitos óbvios: tirar da mineração de estanho a base das commodities da Bolívia, sobretudo porque os mineiros -- isto é, os trabalhadores mineiros -- eram a coluna vertebral do movimento operário boliviano, manifestado na combativa e poderosa Central Operária Boliviana (COB). Mas os milicianos, ansiosos por virarem “grandes empresários”, milionários às custas do endividamento da Bolívia, substituíram o branco do algodão pelo branco da cocaína, que desde então fez da Bolívia um dos principais produtores mundiais de cocaína.

Bascopé Aspiazu, reconhecido baluarte do jornalismo investigativo, teve o mesmo fim do senador e ex-candidato à presidência da Bolívia pelo Partido Socialista Uno (PS-1) Marcelo Quiroga Santa Cruz, ex-ministro de Minas e Energia da brevíssima gestão do civil Jorge Siles Salinas (meio-irmão do primeiro presidente civil e constitucional pós-ciclo militar, Hernán Siles Suazo, eleito pela Unidade Democrática Popular em 1980). Como senador, Quiroga Santa Cruz ousara propor e presidir o “Juízo do Século”, em que apresentava documentos que incriminavam o ditador Banzer em seus quase oito anos de tirania, corrupção e desmandos. Quando o Senado estava por concluir as investigações e submetê-lo a um juízo de lesa-pátria, outro golpe sangrento, desta vez dos narcogenerais promovidos por Banzer (García Meza, Natusch Busch e Arce Gómez), destruiu a frágil democracia iniciada quase um ano antes, com o único intuito de destruir as provas dos crimes cometidos pelos apoiadores e beneficiários do facínora, bem como o assassinato mediante tortura e humilhações de todos os inimigos de Banzer, entre eles Quiroga Santa Cruz e o Padre Luis Espinal, fundador do semanário Aquí, de cuja redação fazia parte Bascopé Aspiazu, morto anos depois em circunstâncias nunca elucidadas (“crime passional”, segundo a versão policial, constituída por velhos milicianos e paramilitares do ciclo militar).

Como meu saudoso Pai costumava dizer, ignorantes e sem caráter costumam ser os mais atrevidos, ousados e insensíveis. Porque são destituídos da base da condição humana, que é a dignidade e a racionalidade (que alguns preferem nominar por “razoabilidade”). No afã de prestar serviços aos seus amos e senhores do império, perseguiram, raptaram, seqüestraram, torturaram, executaram e humilharam pessoas de todas as idades, convicções religiosas e políticas. Durante esse macabro período de obscurantismo e violência nunca antes visto na vizinha nação, velhos carrascos nazistas, como Claus Barbi (o “carniceiro de Lyon”), tiveram total liberdade para formar discípulos para sua odiosa doutrina e organizar grupos paramilitares e milicianos para o “serviço sujo”. E tanto no Brasil (entre eles Josef Mengelle, o “anjo da morte”) como no Paraguai, Argentina e Chile seus ex-comparsas de ações desumanas eram os adestradores de técnicas de tortura e extermínio de inimigos ideológicos.

Embora esteja tentado a incursionar sobre a (sic) “fraquejada” geral da mídia tupiniquim e de seus burocratas profissionais que mais lembram porta-vozes das emboloradas instituições de nossa frágil democracia, vítima de várias quadrilhas associadas para esquartejar o Estado Democrático de Direito e abater a soberania nacional, reservo-me apenas o direito de admitir que, mais uma vez, um jornalista estrangeiro fez com que a imprensa brasileira fizesse história. Detentor de prêmios mundiais de Jornalismo de verdade, como o Pullitzer, Glenn Grenwald é protagonista de uma cruzada de desmascaramento de uma hipocrisia de saltar aos olhos, mas que um ignóbil pacto de silêncio permitiu que a nação fosse subtraída em suas mais caras riquezas, sobretudo as liberdades democráticas, a segurança jurídica, a soberania nacional e popular, as riquezas naturais e o porvir das novas gerações por causa da perda de direitos seculares, rebatizados de “privilégios” pelos meliantes que tomaram de assalto os destinos do país a partir de maio de 2016.

Aliás, não foi diferente durante o regime de 1964, pois graças à digna família Carta, isto é, Mino Carta (fundador e primeiro diretor do Jornal da Tarde, do Grupo Estado, da Veja, da falecida Editora Abril, e da Istoé e do Jornal da República, da ex-Encontro Editorial, da Istoé/Senhor, da Editora Três, e finalmente da CartaCapital, da Editora Confiança, além de articulista da Folha de S.Paulo, ao lado de Claudio Abramo e Alberto Dines), Luis Carta (diretor editorial da Abril em sua melhor fase e primeiro diretor da inimitável Realidade, também em sua melhor fase, de 1966 a 1973, quando saiu por causa do intragável Roberto Civita e foi fundar com o empresário Fabrizio Fasano e o ex-diretor comercial da Abril Domingo Alzugaray a Editora Três, da Status, Repórter Três e Planeta, e cinco anos depois fundou com Fabrizio Fasano a Carta Editorial, de várias revistas de primeiro nível da Vogue, tendo encerrado abruptamente sua carreira editorial bem-sucedida na Espanha, como editor e diretor da Vogue España, em 1994) e Giannino Carta (o patriarca dessa brilhante família de grandes Jornalistas, ex-secretário editorial e diretor de O Estado de S. Paulo, quando trouxe toda a sua família da Itália e conheceu o grande Jornalista Claudio Abramo, tendo-o guindado a secretário de redação enquanto ele era diretor do jornalão da família Mesquita, responsável pela renovação gráfica e editorial de um dos mais velhos jornais do país).

Ahmad Schabib Hany

quinta-feira, 27 de junho de 2019

A MALA DO MULA


A mala do mula

Não é do Lula. Mesmo que a hoje “maioria silenciosa” fosse ao delírio se assim tivesse sido. Aquela mesma que, há menos de um ano, vestida das cores da seleção tomava as ruas para (sic) “salvar o Brasil”. Pelo silêncio das panelas e patos, já foi salvo, a despeito da queda do PIB, da estagflação, do aumento do desemprego e da entrega da base de Alcântara, da Embraer, dos campos do pré-sal...

Trata-se nada menos que da mala do mula, integrante da comitiva oficial brasileira, membro da tripulação do avião presidencial reserva com destino a Tóquio, flagrado no aeroporto de Sevilha, capital da Andaluzia, Espanha, com vergonhosos 39 quilos de cocaína. Pelo ordenamento jurídico espanhol, “atentado à saúde pública”, crime inafiançável e imprescritível.

Segundo nossa legislação, no mínimo, tráfico internacional de drogas com alguns agravantes (prevaricação, concussão, formação de quadrilha etc, além do enquadramento na Justiça Militar). Mas, de acordo com a atual narrativa presidencial, “bandido bom é bandido morto”. Esperemos sentados, pois o sinistro Abraham Weintraub, da (falta de) Educação, já relevou o caso, levando em conta o peso dos ex-presidentes Lula e Dilma, comparados por ele à substância alucinógena transportada criminosamente na comitiva oficial de seu chefe. Cabe, no mínimo, interpelação desse funcionário.

Praticamente no mesmo momento o “superministro” Sérgio Moro postava uma self diante da sede da DEA, órgão americano de combate às drogas, em sua viagem aos Estados Unidos sem agenda pública. Sabe, sim, o ex-célebre juiz que, pelo menos no Executivo e no Legislativo, até os presidentes da República, da Câmara e do Senado devem satisfação ao erário e ao público, por isso precisam expor com transparência os motivos de sua viagem, em tese, a serviço do Brasil. E diante da repercussão do caso, para decepção dos defensores de seu punitivismo radical com que ganhou fama, faz uma pífia declaração antes da apuração, minimizando o episódio ao twitar que se trata de “ínfima exceção”, quando o tráfico de drogas é o segundo crime mais comum na Justiça Militar.

Ao contrário do general Santos Cruz, ex-secretário-geral da Presidência, que revelou no congresso da ABRAJI (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) que o núcleo duro do governo “age como uma gangue” e que “é muito dinheiro jogado pelo ralo”, o general Mourão, no exercício da presidência, chamou o sargento de “mula qualificado” mas o general Heleno viu “falta de sorte”, ele que é responsável pela Segurança Institucional e vive a reivindicar prisão perpétua para Lula.

Alguns meses atrás, o Amigo Luiz Taques, renomado Jornalista e Escritor, ofertou generosamente ao público leitor -- obviamente, não será o caso dos alucinados seguidores do (sic) “guru” Olavo de Carvalho, que não costumam ler além de três linhas – a novela-reportagem “Mulas” prefaciada pelo genial Amigo Jornalista e Poeta Edson Moraes, em que denuncia o maniqueísmo oportunista das autoridades ante a estereotipia cômoda da criminalização dos moradores da fronteira. Ao converter a dialética realidade fronteiriça em primorosa ficção, Taques faz um diagnóstico profundo de uma lógica perversa que não se restringe à região em que nasceu e passou sua infância.

E acaba de constatar o escritor com faro apurado de repórter que nem o coração do poder central está livre dos traços dessa realidade, ainda que os atuais inquilinos bradem o contrário. Acontece que não há “traficante solitário”: feito fio da meada, quando se pega um mula -- geralmente por delação do capo ou de uma quadrilha concorrente -- acaba por vir o novelo todo, para desespero das elites hipócritas que prometeram a si e a outros “idiotas inúteis” um país hollywoodiano livre de pobres, problemas sociais e, sobretudo, justiça social.

Portanto, não se trata de falta de sorte, como disse o general Heleno, e muito menos de ínfima exceção, no dizer do ex-juiz Moro: a realidade se impõe aos deslumbrados e assemelhados, a lhes ensinar que nem heróis nem vilões fazem história, mas o povo, a humanidade liberta de déspotas e tiranetes serviçais de um império decadente que produz e reproduz essa relação mórbida, tão somente para saciar seus devaneios narcisistas e auferir riqueza e poder real em sua nefasta existência.

Quebra cabeça ou fio da meada, não se devem relevar os recorrentes vínculos de personagens muito próximos a milicianos como o tristemente célebre Queiroz, além de vizinhos de condomínio da família do chefe de governo. Todo contubérnio deve ser institucionalmente eliminado, com transparência e sem seletividade. Sob pena de ver o Brasil rebaixado a republiqueta de tiranetes traficantes, como lamentavelmente tivemos nossa querida Bolívia nos tempos do sanguinário Hugo Banzer Suárez, cuja “conje”, Yolanda Prada de Banzer, passou pelo constrangimento de ter em sua comitiva um membro flagrado no Aeroporto de Congonhas (Cumbica ainda não havia sido construído) com uma mala recheada do maldito pó, embora em menor quantidade (não chegava a dez quilos), episódio narrado em “Com a pólvora na boca”, do Historiador Júlio José Chiavenatto, e “La veta blanca” (“O veio branco”, em português), do Jornalista René Bascopé Aspiazu (diretor do emblemático semanário boliviano “Aquí”, fundado pelo Padre Luis Espinal, assassinado ao lado do líder socialista Marcelo Quiroga Santa Cruz durante o golpe dos narcogenerais comandados pelos sanguinários García Meza, Arce Gómez e Natusch Busch).

Ahmad Schabib Hany

segunda-feira, 17 de junho de 2019

DONA YOYA, EM SEUS DEZ ANOS DE ETERNIDADE


Dona Yoya, em seus dez anos de eternidade

15 de junho de 2009, seis horas e cinquenta minutos, em um dos apartamentos do hospital da Unimed de Campo Grande. Dona Yoya, nossa Mãe -- progenitora de nada menos que nove filhos vivos: seis mulheres e três homens --, dá seu último suspiro sobre o leito em que permaneceu por aproximadamente uma semana, da mesma forma como viveu, estoica e discretamente. Uma mulher que não se valeu de sua prole para justificar qualquer acovardamento: ao contrário, soube lutar com toda a dignidade e coragem, até para despertar entre seus filhos a altivez com que pautou sua Vida.

A Irmã que a assistiu diuturnamente, por ser médica e bastante resiliente, disse que esboçara um discreto sorriso, num misto de gratidão e alívio. Talvez fosse o seu modo de se despedir e ao mesmo tempo induzir estímulo para continuar a luta. Tanto para Dona Yoya como para Seu Schabib, nosso Pai, a Vida foi um chamado à resistência, à luta, não para abocanhar vantagens ou conquistas fáceis, mas para, com dignidade e ética, assumir grandes causas sem abandonar as obrigações de Pais responsáveis (desses com letra maiúscula).

Nascida em 11 de março de 1926, em plena Amazônia boliviana (San Joaquín de las Aguas Dulces, no Departamento de Beni), Wadia Al Hany Ascimani, desde tenra idade chamda de Yoya (tida por segunda mãe de seus Irmãos), era a segunda filha nascida viva de dez filhos do casal constituído pelo dentista libanês Youssef Al Hany e a jovem senhora Guadalupe Ascimani de Hany, boliviana de Pai libanês. Além do gosto pela costura e o cuidado com a Família, Dona Yoya herdara da Mãe o autodidatismo, pois, com as limitações impostas às mulheres no início do século XX, ler e escrever em casa era exigência mínima que se fazia às mulheres emancipadas.

Dona Guadalupe Ascimani de Hany, nossa saudosa Avó (com letra maiúscula), viveu intensamente o século XX em todas as suas profundas transformações. Não sem propósito, costumava advertir as filhas menores, que não tiveram sorte com seus respectivos companheiros -- como foi o caso da Tia Nena, May Teresa Hany de Paz, falecida há um ano e meio, a despeito de sua formação em odontologia, igual ao nosso Avô Youssef Al Hany, num tempo em que ser dentista na Bolívia profunda implicava em salvar vidas tal qual médico de campanha. Leitora de clássicos da literatura universal, Dona Guadalupe questionava as filhas por não terem sabido escolher bem seu pretendente: como eu, nascida e criada em um povoado com menos de cinco mil habitantes, pude me casar com um Doutor jovem, bonito e culto, enquanto vocês, com todos os estudos e currículo, só encontraram seres medíocres, sem qualquer atributo e destituídos de companheirismo?

Além da saúde física e psicológica para criar, educar e formar nove filhos em condições adversas, Dona Yoya tirou de seu âmago uma capacidade de resistência que se forjou numa luta interminável desde 1960, ano em que enfrentou praticamente sozinha, uma crise econômica sem precedentes na Bolívia da Revolução de Abril de 1952, quando já estava casada e com três filhos nascidos e um por nascer (dois meninos e duas meninas). Como nosso Pai era perseguido por sua atuação no jornalismo político e na intelectualidade de Cochabamba, nossa Mãe ousou desafiar milícias xenófobas que ameaçavam mulheres sozinhas em nome de um bizarro patriotismo, coisa que em nossos dias aflorou em território deste país-continente, em que o ódio toma conta da racionalidade e a violência sem precedentes toma conta de nosso cotidiano desesperador.

Primeiro no Líbano, para onde partimos de trem e depois de barco no início da década de 1960 em oito irmãos (a caçula nascera no Líbano dois anos depois) com nossos Pais, terra-natal do hoje saudoso Seu Schabib, mas que por razões de sobrevivência precisou se deslocar para a África a fim de cobrir jornalisticamente os movimentos de emancipação da Argélia, Líbia e Sudão (além do Egito, então República Árabe Unida, liderada pelo saudoso líder pan-arabista Gamal Abdel Nasser). Assim como na Bolívia de Victor Paz Estenssoro, no Líbano de Fuad Chehab (sob influência de Camile Chamoun) Dona Yoya soube fazer frente às investidas dos gendarmes que tentavam intimidar seu Companheiro e sua Família: além de ter granjeado a amizade de familiares que só conheceu quando foi para a terra dos ancestrais de seu Pai e do Pai de sua Mãe, os familiares de seu cônjuge fizeram de tudo para que permanecêssemos lá, mas a acuidade política de Seu Schabib já detectava a guerra civil fratricida que viria a eclodir uma década depois para destruir o país.

A escolha de Corumbá, no coração da América do Sul não foi casual: tratava-se de lutar pela sobrevivência num novo país, mas sem perder os vínculos com a Bolívia, em cujo território não só se encontravam vivos os Pais de Dona Yoya mas também a conclusão dos estudos dos filhos mais velhos. No entanto, o ciclo militar da história política da Bolívia (1964-1982), em que sucessivos golpes ensanguentaram o povo boliviano, acabou provocando uma tragédia familiar, que foi a morte aos 25 anos, em circunstâncias não elucidadas, de nosso Irmão mais velho, Mohamed Schabib Hany. De todas as adversidades enfrentadas em Vida, essa por certo foi a mais traumática e irreparável, razão pela qual toda a nossa Família tem “nojo e ódio à ditadura” (nas sábias palavras de Ulysses Guimarães).

A maturidade precoce e uma sabedoria inesgotável fizeram de nossa Mãe a discreta guerreira, determinada em seus generosos propósitos e ao mesmo tempo uma solidária companheira em todos os momentos de sua prole, que a partir de meados da década de 1980 dá início à segunda geração, com a chegada do(a)s neto(a)s ao longo de duas décadas: Igor, Luana, Janen, Hanen, Neder, Pedro, Dunia, Omar e Sofia. Não pôde conhecer a caçulinha dos netos e o primogênito dos bisnetos, o Nícolas (Filho de Igor e Fernanda), mas cujo legado por certo guiará todos os descendentes como fonte inspiradora de caráter inatacável, temperado na incansável lide de emigrantes peregrinos que cruzaram oceanos, percorreram continentes, abriram horizontes e semearam generosos ideais.

Com Dona Yoya e Seu Schabib é que aprendemos desde tenra idade que a humanidade é uma só, e que para o mundo se tornar melhor nós precisamos ser melhor desde nosso interior. Mais que um exemplo concreto, eis uma razão de ser, sobretudo nestes nada generosos tempos. Mas que os levaremos sempre conosco, como as gratas recordações de sua presença em nossas vidas...

Ahmad Schabib Hany

segunda-feira, 3 de junho de 2019

PEDRO OBSERVA TUDO (Luiz Taques)

Escritor aborda o estilo de vida de rua imaginária da sua cidade natal

Publicado, em 2 de junho de 2019, originalmente no portal de cultura "Ensaio Geral", disponível em: <http://ensaiogeral.com.br/noticias/cronica/escritor_aborda_o_estilo_de_vida_de_rua_imaginaria_da_sua_cidade_natal>.


PEDRO OBSERVA TUDO
Por Luiz Taques

Na rua de apenas vinte e três casas, com cerca elétrica em todas elas, não é essa paisagem de semiaberto para grã-finos que apoquenta Pedro. O que o atazana, perturba a sua audição aguçada, são as aceleradas desnecessárias da moto 400 cilindradas, pelo comerciante troncudo, e os alarmes que disparam a qualquer hora do dia ou da noite – os da madrugada, então, o tiram do sério.
Pedro é sensível; tem sono leve.
Quando o comerciante troncudo pega firme no acelerador ou quando alarmes tocam, e isso ocorre com frequência, para demonstrar sua irritação, Pedro coça a orelha, balança a cabeça, anda de um lado para o outro.
É o seu jeito de protestar.
Não sossega até o comerciante troncudo desligar a moto ou o guarda da empresa de vigilância aparecer, procurar resolver a situação, antes de ir embora. Às vezes, o guarda demora a se mandar; o guarda aperta a campainha e o morador não atende o interfone para ao menos informar “sim, está tudo bem”.
Com medo de assalto, moradores parecem estar um tanto paranoicos.
A violência assusta: achando que assim estará se defendendo dela, na quitanda virando a esquina, morador da rua foi visto falando em comprar arma.
É a nossa civilização dando latidos incessantes!
Na casa onde moramos Pedro e eu o sol bate forte logo pela manhã. Da janela, a gente enxerga o rio Paraguai, a mata ciliar de um córrego em toda a sua plenitude, o quebra-molas, lá embaixo, aos fundos da casa, na rua paralela onde carros pilotados por motoristas apressados e desatentos pisam fundo nos freios – com as freadas bruscas de fazer cantar pneus, Pedro também não se habituou ainda. Tampouco com os buzinaços.
Em Corumbá, a nossa rua, a rua de uma quadra só, localiza-se num terreno elevado.
Moramos perto uns dos outros e, no entanto, moramos longe uns dos outros: poucos se conhecem, conversam. Corumbá não é mais como a cidade de antigamente, a cidade em que vizinho, na Semana Santa, oferecia sopa paraguaia aos moradores do lado.
Mas Pedro anda abrindo caminho para todos nós. Como diz a gíria do futebol, Pedro é o responsável pelo meio de campo do time da rua: ele é desenvolto, dribla com categoria, não amarela, nem se intimida com cara feia ou falta desleal. A travessura, a sua melhor jogada de craque do pedaço, é correr em direção a esse ou aquele morador, distribuir sorriso, querer abraçar. Pedro é espontâneo – à sua maneira, comunicativo.
Mas, por essa, nem Pedro esperava.
Veja você: a mulher dali morreu. A notícia somente me chegou dias depois. Ir à casa do viúvo, tomar umas cervejas, sepultar por uns instantes o luto dele, seria uma opção para mim. Que não vingou. O tempo passou. Sucedeu que, dia atrás, ao chegar à sua garagem, o viúvo se esqueceu de puxar o freio de mão e o próprio carro quase o atropelou (a garagem fica em uma rampa). Machucou o braço, arrebentou o portão da garagem e por um triz não derrubou o muro da moradora do outro lado da rua. Por acaso, o socorri naquela noite. Disse: vou chamar a ambulância. Ele respondeu que não precisava. Foi o máximo que dialogamos até hoje.
Sentado à varanda, ouvindo samba. É assim que Pedro e eu contemplávamos o morador da frente da nossa casa. Ele me cumprimentava, eu retribuía o cumprimento e a cordialidade parava por aí.
Era professor aposentado. Adoeceu, caiu de cama. Aos sessenta e oito anos de idade, o câncer foi impiedoso: o engoliu em três ou quatro meses. Foi velado das 15h às 18h – na sequência, levado pela funerária. A nota de pesar pelo falecimento me alcançou no momento em que o corpo já trafegava pela BR 262: iria virar cinza em crematório da Capital.
Há, na rua, uma família da cidade de Aquidauana constituída por músicos gospel. A esposa, a todos se mostra gentil; marido e filho, não. Para Pedro, ela acena, revela-se carinhosa. Deve ser mesmo: mulher de cabelos escorridos geralmente são mulheres carinhosas. O marido e o filho, decerto com esse negócio de mexer com religião, de se dirigir com ternura ao semelhante nas suas canções pavimentadas de solidariedade, estejam mais perto de Deus do que ela.
Não se sabe quem passava pela rua naquele dia e que escutou o velhinho ladarense de pernas cambaias anunciar que não entraria mais na igreja do bairro. Motivo: nos sermões, o padre estaria falando muito de política e pouco das ações do Nosso Senhor Jesus Cristo. Como não abdica da sua fé cristã, o velhinho ladarense de pernas cambaias agora precisa pegar ônibus até o centro, para ajoelhar e rezar lá na Igreja Matriz.
O casal de bolivianos gosta de karaokê e de colecionar veículos antigos. Sistemático, o vizinho dos bolivianos acendia velas pretas e velas vermelhas na calçada para acabar com a cantoria. Conseguiu. Acabou-se a cantoria de quarta-feira à noite e, com ela, o fim de uma amizade de mais de duas décadas. Devemos ter personalidade igual a do sistemático vizinho dos bolivianos: com o sistemático, nós nos entendemos.
As pessoas estão ficando tristes e distantes – inclusive em Corumbá.
A Pedro, leio poesia – Raquel Naveira, outro dia: “Perdão e compaixão curam a alma”.
Nas tardes de sábado, a monotonia da rua é quebrada por um sujeito alto e de barba rala. Ele é o namorado de uma morena elegante e apaixonada. O namorado passa as tardes a brincar com o seu carrinho com controle remoto. O namorado não deixa o filho da namorada – um adolescente espichado – colocar a mão no carrinho. Imagine a frustração do adolescente espichado!
Quando o encontra, quem corre de Pedro na rua é o moço autista. O psicólogo que o acompanha não sabe dar uma explicação plausível para esse comportamento arredio.
Inaugurou uma casa de repouso aqui perto. Agora, duas ou três vezes por semana, Pedro e eu vamos lá. Sempre que chegamos, é aquela festa. Idosas e idosos clamam por sua atenção: Pedro senta no colo de uma; beija o rosto enrugado de outro; recebe chamego de todos. Nesse ritmo, as horas correm rápidas. Ao prepararmos para irmos embora, funcionários costumam pedir: – Ô, você poderia trazer o Pedro mais vezes para nos visitar.
Ih, acho que Pedro não percebeu que o terreno baldio, rente ao nosso muro, foi vendido. O projeto de quem o comprou é construir um casarão ali. O comprador aparenta até ser sociável; porém, decidi que não me aproximarei dele para reclamar de barulho ou coisa parecida. Quero distância. Pois bati os olhos nesse camarada e vi que usava peruca. Coisa feia corumbaense usando peruca. Além disso, não confio em homem que usa peruca. E o pior é que me invade uma vontade de rir na lata de um cabra desses.
Fala verdade: não lhe dá acesso de riso quando aquele ministro do STF surge na tevê?
Não? Com aquela peruca penteadinha, um penteado que não despenteia nem com o vendaval reacionário que assola o país?
Ah, lembrei.
Tenho compromisso inadiável ao terminar de escrever esta crônica: ver com Pedro se eu o deixo chateado quando ouço “Pelo rádio”, com Geraldo Espíndola, uns decibéis acima do recomendado pela legislação ambiental.
E, para quem não nos conhece, comigo na foto (abaixo), após uma das nossas caminhadas diárias pela estrada Corumbá-Ladário, para mantermos a forma e eliminarmos a tensão física e mental, Pedro é o que está sem óculos.

Pedro: cachorro com olhos cor de mel
Luiz Taques dedica, com amor, esta crônica a Thalita Maria. O escritor nasceu em Corumbá (MS) e é autor dos livros de contos “O casamento vai acabar com o poeta”; “Essas calçadas ainda vão podar o sonho de mamãe” e “Bebinho, Mamadinho e o velório de Bafo de Alho”.

LÉIA DA MOTA E SILVA (IN MEMORIAM)


LÉIA DA MOTA E SILVA (IN MEMORIAM)

Neste domingo, dia 2 de junho, chega-nos a fatídica notícia, por meio de minhas irmãs, da eternização da querida Amiga de infância Léia da Mota e Silva, neta dos igualmente queridos e saudosos Amigos de primeira hora, o Senhor Inácio Ramos da Silva e Dona Aniceta da Mota e Silva, que se eternizaram há algumas décadas. A Amiga Léia era filha do saudoso Senhor Leandro da Mota e Silva e irmã do igualmente saudoso Mário da Mota e Silva.

Lembro-me de Léia, ainda criança, brincando ao lado da também saudosa prima Solange, quase da mesma idade de minhas irmãs do meio, e de (se a memória não tiver me traído) Tereza, filha do saudoso Senhor Washington da Mota e Silva e Dona Raquel, na primeira festa junina que vi na Vida, em 1965. Corumbá, na época, cultuava o São João dentro da tradição cuiabana, com pau-de-sebo, fogueira e todas aquelas delícias típicas na frente da casa. Para nós, recém-chegados, tudo aquilo era novidade, e aquela alegria incontida nos cativava, ainda que também nos causasse algum estranhamento.

Pouco menores, as primas Vilma (irmã caçula de Solange), Suzane e Sandra e os primos Aguinaldo e o saudoso Otávio (dois casais de filhos de Dona Natália e de Seu Arruda) também se integraram aos festejos anuais da Família Mota e Silva, em anos posteriores. Então, os filhos do saudoso Dorival da Mota e Silva (o querido Dori) também já estavam crescidos.

Já adolescentes, Léia e Solange eram grandes Amigas de minha irmã Fati, e compartilhavam livros e revistas de todo tipo, além de dedicarem tempo também para os estudos. Lembro-me bem de uma redação da Léia que era de fazer inveja aos mais eruditos alunos dos concorridos professores de Língua Nacional (como a disciplina de Língua Portuguesa era então chamada). Essas duas Amigas eram reconhecidamente estudiosas, muito inteligentes e trabalhadoras, talvez o casamento precoce tivesse contribuído para não prosseguirem com seu projeto de estudos.

Ao revelar-se grande Mãe, Léia priorizou sua Família, apoiando seu único companheiro de Vida e estando presente na trajetória de todos os filhos, entre eles, o Anderson, a Adriana e a Natália, que seguiram seu próprio rumo, mas sem perder o vínculo afetivo com ela. Com todas as adversidades que a Vida lhe apresentou, ela mesma reabilitou o esposo adoentado, sempre com o pulso firme, mas sem perder o afeto, o carinho. Da mesma forma, quando começou a se sentir mal, apesar da angústia, dedicou todo o seu tempo, lúcida e afetuosa, para orientar o filho a continuar a reabilitação do pai e outras providências da Família, como que soubesse que seu tempo estava no limite.

Léia e seu irmão Mário, desde tenra idade, foram assistidos pela Tia e Madrinha Dona Chula, a saudosa Senhora Lucélia da Mota e Silva, filha mais velha de Seu Inácio e Dona Aniceta, que era uma exímia costureira e um ser humano de uma generosidade ímpar. Carros e mais carros com senhoras da sociedade (como se soía dizer na época) paravam na porta de sua casa para encomendar a confecção de roupas de todos os tipos, dos mais simples aos mais sofisticados. Embora solteira, Dona Chula dedicou toda a sua Vida aos afilhados, irmãos, sobrinhos, sobrinhos-netos e demais parentes e amigos que precisassem de ajuda, afeto e atenção. Até o final de seus dias, sem qualquer gesto de esnobismo, viveu a caridade em toda a sua extensão, com profunda leveza, alegria, descontração e irreverência.

A Família Mota e Silva é, ao lado da Família da querida e saudosa Dona Ventura Ferreira e de Dona Eusébia dos Santos, uma referência, para toda a minha Família, da dignidade e hospitalidade do corumbaense “da gema”. Assim que chegamos a Corumbá, depois de termos residido pouco mais de mês aos fundos da loja de armarinhos de meu querido e saudoso Pai, à rua Joaquim Murtinho, entre as ruas Frei Mariano e Antônio Maria (ao lado do açougue do saudoso “Massa Barro”), nos mudamos para o endereço da Família por mais de 50 anos.

A mudança, de aproximadamente duas quadras, foi feita num caminhão modelo “Gigante”, da Chevrolet, pelo saudoso Senhor Jardes, o popular “Teté”, que, poucos anos depois, não resistiu ao ataque de uma boca-de-sapo, no Pantanal, quando foi consertar um trator numa fazenda muito distante. Seu “Teté” era esposo da saudosa e querida Dona Lucinda da Silva Jardes (Dona Lucha), pai da querida e saudosa Solange da Silva Jardes, precocemente eternizada em fins da década de 1990 ao dar à luz sua terceira filhinha, que também se eternizou com a Mãe. Além dela, a também sempre guerreira Vilma da Silva Jardes, filha caçula, hoje residindo com o esposo e o filho em Campo Grande.

O meu primeiro Amigo na Vida -- o Senhor Inácio, além de grande chefe de Família, era magarefe dos tempos dos saladeiros, das charqueadas. Nascido em 1905, depois de aposentado se dedicou à carpintaria até os derradeiros dias de sua existência, interrompida em 1987 --, mais de 50 anos mais velho que eu, era, obviamente, Amigo de meus saudosos Pais, e uma Amizade (dessas com letra maiúscula) foi se desenvolvendo com toda a sua querida Família e a nossa, sem qualquer interesse ou pretensão. Mais que vizinhos, são parte de nossa história em Corumbá.

Hoje, quando a agora saudosa Léia parte para a eternidade e deixa filhos e netos, nos solidarizamos com todos esses queridos Amigos que a Vida nos presenteou, em particular Seu José Milton e Professora Judite, Dona Natália e Seu Arruda, e a Professora Angelita e Seu Jubiraci (o querido Bira). Lembremos que o amor de Seu Inácio e Dona Aniceta é o grande alicerce e conforto para continuar a Jornada infindável. Por isso, força, fé e resignação neste momento de profunda dor e saudade infinita.

Até sempre, Amiga Léia! Sua Amizade sincera viverá sempre em nossos corações...

Ahmad Schabib Hany