sexta-feira, 23 de setembro de 2022

POR QUE DERROTAR O INOMINÁVEL NO PRIMEIRO TURNO

Por que derrotar o inominável no primeiro turno

Não se trata de uma eleição normal, em que no primeiro turno se vota no(a) candidato(a) do coração e no segundo turno no(a) menos pior: existe uma ameaça explícita contra a Democracia, e derrotar o fascismo no primeiro turno é urgente e inadiável.

Pela primeira vez, no período republicano da história política brasileira, não se trata de uma eleição em condições normais. Basta atentar para a violência política desde antes da campanha eleitoral, em que foram mortos por fanáticos governistas pelo menos dois apoiadores do ex-presidente Lula, um no Paraná e outro em Mato Grosso (além das inúmeras tentativas de intimidação contra candidatos da oposição).

Sem exagero, usando a racionalidade que o caso requer, estamos ante manifestações do fascismo, que não é partido, mas um câncer que, entre as décadas de 1920, com Benito Mussolini, e 1930, com Adolf Hitler, levaram a morte e o caos à Itália e à Alemanha (tendo depois se espalhado por Portugal, com António Salazar, e Espanha, com Francisco Franco). Feito camaleão, eles usam símbolos pátrios, religiosos e tradições para ‘dopar’, entorpecer a mente das pessoas mais vulneráveis e poder manipulá-las.

Fascismo, nazismo, salazarismo e franquismo não são correntes políticas, mas verdadeiro câncer que se instala nas profundezas mais inacessíveis das sociedades adoecidas por um conjunto de fatores, como as desigualdades sociais, a concentração de renda, crise de identidade nacional (Itália e Alemanha, no início do século XX, viviam o pós-unificação de seus respectivos Estados nacionais, tendo como heróis Garibaldi e Bismark; e Portugal e Espanha viviam as primeiras décadas da experiência republicana, depois de séculos de reinos coloniais que sobreviveram dos saques e da exploração dos povos originários e dos povos escravizados da África).

Se isso não fosse um fato histórico sem lugar a questionamentos, não teríamos assistido, no pós-guerra de 1945, às históricas sentenças (inclusive de pena capital), pelo Tribunal de Nuremberg, dos principais auxiliares de Adolf Hitler durante o III Reich, quando o tirano nazista foi líder supremo. O nazifascismo está proibido por lei expressa em todas as democracias sólidas, diferente do que afirmam os seguidores do inominável, saudoso da ditadura sanguinária vigente no Brasil entre 1964 e 1985.

Desde a década de 1920, no país há um inexpressivo, mas poderoso, grupelho de simpatizantes da Ação Integralista Brasileira (‘os camisas verdes’), fundada por Plínio Salgado. Um de seus mais conhecidos discípulos desde antes do pós-guerra de 1945 é o ex-senador e ex-presidente da Arena nos anos de chumbo Felinto Müller, um cuiabano que durante o Estado Novo (a ditadura fascista de Getúlio Vargas, entre 1937 e 1945) foi um importante colaborador do então ditador, tendo sido responsável pelo envio de Olga Benario Prestes ao campo de concentração nazista, na Alemanha, pelo que David Nasser escreveu um livro advertindo que “Falta alguém em Nuremberg”, referindo-se, óbvio, ao ex-chefe da polícia política estadonovista.

Décadas depois, um grupo de servidores de carreira do Judiciário e do Ministério Público Federal, chegadinhos a uma camisa preta, sob a liderança de Sérgio Moro e de Dalton Dallagnol, com a evidente ajuda do Departamento de Justiça e do FBI dos Estados Unidos (até porque seu QI não lhes permitiria muita argúcia para tamanha trama, como hoje fica provado com a impugnação da candidatura de Dallagnol pelo TRE/PR), começa uma sórdida perseguição ao (gostem ou não) até agora único estadista brasileiro do século XXI, também conhecida como ‘Perseguição Leva Jeito’.

A pressa para aprisionar o líder das pesquisas de 2018 era clara: tirar Lula das eleições daquele ano, cujo beneficiário, sem qualquer atributo à altura, conhecemos muito bem. Delações negociadas, acusações sem provas materiais, processos ‘a jato’ (sem qualquer trocadilho ignóbil). A farsa só caiu por terra depois que uma equipe de jornalistas corajosos do The Intercept Brasil publicou em uma série de reportagens a troca de faquinha, digo, de conversa entre eles (o que para o Estado de Direito é um crime). Atualmente, o máximo que esses quadrilheiros conseguem é serem candidatos a cargos pífios e, pior, pelos partidos que na eleição de 2018 deram apoio ao inominável.

Tanto o grupelho de recalcados fascistoides quanto o da ‘Leva Jeito’ têm uma narrativa insólita tão mentirosa quanto sua trajetória política, sobretudo nos últimos anos. Eram os heróis que os das avenidas Nossa Senhora de Copacabana e Paulista, entre outras, aclamavam nos idos de 2014 a 2018. Quem estava por trás? Bem, se pensarmos nos trilhões do pré-sal, nas sólidas empresas nacionais de infraestrutura e construção civil e naval, nas reservas bilionárias do Tesouro Nacional, no banco de desenvolvimento do BRICS, na liderança mundial pacifista e soberana protagonizada pelo Brasil na política exterior, os bananas de pijama e o caquético ‘irmão do norte’ (em minúsculas) estão por trás, como em 1964.

Para que prolongar por mais quatro semanas a derrota acachapante e eloquente sobre o fascismo e os facínoras que atentam contra o Estado Democrático de Direito? É preciso dar um basta rotundo, um chega prá lá consistente, para que os seis anos perdidos, aliás, retrocesso de quase 100 anos (a 1929), possam ser reparados desde já. Trata-se de um processo de reconstrução nacional do qual os legítimos patriotas (não patrioteiros) precisam se dar as mãos e, sem vaidades nem soberba, recolocar o Brasil nos trilhos do verdadeiro progresso e da redenção nacional, da qual o Povo Brasileiro é o verdadeiro protagonista, não os vendilhões de trinta moedas, incompetentes e mal intencionados, que em quatro anos mostraram seu verdadeiro caráter -- isto é, total falta de caráter.

Ahmad Schabib Hany

domingo, 18 de setembro de 2022

León Gieco & D-Mente - El angel de la bicicleta - Encuentro en el estudio


"!Bajen las armas, que aquí solo hay pibes comiendo!" (Pocho Lepratti)

sábado, 17 de setembro de 2022

A VIDA, COMO A HISTÓRIA, NÃO TEM MARCHA À RÉ

A Vida, como a História, não tem marcha à ré

O inominável, com todas as suas mentiras cabeludas capazes de ruborizar o capiroto, não conseguiu fazer o tempo andar para trás, mas seu séquito de negacionistas ainda teima. E como teima.

Até parece uma obra de ficção este período da história da humanidade em que um ser comprovadamente sociopata tomou de assalto os destinos de milhões de almas...

Nem os geniais Dias Gomes (imortal criador da imaginária Sucupira e o corrupto prefeito Odorico Paraguaçu), García Márquez (inimitável criador de Macondo, a cidade fictícia do patriarca José Arcadio Buendía) e Chico Buarque (iluminado compositor de centenas de verdadeiros hinos à liberdade, sobretudo de ‘Maldita Geni’ e ‘Chama o ladrão!’) teriam sido capazes de criar tanto surrealismo junto como o que um psicopata de competência duvidosa conseguiu impor a toda uma nação em tão poucos anos.

É bem verdade que esse ‘mérito’ não é todo seu, até porque competência nem para isso esse atabalhoado teria: o inegável ajutório do grupo de endiabrados de Steve Bannon, a partir da metrópole sanguessuga, e a viralatice indecorosa dos pretensos senhores de almas e vidas cativas hodiernos estão a protagonizar o grosso dessa bizarrice nefasta. Um bando de recalcados que se recusam a enxergar o óbvio -- a grandeza de alma e a beleza cativante de um povo generoso, acolhedor e laborioso -- e passam o tempo todo a praticar engenhosidades maldosas e a enxergar chifre em cabeça de cavalo.

Sempre a serviço de ‘grandes senhores’, é como os descendentes de Anhanguera, Raposo Tavares, Borba Gato e seus iguais vêm passando seus dias na face da Terra: saqueando o patrimônio público; matando os povos originários e escravizados e seus descendentes; grilando terras indígenas, quilombolas e reservas ambientais; desmatando florestas e contaminando rios e fontes hídricas; sonegando impostos e demais tributos, necessários para a efetivação de políticas de reparação de danos, promoção de direitos justos e tardios e erradicação das seculares desigualdades sociais; descumprindo leis e sentenças judiciais porque creem que o país lhes pertence; aviltando a história e a legitimidade das demais camadas da sociedade brasileira sob pretexto de somente eles serem ‘patriotas’, e, portanto, detentores de direitos (isto é, privilégios); mentindo e negando tudo porque em sua mente rasa só cabem eles, como o ‘povo eleito’ (daí a simpatia pelo fascismo, sionismo e Israel), verdadeiros narcisos.

Quando, em 1967, comecei a estudar História do Brasil no livro de Lourenço Filho, ficava incrédulo com a apologia aos bandeirantes, sobretudo Anhanguera e Borba Gato, e, mais ainda, à forma de descrever os povos originários e os escravizados trazidos da África. Os termos ‘silvícolas’ e ‘peças’ ao se referir aos nativos e africanos escravizados causavam um desconforto. Foi meu saudoso Pai quem conseguiu me ‘traduzir’ essa incredulidade ao dizer que era dessa forma com que os europeus se referiam aos outros povos, desde o tempo do Império Romano.

Tenho a honra de dizer que graças a meu saudoso Pai, primeiro mestre na leitura e escrita, aprendi a observar a arrogância de muitos imigrantes que, em vez de gratidão, demonstram soberba pelos brasileiros, bolivianos e demais latino-americanos, além de debochar da generosa hospitalidade e lhes impor uma inferioridade própria do espírito colonizador que saqueou, caçou, caçoou, abusou, escravizou, explorou, espoliou, matou e dizimou em nome do progresso do bolso deles e de seus reis igualmente saqueadores e canalhas.

Sem declinar nomes, mesmo porque não mais estão entre nós para se defenderem, não foram poucos os imigrantes (europeus, asiáticos e alguns africanos descendentes de europeus) com os quais meu Pai tivera discussões acaloradas por causa dessa atitude. Não por acaso um dos beneficiários da lenda do extermínio dos Guató era um imigrante que tentara matar um conterrâneo que descobrira a grilagem. Da mesma forma como era um imigrante ‘ex-nazista’ (sic) quem explorara durante décadas peões de fazenda iludindo-os com a promessa de que os tornaria guias de turismo. E como se isso fosse pouco, a ousadia de outro que acreditava piamente na superioridade de seus olhos azuis, e por isso trabalhar ‘para ele’ era um privilégio para seus serviçais, isso nas derradeiras décadas do século XX.

Eis a verdadeira razão pela qual o período de conquistas sociais e esplendor econômico do governo de Lula foi deplorado pelos ‘donos’ da nação, aqueles mesmos que iam para a Avenida Paulista ou Avenida Nossa Senhora de Copacabana para declarar o ‘cançei’ (assim mesmo, com ‘c’ cedilhado, maltratando o vernáculo). Estavam, sim, ‘cançados’ com o acesso a oportunidades de uma filha de doméstica cursar Medicina ou Engenharia numa universidade federal ou uma família da chamada ‘classe d’ viajar à Disney num voo internacional. O ranço da sociedade escravagista, do tempo da senzala, lhes subiu à cabeça e estimularam pilantras travestidos de agentes públicos a fazer uma das maiores fraudes processuais da história da humanidade, que nem o regime de 1964 havia cometido, e o resultado conhecemos: os recalcados da caserna deram a rasteira aos ‘amiguinhos’ do Aecinho Never e colocaram um sociopata como fantoche de interesses inconfessáveis.

Como não existe crime perfeito, caberá ao eleitor brasileiro a sublime tarefa de repelir os farsantes embusteiros e colocar o País nos trilhos do trem da História. Porque a Vida não tem marcha à ré. Porque a História não carece de amos e muito menos de serviçais.

Ahmad Schabib Hany

segunda-feira, 12 de setembro de 2022

ANTHONY GOMES OU CIRO GAROTINHO?

Anthony Gomes ou Ciro Garotinho?

Ciro Gomes está cada dia mais parecido ao então candidato Anthony Garotinho, que na campanha de 20 anos atrás veio com uma pegadinha ao então candidato Lula, a propósito da CIDE (Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico). Nem assim Garotinho conseguiu ganhar as eleições de 2002...

É indisfarçável o esforço sobre-humano de Ciro Gomes (PDT) de aparentar ser um sabe-tudo. Essa estratégia -- por sinal, malsucedida -- já havia sido adotada por Anthony Garotinho (ex-PSB), ex-governador do Rio de Janeiro que renunciara ao cargo para tentar eleger-se presidente da República. A jogada de mestre do então candidato era humilhar o líder das pesquisas Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no último debate entre os presidenciáveis de 2002.

Não é preciso dizer quem foi o vencedor daquelas eleições. Primeiro porque a soberba é de longe antipática. Se Garotinho teve seus segundos de regozijo durante o debate, Lula faturou muito mais ao demonstrar humildade e não se abalar com o constrangimento provocado pelo arrogante ex-aliado, até porque em 1998 ele e a então governadora Benedita da Silva (PT) foram companheiros de chapa e governaram juntos o Rio de Janeiro entre 1999 e 2002.

Obcecado pela Presidência da República, Anthony Gomes -- ou seria Ciro Garotinho? -- não consegue enxergar um palmo à frente de seu nariz. Comporta-se como aquele rapaz que, feito o “cuca-de-ferro” (o popular CDF) das escolas brasileiras de outrora, exibido e chato, que atordoa a todos com seu exibicionismo barato. Em vez de conversar com os seus interlocutores, parece querer convencer a si mesmo com suas ideias mirabolantes e passa o tempo todo esnobando um conhecimento que não coaduna com o momento: um candidato precisa estar conectado à realidade, ao que o povo que está em sua frente quer ouvir.

O ex-ministro da Integração Nacional de Lula em nada lembra o gentil e inovador gestor do processo de enfrentamento do desequilíbrio regional, avalizado por Lula, que tanto marcou o Brasil desde os tempos coloniais. Ciro hoje se comporta como um coronelzinho nordestino na ânsia de conquistar de qualquer jeito um objeto cobiçado. Ora, ele, que troca de partido e de companheira como quem troca de camisa, está cada vez mais parecido ao inominável, e, portanto, mais longe da desejada Presidência da República. Ou muda de postura, ou vê mais uma vez o bonde da história passar...

Enquanto Ciro perde esse precioso tempo, Simone, ao estilo clássico do ‘brimo’ Paulo Salim Maluf, vai ‘comendo’ o mingau pelas bordas e repetindo a fábula do ‘batrício esberto’ (como Michel Temer também): resgatando o estilo de mascate de seus ancestrais árabes, Simone se livrou logo da parceira e conterrânea Soraia para não insistir com a dupla nem tão sertaneja Simone & Soraia, e partiu para sua atuação solo, proativa e de voo alto, bem ao estilo das águias (é verdade, são aves de rapina, mas voam alto e não têm ‘dòzinha’ de ninguém).

A ‘terceira via’, que corria o risco de ver seu sonho não vingar, vê estas poucas semanas de setembro como sua grande chance de ficar, ao menos, em terceiro lugar. É difícil? Sim e não... Mas ela não desiste. Nem os tucanos e ex-comunistas do Cidadania, que projetaram sua candidatura. É que eles, por razões doutrinárias, não querem deixar de lavar a alma depois de verem o desastre que foi a aventura de apostar todas as possibilidades no ‘brimo’ Temer: a turma da caserna levou a sério o golpe e deu uma rasteira aos amigos de Aécio Never, e deu no que deu -- o lobo solitário saiu da caixa de Pandora e detonou qualquer chance da socialdemocracia se afirmar como alternativa.

Tanto é verdade, que o ex-governador paulista Geraldo Alckmin, um dos fundadores do PSDB em 1988, decidiu agir com o cérebro. Mesmo tendo sido adversário na maioria das eleições de que participou (apenas na do segundo-turno de 1989 apoiou Lula contra Collor, enquanto Lula apoiou Covas e Alckmin contra Maluf em 1998), Alckmin, do alto de sua maturidade política, decidiu ser vice na chapa de Lula, e com desenvoltura vem crescendo no arco de alianças que visa uma governabilidade sustentável.

Agora, nivelar Lula ao inominável é mais um flagrante desserviço à democracia e ao Estado Democrático de Direito. Primeiro, porque Lula não é um caudilho movido pelo messianismo, como é o inominável. Segundo, ao contrário do atabalhoado inquilino do Planalto, ninguém pode duvidar da capacidade de gestão e da sensibilidade social do até agora maior estadista brasileiro do século XXI (gostemos ou não dessa realidade -- como, aliás, não gostavam do fato de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart e até Ernesto Geisel terem perfil de estadistas, dos quais Getúlio e Juscelino despontavam de longe).

Mais uma vez, caberá aos verdadeiros democratas a reafirmação do Estado Democrático de Direito, conquista de diversas gerações que deram seus melhores anos (quando não a própria Vida): ou o fascismo e seus espectros embolorados e atabalhoados são de forma acachapante derrotados no primeiro turno, ou esses facínoras teimarão ainda golpear a nossa frágil República, sem dó nem piedade. Não esqueçamos que os fascistas não têm eleitores, mas cúmplices perigosos, como a História prova e reprova. Em vez de vaidade, precisamos, sim, de muita racionalidade. De mãos dadas, sempre, e sem titubeios.

Ahmad Schabib Hany

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Ukamau [¡Así es!] - Trailer

Yawar Mallku [Sangre de cóndor] - Trailer

TRAILER - Juana Azurduy, Guerrillera de la Patria Grande - Jorge Sanjinés

2012 VIRGEN DE COPACABANA (PELÍCULA COMPLETA)

Amargo Mar (Jorge Sanjinés)

Pedro Nadie (Interpretación de Marta de los Ríos y presentación y arreglos Waldo de los Ríos)


"También hacía que su canto sonara nuevo. Me decía que, cuando el hombre marcha alma adentro, hay que seguirlo. Porque allá en el fondo siempre está nadie esperándolo. Ya no sabe retornar. Y sólo la Calandria conoce los aéreos caminos..." (Waldo de los Ríos, "Pedro Nadie")

Llorando estoy (Interpretação de Martha de los Ríos e apresentação e arranjo de Waldo de los Ríos)

Waldo de Los Rios - Mozart (Sinfonia 40)

WALDO DE LOS RÍOS - Himno a la alegría (1975)

KARINA & WALDO DE LOS RIOS - En un mundo nuevo (1971)

ChicoBuarque - 60 Sucessos

Chico Buarque | Na Carreira (Show Completo)

A ARTE DE CHICO BUARQUE - VINIL DUPLO - FONTANA SPECIAL - 1975

MPB Política - Com Chico Buarque, Maria Bethânia, Gal Costa, Joyce Moren...

LA VERDADERA HISTORIA de CAMINITO (Tango)

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

A 'CULPA' É DO PROFESSOR DE HISTÓRIA...

A ‘culpa’ é do professor de História...

Diferentemente de 1922 e de 1972, as celebrações de 2022 são da dimensão do atual ocupante do Planalto -- medíocres e desfocadas -- , mas a ‘culpa’ é, como de costume, do professor de História...

O Amigo de mais de quatro décadas e Companheiro de jornadas memoráveis Historiador e Professor Paulo Marcos Esselin havia acabado de me compartilhar o artigo “Há um ‘historicídio’ em curso no Brasil”, escrito pelos historiadores Antônio Simplício Neto (UNIFESP), Paulo Eduardo Mello (UEPG), Valdey Araújo (UFOP) e Paulo Eduardo Teixeira (UNESP), em que advertem para o perigoso processo de esvaziamento da História (como durante o regime de 1964), publicado na página de opinião da Folha de S.Paulo em 3 de setembro último (https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2022/09/ha-um-historicidio-em-curso-no-brasil.shtml).

Como a ratificar o alerta desses historiadores inconformados, a minha Companheira veio do trabalho com um depoimento tristemente revelador. No ônibus que ela tomara, dois jovens casais -- dois secundaristas e dois universitários -- problematizam um dos fatos expostos no artigo, a ‘perda da importância’ da disciplina de História nas escolas (fruto da gestão conservadora do governo Michel Temer no BNCC, isto é, Base Nacional Comum Curricular, documento responsável pela normatização dos currículos das escolas públicas e privadas do ensino básico).

O jovem casal de universitários não consegue disfarçar a indignação pela displicência dos jovens adolescentes que, com naturalidade, revelou desconhecer o porquê do feriado de 7 de Setembro e da ‘badalação’ em torno dessa data (obviamente, por conta do Bicentenário da Independência), além de atribuir ao professor sua santa ignorância. Mais conformada, a namorada do universitário (parecia tratar-se de estudantes de alguma licenciatura, isto é, da Educação) tentou tranquilizar o jovem possesso: “Calma, Bebê, que eu já estou acostumada com isso...”

Ora, além do desprezo das elites pela História, Geografia, Filosofia e Sociologia -- todas aglutinadas pelo BNCC de 2018, e com o agravante de professor de qualquer área poder ministrar essas disciplinas --, o esvaziamento de seu conteúdo durante os quase 20 anos de vigência plena da famigerada Lei 5.692/1971 (outorgada, sem qualquer debate, pelo então ministro Jarbas Passarinho nos anos de chumbo), sob pretexto de que a juventude precisava de ‘ensino profissionalizante’ (o mesmo discurso, aliás, dos saudosos da dita cuja).

Minha geração é a prova viva da ‘pasteurização’ da educação ocorrida durante a vigência da Lei 5.692/1971: se nos anos letivos de 1970 e 1971 tivemos História e Geografia (Filosofia e Sociologia já haviam sido retiradas dos currículos escolares), a partir de 1972 passamos a ter apenas Estudos Sociais (em que os tecnocratas do MEC tinham aglutinado História e Geografia), além de Educação Moral e Cívica (EMC) e Organização Social e Política Brasileira (OSPB). No então chamado ensino superior, regido pela Lei 5.540/1968 (Lei da Reforma Universitária, resultante do Acordo MEC-USAID), a disciplina obrigatória a todas as graduações era Estudos de Problemas Brasileiros (EPB), versão universitária de OSPB.

No entanto, a despeito da doutrinação explícita durante os anos de chumbo e do fato de um coronel ter sido o titular do Ministério da Educação e Cultura (MEC), a estatura dos gestores da Educação fez com que a celebração do Sesquicentenário da Independência, em 1972, tivesse nuances memoráveis -- fosse para denunciar o oportunismo do ditador, que mandou cunhar moedas com sua imagem associada à de Pedro I, e, sobretudo, louvar a criatividade de docentes como o Professor João Papa, Professora Rosa das Graças Nunes Delgado, Professora Mary Calix Nachif, Professor Elias Francisco Machado Nemir, Professora Lourdesny dos Santos, Professor Odiney Taborda Papa, Professor Domingos Vieira Filho, Professor Luiz Carlos Katurchi, Professora Lúcia Cavalcante, Professora Joaquina Pires de Oliveira, Professora Maria Auxiliadora Maia e Professor Euro Nunes Varanis, cujas atividades extracurriculares nos despertaram o gosto pela Ciência, pelas Letras e, sobretudo, pela História.

E como gesto de gratidão, cabe, obviamente, um oportuno reconhecimento aos docentes e pesquisadores pioneiros dos cursos de História, Letras, Ciências e Pedagogia do Centro Pedagógico de Corumbá (CPC), da Universidade Estadual de Mato Grosso (UEMT), como a Professora Edy Assis de Barros, Professor Valmir Batista Corrêa, Professora Lúcia Salsa Corrêa, Professor Gilberto Luiz Alves, Professora Kati Eliana Caetano, Professor José Carlos Françolin, Professor Masao Uetanabaro, Professora Gisela Angelina Levatti Alexandre, Professor José Carlos Abrão, Professor Lécio Gomes de Souza, Professor Salomão Baruki, Professor Leonides Justiniano, Professor José Sebastião Candia, Professora Vera Lúcia Santos Abrão, Padre João Antônio Borges Bertoldi, Professora Albana Xavier Nogueira, Professor Octaviano Gonçalves da Silveira Junior, Professor José Luiz Finocchio, Professor José Roberto Zorzatto, Professora Maria Auxiliadora Puccini e Professora Vilma Teixeira, entre tantos outros não menos importantes.

O Centenário da Independência, em 1922, foi muito mais fecundo, pois legou a Semana de Arte Moderna de São Paulo, o primeiro partido de âmbito nacional e de ideologia socialista do país (o velho PCB) e o Tenentismo, movimento dos jovens oficiais que são a base da Coluna Prestes e mobilizações ocorridas na República Velha, aliás, reprimidas com muita violência, mas que expuseram a caducidade da política oligárquica que teima se manter nestes tempos sombrios.

Não há como não enxergar que os sucessivos gestores da Educação, a despeito do alardeado patriotismo, não planejaram absolutamente nada em termos do resgate da História para o Bicentenário da Independência. Pelo contrário, tentaram açambarcar os ideais libertários dos mártires da emancipação do Brasil da coroa portuguesa. Mas a sua mediocridade e falta de foco, ou melhor, embasamento histórico, os levou a um pífio comício nada republicano, sobretudo, em Brasília e Rio de Janeiro. Como se a soberania nacional e os anseios libertários fossem exclusivos a reduzido número de privilegiados, por sinal, pouco afeitos à brasilidade, cujas características são a empatia, solidariedade, acolhimento e hospitalidade.

Felizmente, como ocorre há mais de 30 anos, por iniciativa da CNBB e dos movimentos sociais ligados às pastorais da Linha Seis, o emblemático contraponto da celebração do Bicentenário da Independência ficou por conta do Grito dos Excluídos, que em diversas capitais -- como São Paulo, com o importante apoio do Padre Júlio Lancelotti -- doou milhares de marmitas com refeições saudáveis e/ou cestas básicas às famílias com fome espalhadas pelo Brasil nestes tempos sombrios e nada generosos. Porque soberania rima e coaduna com empatia, não com exclusão, ódio e intolerância.

Em síntese, os patrioteiros amesquinham o civismo, transformam-no em fanatismo, e ao professor, em particular, de História, cabe a ‘culpa’ pelos descalabros e a descabida alucinação em vez de celebração. Resta a esperança -- bendita esperança! -- de que um dia não muito distante as novas gerações possam fazer a celebração deste Brasil diverso e generoso de forma plena, livre e com o entusiasmo e a espontaneidade que faz do Povo Brasileiro lindamente apaixonante. Eis a nossa sincera ode ao Bicentenário da Independência.

Ahmad Schabib Hany