domingo, 27 de setembro de 2020

CINQUENTENÁRIO DE FALECIMENTO DE GAMAL ABDEL NASSER (1918 – 1970)

CINQUENTENÁRIO DE FALECIMENTO DE GAMAL ABDEL NASSER (1918 – 1970)

Nesta segunda-feira, dia 28 de setembro, transcorre o cinquentenário do súbito falecimento (não esclarecido) do líder árabe Gamal Abdel Nasser, um dos fundadores do Movimento dos Países Não Alinhados, ao lado de Broz Tito, Jawaharlal Nehru e Sukarno.

Fundador da Liga dos Estados Árabes e da República Árabe Unida (RAU), Nasser foi um líder pan-arabista e terceiro-mundista que inspirou muitos líderes latino-americanos entre as décadas de 1960 e 1970, entre os quais Velasco Alvarado (no Peru) e João Goulart e Leonel Brizola (no Brasil), e por essa razão foi combatido pelos Estados Unidos e seus serviçais pelo resto do mundo, como Anwar Sadat e Hosni Mubarak.

Em 2014, graças à Amiga, Irmã, Companheira e Camarada Amyra El-Khalili, tive a honra e o prazer de ter minha singela -- e sincera -- homenagem a esse grande líder publicada no emblemático Pravda, versão que faço questão de compartilhar com Vocês.



GAMAL ABDEL NASSER (1918-1970)

Setembro de 1970. As ovações ao tricampeonato da Seleção Canarinho ainda ecoavam pelos quatro cantos do país enquanto eram sufocados os gemidos das masmorras, nos piores dias do regime de 1964 (entre 1968 e 1973). Na pacata Corumbá, o querido Amigo Orlando Bejarano (cunhado do Professor Huguinho) e eu estávamos, na tarde do dia 28 (acredito que uma terça-feira), estudando para uma prova de Inglês, ministrado pela querida e competente Professora Suzana Maia, titular da disciplina no Ginásio Industrial Dr. João Leite de Barros, quando meu saudoso Pai nos surpreendeu, em indisfarçável estado de comoção, com a notícia do súbito falecimento do grande líder pan-arabista Gamal Abdel Nasser, aos 52 anos, então presidente da República Árabe Unida (nome do Egito durante pouco mais de uma década), vítima de um infarto fulminante quando retornava do aeroporto internacional do Cairo, depois de despedir as delegações de chefes de governos que participaram de um encontro da Liga dos Estados Árabes na capital egípcia, na tentativa de solucionar e apaziguar os ânimos dos líderes árabes revoltados pela repressão a centenas de ativistas palestinos na Jordânia, massacre mais tarde conhecido por Setembro Negro.

Não é demais lembrar que o Rei Hussein, de uma suposta “dinastia hashemita”, da Jordânia, nunca passou de um servil tirano, fantoche do Ocidente, entronizado por meio de um ardil do império britânico, que ao abandonar o território da Transjordânia (antigo nome, por conta do Rio Jordão, dos tempos bíblicos) deixou seus aliados tomando conta da porção árabe da Palestina, ocupada desde 1948 pelos sionistas, que em maio (dia 15) instalaram um governo para nunca mais deixar aquele território milenar e espalhar seitas fundamentalistas com o afã de “igualar”, bem aos moldes fascistas, os lados do conflito, um nefasto modo de justificar que a razão da interminável questão israelo-árabe é religiosa. O mesmo, aliás, os colonizadores fizeram no Egito, onde impuseram o Rei Faruk, deposto por Nasser e demais jovens oficiais egípcios contrários à subserviência do títere com máscara real, em 1956. Nada diferente foi no Marrocos, onde deixaram o Rei Hassan como feitor; na Arábia Saudita, onde reina até hoje uma fictícia (e medieval) “dinastia wahabita”, que por fazer o jogo dos “donos do mundo” de hoje, Estados Unidos e Israel, não sofrem qualquer tipo de sanção pelas violações sistemáticas dos direitos humanos, num regime tirânico, sanguinário e intolerante com os que ousam defender princípios verdadeiramente democráticos em seu território.

Mas, voltando à súbita (e suspeita) morte de Nasser, o maior líder árabe dos últimos trezentos anos, os 22 países árabes, a totalidade das nações asiáticas e africanas, todos os Estados socialistas e boa parte das nações latino-americanas se uniram na dor, por semanas a fio, fato comparado aos funerais de Jawaharlal Nehru, seis anos antes. Depois da interminável despedida ao líder árabe, começaram a circular notícias, nunca desmentidas, de que emissários da Irmandade Islâmica (com o apoio do Mossad, o serviço secreto israelense), arqui-inimiga do presidente egípcio, laico e anticlerical, teriam envenenado o incansável inimigo do invasores ocidentais, a despeito das duas derrotas sofridas entre 1954 e 1967 contra o Ocidente.

Ao contrário dos autoproclamados líderes árabes de seu tempo, Nasser causava muita preocupação ao Ocidente (sobretudo aos Estados Unidos e Israel) por ser um estadista laico e pró-socialista, mas sem curvar-se aos ditames soviéticos – tanto que foi um dos fundadores do Movimento dos Países Não Alinhados, ao lado de Broz Tito, Nehru e Zukarno – além de ter sido determinante na criação da Organização da Unidade Africana e da Liga dos Estados Árabes, enfraquecidas depois de sua morte prematura. Internamente, Nasser foi responsável pela modernização do Egito, pela promulgação de uma Constituição republicana democrática de forte perfil socialista (mas não estalinista), pela construção de importantes obras de infraestrutura, como a represa de Assuã, em seu tempo a maior do mundo (construída em cooperação com a União Soviética), e a malha rodoferroviária que integra o território do Egito aos demais países do Norte da África, cuja conclusão foi preterida por Anwar Sadat e Hosni Mubarak, respectivamente, durante o longo período de arbítrio e entreguismo protagonizado pelos dois fantoches ocidentais.

Gamal Abdel Nasser foi um generoso estadista árabe que inspirou muitos líderes do então chamado Terceiro Mundo a promover mudanças estruturais em seus respectivos países, além de ter incentivado, em toda a África, as corajosas lutas pela emancipação do jugo colonial europeu. Quarenta e quatro anos depois de sua morte (ainda não esclarecida), reverenciar a sua digna memória é, acima de tudo, um gesto libertário, um ato da saudável rebeldia disseminada nas duas décadas posteriores ao pós-guerra de 1945, quando a humanidade com perplexidade conheceu sem máscaras a intolerância e o ódio germinado na autoproclamada “civilizada” Europa de todos os holocaustos, de todas as inquisições e de todas as cruzadas. Mas como não há mal que dure cem anos, cá estamos a saudar o novo amanhã junto às novas gerações...

Ahmad Schabib Hany



segunda-feira, 14 de setembro de 2020

MÁRIO MÁRCIO EM SEU PRIMEIRO ANIVERSÁRIO NA ETERNIDADE

 

MÁRIO MÁRCIO EM SEU PRIMEIRO ANIVERSÁRIO NA ETERNIDADE

Neste dia 15 de setembro, semana de véspera da primavera, um Pai chora a ausência eterna de um aniversariante. Trata-se do Senhor Jorge José Katurchi, que do alto de seus quase 94 anos, chora incontidamente a dor da partida de Mário Márcio Maldonado Katurchi, sem ter podido se despedir dele.

Embora o Pai e o Filho tivessem muitas afinidades e uma personalidade muito parecida, a Vida, em seus labirintos inexplicáveis, em momento algum permitiu, no entendimento do sábio nonagenário, um momento de confidências. Foi na longa agonia da esperada recuperação de Mário Márcio primeiro em Campo Grande e depois em São Paulo que Seu Jorge foi descobrindo a alma-gêmea que sempre esteve ao seu lado.

Sobretudo depois da dolorosa partida do Filho, quando ao Pai coube a dura missão de reunir papéis disciplinadamente acondicionados e que, como um filme, permitiram rever a trajetória de Mário Márcio desde o seu retorno a Corumbá, depois de ter-se formado em uma das melhores faculdades de Economia do país.

Mais que a competência profissional, discretamente revelada em anotações minuciosas, Mário Márcio era um observador arguto da realidade, que sob o manto da irreverência habitual se permitia alertar os mais próximos. Quem dera que seus contemporâneos tivessem um lampejo dessa luz, para a felicidade do povo de sua letárgica Corumbá...

Além disso, dono de um coração generoso e gigante, nunca postergou suas iniciativas solidárias, sempre mantidas a sete chaves. Isso jamais deixou relatado. À medida que as pessoas são informadas de sua partida extemporânea, inúmeras são as revelações de uma personalidade capaz de compartilhar todo bem material.

No entanto, e Seu Jorge se entristece também por isso, guardava com o mesmo zelo as suas aflições, decepções e, sobretudo, seus problemas de saúde, próprios da maturidade que alcançara. Ainda que fosse um paciente disciplinado, não permitia que alguém se preocupasse com sua saúde, até porque ele sabia se cuidar.

Surpresa maior para um Pai zeloso como Seu Jorge é saber que seu Filho, agora ausente para toda a eternidade, não era diferente dele, até na forma de anotar tudo. Até sua preocupação com Corumbá, seu amor pela Família...

Já diz a sabedoria popular, Deus escreve certo por linhas tortas. A longa agonia vivida pelo Pai e toda a Família nos últimos dois meses, antes de sua eternização, permitiu, a despeito da angústia e do sofrimento, que Seu Jorge se preparasse para esse momento e recebesse a surpresa de ter um grande Filho, talvez maior que ele mesmo, afinal, acrescido das virtudes de Dona Anna Thereza, sua saudosa Companheira de Vida.

Em vez de lamentações públicas e cenas dramáticas, Mário Márcio deixou esta surpresa, como forma de mitigar a dor de sua partida. Um pingo de esperança e de conformação, ao se revelar ao Pai que sempre amou e com quem se espelhou naturalmente.

Ahmad Schabib Hany

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

CHOVE SOBRE SANTIAGO







Filme de Helvio Soto, em produção franco-búlgara, mostra como se processou o golpe sanguinário, coordenado pela CIA e financiado pela ITT, contra o presidente constitucional do Chile, Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973. "Chove sobre Santiago" era a senha da resistência para alertar a eventual deflagração de um golpe militar apoiado pelas forças conservadoras aliadas aos estadunidenses, planejadores e financiadores da quebra da ordem constitucional.

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

COMITÊ POPULAR PROMOVE MESA SOBRE SAÚDE INDÍGENA E A PANDEMIA NO PANTANAL E FRONTEIRA

 COMITÊ POPULAR PROMOVE MESA SOBRE SAÚDE INDÍGENA E A PANDEMIA NO PANTANAL E FRONTEIRA

 Com a histórica participação de Sônia Guajajara, estudiosos dos povos Guató e Camba, procuradora da República, simpatizantes da saúde indígena, representantes indígenas, da SESAI, CIMI e CNBB, definem-se estratégias para a proteção das populações originárias e tradicionais do Pantanal e fronteira.

Elaboração de termo de cooperação no âmbito do Ministério Público Federal para fazer valer o enfrentamento à pandemia junto às populações indígenas do Pantanal e fronteira. Além disso, formulação de plano de ação intersetorial voltado para os povos originários e tradicionais no Pantanal e fronteira; designação de representante indígena da região de Corumbá e Ladário para a articulação nacional indígena; confecção de projeto a ser executado pelos povos originários da região. Esses são, em síntese, os resultados alcançados de imediato pela mesa de diálogo realizada nesta quarta-feira, 9 de setembro, por meio de plataforma de videoconferência.

Articulação de mais de 30 entidades, movimentos e sindicatos de Corumbá e Ladário, o Comitê Popular de Enfrentamento à Pandemia reuniu a líder indígena Sônia Guajajara, os pesquisadores dos povos Guató e Camba Ruth Henrique da Silva (UFPB) e Jorge Eremites de Oliveira (UFPEL), a procuradora da República Samara Yassine Dalloul, a ex-superintendente da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) em Mato Grosso do Sul Regina Célia de Rezende, o técnico da SESAI na região Elson Fonseca de Almeida, o assessor jurídico do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) Anderson dos Santos e o secretário-executivo do Regional Centro-Oeste 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) Irmão Sílvio da Silva.

Sob a coordenação da Professora Simone Yara Benites da Silva, facilitadora do Comitê Popular e membro da Marcha Mundial de Mulheres; o apoio técnico do Professor Thiago Godoy, coordenador da Pastoral da Comunicação; e a articulação do Professor Anísio Guilherme da Fonseca, do Coletivo Indígena, e da Professora Cristiane Sant’Anna de Oliveira, do Grupo de Trabalho e Estudos Zumbi (TEZ), a reunião foi bastante produtiva. Ficou evidente a fluidez com que se realizou, sem disputas entre os participantes da mesa que, ao contrário, foram construindo coletiva e solidariamente um efetivo plano de enfrentamento à pandemia, a ser formalizado por meio de um termo de cooperação na Procuradoria da República, em Corumbá.

Ao agradecer, em nome do Comitê Popular de Enfrentamento à Pandemia, o Padre Marco Antônio Ribeiro Alves, coordenador da Pastoral da Mobilidade Humana, a todas as pessoas e instituições que se empenharam na realização do evento, como a Procuradoria da República, salientou o papel dos trabalhadores em saúde que estão na linha de frente e dos pesquisadores e suas universidades, como a Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) e Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), esta por meio das Professoras Cláudia Araújo de Lima e Elisa Pinheiro de Freitas, cuja generosidade tem permitido respaldar cientificamente as ações proativas do Comitê Popular.

Ahmad Schabib Hany