quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

UFPANTANAL RECEBE APOIO EM CONGRESSO DE DOCENTES UNIVERSITÁRIOS

UFPantanal recebe apoio em congresso de docentes universitários

O Congresso Nacional da ANDES, realizado em Vitória (ES), fez moção de apoio e recebeu com entusiasmo o Movimento UFPantanal. Por outro lado, o artista visual que caracterizou a imagem do movimento na primeira fase, Adilson Schieffer Martinez, se eternizou nesta semana, aos 67 anos.

O Movimento UFPantanal conquistou mais um relevante apoio, no 47º Congresso da ANDES, Sindicato Nacional de Docentes Universitários, que ocorre em Vitória (ES). Representando a Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (ADUFMS), o Professor Ilídio Roda Neves, do CPAN/UFMS, vice-presidente regional da entidade e interlocutor do Movimento UFPantanal, distribuiu material e pediu adesão ao abaixo-assinado virtual.

Além da aprovação de moção de apoio à criação da UFPantanal, a calorosa acolhida pelos participantes teve seu ápice durante a confraternização. O bloco Afrokizomba, chamado para o momento cultural, se entusiasmou e deu as boas-vindas à universidade que nasce com esse inspirador nome, Pantanal. Docentes, pesquisadores, intelectuais e artistas são unânimes em reconhecer que o nome tem um sentido mágico, como já foi registrado em depoimentos e relatos de expedições de diversos estudiosos.

TEOR DA MOÇÃO

Quinta aprovada em quatro meses, a moção apresentada pelo Professor Ilídio Roda Neves no Congresso da ANDES, em Vitória, traz as resoluções que seguem.

1.    Manifestar apoio veemente à criação da Universidade Federal do Pantanal (UFPantanal), reconhecendo-a como uma iniciativa estratégica para o desenvolvimento sustentável da região, para a excelência na pesquisa científica e para a formação de profissionais qualificados em áreas essenciais ao bioma e às comunidades locais.

2.    Exortar os parlamentares brasileiros a aprovarem, com máxima urgência, as propostas legislativas em tramitação no Congresso Nacional que visam à criação da UFPantanal. O reconhecimento da relevância desse projeto pelo Poder Legislativo é fundamental para assegurar o futuro do Pantanal e do país.

3.    Solicitar ao Ministério da Educação a inclusão da criação da UFPantanal como prioridade em sua agenda estratégica, reforçando o compromisso com a expansão e a equidade no sistema federal de ensino superior.

4.    Convocar a mobilização da comunidade acadêmica, científica e da sociedade civil em favor da UFPantanal, promovendo ações conjuntas que pressionem os poderes constituídos e evidenciem a importância desse projeto para o desenvolvimento regional e nacional.

5.    Ampliar a divulgação desta moção em todos os meios de comunicação disponíveis, sensibilizando a sociedade sobre a necessidade de fortalecer a educação superior pública e gratuita e promovendo a construção de um consenso em torno da criação da UFPantanal.

A criação da Universidade Federal do Pantanal constitui um marco histórico para o Brasil, oferecendo oportunidades únicas para a preservação do maior planície alagada do planeta e para a promoção de uma educação de qualidade que respeite a diversidade socioambiental da região.

Reafirmamos nosso compromisso com a luta pela implementação deste projeto, que representa um avanço significativo para o Brasil no enfrentamento das desigualdades regionais e na valorização de sua riqueza natural e humana.

PANTANAL POR INTEIRO

Não é primeira vez que é observada essa obsessão por abreviar o vocábulo como que fosse uma determinação, uma condição. Desde antes da divisão de Mato Grosso, durante o regime de 1964, passou a ser prática dos tecnocratas da ditadura o corte do nome do bioma, único por suas características. Quando se tratou de dividir Mato Grosso e criar Mato Grosso do Sul, os mesmos tecnocratas não perderam a oportunidade de cortar o território sem levar em conta consequências imediatas e futuras. Até porque não era essa a causa da iniciativa de 1977.

Inúmeras instituições foram criadas entre 1964 e 1984 dentro da região do Pantanal. Quase a totalidade, quando incluía o nome do bioma, terminava em ‘–pant’ ou ‘–pan’. A maioria dessas instituições desapareceu. Parece sina, pois o mesmo regime que quis dar um toque de modernidade no nome acabou por dividir o território do bioma sem ter-se preocupado em estabelecer mecanismos de gestão compartilhada entre os entes federativos. Só a partir de 1988, com a promulgação da Constituição Cidadã, o Pantanal passou a ter, em nível federal, tratamento institucional à altura de sua relevância.

Contudo, no pós-2016, todas essas conquistas institucionais se esvaíram, em decorrência do desmonte das políticas públicas voltadas para a sustentabilidade e o meio ambiente. O nome, portanto, é mais que um reconhecimento de identidade, é a afirmação histórica e natural de uma região e um bioma cujas características únicas o tornam referência por si. Não é casual que em determinadas ocasiões haja disputa entre as capitais dos dois estados pela ‘posse’ do nome, quando na verdade não passa de jogada de marketing, que só tem esvaziado e empobrecido a região, sua população e, sobretudo, os recursos naturais.

NOTA DE PESAR

Profundamente consternado, o Movimento UFPantanal lamentou o falecimento do artista visual Adilson Schieffer Martinez, dia 28 de janeiro, em Junqueirópolis (SP), onde morava desde 2023.

O reconhecido artista, responsável pelo resgate da iconografia Kadiweu, viveu e trabalhou desde a juventude em Mato Grosso do Sul e consolidou uma carreira voltada para a riqueza cultural do estado. Membro-fundador da Confraria dos Sociartistas e membro de primeira hora do Movimento UFPantanal, emprestou sua criação para ilustrar documentos e peças na primeira fase da campanha pela UFPantanal, iniciada em julho de 2024, tendo sido um dos primeiros signatários das cartas ao Presidente Lula.

Enquanto residiu no estado, o trabalho de Adilson Schieffer estava voltado para a temática cultural, sobretudo o legado Kadiweu, do qual foi importante divulgador. Em 2023, seu trabalho passou a focar temas religiosos católicos, tendo escolhido Maria centro de sua nova fase artística. Segundo uma das filhas, ele estava alegre antes de se eternizar depois de ter permanecido quase uma semana no CTI do hospital de Junqueirópolis e seu gesto derradeiro foi ter pedido um pincel instante anterior ao desenlace.

O desaparecimento físico de Adilson Schieffer, aos 67 anos, empobrece as artes no país. Os interlocutores do Movimento UFPantanal se irmanam neste momento de dor com a Família e Amigos do artista, reiterando o compromisso de, em reconhecimento de seu legado, promover as artes como uma das missões institucionais centrais da futura Universidade Federal do Pantanal, de cuja história ele faz parte desde a primeira hora.

Ahmad Schabib Hany

sábado, 25 de janeiro de 2025

Mohamed, 25 jan. 1949 - 21 set. 1974


Hoy, nuestro querido hermano Mohamed, Chichi, estaría cumpliendo 76 años, de los cuales solo convivimos con él 25. Deben estar haciendo una buena reunión en el cielo, con todos los que ya partieron. !Nostalgia!

25 DE JANEIRO

25 de janeiro

É o quinquagésimo aniversário de nosso Irmão Mohamed sem a sua presença iluminada. Em seus breves mas intensos 25 anos solidária e generosamente abriu horizontes e alargou as perspectivas de quem teve a sorte e a felicidade de com ele conviver. Tempos nefastos em que ter livros ‘censurados’ em casa era, no mínimo, uma atitude insana às vistas dos submetidos, dos domesticados, dos cooptados, enfim, dos cúmplices.

Emblemático, o 25 de janeiro para toda nossa Família sempre foi dia de júbilo e total congraçamento. Foi nessa data que, em 1949, nascera Mohamed, o Primogênito de nossos queridos Pais, no coração da Amazônia boliviana. Foi ele que iniciara a formação da prole de desassossegados, de questionadores, de focados e, sobretudo, de engajados em pugnas que têm princípios, jamais ídolos, sejam de barro ou de ouro.

Depois de nascer a segunda da prole, nossos Pais decidiram se mudar para a Ciudad Jardín, Cochabamba, onde nasceram mais seis dos nove filhos. Foi onde nossos Pais, além do trabalho honrado, se dedicaram ao aperfeiçoamento de seus conhecimentos. Nossa Mãe fez questão de aprimorar seus conhecimentos de enfermagem, ofício com o qual, solidaria e generosamente, atendia parentes, amigos e a vizinhança. Nosso Pai decidiu retornar às letras e, com a motivação do pan-arabismo, dedicou-se ao jornalismo e à cultura.

Com os Irmãos mais velhos, Mohamed não só conviveu, como viveu essas transformações, pois a Bolívia protagonizara a emblemática Revolução Nacional de 9 de Abril de 1952. É óbvio que a visão crítica sempre esteve presente. Cada qual se sentiu à vontade para optar por seguir sua consciência sob princípios humanistas ensinados e praticados por nossos Pais. Nosso Pai, de Família muçulmana; Nossa Mãe, de Família católica e drusa. Nunca, em sã consciência, vimos qualquer disputa entre eles por ‘fazer a cabeça’ de algum de nós. E isso também praticamos como legado de nossas Famílias ancestrais, tanto que os e as nossas Sobrinhas e Sobrinhos, Filha e Filho seguem de acordo com seus critérios.

A conscientização política de Mohamed e dos Irmãos mais velhos se deu ainda na Bolívia, onde tudo era debatido. Mais que consciência política, foi consciência de classe. Tenho bastante clareza de que jamais -- nunca mesmo -- tivemos presunção de nos sentirmos ‘crasse mé(r)dia’, embora nosso círculo de amizades entre imigrantes fosse de pessoas que aspiravam à tal pequena burguesia. Respeitávamos, mas sempre nos demos o direito de criticar, ainda que de modo discreto. Até para não ferir a dignidade dos Amigos.

Eu seu retorno ao Líbano, que vivia o clima de revolução sufocada em 1958 (e reaberta em 1975 com atentado sionista a ônibus palestino), nosso Pai preferiu ir trabalhar ao Egito, razão pela qual percorreu todo o norte da África durante as guerras de libertação nacional, cobrindo para a Rádio Cairo e para jornais árabes. Mas como a prole era grande, precisou adiar mais uma vez seu ofício de repórter da História para se dedicar, em sociedade com o querido Tio Hussein Khalil Schabib, a atividades comerciais em Trípoli, segunda cidade libanesa. Mohamed e os demais Irmãos que estavam em idade escolar, dedicaram-se com disciplina e afinco aos estudos, na antevéspera do ingresso à universidade.

Sob a contrariedade das Irmãs de nosso Pai, ainda vivas (era o caçula), ele ouviu a Mãe e Irmãs e Irmãos e decidiu retornar para o Brasil, onde ele já tinha trabalhado (em Guajará-Mirim, Rondônia) antes da decisão de ir ao Líbano. Mohamed e as Irmãs e Irmão mais velhos da prole ficaram a estudar na Bolívia, pois estavam em séries adiantadas (um ano depois, em 1966, só ficaram os três mais velhos na Bolívia). Mohamed optou por fazer Engenharia em La Paz, enquanto minha Irmã Arquitetura e o outro Irmão Medicina. La Paz foi uma experiência relevante para nosso ‘guru’, pois não só conheceu a realidade social e política como passou a fazer Sociologia com os catedráticos mais cotados da Bolívia.

Além da vivência na Universidade Mayor de San Andrés (UMSA), Mohamed desenvolveu um conjunto de iniciativas que, do ponto de vista humano, lhe valeram por pós-graduação em universidades de vanguarda. Isso pude constatar em 1984, quando tive oportunidade de conhecer alguns de seus contemporâneos e o valor de sua iluminada atuação entre eles. E todos eles foram unânimes em dizer de que não fora mera coincidência a não realização de um inquérito policial rigoroso em sua trágica e inexplicável eternização. Insisto dizer que só colheram o meu depoimento no momento do desenlace, quando eu, em estado de choque, aos 15 anos, estava desacompanhado de qualquer pessoa maior de idade. Como punição, os policiais me levaram ao ‘necrotério’, onde permaneci por algumas horas até a chegada de uma equipe do serviço funerário, que, surpresa, me retornou para casa.

Insisto reiterar, também, que ficaram com todos os pertences dele, de valor sentimental, sob o argumento cínico de que ‘faziam parte do processo judicial’, que nunca foi iniciado. Prevaricadores, sob a conivência de uma ditadura torpe, criminosa e déspota. Razão pela qual, sob o afetuoso conselho do saudoso Professor Octaviano Gonçalves da Silveira Junior, querido Amigo e confidente que se tornou (independentemente de suas posições políticas, as quais nunca escondeu de mim ou de quem quer que fosse), de que deixasse de pensar em Odontologia e fizesse Jornalismo ou qualquer curso que me habilitasse nesse ofício.

Mohamed, além de ter uma consciência privilegiada (bem como era mordaz com sabugos de qualquer tirania, permitindo-se irreverência aguda e incômoda, tanto que não faltaram insinuações maldosas entre os apaniguados do regime de 1964), ensinou-nos a empatia, a resiliência e a hoje denominada de paciência histórica (eufemismo para o comportamento racional, livre de recalques). Quem o conheceu, como as Irmãs e os Irmãos, sabe que sob quaisquer circunstâncias não cometeria desatino qualquer, ainda que sob tortura, e jamais causaria aos que amava, propositalmente, uma dor tão corrosiva e causticante.

Nossos Pais, que desde sempre nos deram liberdade para fazer as escolhas que nos fossem ou parecessem melhores, nunca superaram a perda de Mohamed, embora soubessem de que houvera motivação criminosa na condução do inquérito. Já idoso, ao ouvir do Amigo mais querido, que se tratavam como Irmãos (este Amigo se eternizara na Palestina durante uma festa), por que, sobretudo as Filhas, não se casavam com ‘patrícios’, e meu Pai lhe respondeu que perguntasse isso a elas, porque ele jamais induziria uma Filha ou Filho.

Filhas e Filhos da Liberdade. É isso que nossos Pais nos ensinaram. Liberdade na concepção de emancipação. Libertária, plural. Como a identificação com a causa empreendida no Brasil pelo gigante Ulysses Guimarães, entre outros e outras não menos importantes. Por isso aprendemos a somar na diversidade. A combater o narcisismo político, presente em todos os espectros ideológicos, e que empobrece a conquista de um mundo melhor, uma sociedade mais justa. Porque se vive no presente para semear o porvir, o futuro. Porque a Terra, suas riquezas e todos os seres viventes não nos pertencem: é para que as gerações futuras possam viver e fazer as escolhas que melhor lhes aprouver.

SOCIEDADE PREDADORA

Se aquela hilária personagem do saudoso Jô Soares saísse do coma e acordasse exatamente hoje e assistisse ao noticiário ou lesse um jornal, não resistiria ao que se lhe reportou. Um autoproclamado ‘cristão’ fanta laranja a enquadrar o Planeta como se tivesse sido eleito pela humanidade toda. Um delirante extasiado com o poder que lhe volta às mãos porque a dita ‘democracia’ não passa de verdadeira plutocracia, o poder dos endinheirados. Tudo um embuste, uma falácia.

Como eles têm ogivas nucleares capazes de destruir sessenta vezes o Planeta, prudência e paciência histórica são necessárias. Porque com ‘loucos’ não se discute: eles têm sempre razão. Sempre usaram -- e ainda usam -- o discurso de que ‘precisamos nos defender dos inimigos da democracia, da liberdade, da justiça’. Mas quem é esse inimigo, senão eles mesmos, os estadunidenses e seus aliados da OTAN (União Europeia e Reino Unido)? Sejam ‘democratas’ ou ‘republicanos’, o status quo estadunidense é sionista, e a prova foi dada quando do apoio dos dois adversários na disputa pela casa mal-assombrada a Herodes atual -- o inominável primeiro-ministro sionista Netanyahu -- e seu séquito de vassalos pelo ‘mundo civilizado’ afora...

Em Gaza, a Resistência Palestina -- bem como o Eixo da Resistência, com ênfase à do Líbano e do Iêmen, de uma coragem que se contrapõe à covardia paga em ouro dos mercenários sionistas e da OTAN, de triste memória, e suas fortalezas tecnológicas criminosas -- deixou claro mais uma vez que enquanto houver um árabe na face da Terra não haverá paz aos imperialistas. A História ensina que há uma dinâmica na humanidade em que sempre desassossegados tentam, tentam e continuam tentando até um dia acabar com a opressão. Não fosse assim, estaríamos ainda na Idade Média. Lembre-se da Queda da Bastilha, em julho de 1789, e da Tomada do Palácio de Inverno em outubro 1917.

Para que conhecêssemos essa tal ‘democracia’, ou ‘Estado de Direito’, ou ‘Estado de Bem-Estar Social’, foi preciso enfrentar tortura, morte e perseguição. Foi preciso decapitar reis e czares também. Terrorismo? Não, a História não é romance, ou filme americano: é luta, e o nível de progresso da humanidade a que chegamos devemos aos que ousaram pôr sua vida a prêmio, sacrifício, para pôr fim à tragédia que continuava e não era derrotada.

O papel dos que têm um pingo de consciência sobre a dramaticidade deste momento da história -- com os mesmos contornos do chamado “período entre guerras”, entre 1918 e 1939, quando o capitalismo, em profunda crise, apostou em tiranos como Adolf Hitler, na Alemanha; Benito Mussolini, na Itália; António Salazar, em Portugal, e Francisco Franco, na Espanha. Ato de generosidade? Não, para levar a humanidade à guerra, e, sem ter sofrido absolutamente nada (só lucrado com a sua indústria bélica) na Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos aparecem como os ‘salvadores da humanidade’, quando hoje estão expostos os documentos entre esses tiranos e Truman, o vice que assumiu depois da morte não elucidada de Roosevelt. Não é preciso ser muito letrado para saber que quem deu cabo ao III Reich de Hitler foi o Exército Vermelho, da União Soviética, que chegou às portas do palácio de Hitler, em Berlim. Não foram os engomadinhos do Pentágono, não.

O Partido Democrata dos EUA é conhecido como predador, pois, além de ter começado todas as guerras em mandatos de presidentes eleitos por esse partido, os três presidentes mortos em circunstâncias não elucidadas tiveram vices antagonistas: Abraham Lincoln, Franklin Roosevelt, e John Kennedy. E como os estudiosos da História concordam que a história só se repete como farsa -- pois os detentores do poder recorrem às maracutaias bem sucedidas de antigos tiranos para alcançar seus propósitos. Hitler, Mussolini, Salazar e Franco se deram mal, embora os dois últimos, por conveniência dos EUA, França e Inglaterra, foram poupados da destituição e mantiveram suas ditaduras sanguinárias na ‘Europa democrática e civilizada’ até 1975, tanto em Portugal como na Espanha.

Por tudo isso, não dá para fazer concessões aos representantes do atraso, como o fanta laranja. A história caminha pra frente, de modo que, em vez de sucumbir, devemos fazer com que se liberte a humanidade -- sobretudo as novas gerações, que nada têm a ver com as ambições e a cobiça de menos de 1,5% da população humana do Planeta e nos queiram impor uma tragédia anunciada.

Netanyahu, dizem, está hospitalizado por causa de câncer de próstata recém-descoberto. A imprensa pró-sionista não divulga para não enfraquecer o governo genocida, por pressão das potências internacionais. Por isso, o Conselho de Ministros (o Estado sionista usa o regime parlamentarista de governo, em que o primeiro-ministro é o chefe de governo e o presidente é o chefe de Estado) se reuniu e, na ausência de Netanyahu, ganhou a posição do cessar-fogo, ao que o primeiro-ministro, internado, rejeitou, mas como estava ausente, pelas normas regimentais do Knesset (parlamento sionista), vale a decisão do Conselho de Ministros, de 16 a favor e 8 contra o cessar-fogo.

Não acredito em cessar-fogo. O ente sionista nunca respeitou resoluções, acordos e muito menos jurisprudência internacional. Há dois meses, depois de anunciar o acordo de cessar-fogo de 60 dias com o Hizbullah no Líbano, referendado pelos Estados Unidos e França, os mercenários terroristas financiados pela Turquia com o aval da OTAN e todas as potências ocidentais -- e, óbvio, o Estado sionista -- invadiram, promoveram uma carnificina contra a população civil e derrubaram o governo da República Árabe da Síria, integrante do Eixo da Resistência, junto do Irã, Iraque, Iêmen, Líbano (Hizbullah) e Resistência Palestina (Hamas, Frente Popular, Frente Democrática, Al-Fatah-Comando-Geral e Jihad). Quem viver verá. Mas nossos respeitos à Resistência e ao Povo Palestino, bem como ao Hizbullah, do Líbano, e aos Hutis, do Iêmen. Porque os parasitas militares árabes, sobretudo na Síria, venderam seu patriotismo antes de enfrentar os terroristas bancados pela Turquia.

Ahmad Schabib Hany

الوطن الأكبر - Al Watan Al Akbar - 1959 Damascus Concert Version - No Lyrics


Ato solene de constituição da República Árabe Unida, a gloriosa RAU, com Gamal Abdel Nasser, da República Árabe do Egito, com a República Árabe da Síria; mais tarde o Iraque iria se somar à RAU. Mas o súbito falecimento de Nasser em setembro de 197O representou em abandono do projeto do Pan-Arabismo emancipador e republicano.

أغنية "وطني حبيبي الوطن الأكبر" بصوت كورال أم النور، من داخل المركز الثق...

E M E L - NOBEL PEACE PRIZE CEREMONY

فرقة بنات القدس - كلمتي حرة

فرقة بنات القدس من معهد ادورد سعيد للموسيقى

Orquesta Palestina - Mary of Gaza

quinta-feira, 23 de janeiro de 2025

ANTES QUE SEJA TARDE

Antes que seja tarde

Não se trata de ‘panaceia’, remédio para todos os males. A Universidade Federal do Pantanal é solução imediata para assegurar oportunidades dignas à nossa juventude e suas famílias. Só a educação é capaz de preparar, mediante um presente digno, um futuro alvissareiro para as novas gerações e para o Pantanal.

Reza a lenda que, quando o Criador fez do Pantanal um verdadeiro Paraíso na Terra, não estabeleceu nenhum empecilho no tocante aos ‘chegantes’ de todos os recônditos deste mundão velho, ‘sem Deus nem lei’. Tanto que os generosos originários celebraram a vinda dos invasores europeus como heróis, e foram estes os responsáveis por oprimi-los, saqueá-los, escravizá-los e submetê-los ao seu jugo nada cristão...

Não vou me ater à lenda do ‘encontro/descobrimento’ -- porque, a rigor, foi ‘encontrão’, violência pura -- dos autoproclamados ‘civilizados’, como Hernán Cortés, Francisco Pizarro, Vicente Pinzón, Álvar Núñez Cabeza de Vaca e Pedro Álvares Cabral (isso sem falar de sua tripulação de condenados que não tinham outra que agarrar uma ‘segunda chance’ nas distantes terras recém-colonizadas). Sem recorrer ao mito da ‘Inteligência Artificial’, o ‘mestre’ Google pode dar algumas pistas ao buscar Montezuma, Atahualpa, Cortés, Pizarro, Pinzón, Cabeza de Vaca e Cabral.

Os mesmos originários que receberam de braços abertos os invasores hoje vivem à míngua, sob o jugo canalha e cínico dos ‘civilizados’. No Pantanal não foi diferente: castelhanos e lusitanos o disputaram num primeiro momento, seguidos dos ‘bandeirantes’ e, em menor escala, das ‘entradas’. O que importa é que a rica miscigenação decorrente desse processo histórico está no limiar de novo tempo a todos. Que pode ser alvissareiro como pode ser trágico, a depender de nossa capacidade e atitude sincera e coerente, fazendo com que o Pantanal, cobiçado desde os tempos coloniais de triste memória, seja reconhecido por sua vocação generosa: solução para os principais dilemas da humanidade hoje. Agora.

SAÍDA PELA BR-262?

Dias atrás, quando estávamos na adesivagem na Frei Mariano com a Treze de Junho, um Amigo muito querido que não conseguiu se reeleger vereador me fez uma provocação, ao que respondi que mais que brigar com a capital, é preciso fortalecer a representatividade local, seja por meio de parlamentares ou por meio de secretários -- assessores executivos no primeiro escalão do governo estadual ou dos ministérios do governo federal --, pois, após o golpe travestido de impeachment e prisão dos dois dignitários caluniados, só nos restaram promessas, promessas e promessas para o Pantanal, em especial para Corumbá e Ladário. Por isso a solução para o Pantanal tem nome e sobrenome: Universidade Federal do Pantanal -- UFPantanal, sem abreviações, porque Pantanal é nome forte, é marca. Ou alguém tem dúvida?

Não adianta ficar brigando com Campo Grande, que por ter mais expressão na Assembleia Legislativa, Câmara Federal e Senado da República, vai ficar com maior fatia nas emendas parlamentares. É verdade que em 2023 e 2024 a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) granjeou para seus campi de Campo Grande todos os valores obtidos com as emendas parlamentares para aquela instituição. Ou nossos dirigentes locais são tão fracos e incompetentes para reivindicar um quinhão daquilo que foi destinado para a instituição (que acabou concentrado em Campo Grande), ou é hora de aprendermos que todos os segmentos da população do Pantanal perdem se não tivermos a grandeza de superar diferenças e nos unirmos, pois continuar a sabotar o trabalho do outro não leva a lugar nenhum, enquanto nossa juventude só vê saída na BR-262.

No contexto da campanha pela criação da UFPantanal, só temos um caminho: nos unirmos, independentemente da religião, da origem ou etnia, da classe social, do time de futebol, da simpatia partidária, da opção sexual e do ofício ou profissão que temos. Ou nos unimos efetivamente pela UFPantanal ou nossos jovens -- e as suas famílias -- não terão outra saída que a BR-262, repito. Está dando um tiro no pé quem estiver apostando no fracasso de mais uma causa em defesa do Pantanal e de sua população -- de todos os segmentos, classes e camadas da população, sobretudo dos segmentos que vivem de seu trabalho, de seu dia-a-dia (quem vive das tetas do Estado não sente) --, em que todos, absolutamente todos, ganham: não há nada mais democrático que a Educação, a Ciência e a Tecnologia, fontes de oportunidades. Como os sábios ancestrais diziam, não demos chance ao azar.

JUSTA HOMENAGEM

A eternização em Campo Grande da agora saudosa Professora Teresa Cristina Varella Brasil de Almeida, dia 17, comoveu todas as pessoas que tiveram a sorte e felicidade de conhecê-la e compartilhar momentos inesquecíveis ao seu lado. Filha do saudoso Professor Djalma Sampaio Brasil, lendário docente de línguas estrangeiras, um verdadeiro poliglota, a Professora Kitty, como era carinhosamente chamada, trabalhou de 1996 a 2024 na UFMS, desde os tempos em que o campus local era chamado de Centro Universitário de Corumbá (CEUC), ministrando aulas e fazendo pesquisas no curso de Letras, suspenso em 2019.

A Professora Denise Campos Diniz Mônaco, ex-aluna da Professora Kitty, fez uma sensível e emblemática homenagem nas redes sociais. Uma belíssima crônica que foi gravada pelo Amigo Joel de Carvalho Moreira, também ex-aluno da Professora Kitty e servidor do Poder Judiciário em Campo Grande, para ser nossa forma de ampliar essa homenagem em todos os espaços possíveis, como na adesivagem da UFPantanal, sábado passado, no centro de Corumbá. À Família da saudosa Professora Kitty nossos sinceros e profundos sentimentos. À Professora Denise Diniz e ao Joel Moreira nossa gratidão por ter compartilhado carinhosa e generosamente esta homenagem à Professora Kitty, presente, hoje e sempre!

“KITTY...

“Era uma vez uma adolescente, de corpo pequeno, de menina, porém bem talhado pelas mãos divinas. E, como toda adolescente, gostava de vestir-se à moda compartilhada, naquele momento áureo entre os adolescentes: camiseta, calça jeans e melissa... Ela adentrava à sala de aula com um jeitinho que era só dela... Ficávamos encantados quando ela perguntava: How are you? Nós respondiamos: Fine, thanks! Fazíamos a 5°série, Dalas e eu, aprendemos o verbo To Be, e nunca mais esquecemos. Depois de alguns anos, minha irmã e eu a encontramos na UFMS/CEUC. Ela teve um filho que, depois de formadas, foi nosso aluno. Um menino muito especial blindado por um manancial de amor genuíno vindo dela... Antes de sairmos da Universidade, fizemos um concurso. Fomos muito bem classificadas. Claro! Éramos alunas da mais obstinada professora na missão de ensinar.

“Tinha mais uma coisa: Ninguém que ousasse mexer com seus alunos ficaria sem esclarecer os fatos. Não gostava de injustiças... Era íntegra, leal, fiel, honesta. Eu e Dalas (professora de Inglês, assim como ela) tivemos a sorte de pertencemos ao conjunto de seus afetos. Mas, voltando ao assunto da Universidade, Kitty levou a prova do concurso para que todos a fizessem. Corrigiu cada uma das questões. Parabenizou-nos diante de nossos colegas de classe pela conquista. Saiu alegre, mas com toda a humildade e simplicidade que lhe eram peculiares.

“Professora, está doendo muito a sua partida... Porém, ficaremos com as gargalhadas que você se permitia dar quando estávamos juntas, né, Ângela? Adeus não, Kitty. Adeus dói demais... demais... No máximo, um tchau, ou um até logo!

Denise Campos Diniz Mônaco”

MARIO CASTRO, “LA VOZ DE ORO”

A Bolívia, a radiofonia e a humanidade perderam mais que “La Voz de Oro”, o querido e agora saudoso Jornalista e Radialista Mario Castro Monterrey. Perdemos todos um Ser Humano com letras maiúsculas e de uma generosidade do tamanho de seu talento. Mario Castro se eternizou na manhã de 19 de dezembro, aos 90 anos, 73 deles dedicados à radiofonia, em que privilegiou os seus ouvintes não apenas com sua voz inesquecível, mas seu talento e sua generosidade ímpar. Iniciou-se, em 1951, aos 17 anos, na Radio Libertad e pouco depois já era diretor da Radio Altiplano, onde permaneceu até 1965. Em 1976, durante os anos de chumbo na Bolívia, fundava a Radio Cristal, emissora em que revelou talentos que tiveram um protagonismo no Jornalismo boliviano, com destaque para o igualmente gigante Jornalista Lorenzo Carri, editor de esportes do emblemático diário Presencia. Em 1993 teve coragem de fazer novo tipo de radiofonia, na Radio Cumbre, emissora exclusiva de músicas clássicas, focada na formação de público.

Conheci-o por meio de minha Irmã Wadia em 1984, quando ainda produzia, apresentava e dirigia seu programa dominical, Revista Cultural, em que entrevistou grandes personagens da literatura, das artes e da ciência, entre eles Eduardo Galeano. Em um dos dois volumes de Lo que el viento no se llevó, obra-prima com primorosas memórias, há depoimentos extraordinários. A seu lado, conheci o Jornalista Lorenzo Carri, versão boliviana do Joelmir Betting, e a Jornalista Amalia Pando, uma incansável repórter que há pouco tempo parou definitivamente seu ofício depois de perder o unigênito. Até recentemente mantínhamos correspondência longeva, interrompida por causa do AVC que o silenciou. Uma das pessoas mais honradas que conheci e com quem tive a honra de me corresponder a partir de minha última estada na Bolívia, e por seu intermédio com os intelectuais, escritores e Jornalistas Néstor Taboada Terán, Hernán Melgar Justiniano, Roberto Arnez Villarroel, Andrés Soliz Rada, Alejandro Almaraz Ossío, Juan Cano, Pedro Suzs e Lorenzo Carri. Mais que “La Voz de Oro”, “La Conciencia de Oro”. ¡Hasta siempre, Mario Castro!

Ahmad Schabib Hany

 

quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

QUARENTA ANOS DO FIM DA DITADURA

Quarenta anos do fim da ditadura

A emblemática eleição pelo Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985, de Tancredo Neves representou uma pá de cal para o cadáver insepulto como já era o regime de 1964. Contudo, o aparelhamento do Estado pelas milícias e esquadrões paramilitares durante 21 anos representou uma ameaça velada que sobreviveu por 33 anos até golpear acintosamente Dilma Rousseff em 2016 e perseguir e prender Lula em 2018. É hora de exorcizar esse fantasma.

15 de janeiro de 1984. O Brasil assiste ao vivo e em cores o fim de uma noite de 21 anos, perversa e terrorista, imposta ao povo brasileiro em nome da ‘democracia’, da baioneta e dos casuísmos; da censura e do medo; da tortura e dos desaparecimentos; das eleições indiretas, dos ‘senadores biônicos’ e das nomeações de prefeitos de capitais, de ‘áreas de segurança nacional’ e de ‘estâncias hidrominerais’.

O Colégio Eleitoral, uma invencionice do regime para burlar a soberania popular -- do voto direto, secreto e universal --, foi o cenário em que o governador mineiro Tancredo de Almeida Neves e o senador maranhense José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, aliás José Sarney, representando a Aliança Democrática (coligação PMDB-PFL), empreenderam uma acachapante derrota sobre o candidato do regime, Paulo Salim Maluf e Flávio Portela Marcílio (PDS), 72,7% para a Oposição contra 27,3% para o regime.

Em números absolutos, foram 480 votos para Tancredo contra 180 para Maluf. Embora a sensação de frustração por não ter sido por meio de eleições diretas a derrota da ditadura, a vitória de Tancredo sobre Maluf representou um alívio para a sociedade civil, já farta do casuísmo recorrente de um regime que mal conseguia se manter. Articulada por Ulysses Guimarães, a Aliança Democrática foi um movimento de continuidade à mobilização pelas Diretas-já de Dante de Oliveira, derrotada sob a presidência de Flávio Marcílio da Câmara Federal, mais tarde vice de Maluf no Colégio Eleitoral.

A Aliança Democrática não apenas avalizou a chapa Tancredo-Sarney, mas uma agenda política comprometida com o fim do chamado ‘entulho autoritário’, como a convocação da Assembleia Nacional Constituinte, realização de eleições municipais ainda em 1985 nas capitais e cidades de interesse da segurança nacional e estâncias hidrominerais, entre outras bandeiras, como liberdade de organização sindical e partidária, pondo fim à proibição de funcionamento de partidos como o PCB e o PCdoB.

Com a frustração decorrente da doença de Tancredo Neves e seu impedimento na posse, José Sarney assumiu todos os compromissos pactuados pela Aliança Democrática, tendo, inclusive, mantido os ministros nomeados pelo presidente eleito. Em gesto emblemático, Sarney pediu a Ulysses Guimarães e a José Fragelli, respectivos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, ambos do PMDB, o apoio para governar sob o legado de Tancredo Neves e as consignas do maior partido de oposição ao regime -- gesto que conquistou o apoio da maioria da população brasileira nos primeiros anos de governo.

O Plano Cruzado e a posterior moratória brasileira ao Fundo Monetário Internacional foram momentos relevantes conquistados pelo governo de Sarney, quando sua aceitação popular atingiu índices extraordinários. No entanto, as elites se entrincheiraram e fizeram de tudo para pôr o Plano Cruzado abaixo, com a participação de pemedebistas, como o senador Orestes Quércia, declaradamente contrário a qualquer possibilidade de que o maior líder do PMDB, Ulysses Guimarães, visse a possibilidade de ser candidato à Presidência da República em 1989.

ASSEMBLEIA CONSTITUINTE

O ponto alto da Nova República, como foi chamada a transição da ditadura para o Estado Democrático de Direito sob a égide da nova Carta Constitucional, foi a Assembleia Nacional Constituinte, presidida pelo Deputado Ulysses Guimarães e, por iniciativa dele, aberta à participação popular. Foi um período muito rico da cidadania brasileira, pois temas caros para as classes trabalhadoras e para as camadas populares foram introduzidos em debate memorável, talvez único na história do Brasil.

A definição da democracia como cláusula pétrea e todos os incisos constantes do Artigo 6º fizeram da Constituição de 1988 uma conquista civilizacional, bem como a implantação de políticas públicas nas áreas da saúde, educação, cultura, assistência social, direitos humanos, direitos da criança e do adolescente, da pessoa com deficiência, do idoso, da mulher, do negro, do indígena, do imigrante, do migrante, do sem-terra, do sem-teto, do desempregado, da população em situação de rua, dos trabalhadores em situação de vulnerabilidade, da economia popular e solidária, da função social da terra, do consumidor etc.

Enquanto em todo o Brasil, inclusive em Corumbá e Ladário, os setores organizados da sociedade civil comemoravam os avanços institucionais, os saudosos da ditadura e de todos os casuísmos por ela paridos se organizavam acintosamente, a ponto de a candidatura de um filhote da ditadura como Fernando Collor de Mello, bancado pelas oligarquias nacionais e antipopulares, ter sido sagrada vitoriosa no primeiro pleito eleitoral pós-1964. Artificial e totalmente carente de lastro popular e de consistência temática, o mandato de Collor de Mello foi abreviado por meio do primeiro impeachment da história política do país.

Ao assumir, em setembro de 1992, o até então vice-presidente Itamar Galtiero Franco a Presidência da República, constituiu um gabinete ministerial pluripartidário em que todas as forças democráticas do país estavam representadas, inclusive os até então proscritos PCB e PCdoB. Itamar, que fizera parte do setor autêntico do PMDB na luta contra o regime de 1964, priorizou um conjunto de metas para fortalecer agenda democrática, abalada pelo meteórico e corrupto governo de Collor de Mello.

Nessa leva, o Sociólogo Herbert de Souza, Betinho, e Dom Mauro Morelli, Arcebispo de Nova Iguaçu e São João de Meriti, foram nomeados sem ônus para o erário coordenadores do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea). Daí surgiram as políticas pioneiras contra a fome, por meio da Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida, que replicou em todo o território nacional, inclusive Corumbá e Ladário, por meio de Dom José Alves da Costa, Padre Pasquale Forin, Pastor Marcelo Moura, Padre Ernesto Saksida, Pastor Fernando Sabra Caminada, Irmã Antônia Brioschi, Pastor Antônio Ribeiro de Souza, Irmã Aurélia Brioschi, Padre Antônio Cipriano Müller, Pastor Cosmo Gomes de Souza, Padre Emilio Zuza Mena, Irmã Zenaide Britto, Seu Zózimo de Paula, Professora Maria de Paula e Dona Rose de Paula.

AS E OS ‘DO ARMÁRIO’

Contudo, aos poucos os recalques foram saindo do armário. Quando democratas não tão convictos, a despeito de descenderem de grandes democratas brasileiros como Tancredo Neves, começaram a investir em novos mecanismos golpistas, com o beneplácito de fortes grupos vinculados à elites rentistas -- isto é, parasitárias -- do país com sede na Avenida Faria Lima de São Paulo, a caixa de Pandora foi aberta e espectros nefastos começaram a ganhar popularidade, como o inominável e a quadrilha da ‘Leva Jeito’, de triste memória.

Eis que entre 2014 e 2018 foram sendo orquestrados acordes nada criativos, com base em um falso moralismo. Antipatrióticos, nocivos aos interesses nacionais e cultores do pior da extrema-direita tupiniquim, juntaram-se para perseguir Lula e destituir Dilma recorrendo a velhos estratagemas nada inteligentes, todos eles devidamente denunciados, graças à determinação de Jornalistas como Mino Carta, Luis Nassif, Bob Fernandes, Mauro Lopes, Leonardo Atuch, Luiz Carlos Azenha, Chico Pinheiro, José Arbex, Juca Kfouri, Fernando Morais e o saudoso Paulo Henrique Amorim.

Coube a Jornalistas de verdade revelar a conspiração que se fazia à luz do dia contra o maior Estadista que o Hemisfério Sul foi capaz de oferecer para a humanidade nos últimos 500 anos. Demonstrou-se com fidalguia o que se preparava e o que foi feito nestes nada generosos anos de golpismo, entre 2016 e 2022. E assim se escancarou a grande farsa, de agora e de 40 anos atrás. Senão vejamos.

Em nome da ‘liberdade’, impôs-se a opressão; em nome do patriotismo, impôs-se entrega desavergonhada e cínica das riquezas nacionais; em nome do combate à inflação, fez-se a maior concentração de renda, fazendo com que banqueiros iniciassem o ciclo inacabado de superávits sucessivos há 61 anos, como que o Estado devesse obrigações com a elite rentista, essa mesma que há algum tempo está na Faria Lima e conspira incessantemente contra o Estado Democrático de Direito, desde a época do Plano Cruzado.

Desde 1981, o regime de 1964 já não conseguia se sustentar, tamanhas as fissuras entre a elite cada vez menor que o mantinha mal e porcamente na UTI da política nacional. O que servira de pretexto para apear do cargo o presidente constitucional João Belchior Marques Goulart, o Jango -- corrupção, inflação descontrolada, ingovernabilidade e a tal ‘ameaça comunista’, mesmo sendo fazendeiro de família endinheirada do Rio Grande do Sul --, era o que vinha ocorrendo desde que o general Ernesto Geisel escancarara em 1975, quando pediu para o seu ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen abrir a ‘caixa preta’ e expor os banqueiros que desviaram horrores durante o ‘milagre econômico’, conduzido mercadologicamente pelo general Emílio Garrastazu Médici e seus dois superministros, da Fazenda Antônio Delfin Neto e do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso, este que foi o que mais tempo permaneceu nesse cargo, por dez longos anos.

Ahmad Schabib Hany

domingo, 12 de janeiro de 2025

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quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

CORUMBÁ E LADÁRIO EM DEFESA DA DEMOCRACIA

Corumbá e Ladário em defesa da Democracia

A Democracia nos pertence por direito, conquistado a duras penas. Defendê-la é um dever, como valor universal.

Neste 8 de janeiro transcorreu o segundo ano da Intentona Fascista, que em 2023 atentou fétida e vergonhosamente contra o Estado Democrático de Direito. Pior: servidores de alta patente, muito bem pagos com o erário, cometeram flagrantemente vários crimes, por ação e omissão. Prevaricaram, conspurcaram, procrastinaram, promiscuíram e defecaram sobre peças da memória republicana, tamanho o seu ‘ressentimento patrioteiro’.

Sem anistia, sem esquecimento. Merecem a condenação prevista na legislação brasileira, para todo cidadão e cidadã deste país, em cuja história muitas perversidades seus antecessores e ‘ídolos’ já cometeram impunemente. Feito parasitas, vivem do drama, da exploração e da opressão do povo generoso, hospitaleiro, laborioso, solidário e de uma grandeza de alma ímpar neste mundo de pilhagens, saqueios e patranhas cometidas por seus amos e senhores, que se passam por paladinos da democracia e da civilização para levar o saque, a cobiça e a morte com requintes de crueldade aos povos que se recusam a se submeter ao seu jugo.

Tenho a honra de pertencer à geração dos jovens que, sem qualquer covardia, foram às ruas desde 1978 exigir liberdades democráticas em todos os cantos deste país-continente. Hoje sinto vergonha ver canalhas e covardes que se mantiveram nos armários escondendo seus recalques e taras perversas para, em nome de falsos valores -- porque quem protege fascista também fascista é, sem meias palavras --, e amealhando polpudos proventos e rendas ilícitas, bradar um civismo, ou melhor, cinismo cafajeste, como cafetões que são.

Apoiar cínica e maledicentemente um débil mental covarde para justificar seus recalques sem-vergonhas e nauseabundos é a prova cabal da falta de caráter que infesta integrantes de uma casta constituída por endinheirados que vivem da agiotagem e da desgraça deste povo trabalhador e honesto, por funcionários públicos prevaricadores desde a colonização lusitana de triste memória e, sobretudo, criminosos impunes (como garimpeiros, grileiros, madeireiros, sonegadores, contrabandistas, traficantes e escravistas).

A mesma geração que foi às ruas corajosa e altivamente em 1978 foi a que protagonizou as mobilizações entre 1984, com as Diretas-já e a Aliança Democrática, e 1988, com toda a participação dos diferentes setores da sociedade civil, para a elaboração da Constituição Cidadã, conduzida sábia e corajosamente pelo grande brasileiro Ulysses Guimarães, de saudosa memória e terror desses covardes facínoras que agem como hienas em hordas.

Com essa determinação e altivez neste 8 de janeiro estamos na Praça Independência, em Corumbá, sem nos apequenar, acovardar, amarelar. Porque somos verdadeiramente povo, estamos do lado da História, da Vida, da Natureza, da Humanidade. Os mesmos inimigos do Povo Brasileiro são os inimigos do Povo Palestino, Sírio, Boliviano. Não temos medo algum desses facínoras. A Democracia nos pertence por direito; defendê-la é um dever.

Ahmad Schabib Hany

Encontro histórico

Ato não se resumiu a um ‘evento’, mas início de um processo de reconstrução das forças democráticas populares que terão encontro mensal para construir uma agenda propositiva e transformadora.

A despeito de diversas tentativas de esvaziamento e desmobilização (recorrendo inclusive a ameaças veladas e explícitas no dia 8), foi coroado de êxito o ato realizado em Corumbá em defesa do Estado Democrático de Direito e das liberdades democráticas -- ameaçados acintosamente durante os desgovernos de 2016 a 2022 e sobretudo depois da derrota sofrida pela extrema-direita em outubro de 2022 com tentativas de atentados, assassinato do Presidente eleito, vice eleito e de membro do Supremo Tribunal Federal em 2022 e 2025 (em investigação), além da Intentona Fascista de 8 de janeiro de 2023.

O ato se converteu em um encontro fraternal de membros de espaços públicos como o Observatório da Cidadania Dom José Alves da Costa, Comitê pela Revitalização da Ferrovia e Reativação dos Trens do Pantanal e do Cerrado, alguns sindicatos (SINPAF, SINASEFE, SINTRACON e mensagem do dirigente da ADUFMS, em viagem), ativistas de Movimentos da Agricultura Familiar, Vigilância Sanitária, pesquisadores, docentes do ensino secundário, universitários e membros de alguns partidos da base do Governo de Reconstrução Nacional (PT, PCdoB e PSOL).

Decidiu-se que serão realizados atos de defesa da democracia periodicamente (no mínimo a cada três meses), bem como encontros mensais itinerantes nas sedes das entidades ou em residências dos participantes do ato, que se transformou em início de um processo de reconstrução dos movimentos populares e das forças democráticas engajadas na defesa do Estado Democrático de Direito, do Sistema Único de Saúde (SUS), do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), do Sistema de Garantias de Direitos da Infância e Juventude, do Idoso, da Pessoa com Deficiência e o mais recente Sistema Nacional de Economia Popular e Solidária, inspirado na luta do Professor Paul Singer, que como Paulo Freire na Educação, Milton Santos na Geopolítica e Herbert de Souza no combate à fome, representa uma verdadeira revolução em meio ao caos promovido pelas forças antidemocráticas.

A pesquisadora Débora Calheiros, consultora do Ministério Público Federal, lembrou da contundente fala de Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição de 1988 e das conquistas como o SUS, a gratuidade do ensino desde a pré-escola até a universidade pública e, sobretudo, a democracia participativa. O professor Thiago Godoy, da Comissão de Justiça e Paz Regional da CNBB, celebrou o ato como iniciativa de reestruturação da educação popular a ser levada a todos os níveis da educação formal e, sobretudo, universitária com a adoção de novo paradigma de universidade. O professor Obeltran Navarro lembrou o protagonismo cidadão comparado ao sal, não importando a quantidade, mas a qualidade, sua capacidade de fazer a diferença, tempero na feitura do alimento.

O sindicalista Weberton Sudário, do SINTRACON, salientou a relevância da realização deste ato em defesa da democracia, bem como a realização periódica de encontros similares ao longo do ano, proposta que foi acolhida no encerramento do ato com complementações feitas por Igor Alexandre, Alberto Feiden e Mariana Arndt. O ativista cultural Arturo Ardaya relatou partes marcantes de sua infância durante os anos de ditadura que forjaram suas convicções democráticas e a sua militância no PT, de cuja direção já integrou por diversas vezes e que agora, diante de um processo que chama de autofágico, pretende deixar para as novas gerações, mas sem abrir mão de sua militância permanente.

O Professor Fabiano, ativista da educação popular, ao destacar a democracia como valor universal conquistado com muito esforço, relatou um episódio que testemunhou em 1983, quando de uma das primeiras greves gerais no país e que um universitário foi sequestrado em plena luz do dia no centro de São Paulo, que não teve desfecho fatal graças à ação de um advogado, Luiz Eduardo Greenhald. Um episódio similar, ao final do ato público, foi revelado pelo sindicalista Tiago Assis, que precisou recorrer ao advogado do SINASEFE em 2022, pois em 18 de dezembro, quando os golpistas ensaiavam inúmeros atentados contra a democracia, o universitário Luigi Amarílio havia sido agredido e trancafiado ilicitamente em uma delegacia de Corumbá por um escrivão e a horda de facínoras acampados em frente a um quartel local, alguns deles hoje respondendo processo por ter participado da Intentona Fascista de 8 de janeiro de 2023.

O professor Anísio Guató resgatou alguns pontos de pauta já focados pelo FORUMCORLAD, desde 2013 Observatório da Cidadania Dom José Alves da Costa, sobretudo a respeito das concessões públicas da gestão das águas pela empresa de saneamento e o fatiamento das concessões de gestão do rio Paraguai citado por Alberto Feiden como forma disfarçada de privatização do maior veio de água do Pantanal. A agente cultural Mariana Arndt enfatizou a relevância da Cultura e da Educação na defesa da democracia, como fator de fomento ao protagonismo cidadão e coletivo nos diferentes setores da população, sobretudo no imenso Pantanal, em que tradicionais e originários têm sido excluídos de políticas públicas e de direitos desde antes da vigência da atual Constituição Federal.

Os membros do SINPAF Igor Alexandre e Alberto Feiden expuseram sobre a fragilidade das conquistas sociais ante a radicalização da estratégia do capitalismo em escala global e de seus representantes no país, uma verdadeira aula que será didaticamente exposta durante a agenda a ser construída a partir de fevereiro, como processo em que se converteu o ato em defesa da democracia, com base nos interesses populares. Encerrando o ato, Tiago Assis destacou a necessidade dos setores populares se organizarem a fim de exercer seu protagonismo de modo efetivo, como nos processos anteriores aos golpes de 2016, 2018, 2022 e 2023. Todos, a uma só voz, reafirmaram: ditadura nunca mais, sem anistia aos golpistas!

Ahmad Schabib Hany