A
propósito do novo ano
Como a Vida, o Movimento
UFPantanal se intensifica, a mobilização por Justiça e Paz se universaliza, o
protagonismo cidadão se multiplica. Afinal, o ano é a gente que faz, por meio
de nossas atitudes ou omissões.
Discreta e sabiamente, a Vida nos ensina que não
há ‘mito’ ou ‘líder’ a nos conduzir feito rebanhos, mas princípios que nos
forjam no devir dos dias, das lutas, das vitórias, dos aprendizados, das
reviravoltas, enfim, do renascer, feito fênix, das cinzas, das contínuas
quedas, que vamos granjeando ao longo de nossa existência, passageira como as
águas que descem os rios, indiferentes aos nossos méritos ou não, anseios ou casualidade.
Não são as intenções as que movem a História, mas
nossas atitudes, à luz da capacidade de fazermos a leitura do mundo em que
vivemos. Em vez de ficarmos presos à dicotomia maniqueísta, de sermos nós o ‘bem’
e quem pensa diferente o ‘mal’, o tempo requer urgência e responsabilidade com
as futuras gerações. Eis a razão de precisarmos focar na Educação, sobretudo na
formação dos futuros cidadãos, portanto, na Universidade Federal do Pantanal,
para dar as respostas inadiáveis a um tempo que clama por efetiva mudança de
paradigmas, comportamentos e compromissos.
Sem atropelos e de maneira prudente e tempestiva,
o Movimento UFPantanal, que visa à criação da Universidade Federal do Pantanal,
com o DNA do Bioma, sua diversidade e sua gente (suas populações, sua
pluralidade),
realizará importantes momentos de reflexão e debates de cidadania ao longo
deste 2025, a se tornar triunfal pelas cidadãs e pelos
cidadãos sinceramente engajados em seus nobres propósitos.
Sejam citadinos, ribeirinhos ou originários. Sejam
cientistas, artistas ou diletantes. Sejam professores, estudantes ou ‘ouvintes’.
Sejam leigos, consagrados ou agnósticos. Sejam disciplinados, espontâneos ou histriônicos.
Sejam grandes, médios pequenos ou micros. Empreendedores, trabalhadores ou
arrendatários. Sejam natos, naturalizados ou adotivos. Sejam assentados,
operadores de direitos ou assemelhados. Letrados ou não letrados -- nem por
isso menos sábios ou, pior, ‘cidadãos de segunda categoria’, isso não.
Só é preciso estar sinceramente engajado e contribuir
efetivamente para que o Pantanal (e por extensão as mais de doze sub-regiões do
Pantanal no Brasil, Bolívia e Paraguai, além de municípios brasileiros em Mato
Grosso do Sul e Mato Grosso) não seja,
mais uma vez, relegado a ‘quase’ prioridade federal, estadual e municipal. O
nosso Bioma não é um ‘apesar de’ ou ‘embora’; sua gente não é ‘fardo’, ‘tralha’
ou ‘mal necessário’, como têm sido tratados depois da divisão de Mato Grosso.
Os políticos, a boca pequena dizem -- e isso ninguém me contou, eu é que
testemunhei em 1979, primeiro ano do ‘Estado modelo’, graças à generosidade de
saudosos Camaradas como Seu Mário Corrêa Albernaz e Professor Amarílio Ferreira
Junior, quando passei um tempo na Assembleia Legislativa, fosse com as equipes
do Deputado Sérgio Cruz ou do Deputado Roberto Orro, líder e vice-líder do PMDB
na AL/MS --, “foi bom termos ficado com fatia do Pantanal, apesar de sua gente
muito complicada”, nas palavras de um assessor dos três primeiros governadores
nomeados, no tempo em que eleição direta era questão de ‘segurança nacional’ (de
quem?).
Pioneirismo a toda prova
A luta por uma universidade para o Pantanal não é
nova. Vem de décadas atrás, durante os ‘anos de chumbo’, em que cidadãos
desassossegados ousaram sair da letargia imposta para investir em um novo tempo
para a região do Pantanal, cuja urbe-mor desde os tempos do cosmopolitismo
irrequieto e indomável era, aliás, é Corumbá. Eleito por uma oposição não
consentida logo no primeiro ano do regime de 1964, o governador mato-grossense
Pedro Pedrossian se encontrava ‘entre a cruz e a espada’, por isso teve que se
limitar a atender com a criação do Instituto Superior de Pedagogia de Corumbá,
em 1967, enquanto no Ministério da Educação e Cultura era implementado o Acordo
MEC-Usaid, que gestou a famigerada Lei da Reforma Universitária, Lei Federal nº
5.540/1968.
Pedrossian, justiça seja feita, enfrentava dois
adversários naquele momento -- com sua adesão à Arena, partido de sustentação
do regime, os remanescentes da UDN, como Lúdio Martins Coelho, a quem derrotara
em 1965 na disputa para o governo de Mato Grosso, e os ex-correligionários da
coligação PSD-PTB, que o acusavam de traição logo no momento em que eram alvo
de perseguição, cassação, prisão, tortura e até desaparecimento --, foi de
habilidade ímpar ao atender ao clamor de um grupo seleto de cidadãos
corumbaenses integrado, entre outros não menos importantes, pelo saudoso Médico
Salomão Baruki, pela Professora Edy Assis de Barros e pelo então deputado
arenista apoiado pelo saudoso Padre Ernesto Saksida, Professor José de Freitas,
líder do governo na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, que em tempo recorde
não só acelerou a tramitação legislativa do decreto de criação do ISPC como
participou da elaboração célere do projeto a ser submetido ao Conselho Estadual
de Educação e posteriormente ao Conselho Federal de Educação.
Não por acaso, desde o começo do Movimento
UFPantanal temos trazido à memória os nomes de todos os pioneiros na construção
do ISPC [depois, com a criação da UEMT, CPC, e anos depois, com a divisão de
Mato Grosso e a criação da UFMS como fundação, CEUC, CPCO e mais recentemente
CPAN], e obviamente o nome do Professor Salomão Baruki se encontra no mais alto
nível de reconhecimento, bem como do Professor José Sebastião Candia, pelo
pioneirismo de seu engajamento. Temos, a propósito, um banco de dados com os
nomes de todos os docentes que enriqueceram a digna história do hoje CPAN --bem
como do CPAQ e também da UNEMAT (cuja criação se deu durante o mandato do saudoso
democrata Dante de Oliveira no governo de MT e na gestão do saudoso Professor
Carlos Alberto Reyes Maldonado, Sobrinho do saudoso Senhor Jorge José Katurchi,
na Secretaria de Estado da Educação, tendo sido seu primeiro reitor e
postumamente patrono da UNEMAT) --,
que, independente de terem sido ou não dirigentes, deveriam constar de galeria
dos protagonistas da História do Ensino Universitário de Corumbá e do Pantanal,
a que venho me dedicando desde 2016.
Pantanal, cobiçado Pantanal
Desde antes do século XIX, o Pantanal tem sido
muito visado, sobretudo por potências dos mais diferentes matizes. Basta ver os
relatos de viajantes e de celebridades como um ex-presidente dos Estados Unidos,
Theodore Roosevelt, que teve o mais tarde marechal Cândido Mariano da Silva
Rondon como seu cicerone na travessia do Pantanal até chegar à Amazônia, um
século atrás. Mas muito antes, na comitiva da futura consorte de Pedro I, no
início do século XIX, estiveram Carl Friedrich von Martius e Johann Baptist von
Spix fazendo uma expedição científica memorável [sombreada pela denúncia de
terem levado duas crianças indígenas, Juri e Miranha, de etnias diferentes da
Amazônia para a Europa e que acabaram morrendo de causas desconhecidas antes de
completar 14 anos de idade].
A célebre expedição do barão alemão naturalizado
russo Georg Heinrich von Langsdorff, entre 1824 e 1829, contou com a participação
de três artistas -- Johann Moritz Rugendas (que se desligou da expedição), Aimé-Adrien
Taunay (que se afogou no meio da expedição) e Hercules Florence (cujo diário foi
publicado 100 anos antes do de Langsdorff). Diversos pesquisadores
contemporâneos fundamentaram importantes aportes com base nos relatos e
desenhos em bico-de-pena de Hercules Florence.
Mas longe de atitudes e insinuações de xenofobia,
até porque eu mesmo sou imigrante filho de imigrantes. Devemos, isto sim, a
essas expedições científicas muitas contribuições inestimáveis, até porque
tanto os colonizadores lusitanos quanto os primeiros governantes (descendentes
da corte portuguesa) só tinham olhos
para o saque e a pilhagem. Diferente dos castelhanos, a coroa portuguesa não
implantou uma universidade sequer no vasto território colonizado. O
curso de Direito foi implantado no Brasil durante a vinda de Dona Maria e o
príncipe regente, seu filho João (depois João VI), no início do século XIX.
Protagonismo cidadão
Ao lado dos saudosos Dom José Alves da Costa, Seu
Jorge José Katurchi, Seu Augusto César Proença, Seu Lincoln Gomes de Souza,
Augusto Alexandrino Malah dos Santos e as saudosas Heloísa Helena da Costa Urt
(Helô), Professora Constança
Proença Gomes da Silva e Professora Marilda Coelho [diretora da Escola Antônio
Maria Coelho, fechada com a sua eternização], que devem estar em festa na
eternidade, fizemos de 1994 ano da cultura e da memória coletiva.
A Comissão Pró-Cultura de Corumbá, desdobramento da Sociedade dos Amigos da
Cultura, abriu a celebração do Centenário da Morte de Antônio Maria Coelho (29
de agosto de 1894) na Praça
Independência, diante da estátua do Herói da Retomada, inclusive como
reconhecimento de esse personagem histórico ter sido, além de primeiro
governador de Mato Grosso, um dos signatários do manifesto em que oficiais reivindicavam
de Floriano Peixoto eleições para novo mandato presidencial republicano.
Nos preparativos, lá estavam
também Adriana Santos Ferraz, César Moraes Papa, Mara Leslie do Amaral, Marlene
Terezinha Mourão (Peninha), Denise Campos Diniz Mônaco, Ednir de Paulo, Antônio
Víctor Lima Batista e Armando Carlos de Arruda Lacerda, queridos Amigos e
Amigas que participaram, por meio desse movimento, do Pacto pela Cidadania
desde a sua gênese, no ano anterior, de 1993, quando da realização da Segunda
Semana Social Brasileira e da fundação do Comitê de Corumbá e Ladário da Ação
da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, bem como do pioneiro em todo
o Brasil Comitê de Defesa da Urucum Mineração. Mais dois meses, e era criado,
depois de longo processo de legitimação junto a todas as entidades constituídas,
o Fórum Permanente de Entidades Não Governamentais de Corumbá e Ladário
(FORUMCORLAD), ironicamente implodido por membros não governamentais ‘adestrados’
pelo então gestor municipal de Corumbá, cuja candidatura sob as bênçãos dos
saudosos Padre Ernesto Saksida e Padre Pasquale Forin, foi sagrada vitoriosa
com a participação de membros deste Espaço Público Não Estatal, pioneiro em
todo o interior brasileiro em seus vinte anos, antes de se transformar em
Observatório da Cidadania Dom José Alves da Costa.
Ahmad
Schabib Hany
Nenhum comentário:
Postar um comentário