Corumbá
e Ladário em defesa da Democracia
A Democracia nos pertence por
direito, conquistado a duras penas. Defendê-la é um dever, como valor
universal.
Neste 8 de janeiro transcorreu o segundo ano da
Intentona Fascista, que em 2023 atentou fétida e vergonhosamente contra o
Estado Democrático de Direito. Pior:
servidores de alta patente, muito bem pagos com o erário, cometeram
flagrantemente vários crimes, por ação e omissão. Prevaricaram, conspurcaram,
procrastinaram, promiscuíram e defecaram sobre peças da memória republicana,
tamanho o seu ‘ressentimento patrioteiro’.
Sem anistia, sem esquecimento. Merecem a condenação
prevista na legislação brasileira, para todo cidadão e cidadã deste país, em
cuja história muitas perversidades seus antecessores e ‘ídolos’ já cometeram
impunemente. Feito parasitas, vivem do drama, da exploração e da opressão do
povo generoso, hospitaleiro, laborioso, solidário e de uma grandeza de alma
ímpar neste mundo de pilhagens, saqueios e patranhas cometidas por seus amos e
senhores, que se passam por paladinos da democracia e da civilização para levar
o saque, a cobiça e a morte com requintes de crueldade aos povos que se recusam
a se submeter ao seu jugo.
Tenho a honra de pertencer à geração dos jovens que,
sem qualquer covardia, foram às ruas desde 1978 exigir liberdades democráticas
em todos os cantos deste país-continente. Hoje sinto vergonha ver canalhas e
covardes que se mantiveram nos armários escondendo seus recalques e taras perversas
para, em nome de falsos valores -- porque quem protege fascista também fascista
é, sem meias palavras --, e amealhando polpudos proventos e rendas ilícitas,
bradar um civismo, ou melhor, cinismo cafajeste, como cafetões que são.
Apoiar cínica e maledicentemente um débil mental
covarde para justificar seus recalques sem-vergonhas e nauseabundos é a prova
cabal da falta de caráter que infesta integrantes de uma casta constituída por
endinheirados que vivem da agiotagem e da desgraça deste povo trabalhador e
honesto, por funcionários públicos prevaricadores desde a colonização lusitana
de triste memória e, sobretudo, criminosos impunes (como garimpeiros,
grileiros, madeireiros, sonegadores, contrabandistas, traficantes e escravistas).
A mesma geração que foi
às ruas corajosa e altivamente em 1978 foi a que protagonizou as mobilizações
entre 1984, com as Diretas-já e a Aliança Democrática, e 1988, com toda a
participação dos diferentes setores da sociedade civil, para a elaboração da
Constituição Cidadã, conduzida sábia e corajosamente pelo grande brasileiro
Ulysses Guimarães, de saudosa memória e terror desses covardes facínoras que
agem como hienas em hordas.
Com essa determinação e
altivez neste 8 de janeiro estamos na Praça Independência, em Corumbá, sem nos
apequenar, acovardar, amarelar. Porque somos verdadeiramente povo, estamos do
lado da História, da Vida, da Natureza, da Humanidade. Os mesmos inimigos do
Povo Brasileiro são os inimigos do Povo Palestino, Sírio, Boliviano. Não temos
medo algum desses facínoras. A Democracia nos pertence por direito; defendê-la
é um dever.
Ahmad
Schabib Hany
Encontro
histórico
Ato não se resumiu a um ‘evento’,
mas início de um processo de reconstrução das forças democráticas populares que
terão encontro mensal para construir uma agenda propositiva e transformadora.
A despeito de diversas tentativas de esvaziamento
e desmobilização (recorrendo inclusive a ameaças veladas e explícitas no dia 8),
foi coroado de êxito o ato realizado em Corumbá em defesa do Estado Democrático
de Direito e das liberdades democráticas -- ameaçados acintosamente durante os
desgovernos de 2016 a 2022 e sobretudo depois da derrota sofrida
pela extrema-direita em outubro de 2022 com tentativas de atentados, assassinato do Presidente eleito, vice
eleito e de membro do Supremo Tribunal Federal em 2022 e 2025 (em investigação), além da Intentona Fascista de 8 de janeiro de 2023.
O ato se converteu em um encontro fraternal de membros
de espaços públicos como o Observatório da Cidadania Dom José Alves da Costa, Comitê
pela Revitalização da Ferrovia e Reativação dos Trens do Pantanal e do Cerrado,
alguns sindicatos (SINPAF, SINASEFE, SINTRACON e mensagem do dirigente da
ADUFMS, em viagem), ativistas de
Movimentos da Agricultura Familiar, Vigilância Sanitária, pesquisadores, docentes
do ensino secundário, universitários e membros
de alguns partidos da base do Governo de Reconstrução Nacional (PT, PCdoB e
PSOL).
Decidiu-se que serão realizados atos de defesa da
democracia periodicamente (no mínimo a cada três meses), bem como
encontros mensais itinerantes nas sedes das entidades ou em residências dos
participantes do ato, que se transformou em início de um processo de
reconstrução dos movimentos populares e das forças democráticas engajadas na
defesa do Estado Democrático de Direito, do Sistema Único de Saúde (SUS), do Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), do Sistema de Garantias de Direitos da Infância e Juventude, do Idoso,
da Pessoa com Deficiência e o mais recente Sistema Nacional de Economia Popular
e Solidária, inspirado na luta do Professor Paul Singer, que como Paulo Freire
na Educação, Milton Santos na Geopolítica e Herbert de Souza no combate à fome,
representa uma verdadeira revolução em meio ao caos promovido pelas forças antidemocráticas.
A pesquisadora Débora
Calheiros, consultora do Ministério Público Federal, lembrou da contundente
fala de Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição de 1988 e das
conquistas como o SUS, a gratuidade do ensino desde a pré-escola até a
universidade pública e, sobretudo, a democracia participativa. O professor
Thiago Godoy, da Comissão de Justiça e Paz Regional da CNBB, celebrou o ato
como iniciativa de reestruturação da educação popular a ser levada a todos os
níveis da educação formal e, sobretudo, universitária com a adoção de novo
paradigma de universidade. O professor Obeltran Navarro lembrou o protagonismo
cidadão comparado ao sal, não importando a quantidade, mas a qualidade, sua
capacidade de fazer a diferença, tempero na feitura do alimento.
O sindicalista Weberton
Sudário, do SINTRACON, salientou a relevância da realização deste ato em defesa
da democracia, bem como a realização periódica de encontros similares ao longo
do ano, proposta que foi acolhida no encerramento do ato com complementações
feitas por Igor Alexandre, Alberto Feiden e Mariana Arndt. O ativista cultural
Arturo Ardaya relatou partes marcantes de sua infância durante os anos de ditadura
que forjaram suas convicções democráticas e a sua militância no PT, de cuja
direção já integrou por diversas vezes e que agora, diante de um processo que
chama de autofágico, pretende deixar para as novas gerações, mas sem abrir mão
de sua militância permanente.
O Professor Fabiano, ativista
da educação popular, ao destacar a democracia como valor universal conquistado
com muito esforço, relatou um episódio que testemunhou em 1983, quando de uma
das primeiras greves gerais no país e que um universitário foi sequestrado em
plena luz do dia no centro de São Paulo, que não teve desfecho fatal graças à
ação de um advogado, Luiz Eduardo Greenhald. Um episódio similar, ao final do
ato público, foi revelado pelo sindicalista Tiago Assis, que precisou recorrer
ao advogado do SINASEFE em 2022, pois em 18 de dezembro, quando os
golpistas ensaiavam inúmeros atentados contra a democracia, o universitário
Luigi Amarílio havia sido agredido e trancafiado ilicitamente em uma delegacia
de Corumbá por um escrivão e a horda de facínoras acampados em frente a um
quartel local, alguns deles hoje respondendo processo por ter participado da
Intentona Fascista de 8 de janeiro de 2023.
O professor Anísio Guató
resgatou alguns pontos de pauta já focados pelo FORUMCORLAD, desde 2013 Observatório da Cidadania
Dom José Alves da Costa, sobretudo a respeito das concessões públicas da gestão
das águas pela empresa de saneamento e o fatiamento das concessões de gestão do
rio Paraguai citado por Alberto Feiden como forma disfarçada de privatização do
maior veio de água do Pantanal. A agente cultural Mariana Arndt enfatizou a
relevância da Cultura e da Educação na defesa da democracia, como fator de
fomento ao protagonismo cidadão e coletivo nos diferentes setores da população,
sobretudo no imenso Pantanal, em que tradicionais e originários têm sido excluídos
de políticas públicas e de direitos desde antes da vigência da atual Constituição
Federal.
Os membros do SINPAF Igor
Alexandre e Alberto Feiden expuseram sobre a fragilidade das conquistas sociais
ante a radicalização da estratégia do capitalismo em escala global e de seus
representantes no país, uma verdadeira aula que será didaticamente exposta
durante a agenda a ser construída a partir de fevereiro, como processo em que
se converteu o ato em defesa da democracia, com base nos interesses populares.
Encerrando o ato, Tiago Assis destacou a necessidade dos setores populares se
organizarem a fim de exercer seu protagonismo de modo efetivo, como nos
processos anteriores aos golpes de 2016, 2018, 2022 e 2023. Todos, a uma só voz, reafirmaram: ditadura
nunca mais, sem anistia aos golpistas!
Ahmad
Schabib Hany
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