quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

QUARENTA ANOS DO FIM DA DITADURA

Quarenta anos do fim da ditadura

A emblemática eleição pelo Colégio Eleitoral, em 15 de janeiro de 1985, de Tancredo Neves representou uma pá de cal para o cadáver insepulto como já era o regime de 1964. Contudo, o aparelhamento do Estado pelas milícias e esquadrões paramilitares durante 21 anos representou uma ameaça velada que sobreviveu por 33 anos até golpear acintosamente Dilma Rousseff em 2016 e perseguir e prender Lula em 2018. É hora de exorcizar esse fantasma.

15 de janeiro de 1984. O Brasil assiste ao vivo e em cores o fim de uma noite de 21 anos, perversa e terrorista, imposta ao povo brasileiro em nome da ‘democracia’, da baioneta e dos casuísmos; da censura e do medo; da tortura e dos desaparecimentos; das eleições indiretas, dos ‘senadores biônicos’ e das nomeações de prefeitos de capitais, de ‘áreas de segurança nacional’ e de ‘estâncias hidrominerais’.

O Colégio Eleitoral, uma invencionice do regime para burlar a soberania popular -- do voto direto, secreto e universal --, foi o cenário em que o governador mineiro Tancredo de Almeida Neves e o senador maranhense José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, aliás José Sarney, representando a Aliança Democrática (coligação PMDB-PFL), empreenderam uma acachapante derrota sobre o candidato do regime, Paulo Salim Maluf e Flávio Portela Marcílio (PDS), 72,7% para a Oposição contra 27,3% para o regime.

Em números absolutos, foram 480 votos para Tancredo contra 180 para Maluf. Embora a sensação de frustração por não ter sido por meio de eleições diretas a derrota da ditadura, a vitória de Tancredo sobre Maluf representou um alívio para a sociedade civil, já farta do casuísmo recorrente de um regime que mal conseguia se manter. Articulada por Ulysses Guimarães, a Aliança Democrática foi um movimento de continuidade à mobilização pelas Diretas-já de Dante de Oliveira, derrotada sob a presidência de Flávio Marcílio da Câmara Federal, mais tarde vice de Maluf no Colégio Eleitoral.

A Aliança Democrática não apenas avalizou a chapa Tancredo-Sarney, mas uma agenda política comprometida com o fim do chamado ‘entulho autoritário’, como a convocação da Assembleia Nacional Constituinte, realização de eleições municipais ainda em 1985 nas capitais e cidades de interesse da segurança nacional e estâncias hidrominerais, entre outras bandeiras, como liberdade de organização sindical e partidária, pondo fim à proibição de funcionamento de partidos como o PCB e o PCdoB.

Com a frustração decorrente da doença de Tancredo Neves e seu impedimento na posse, José Sarney assumiu todos os compromissos pactuados pela Aliança Democrática, tendo, inclusive, mantido os ministros nomeados pelo presidente eleito. Em gesto emblemático, Sarney pediu a Ulysses Guimarães e a José Fragelli, respectivos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, ambos do PMDB, o apoio para governar sob o legado de Tancredo Neves e as consignas do maior partido de oposição ao regime -- gesto que conquistou o apoio da maioria da população brasileira nos primeiros anos de governo.

O Plano Cruzado e a posterior moratória brasileira ao Fundo Monetário Internacional foram momentos relevantes conquistados pelo governo de Sarney, quando sua aceitação popular atingiu índices extraordinários. No entanto, as elites se entrincheiraram e fizeram de tudo para pôr o Plano Cruzado abaixo, com a participação de pemedebistas, como o senador Orestes Quércia, declaradamente contrário a qualquer possibilidade de que o maior líder do PMDB, Ulysses Guimarães, visse a possibilidade de ser candidato à Presidência da República em 1989.

ASSEMBLEIA CONSTITUINTE

O ponto alto da Nova República, como foi chamada a transição da ditadura para o Estado Democrático de Direito sob a égide da nova Carta Constitucional, foi a Assembleia Nacional Constituinte, presidida pelo Deputado Ulysses Guimarães e, por iniciativa dele, aberta à participação popular. Foi um período muito rico da cidadania brasileira, pois temas caros para as classes trabalhadoras e para as camadas populares foram introduzidos em debate memorável, talvez único na história do Brasil.

A definição da democracia como cláusula pétrea e todos os incisos constantes do Artigo 6º fizeram da Constituição de 1988 uma conquista civilizacional, bem como a implantação de políticas públicas nas áreas da saúde, educação, cultura, assistência social, direitos humanos, direitos da criança e do adolescente, da pessoa com deficiência, do idoso, da mulher, do negro, do indígena, do imigrante, do migrante, do sem-terra, do sem-teto, do desempregado, da população em situação de rua, dos trabalhadores em situação de vulnerabilidade, da economia popular e solidária, da função social da terra, do consumidor etc.

Enquanto em todo o Brasil, inclusive em Corumbá e Ladário, os setores organizados da sociedade civil comemoravam os avanços institucionais, os saudosos da ditadura e de todos os casuísmos por ela paridos se organizavam acintosamente, a ponto de a candidatura de um filhote da ditadura como Fernando Collor de Mello, bancado pelas oligarquias nacionais e antipopulares, ter sido sagrada vitoriosa no primeiro pleito eleitoral pós-1964. Artificial e totalmente carente de lastro popular e de consistência temática, o mandato de Collor de Mello foi abreviado por meio do primeiro impeachment da história política do país.

Ao assumir, em setembro de 1992, o até então vice-presidente Itamar Galtiero Franco a Presidência da República, constituiu um gabinete ministerial pluripartidário em que todas as forças democráticas do país estavam representadas, inclusive os até então proscritos PCB e PCdoB. Itamar, que fizera parte do setor autêntico do PMDB na luta contra o regime de 1964, priorizou um conjunto de metas para fortalecer agenda democrática, abalada pelo meteórico e corrupto governo de Collor de Mello.

Nessa leva, o Sociólogo Herbert de Souza, Betinho, e Dom Mauro Morelli, Arcebispo de Nova Iguaçu e São João de Meriti, foram nomeados sem ônus para o erário coordenadores do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea). Daí surgiram as políticas pioneiras contra a fome, por meio da Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida, que replicou em todo o território nacional, inclusive Corumbá e Ladário, por meio de Dom José Alves da Costa, Padre Pasquale Forin, Pastor Marcelo Moura, Padre Ernesto Saksida, Pastor Fernando Sabra Caminada, Irmã Antônia Brioschi, Pastor Antônio Ribeiro de Souza, Irmã Aurélia Brioschi, Padre Antônio Cipriano Müller, Pastor Cosmo Gomes de Souza, Padre Emilio Zuza Mena, Irmã Zenaide Britto, Seu Zózimo de Paula, Professora Maria de Paula e Dona Rose de Paula.

AS E OS ‘DO ARMÁRIO’

Contudo, aos poucos os recalques foram saindo do armário. Quando democratas não tão convictos, a despeito de descenderem de grandes democratas brasileiros como Tancredo Neves, começaram a investir em novos mecanismos golpistas, com o beneplácito de fortes grupos vinculados à elites rentistas -- isto é, parasitárias -- do país com sede na Avenida Faria Lima de São Paulo, a caixa de Pandora foi aberta e espectros nefastos começaram a ganhar popularidade, como o inominável e a quadrilha da ‘Leva Jeito’, de triste memória.

Eis que entre 2014 e 2018 foram sendo orquestrados acordes nada criativos, com base em um falso moralismo. Antipatrióticos, nocivos aos interesses nacionais e cultores do pior da extrema-direita tupiniquim, juntaram-se para perseguir Lula e destituir Dilma recorrendo a velhos estratagemas nada inteligentes, todos eles devidamente denunciados, graças à determinação de Jornalistas como Mino Carta, Luis Nassif, Bob Fernandes, Mauro Lopes, Leonardo Atuch, Luiz Carlos Azenha, Chico Pinheiro, José Arbex, Juca Kfouri, Fernando Morais e o saudoso Paulo Henrique Amorim.

Coube a Jornalistas de verdade revelar a conspiração que se fazia à luz do dia contra o maior Estadista que o Hemisfério Sul foi capaz de oferecer para a humanidade nos últimos 500 anos. Demonstrou-se com fidalguia o que se preparava e o que foi feito nestes nada generosos anos de golpismo, entre 2016 e 2022. E assim se escancarou a grande farsa, de agora e de 40 anos atrás. Senão vejamos.

Em nome da ‘liberdade’, impôs-se a opressão; em nome do patriotismo, impôs-se entrega desavergonhada e cínica das riquezas nacionais; em nome do combate à inflação, fez-se a maior concentração de renda, fazendo com que banqueiros iniciassem o ciclo inacabado de superávits sucessivos há 61 anos, como que o Estado devesse obrigações com a elite rentista, essa mesma que há algum tempo está na Faria Lima e conspira incessantemente contra o Estado Democrático de Direito, desde a época do Plano Cruzado.

Desde 1981, o regime de 1964 já não conseguia se sustentar, tamanhas as fissuras entre a elite cada vez menor que o mantinha mal e porcamente na UTI da política nacional. O que servira de pretexto para apear do cargo o presidente constitucional João Belchior Marques Goulart, o Jango -- corrupção, inflação descontrolada, ingovernabilidade e a tal ‘ameaça comunista’, mesmo sendo fazendeiro de família endinheirada do Rio Grande do Sul --, era o que vinha ocorrendo desde que o general Ernesto Geisel escancarara em 1975, quando pediu para o seu ministro da Fazenda Mário Henrique Simonsen abrir a ‘caixa preta’ e expor os banqueiros que desviaram horrores durante o ‘milagre econômico’, conduzido mercadologicamente pelo general Emílio Garrastazu Médici e seus dois superministros, da Fazenda Antônio Delfin Neto e do Planejamento João Paulo dos Reis Velloso, este que foi o que mais tempo permaneceu nesse cargo, por dez longos anos.

Ahmad Schabib Hany

domingo, 12 de janeiro de 2025

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quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

CORUMBÁ E LADÁRIO EM DEFESA DA DEMOCRACIA

Corumbá e Ladário em defesa da Democracia

A Democracia nos pertence por direito, conquistado a duras penas. Defendê-la é um dever, como valor universal.

Neste 8 de janeiro transcorreu o segundo ano da Intentona Fascista, que em 2023 atentou fétida e vergonhosamente contra o Estado Democrático de Direito. Pior: servidores de alta patente, muito bem pagos com o erário, cometeram flagrantemente vários crimes, por ação e omissão. Prevaricaram, conspurcaram, procrastinaram, promiscuíram e defecaram sobre peças da memória republicana, tamanho o seu ‘ressentimento patrioteiro’.

Sem anistia, sem esquecimento. Merecem a condenação prevista na legislação brasileira, para todo cidadão e cidadã deste país, em cuja história muitas perversidades seus antecessores e ‘ídolos’ já cometeram impunemente. Feito parasitas, vivem do drama, da exploração e da opressão do povo generoso, hospitaleiro, laborioso, solidário e de uma grandeza de alma ímpar neste mundo de pilhagens, saqueios e patranhas cometidas por seus amos e senhores, que se passam por paladinos da democracia e da civilização para levar o saque, a cobiça e a morte com requintes de crueldade aos povos que se recusam a se submeter ao seu jugo.

Tenho a honra de pertencer à geração dos jovens que, sem qualquer covardia, foram às ruas desde 1978 exigir liberdades democráticas em todos os cantos deste país-continente. Hoje sinto vergonha ver canalhas e covardes que se mantiveram nos armários escondendo seus recalques e taras perversas para, em nome de falsos valores -- porque quem protege fascista também fascista é, sem meias palavras --, e amealhando polpudos proventos e rendas ilícitas, bradar um civismo, ou melhor, cinismo cafajeste, como cafetões que são.

Apoiar cínica e maledicentemente um débil mental covarde para justificar seus recalques sem-vergonhas e nauseabundos é a prova cabal da falta de caráter que infesta integrantes de uma casta constituída por endinheirados que vivem da agiotagem e da desgraça deste povo trabalhador e honesto, por funcionários públicos prevaricadores desde a colonização lusitana de triste memória e, sobretudo, criminosos impunes (como garimpeiros, grileiros, madeireiros, sonegadores, contrabandistas, traficantes e escravistas).

A mesma geração que foi às ruas corajosa e altivamente em 1978 foi a que protagonizou as mobilizações entre 1984, com as Diretas-já e a Aliança Democrática, e 1988, com toda a participação dos diferentes setores da sociedade civil, para a elaboração da Constituição Cidadã, conduzida sábia e corajosamente pelo grande brasileiro Ulysses Guimarães, de saudosa memória e terror desses covardes facínoras que agem como hienas em hordas.

Com essa determinação e altivez neste 8 de janeiro estamos na Praça Independência, em Corumbá, sem nos apequenar, acovardar, amarelar. Porque somos verdadeiramente povo, estamos do lado da História, da Vida, da Natureza, da Humanidade. Os mesmos inimigos do Povo Brasileiro são os inimigos do Povo Palestino, Sírio, Boliviano. Não temos medo algum desses facínoras. A Democracia nos pertence por direito; defendê-la é um dever.

Ahmad Schabib Hany

Encontro histórico

Ato não se resumiu a um ‘evento’, mas início de um processo de reconstrução das forças democráticas populares que terão encontro mensal para construir uma agenda propositiva e transformadora.

A despeito de diversas tentativas de esvaziamento e desmobilização (recorrendo inclusive a ameaças veladas e explícitas no dia 8), foi coroado de êxito o ato realizado em Corumbá em defesa do Estado Democrático de Direito e das liberdades democráticas -- ameaçados acintosamente durante os desgovernos de 2016 a 2022 e sobretudo depois da derrota sofrida pela extrema-direita em outubro de 2022 com tentativas de atentados, assassinato do Presidente eleito, vice eleito e de membro do Supremo Tribunal Federal em 2022 e 2025 (em investigação), além da Intentona Fascista de 8 de janeiro de 2023.

O ato se converteu em um encontro fraternal de membros de espaços públicos como o Observatório da Cidadania Dom José Alves da Costa, Comitê pela Revitalização da Ferrovia e Reativação dos Trens do Pantanal e do Cerrado, alguns sindicatos (SINPAF, SINASEFE, SINTRACON e mensagem do dirigente da ADUFMS, em viagem), ativistas de Movimentos da Agricultura Familiar, Vigilância Sanitária, pesquisadores, docentes do ensino secundário, universitários e membros de alguns partidos da base do Governo de Reconstrução Nacional (PT, PCdoB e PSOL).

Decidiu-se que serão realizados atos de defesa da democracia periodicamente (no mínimo a cada três meses), bem como encontros mensais itinerantes nas sedes das entidades ou em residências dos participantes do ato, que se transformou em início de um processo de reconstrução dos movimentos populares e das forças democráticas engajadas na defesa do Estado Democrático de Direito, do Sistema Único de Saúde (SUS), do Sistema Único de Assistência Social (SUAS), do Sistema de Garantias de Direitos da Infância e Juventude, do Idoso, da Pessoa com Deficiência e o mais recente Sistema Nacional de Economia Popular e Solidária, inspirado na luta do Professor Paul Singer, que como Paulo Freire na Educação, Milton Santos na Geopolítica e Herbert de Souza no combate à fome, representa uma verdadeira revolução em meio ao caos promovido pelas forças antidemocráticas.

A pesquisadora Débora Calheiros, consultora do Ministério Público Federal, lembrou da contundente fala de Ulysses Guimarães na promulgação da Constituição de 1988 e das conquistas como o SUS, a gratuidade do ensino desde a pré-escola até a universidade pública e, sobretudo, a democracia participativa. O professor Thiago Godoy, da Comissão de Justiça e Paz Regional da CNBB, celebrou o ato como iniciativa de reestruturação da educação popular a ser levada a todos os níveis da educação formal e, sobretudo, universitária com a adoção de novo paradigma de universidade. O professor Obeltran Navarro lembrou o protagonismo cidadão comparado ao sal, não importando a quantidade, mas a qualidade, sua capacidade de fazer a diferença, tempero na feitura do alimento.

O sindicalista Weberton Sudário, do SINTRACON, salientou a relevância da realização deste ato em defesa da democracia, bem como a realização periódica de encontros similares ao longo do ano, proposta que foi acolhida no encerramento do ato com complementações feitas por Igor Alexandre, Alberto Feiden e Mariana Arndt. O ativista cultural Arturo Ardaya relatou partes marcantes de sua infância durante os anos de ditadura que forjaram suas convicções democráticas e a sua militância no PT, de cuja direção já integrou por diversas vezes e que agora, diante de um processo que chama de autofágico, pretende deixar para as novas gerações, mas sem abrir mão de sua militância permanente.

O Professor Fabiano, ativista da educação popular, ao destacar a democracia como valor universal conquistado com muito esforço, relatou um episódio que testemunhou em 1983, quando de uma das primeiras greves gerais no país e que um universitário foi sequestrado em plena luz do dia no centro de São Paulo, que não teve desfecho fatal graças à ação de um advogado, Luiz Eduardo Greenhald. Um episódio similar, ao final do ato público, foi revelado pelo sindicalista Tiago Assis, que precisou recorrer ao advogado do SINASEFE em 2022, pois em 18 de dezembro, quando os golpistas ensaiavam inúmeros atentados contra a democracia, o universitário Luigi Amarílio havia sido agredido e trancafiado ilicitamente em uma delegacia de Corumbá por um escrivão e a horda de facínoras acampados em frente a um quartel local, alguns deles hoje respondendo processo por ter participado da Intentona Fascista de 8 de janeiro de 2023.

O professor Anísio Guató resgatou alguns pontos de pauta já focados pelo FORUMCORLAD, desde 2013 Observatório da Cidadania Dom José Alves da Costa, sobretudo a respeito das concessões públicas da gestão das águas pela empresa de saneamento e o fatiamento das concessões de gestão do rio Paraguai citado por Alberto Feiden como forma disfarçada de privatização do maior veio de água do Pantanal. A agente cultural Mariana Arndt enfatizou a relevância da Cultura e da Educação na defesa da democracia, como fator de fomento ao protagonismo cidadão e coletivo nos diferentes setores da população, sobretudo no imenso Pantanal, em que tradicionais e originários têm sido excluídos de políticas públicas e de direitos desde antes da vigência da atual Constituição Federal.

Os membros do SINPAF Igor Alexandre e Alberto Feiden expuseram sobre a fragilidade das conquistas sociais ante a radicalização da estratégia do capitalismo em escala global e de seus representantes no país, uma verdadeira aula que será didaticamente exposta durante a agenda a ser construída a partir de fevereiro, como processo em que se converteu o ato em defesa da democracia, com base nos interesses populares. Encerrando o ato, Tiago Assis destacou a necessidade dos setores populares se organizarem a fim de exercer seu protagonismo de modo efetivo, como nos processos anteriores aos golpes de 2016, 2018, 2022 e 2023. Todos, a uma só voz, reafirmaram: ditadura nunca mais, sem anistia aos golpistas!

Ahmad Schabib Hany

sábado, 4 de janeiro de 2025

Joan Manuel Serrat - Nanas de la Cebolla [La Transición (TVE)]


Nanas de la cebolla

Tu risa me hace libre,

Me pone alas.

Poema do Poeta Miguel Hernández dedicado ao seu bebê, enviado em carta desde o cárcere à sua Companheira, que lhe havia escrito que a pobreza era tanta que não mais tinha com que se alimentar que cebolas para amamentar seu bebê. Décadas mais tarde, foi musicado pelo compositor argentino-espanhol Alberto Cortez e interpretado magistralmente por Joan Manuel Serrat.

CAMINANTE NO HAY CAMINO - SERRAT & SABINA


Caminante no hay camino

Caminante no hay camino,

Se hace camino al andar

Poema do Poeta Sevilhano Antonio Machado, musicado por Joan Manuel Serrat e Joaquín Sabina.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

A PROPÓSITO DO NOVO ANO

A propósito do novo ano

Como a Vida, o Movimento UFPantanal se intensifica, a mobilização por Justiça e Paz se universaliza, o protagonismo cidadão se multiplica. Afinal, o ano é a gente que faz, por meio de nossas atitudes ou omissões.

Discreta e sabiamente, a Vida nos ensina que não há ‘mito’ ou ‘líder’ a nos conduzir feito rebanhos, mas princípios que nos forjam no devir dos dias, das lutas, das vitórias, dos aprendizados, das reviravoltas, enfim, do renascer, feito fênix, das cinzas, das contínuas quedas, que vamos granjeando ao longo de nossa existência, passageira como as águas que descem os rios, indiferentes aos nossos méritos ou não, anseios ou casualidade.

Não são as intenções as que movem a História, mas nossas atitudes, à luz da capacidade de fazermos a leitura do mundo em que vivemos. Em vez de ficarmos presos à dicotomia maniqueísta, de sermos nós o ‘bem’ e quem pensa diferente o ‘mal’, o tempo requer urgência e responsabilidade com as futuras gerações. Eis a razão de precisarmos focar na Educação, sobretudo na formação dos futuros cidadãos, portanto, na Universidade Federal do Pantanal, para dar as respostas inadiáveis a um tempo que clama por efetiva mudança de paradigmas, comportamentos e compromissos.

Sem atropelos e de maneira prudente e tempestiva, o Movimento UFPantanal, que visa à criação da Universidade Federal do Pantanal, com o DNA do Bioma, sua diversidade e sua gente (suas populações, sua pluralidade), realizará importantes momentos de reflexão e debates de cidadania ao longo deste 2025, a se tornar triunfal pelas cidadãs e pelos cidadãos sinceramente engajados em seus nobres propósitos.

Sejam citadinos, ribeirinhos ou originários. Sejam cientistas, artistas ou diletantes. Sejam professores, estudantes ou ‘ouvintes’. Sejam leigos, consagrados ou agnósticos. Sejam disciplinados, espontâneos ou histriônicos. Sejam grandes, médios pequenos ou micros. Empreendedores, trabalhadores ou arrendatários. Sejam natos, naturalizados ou adotivos. Sejam assentados, operadores de direitos ou assemelhados. Letrados ou não letrados -- nem por isso menos sábios ou, pior, ‘cidadãos de segunda categoria’, isso não.

Só é preciso estar sinceramente engajado e contribuir efetivamente para que o Pantanal (e por extensão as mais de doze sub-regiões do Pantanal no Brasil, Bolívia e Paraguai, além de municípios brasileiros em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso) não seja, mais uma vez, relegado a ‘quase’ prioridade federal, estadual e municipal. O nosso Bioma não é um ‘apesar de’ ou ‘embora’; sua gente não é ‘fardo’, ‘tralha’ ou ‘mal necessário’, como têm sido tratados depois da divisão de Mato Grosso. Os políticos, a boca pequena dizem -- e isso ninguém me contou, eu é que testemunhei em 1979, primeiro ano do ‘Estado modelo’, graças à generosidade de saudosos Camaradas como Seu Mário Corrêa Albernaz e Professor Amarílio Ferreira Junior, quando passei um tempo na Assembleia Legislativa, fosse com as equipes do Deputado Sérgio Cruz ou do Deputado Roberto Orro, líder e vice-líder do PMDB na AL/MS --, “foi bom termos ficado com fatia do Pantanal, apesar de sua gente muito complicada”, nas palavras de um assessor dos três primeiros governadores nomeados, no tempo em que eleição direta era questão de ‘segurança nacional’ (de quem?).

Pioneirismo a toda prova

A luta por uma universidade para o Pantanal não é nova. Vem de décadas atrás, durante os ‘anos de chumbo’, em que cidadãos desassossegados ousaram sair da letargia imposta para investir em um novo tempo para a região do Pantanal, cuja urbe-mor desde os tempos do cosmopolitismo irrequieto e indomável era, aliás, é Corumbá. Eleito por uma oposição não consentida logo no primeiro ano do regime de 1964, o governador mato-grossense Pedro Pedrossian se encontrava ‘entre a cruz e a espada’, por isso teve que se limitar a atender com a criação do Instituto Superior de Pedagogia de Corumbá, em 1967, enquanto no Ministério da Educação e Cultura era implementado o Acordo MEC-Usaid, que gestou a famigerada Lei da Reforma Universitária, Lei Federal nº 5.540/1968.

Pedrossian, justiça seja feita, enfrentava dois adversários naquele momento -- com sua adesão à Arena, partido de sustentação do regime, os remanescentes da UDN, como Lúdio Martins Coelho, a quem derrotara em 1965 na disputa para o governo de Mato Grosso, e os ex-correligionários da coligação PSD-PTB, que o acusavam de traição logo no momento em que eram alvo de perseguição, cassação, prisão, tortura e até desaparecimento --, foi de habilidade ímpar ao atender ao clamor de um grupo seleto de cidadãos corumbaenses integrado, entre outros não menos importantes, pelo saudoso Médico Salomão Baruki, pela Professora Edy Assis de Barros e pelo então deputado arenista apoiado pelo saudoso Padre Ernesto Saksida, Professor José de Freitas, líder do governo na Assembleia Legislativa de Mato Grosso, que em tempo recorde não só acelerou a tramitação legislativa do decreto de criação do ISPC como participou da elaboração célere do projeto a ser submetido ao Conselho Estadual de Educação e posteriormente ao Conselho Federal de Educação.

Não por acaso, desde o começo do Movimento UFPantanal temos trazido à memória os nomes de todos os pioneiros na construção do ISPC [depois, com a criação da UEMT, CPC, e anos depois, com a divisão de Mato Grosso e a criação da UFMS como fundação, CEUC, CPCO e mais recentemente CPAN], e obviamente o nome do Professor Salomão Baruki se encontra no mais alto nível de reconhecimento, bem como do Professor José Sebastião Candia, pelo pioneirismo de seu engajamento. Temos, a propósito, um banco de dados com os nomes de todos os docentes que enriqueceram a digna história do hoje CPAN --bem como do CPAQ e também da UNEMAT (cuja criação se deu durante o mandato do saudoso democrata Dante de Oliveira no governo de MT e na gestão do saudoso Professor Carlos Alberto Reyes Maldonado, Sobrinho do saudoso Senhor Jorge José Katurchi, na Secretaria de Estado da Educação, tendo sido seu primeiro reitor e postumamente patrono da UNEMAT) --, que, independente de terem sido ou não dirigentes, deveriam constar de galeria dos protagonistas da História do Ensino Universitário de Corumbá e do Pantanal, a que venho me dedicando desde 2016.

Pantanal, cobiçado Pantanal

Desde antes do século XIX, o Pantanal tem sido muito visado, sobretudo por potências dos mais diferentes matizes. Basta ver os relatos de viajantes e de celebridades como um ex-presidente dos Estados Unidos, Theodore Roosevelt, que teve o mais tarde marechal Cândido Mariano da Silva Rondon como seu cicerone na travessia do Pantanal até chegar à Amazônia, um século atrás. Mas muito antes, na comitiva da futura consorte de Pedro I, no início do século XIX, estiveram Carl Friedrich von Martius e Johann Baptist von Spix fazendo uma expedição científica memorável [sombreada pela denúncia de terem levado duas crianças indígenas, Juri e Miranha, de etnias diferentes da Amazônia para a Europa e que acabaram morrendo de causas desconhecidas antes de completar 14 anos de idade].

A célebre expedição do barão alemão naturalizado russo Georg Heinrich von Langsdorff, entre 1824 e 1829, contou com a participação de três artistas -- Johann Moritz Rugendas (que se desligou da expedição), Aimé-Adrien Taunay (que se afogou no meio da expedição) e Hercules Florence (cujo diário foi publicado 100 anos antes do de Langsdorff). Diversos pesquisadores contemporâneos fundamentaram importantes aportes com base nos relatos e desenhos em bico-de-pena de Hercules Florence.

Mas longe de atitudes e insinuações de xenofobia, até porque eu mesmo sou imigrante filho de imigrantes. Devemos, isto sim, a essas expedições científicas muitas contribuições inestimáveis, até porque tanto os colonizadores lusitanos quanto os primeiros governantes (descendentes da corte portuguesa) só tinham olhos para o saque e a pilhagem. Diferente dos castelhanos, a coroa portuguesa não implantou uma universidade sequer no vasto território colonizado. O curso de Direito foi implantado no Brasil durante a vinda de Dona Maria e o príncipe regente, seu filho João (depois João VI), no início do século XIX.

Protagonismo cidadão

Ao lado dos saudosos Dom José Alves da Costa, Seu Jorge José Katurchi, Seu Augusto César Proença, Seu Lincoln Gomes de Souza, Augusto Alexandrino Malah dos Santos e as saudosas Heloísa Helena da Costa Urt (Helô), Professora Constança Proença Gomes da Silva e Professora Marilda Coelho [diretora da Escola Antônio Maria Coelho, fechada com a sua eternização], que devem estar em festa na eternidade, fizemos de 1994 ano da cultura e da memória coletiva. A Comissão Pró-Cultura de Corumbá, desdobramento da Sociedade dos Amigos da Cultura, abriu a celebração do Centenário da Morte de Antônio Maria Coelho (29 de agosto de 1894) na Praça Independência, diante da estátua do Herói da Retomada, inclusive como reconhecimento de esse personagem histórico ter sido, além de primeiro governador de Mato Grosso, um dos signatários do manifesto em que oficiais reivindicavam de Floriano Peixoto eleições para novo mandato presidencial republicano.

Nos preparativos, lá estavam também Adriana Santos Ferraz, César Moraes Papa, Mara Leslie do Amaral, Marlene Terezinha Mourão (Peninha), Denise Campos Diniz Mônaco, Ednir de Paulo, Antônio Víctor Lima Batista e Armando Carlos de Arruda Lacerda, queridos Amigos e Amigas que participaram, por meio desse movimento, do Pacto pela Cidadania desde a sua gênese, no ano anterior, de 1993, quando da realização da Segunda Semana Social Brasileira e da fundação do Comitê de Corumbá e Ladário da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, bem como do pioneiro em todo o Brasil Comitê de Defesa da Urucum Mineração. Mais dois meses, e era criado, depois de longo processo de legitimação junto a todas as entidades constituídas, o Fórum Permanente de Entidades Não Governamentais de Corumbá e Ladário (FORUMCORLAD), ironicamente implodido por membros não governamentais ‘adestrados’ pelo então gestor municipal de Corumbá, cuja candidatura sob as bênçãos dos saudosos Padre Ernesto Saksida e Padre Pasquale Forin, foi sagrada vitoriosa com a participação de membros deste Espaço Público Não Estatal, pioneiro em todo o interior brasileiro em seus vinte anos, antes de se transformar em Observatório da Cidadania Dom José Alves da Costa.

Ahmad Schabib Hany