29 DE NOVEMBRO, 78 ANOS DA NAKBA DO POVO PALESTINO
Hoje Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, em 1947 era o início da Nakba, isto é, da tragédia palestina, que dura exatos 78 anos de genocídio, saques, torturas, apagamentos e apropriação da cultura e da história da Palestina milenar, que não tem irmã-gêmea, mas um alter ego que pretende aniquilar a existência da Palestina e de seu povo, que se recusa a desaparecer e a ser submetido ao domínio do sionismo.
O dia 29 de novembro de 1947, quando o território milenar da Palestina sofreu a partilha determinada, sem qualquer legitimidade e sem ter consultado seus maiores interessados -- os mais de um milhão e meio que formavam a população palestina na época --, pela assembleia geral da Organização das Nações Unidas, entrou para a história como o início da Nabka, isto é, da tragédia palestina.
A partir de então, a população da Terra Santa, como é chamada pela maioria da população humana do planeta -- por sediar a gênese das três mais populosas religiões monoteístas do planeta --, conheceu a diáspora, tragédia, expulsão, perseguição, perda sistemática de direitos, morte civil, morte física, atentados terroristas, campanhas difamatórias coletivas, assédio moral e político, roubo de seu patrimônio pessoal, coletivo, material, imaterial, cultural, artístico, gastronômico, histórico, arqueológico, monetário e até o direito de sonhar, ser feliz e cultuar seus valores identitários, que foram saqueados por indivíduos brancos, de olhos azuis e cabelos louros que jamais haviam pisado aquelas sagradas terras.
Aliás, a fraternidade universal, como princípio de convivência entre diferentes, teve por milênios a Palestina como referente, destino e refúgio. Não se trata da maldita narrativa neocolonial da rapinagem -- base da mentira instituída pelo Consenso de Washington na pós-verdade --, são fatos históricos os que atestam esta afirmação, com registros fidedignos conservados em bibliotecas milenares, documentos eloquentes e fiéis.
Quem puder acessar bibliotecas universais, inclusive árabes -- que, reiteramos, são milenares --, quem puder ler atlas e enciclopédias em inglês, francês ou espanhol, senão em árabe, verá que Jerusalém, Belém, Ramallah e Gaza -- cidades da Palestina Milenar --, ao lado de Bagdá, Damasco, Fez, Cairo, Beirute, Trípoli, Meca e Medina, por exemplo, eram cidades pujantes, modernas, industrializadas e muito ricas. A mais importante delas, obviamente, era Jerusalém, razão da cobiça colonial dos turcos e depois dos britânicos, que a negociaram em 1917 e a entregaram, 30 anos depois, para os sionistas, em 1947.
Pela tradição árabe, não havia miséria, pois era obrigação do Estado dar toda a proteção às famílias vulneráveis. É a guerra, o genocídio, que leva fome, doença, morte e desespero ao coração do povo árabe-palestino.
Palestina, Egito, Síria, Líbano, Iraque, Líbia, Argélia, Iêmen, Marrocos, Sudão, entre tantos outros não menos importantes, davam emprego a todos os povos da Ásia e África, sem qualquer discriminação. Inclusive da Europa, antes da colonização francesa, inglesa, belga, alemã, italiana, espanhola e portuguesa.
No entanto, em fins do século XIX, década de 1890, o recém-fundado Movimento Sionista Internacional lançou uma campanha para que a Palestina -- bem como a Patagônia, na Argentina; a Amazônia, no Brasil; Uganda, na África, entre outros territórios cobiçados por serem ricos em reservas minerais e naturais pelo mundo afora -- fossem transformados em Lar Nacional dos Judeus, como se aquelas terras não tivessem gente.
"Uma terra sem povo para um povo sem terra." Era assim como a propaganda sionista se espalhava pelos cinco continentes. Usavam as influências poderosas do império britânico, francês, belga, italiano, alemão, português e espanhol para induzir a humanidade a uma mentira. Antes mesmo de o império turco acabar, o lorde Balfour, primeiro-ministro britânico, já havia vendido o destino da Palestina ao banqueiro Rotschild, que emprestou dinheiro à Grã-Bretanha para fazer frente aos gastos na Primeira Guerra Mundial.
Depois da "Declaração Balfour", de 1917, houve o Acordo Sikes-Picot, entre os chanceleres da Grã-Bretanha e da França, em que dividiam, em 1921, todo o território da Arábia -- do Oeste da Ásia ao Norte da África, incluindo os países do Golfo, ao todo 23 estados, dos quais a Palestina entregue como moeda de troca aos banqueiros e industriais judeus que participavam do Movimento Sionista Internacional.
Dos 1 milhão, 400 mil palestinos que viviam em 1948, mais de 800 mil foram deslocados para a Cisjordânia e Faixa de Gaza através de atos de violência, atentados e chacinas. Nem a Declaração dos Direitos Humanos, que estava em processo de elaboração naquele ano serviu para sensibilizar as potências ocidentais em sua sórdida cumplicidade.
Em somente um único mês, mais de 290 aldeias foram destruídas pelas hordas sionistas em 1948, primeiro ano da existência de Israel. Nesse ano, ao todo, foram destruídas mais de 800 aldeias e cidades palestinas, como a Galileia, com mais de dois mil anos. Seus habitantes foram, na maioria delas, deslocados, quando não vítimas de massacres, como o de Deir Yassin (ocorrido no ano anterior), em que crianças, mulheres grávidas e idosos foram esquartejados para levar o pânico e promover o êxodo forçado da população indefesa e assustada.
Passaram-se 78 anos da criação de um estado colonial segregacionista, que não só expulsa, prende, tortura e mata -- mas, sobretudo, saqueia nosso passado milenar, nosso presente e nosso futuro. Nossa história milenar, nossas riquezas culturais, nossa identidade, nosso patrimônio artístico, pictórico, arquitetônico, paisagístico, histórico, arqueológico, genético e cultural material e imaterial sem receber qualquer punição da mesma ONU, que criou o monstro em 1947.
Se isso, por si, já representa uma violência inaudita, o número impreciso de atentados, chacinas e massacres de 1947 até 2013, segundo organismos da ONU, são mais de 70, em uma relação de nomes, datas e número de vítimas fatais executadas com requintes de crueldade. Daí porque é faltar a verdade dizer que tudo começou em 7 de outubro de 2023, porque nessa ocasião promoveram uma emboscada os combatentes palestinos -- que não são terroristas, pois a própria ONU tem uma convenção que reconhece o direito de um povo lutar pela conquista de sua soberania e de seu território --, mas a própria imprensa independente nos Estados Unidos denunciou um autoatentado promovido pelo exército sionista, de modo a acusar os palestinos de terem promovido uma chacina.
É, por outro lado, falsa a notícia de que entre judeus, cristãos e muçulmanos na Palestina havia qualquer conflito antes da emigração europeia. O holocausto foi promovido, foi cometido, na Europa ocidental, não pelos árabe-palestinos. Os campos de concentração nazistas estiveram instalados na Europa, não na Palestina, e os carrascos eram europeus, autodeclarados "cristãos", olhos verdes e cabelos louros.
Aliás, até antes da invasão pela OTAN e aliados do ocidente e da chamada Primavera Colorida nas décadas passadas, ao Iraque, Líbia, Sudão, Iêmen, Argélia e Egito, e mais recentemente à Síria e ao Líbano, as comunidades judaicas nesses países árabes superavam um milhão de habitantes e se declaravam pró-árabes, defensores dos respectivos governos, contrários à ingerência sionista e imperial dos Estados Unidos, Reino Unido e União Europeia.
E são esses mesmos cúmplices do estado sionista que não permitem que a comunidade internacional sancione o estado terrorista de Israel, que, em pouco mais de dois anos de genocídio, não só destruiu toda a infraestrutura palestina na Faixa de Gaza, como assassinou e continua a assassinar criminosamente bebês, crianças, adolescentes, jovens, mães, mulheres grávidas, mulheres idosas, idosos, pessoas mutiladas e doentes crônicos sem qualquer ato de empatia ou compaixão. E, pior, em nome de Deus.
Só nestes dois anos de alucinação infanticida, feminicida, homicida, genocida, etnocida e ecocida contra a população civil de Gaza, os números denunciam a máquina de guerra desenvolvida pelos que sempre se passaram pelas eternas vítimas da história.
Além da destruição de 80% das casas e de 50% dos edifícios, o genocídio cometido pelo primeiro ministro Benjamin Netanyahu adota a fome como arma de guerra, no que é apoiado pelos governos dos Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia, Canadá e Austrália. E o resultado parcial produzido nesta tragédia em plena luz do dia, sob as câmeras de jornalistas e cinegrafistas corajosos, 254 deles assassinados propositalmente. Lembrando que não são números, são vidas interrompidas, mutiladas e adoecidas:
* Mais de 80.000 mortos;
* mais de 10.000 desaparecidos ou soterrados sob escombros;
* 186.000 mortos por causas diretas e indiretas, segundo a revista "The Lancet";
* 16.859 crianças mortas (menores de 12 anos);
* mais de 21.000 crianças desaparecidas;
* 440 pessoas mortas de fome, delas 147 crianças mortas por inanição;
* 11.429 mulheres mortas;
* 986 profissionais de saúde mortos;
* 85 membros da defesa civil mortos;
* pelo menos 114.700 feridos;
* 1.737.524 pessoas sofrendo de doenças infecciosas devido ao deslocamento e às condições precárias causadas pela destruição da infraestrutura;
* 20% da população enfrenta "níveis catastróficos de insegurança alimentar aguda", incluindo "grave escassez de alimentos, fome e exaustão";
* mais de 1.900.000 pessoas estão deslocadas internamente.
Esses dados já estão defasados, pois são do dia 17 de novembro, e todo dia há violações da trégua que nunca as forças sionistas nunca respeitaram.
Além disso, estes dados são somente de Gaza; a Cisjordânia -- inclusive o povoado de Káfer Málek, de onde a maioria das Famílias palestinas de Corumbá é originária, encontra-se sitiado por soldados e colonos sionistas, destruindo plantações e expulsando as Famílias de suas casas e sítios.
A tragédia, a Nakba, foi causada pela expulsão dos palestinos, donos das casas e dos campos, por ordem das autoridades britânicas, as mesmas que haviam prometido libertar a Palestina da colonização turca (Turquia, país europeu que dominou com tirania todos os países árabes durante trezentos ou mais anos, conforme a região e o continente).
Quem conhece a História sabe que os árabes, quando estiveram presentes na Europa, Ásia e África, por mais de oitocentos anos, não colonizaram, não impuseram sua religião e seu idioma. Por exemplo, na Península Ibérica, antes da fundação de Portugal e da Espanha, permaneceram entre trezentos anos (Portugal) e oitocentos anos (Espanha). Também chamados de mouros, os árabes desenvolveram a arquitetura, engenharia civil, medicina, geografia, astronomia, filosofia, matemática, gramática, literatura, navegação, física, química, biologia etc.
Mais que isso: os árabes difundiram as artes, a música, a dança e a culinária bastante conhecidas em todo o mundo. As mesmas que agora o estado sionista tenta se apropriar, mas quem é mais velho e convive com os árabes sabe que isso faz parte da rica cultura árabe. Em vez da cultura da guerra dos europeus, a cultura árabe é da arte, da ciência, das letras e dos números -- tanto é verdade que os números romanos foram substituídos pelos algarismos arábicos, não só pela praticidade, mas porque os números romanos não tinham o zero, o que complicava as operações aritméticas.
Em menos tempo que na colonização lusitana e castelhana da América, os árabes não obrigaram os ibéricos a falar o árabe e a praticar a religião islâmica. Ao contrário, protegeram os judeus das perseguições das Cruzadas e, depois, da Inquisição. Assim como os gregos e fenícios, os árabes, por se dedicarem ao comércio, não promoviam guerras, não patrocinavam o colonialismo. Os europeus é que usaram o regime colonial para se enriquecer por meio do saque, da cobiça e do genocídio, praticado até hoje na África, Ásia e América.
Além de 25% da língua portuguesa conter vocábulos árabes -- como arroz, alface, romã, tamarindo, tâmara, café, chá, oxalá etc --, muitos africanos escravizados eram muçulmanos e com eles trouxeram a culinária e os hábitos árabes ou islâmicos que hoje fazem parte da cultura brasileira, inclusive nas religiões de matriz africana.
Para concluir, nossas histórias se entrelaçam não apenas na história pretérita e na arqueologia. Nossas histórias se irmanam desde os tempos em que, seja com seu primeiro estadista, Dom Pedro Segundo, que visitou a Arábia em fins do século dezenove, ou com as empresas brasileiras como a Mendes Junior, Camargo Corrêa e Affonseca nos diferentes países árabes, durante as décadas de 1970, 1980 e 1990, e mais recentemente com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com importantes acordos comerciais de grande relevância, alguns prejudicados pelas agressões sionistas e imperiais em território árabe.
Também dentro do Brasil, país que nos acolheu irmãmente e que nós amamos com a mesma intensidade que o país de nossos pais, somos cientes e conscientes de nossa contribuição, de nosso dever de participar de seu desenvolvimento e da felicidade do Povo Brasileiro. Vivemos no Brasil e queremos o progresso e a paz neste querido país que acolheu nossas Famílias e nos deu oportunidade para educar os nossos filhos e lhe proporcionarmos oportunidade de realização profissional.
Com esta iniciativa, de o Poder Legislativo municipal realizar um ato de solidariedade ao Povo Palestino, Corumbá, mais uma vez, se reafirma cosmopolita, hospitaleira e acolhedora, como o Povo Corumbaense, generoso e grande Amigo de todos os povos, todas as culturas, todas as pátrias, tanto quanto Mato Grosso do Sul e nosso querido Brasil, terra de Promissão e Justiça Social.
Corumbá era o maior centro comercial do centro-oeste da América do Sul quando chegaram, entre fins do século XIX e meados do século XX, as primeiras Famílias Árabe-Palestinas, algumas fixadas em Ladário, outras no centro da cidade. Não declinamos nomes para não cometer injustiças.
A chegada das primeiras Famílias árabe-palestinas era o início da Nakba, da Tragédia, por causa da partilha do território milenar palestino, da invasão de nossas casas e campos, e da expulsão, por meio de atentados, masssacres e chacinas, de centenas de milhares de crianças, jovens, mulheres, idosos e adultos em idade de estudar, trabalhar, produzir e decidir seu futuro.
Nossa felicidade só não pôde ser maior porque nossas Famílias vivem na Palestina, de onde viemos, e sob a tirania de um estado colonial que não tem qualquer respeito pelas convenções internacionais e muito menos pela Carta das Nações Unidas, responsável por sua existência, sem ter consultado o Povo Palestino, ali estabelecido há mais de seis mil anos.
Em nome da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira em Corumbá e do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino Jadallah Safa, queremos agradecer com penhor a todos os e todas as integrantes da Casa do Barão de Vila Maria e deixar um abraço fraternal a todas as e todos os presentes à Sessão de Solidariedade ao Povo Palestino pela Câmara Municipal, por iniciativa de seu presidente, Vereador Ubiratan Canhete de Campos Junior, e com a parceria do Vereador Sadek Ramounieh, filho de pai palestino e cujo irmão é prefeito municipal democraticamente eleito de Ladário, também presente ao ato de solidariedade.
Obrigado, Corumbá e Ladário! Obrigado, Pantanal! Obrigado, Fronteira Brasil-Bolívia! Obrigado, Mato Grosso do Sul! Obrigado, Povo Brasileiro! Obrigado, querido Brasil!
Que Deus abençoe Vocês e suas Famílias, sempre!
Corumbá, 29 de novembro de 2025.
Adnan Haymour
Munther Suleiman Safa
Ahmad Schabib Hany
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