segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

A TRÍADE CIDADANIA-CULTURA-AMBIENTE

A tríade cidadania-cultura-ambiente

(Escrito originalmente em 13/12/2004 para o livro sobre educação ambiental editado pela Embrapa Pantanal)

Atuar no terceiro setor, por si só, tem sido algo bastante difícil nestes tempos em que o deus-mercado teve a sua importância elevada à enésima potência. Imagine-se, então, a atuação no contexto sócio-ambiental, sobretudo numa região em que o exercício do contraditório nada vale, pois o maniqueísmo inquisitorial, sob a batuta de aprendizes de coronéis, é quem dá as cartas, como se ainda vivêssemos sob os caquéticos valores do século 19, auge do liberalismo clássico, mas sem o louvável recurso do direito de resposta.

Mas, e o que isso tudo tem a ver com a tríade cidadania-cultura-ambiente?

Como bem diz a sabedoria popular, a vida é uma grande escola. Eis que a rica experiência de vida de inúmeros antecessores na luta serve, senão de exemplo pelo menos de lição para nós e para os que nos vierem a suceder. Constata-se, portanto, que a vida não é segmentada, e que atuar no eixo sócio-ambiental significa entender e agir de forma articulada nas questões de afirmação de cidadania, do resgate da identidade cultural e da proteção da diversidade biológica do meio em que nos encontramos. Ainda mais se, como em nosso caso, residirmos numa região única como é o Pantanal.

Em outras palavras, desenvolver o protagonismo cidadão da população local como recurso de potencialização da capacidade de intervenção qualificada do cidadão comum representa uma estratégia inovadora e transformadora. Não se trata, apenas, da necessária mas insuficiente responsabilização de nosso cidadão comum para as questões que implicam na mudança de conduta rumo à construção de um novo modelo de desenvolvimento, já previsto na Agenda 21, a qual, aliás, em Mato Grosso do Sul virou alvo de chacota dos bizarros representantes das elites anacrônicas e mais recentemente dos novos empoderados, ex-adeptos da dialética marxista que sucumbiram diante dos atrativos do poder.

E habitante ativo, mobilizado para as legítimas demandas da sua comunidade, corresponde ao perfil de cidadão do século 21, cuja noção de cidadania perpassa questões pontuais ou até ideológicas e se engaja em pleitos que vão para além do cotidiano. Assim, preocupações como ambiente saudável e qualidade de vida, por exemplo, acabam ganhando uma dimensão maior, como políticas públicas intersetoriais cujas metas não se esgotam nos relatórios da burocracia, mas o devido alcance junto aos destinatários, mesmo que não redunde em popularidade ou votos em épocas de eleição.

Mesmo correndo o risco de pecar por redundância, não é demais reiterar que sentir-se comprometido com a causa da conservação dos recursos naturais para as futuras gerações não significa não desejar o progresso e o bem-estar para a sociedade contemporânea. Pelo contrário, lutar por um novo modelo de desenvolvimento é empenhar-se para que os atuais investidores não comprometam a qualidade de vida e de trabalho dos que participam do processo produtivo e dos que vivem em seu entorno, e que, no entanto, não são beneficiários à altura diante dos riscos e prejuízos à saúde e ao meio ambiente em que se encontram.

O que é, mesmo, protagonismo cidadão?

A despeito da inesgotável capacidade inovadora e transformadora de nossa população, nossa história está repleta de episódios em que as amplas camadas sociais desempenham, desde os imemoráveis tempos da colonização ibérica, um papel caudatário –sequer de coadjuvantes, mas de reles figurantes–, como que a nação fosse constituída de súditos, não de cidadãos. Em pleno século 21, no generoso contexto oferecido pelas relevantes conquistas do século 20 em nível global, a postura dos habitantes do planeta não pode ser outra que a de protagonistas da própria história, seja do ponto de vista da cidadania, da cultura ou do meio ambiente.

É, pois, a prática articulada e coerente da tríade cidadania-cultura-ambiente que terá como resultado inexorável o protagonismo cidadão preconizado. E, bem entendido, sem dogmas ou receitas preconcebidas, tendo claro que poderemos saber onde iniciamos nosso trajeto, sem, contudo, sabermos onde iremos chegar, porque dependerá tão-somente da capacidade de superação do coletivo em que nos encontrarmos. Isto põe, também, por terra a postura arcaica de nossos antecessores, de que o messianismo –- seja ele de esquerda ou de direita -– está em desuso. E o mais importante: o resultado terá sido da exata estatura de nosso povo.

(*) Ahmad Schabib Hany é membro da secretaria-executiva do Fórum Permanente de Entidades Não Governamentais de Corumbá e Ladário (FORUMCORLAD) em MS e fundador e coordenador-adjunto da Organização de Cidadania, Cultura e Ambiente (OCCA).

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