Jadallah Safa, um Mártir da Causa Palestina
Camarada de determinação e capacidade insuperáveis, Jadallah Safa lutou até o último segundo de sua plenitude vital pela Causa Palestina. Seu derradeiro momento de combate foi na primeira manifestação de solidariedade, em São Paulo, no dia 8 de outubro de 2023, 56 anos do martírio do igualmente incansável combatente Ernesto Guevara, em 1967.
Saudoso e querido Amigo-Camarada de quatro décadas, Jadallah Suleiman Safa se eternizou após resistir a uma longa internação em um hospital de São Paulo. Até na luta pela Vida foi um incansável combatente. Ele deu entrada ao Pronto Socorro de um bairro da capital paulista depois de sofrer um acidente vascular cerebral durante sua fala no ato de solidariedade ao povo palestino promovido, dia 8 de outubro de 2023, por entidades da sociedade civil, entre elas o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, o MST.
O derradeiro momento de plena atuação do Amigo Jadallah foi no mesmo dia em que, 56 anos antes, o médico, combatente e ex-ministro argentino-cubano Ernesto Guevara De La Cerna, o eterno Che, tombava ante uma execução covarde, determinada não pelo ditador sanguinário boliviano René Barrientos Ortuño em uma agrovila de Valle Grande, a poucos quilômetros de Santa Cruz de la Sierra, mas pelo seu amo e senhor, Lyndon Johnson, inquilino da Casa Branca, em outubro de 1967.
Dois internacionalistas, socialistas, combatentes incansáveis. Diferentemente de Che, que saíra voluntariamente da Argentina para lutar contra a exploração colonial-capitalista na década de 1950, Jadallah veio da Palestina com sua família e contra a sua vontade -- como os mais de oito milhões de palestinas e palestinos que, a partir da Nabka (tragédia), em 1948, são obrigados a sair, sob ameaça de morte e humilhações de toda natureza.
Conheci Jadallah em 1983, durante um ato de solidariedade ao povo palestino, em Corumbá, mês de setembro, um ano depois do Massacre de Sabra e Chatila (dois acampamentos de refugiados palestinos em Beirute, capital do Líbano, terra de meus ancestrais), cometido por paramilitares da Falange Libanesa, aliada dos sionistas, sob total apoio e cobertura do nefasto exército do estado colonial instalado, com o aval criminoso da ONU, em território milenar da Palestina.
Ao lado dos igualmente saudosos e queridos Amigos, os senhores Soubhi Issa Ahmad (Casa Estrela), Khamis Abdallah (Casa Dina), Mohamad Bazzi (Casa das Flores), Hamad Haymour (Casa Beirute), Mohamad Omar (Casa Glória), estava o então jovem Jadallah com seu inconfundível sotaque hispano-árabe, recém-chegado a Corumbá, depois de ter passado a primeira juventude a acompanhar seus Pais em algumas cidades latino-americanas.
Como eu ainda cursava História na antiga FUCMT, em Campo Grande, nossos encontros ocorriam quando passava as férias em Corumbá ou em datas como o Dia da Terra (30 de março), quando a comunidade palestina local realiza seus eventos culturais. Por meio dele, conheci não apenas seus Irmãos e Irmã, todos com uma consciência patriótica e social ímpar, mas também Camaradas como Najeh Abdel Hamid Mustafa, e reencontrei meu Amigo Yahya Mohamad Omar, já casado, grande Companheiro de muitas jornadas antes de minha partida temporária à capital.
Cosmopolita, Corumbá -- sobretudo seu povo hospitaleiro e laborioso -- sempre foi lugar de encontros e realizações pioneiras. Não só na modesta pensão de meus Pais, mas também na escola e, sobretudo, em meu primeiro estágio, na extinta Telemat, foi a oportunidade que tive para conhecer profundamente as pessoas com uma perspectiva universal e solidária. Foi nesse estágio que pude conhecer Amigo Ruberth, Irmão do querido artista plástico Rubén Darío Román Áñez (Amigo de meu saudoso Irmão Mohamed e, por tabela, de meu saudoso e querido Pai) e, ao trabalhar com Ruberth, conhecer não só os seus Pais e Irmãs e Irmão, mas pessoas como o saudoso artista plástico Antonio Burgos e Filhos, o escritor Adolpho Emídio Cunha e reencontrar a odontóloga Doutora Rosa Kassar, por exemplo.
Meu Pai, humanista que, mesmo sem expor suas posições político-partidárias (que sempre as teve, mas muito discretamente), nos ensinou desde tenra idade que o pan-arabismo de Gamal Abdel Nasser era necessário e que procurássemos quanto pudéssemos a unidade entre os árabes e, no contexto mundial, os povos do países do Terceiro Mundo integrantes do Movimento de Países Não Alinhados liderados por Broz Tito, Gamal Abdel Nasser, Jawaharlal Nehru e Sukarno. Não podendo fundar um Centro Cultural Árabe-Brasileiro, no início da década de 1980, ao lado de Amigos, fundou a Sociedade Beneficente Muçulmana de Corumbá (SOBEMCO), sucedido pelo saudoso senhor Ale Hamie e atualmente presidida pelo querido odontólogo Zacaria Yahya Omar, Filho do Companheiro Yahya Mohamad Omar.
Fui apresentando o Jadallah aos Amigos queridos como os Professores Valmir Batista Corrêa, Lúcia Salsa Corrêa, Gisela Angelina Levatti Alexandre, Gilberto Luiz Alves e Masao Uetanabaro (os dois já de mudança para Campo Grande), além da saudosa e querida Dona Eva Granha de Carvalho e outras Amigas e Amigos do então recém-fundado Partido dos Trabalhadores, como Marlene Mourão (querida Peninha), Luiz Carlos Mesquita e os saudosos e queridos Zé de Oliveira e Helô Urt.
Em 1987, quando o Camarada Najeh Mustafa era presidente da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira, passamos uns três meses organizando a Primeira Mostra da Cultura Árabe-Palestina, sob disciplinada e lúcida coordenação da querida Amiga e Professora Elenir Lena Machado de Mello, então bibliotecária responsável pela Gabriel Vandoni de Barros no ILA, dirigido pelo saudoso e querido Doutor Lécio Gomes de Souza. A mostra durou outros três meses, de segunda a sexta-feira, até às 20 horas, com o apoio dos queridos Carlos Augusto Canavarros e Dona Regina Martins.
Além de falas sobre a História dos Árabes (com ênfase para a da Palestina) em diferentes locais (escolas públicas e privadas, entidades de toda natureza e centros religiosos de todas as denominações e origens), realizadas em paralelo à preparação da mostra cultural, fomos organizando a fundação do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino Jadallah Safa (homenagem póstuma a esse querido Camarada, incansável e sem igual). Isso ocorreu no dia 27 de novembro de 1987, no antigo anfiteatro do CEUC, totalmente lotado, e de que fizeram parte, além do Doutor Lécio e da Professora Lena, os Poetas JL Macedo e Rubens de Castro, que brilhantemente declamou a versão em português de "Sabra y Chatila", composta e interpretada por Alberto Cortés.
Mensagens do governo da Nova República e dos dirigentes da Assembleia Nacional Constituinte, por meio de telegramas oficiais, docentes universitários citados, secretários de Estado, Jornalistas, dirigentes de instituições públicas de Corumbá e Ladário e parlamentares se fizeram representar. Entre os que compuseram a mesa estava um membro do Parlamento Palestino no Exílio, cujo nombre não recordo, além dos membros da primeira coordenação colegiada do Comitê de Solidariedade, Manoel do Carmo Vitório, Maurício Lopo Vieira e Valmir Batista Corrêa, que criou a Lei Municipal que instituiu o Dia Municipal de Solidariedade ao Povo Palestino em 1987.
Não deixo de dizer que Jadallah Safa -- como todos os Amigos palestinos dessa geração de ouro --, se tivesse ficado na Palestina e cursado a Universidade Bir Zeit, em Ramallah, hoje seria cientista, intelectual ou dirigente público, pois como pessoas e cidadãos são brilhantes, já o provaram eloquentemente. A perversidade do sionismo cometeu também esse crime pérfido e inominável, e que não tem como ser reparado.
O querido e saudoso Professor Fausto Matto Grosso, Camarada de Campo Grande, disse, em 1982, uma semana depois do Massacre de Sabra e Chatila, no CEPES (Centro de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais), que o Povo Palestino (maiúsculas, por favor!) é de coragem, lealdade e brilhantismo insólitos, pois resiste com inteligência e sabedoria à truculenta ocupação sionista, que conta com o apoio e financiamento de todo o ocidente. Em síntese, essa capacidade de resistir é algo que afronta a lógica humana, dizia com todo o conhecimento de causa de sua qualificada militância política.
Jadallah se eternizou, sim, mas seu legado generoso e intangível está a brilhar inesgotavelmente. Para iluminar mentes e corações sinceros e determinados, como estrela-guia a cintilar o firmamento para quem sabe interpretar aquilo que só pessoas desapegadas de mesquinharia conseguem enxergar. Eis nossa sincera, modesta homenagem ao Camarada Jadallah Safa, cuja Amizade e Companheirismo atravessam o tempo, a distância e a existência física.
Jadallah Suleiman Safa, presente, hoje e sempre!
Ahmad Schabib Hany
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