quinta-feira, 9 de novembro de 2023

CARTA ABERTA AOS DEPUTADOS VANDER LOUBET E CAMILA JARA

Carta aberta aos deputados federais Vander Loubet e Camila Jara

Estimado(a)s Deputado(a)s Vander e Camila,

Esta carta aberta despretensiosa, respeitosa e, obviamente, preocupada é dirigida apenas a Vocês, pois são o(a)s que nos representam na bancada federal deste estado conservador. É que na história recente do estado criado para ser modelo, até a presente data, a questão palestina tem sido reduzida -- a exemplo da questão indígena e da questão da terra -- a reles problema de polícia, como quem luta por direitos fosse fora da lei.

Não vimos seus nomes nem sua presença no ato público realizado na quarta-feira, dia 8 de novembro, na Câmara Federal, em que deputados repudiaram o maior massacre do século XXI cometido à luz do dia e em afronta a todas as convenções de guerra e resoluções da Organização das Nações Unidas (ONU) desde 1947, dois anos depois da criação deste organismo multilateral cujas deliberações os Estados Unidos e seus aliados, desde o fim da União Soviética, teimam afrontar reiterada e sistematicamente, como se essas potências estivessem acima das leis e seus inconfessáveis interesses fossem lícitos.

Um ano atrás, comemorávamos a eleição de Vocês dois como contraponto à insólita e funesta onda reacionária que corroeu como maldito câncer a jovem democracia brasileira, conquistada com a participação determinante de minha geração, punida com atos totalitários exarados por um regime nefasto que ainda não foi suficientemente elucidado pelas forças democráticas deste país-continente. Aliás, em memória das vítimas do holocausto brasileiro cometido pelos facínoras que justificavam sua ditadura sanguinária e antinacional com a balela de que "o povo brasileiro não está preparado para votar".

Não se trata de uma questão menor, como criminosamente retratam os oligopólios midiáticos brasileiros, como caixa de ressonância da máquina de propaganda pró-sionista e belicista (a indústria armamentista, ou melhor, da morte, vem acumulando lucros extraordinários com a destruição das potências árabes do "Oriente Médio" e "Golfo Pérsico" -- na verdade, oeste da Ásia, norte da África e Península Arábica --, sobretudo Iraque e Líbia, cujo território, sobretudo subsolo, assanha a cobiça insaciável dessas potências herdeiras do colonialismo pirata e genocida que infelicitou e ainda infelicita mais de dois terços da humanidade).

A memória seletiva da erroneamente chamada de "classe política" sul-mato-grossense esqueceu-se de que 42 anos atrás o porta-voz oficioso do regime de 1964 publicou uma fotolegenda maledicente em que o então deputado federal e fundador nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Antônio Carlos de Oliveira, incansável democrata eleito e reeleito pela resistência democrática mato-grossense, era alvo de insinuações espúrias contra a sua honra por estar ao lado do saudoso líder palestino Yasser Arafat, máximo dirigente da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), única e legítima representante do Povo Palestino.

Mais que honrar a histórica posição do PT em solidariedade aos povos vítimas do saque, da opressão e do colonialismo extemporâneo das emboloradas ex-metrópoles coloniais que cinicamente posam de arautos da ‘liberdade’, da ‘democracia’ e da ‘modernidade’, cujo contraponto é a postura corajosamente mantida pelo Governo do Presidente Lula, maior Estadista do século XXI, trata-se de urgente e inadiável grito uníssono mundial por um cessar-fogo imediato por razões humanitárias que dispensam relatos, pois as imagens falam por si. Não há nada que justifique a desproporção, a guerra de terra arrasada, o odiento propósito de extermínio do milenar povo palestino.

Sabemos do conluio entre os viúvos e órfãos do inominável e seus confrades nazissionistas (são explícitas as inúmeras tentativas de sabotagens e retaliações feitas cotidianamente), mas não é possível silenciar o veementemente repúdio contra as atrocidades e o infame genocídio em Gaza neste momento. Já passa de um mês, e a máquina da morte sionista não para, não interrompe o flagrante de mortes de inocentes indefesos (bebês, crianças, adolescentes, mulheres, idosos, doentes, feridos e mutilados) com o acintoso apoio de todas as maiores potências militares e econômicas do planeta (Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia, Canadá, Austrália e Japão).

Chamar de "terrorista" uma população privada do direito a viver em seu país milenar (com indiscutível legado civilizatório para toda a humanidade), do direito a um território soberano e contínuo (dividido pela ONU sem consultar o povo palestino), do direito a um governo autônomo, do direito à dignidade humana, do direito à vida, do direito à liberdade, do direito a ir e vir, do direito a beber água, do direito a se alimentar, do direito à saúde, do direito à inviolabilidade do lar, do direito à educação, do direito à felicidade, do direito a sonhar, do direito à infância, do direito a ser humano. Pior: os que negam esses direitos fundamentais e iniludíveis são aqueles que um século antes eram perseguidos na Europa por nazistas europeus em território europeu. Essas vítimas dos europeus já haviam sido abrigadas, protegidas, pelos mesmos árabes, inclusive palestinos, durante as Cruzadas e a Inquisição, séculos atrás. Basta ler na História na Palestina ou na Península Ibérica -- onde os "mouros" (árabes) permaneceram entre 300 (Portugal) e 800 (Espanha) anos sem impor sua língua, sua religião e sua cultura, ao contrário do que fizeram lusitanos e castelhanos na América, Ásia e, sobretudo, África, cujas consequências até hoje estão latentes, com rastro de saque, escravidão, miséria, exclusão social, supremacismo racial e devastação ambiental.

Ao contrário da falaciosa narrativa dos oligopólios midiáticos, como ensinado por Joseph Goebbels (homem da propaganda de Hitler), a repetir, repetir, repetir verdades tiradas de seu contexto, a tragédia do povo palestino não começou com a contraofensiva do Hamas em 7 de outubro de 2023, mas em 29 de novembro de 1947, quando a ONU, sem ter consultado o povo palestino, aprovou a ‘partilha (do território) da Palestina’, o que representou um sinal verde para que diversos grupos paramilitares sionistas como o Irgun, Leji e Haganá -- acusados de terroristas pelo governo britânico desde o atentado ao Hotel Rei David, em Jerusalém, em junho de 1946, que matou mais de 100 pessoas, em sua maioria árabes -- se armassem na Palestina (desde então eles se denominam de ‘forças de defesa’, mas são de ataque) e, pouco mais de um mês antes da ‘independência’ do Estado sionista, a 9 de abril de 1948, cometessem o famigerado Massacre de Deir Yassin, matando mais de 120 palestinos (idosos, mulheres e crianças) em uma população de menos de 800 habitantes. Os autores desses atentados não foram punidos (entre eles Menachem Begin e Ben Gurion, o primeiro Prêmio Nobel da Paz e ambos ‘heróis nacionais’).

Na data de hoje, as organizações sionistas em todo o mundo, a propósito do transcurso de mais um aniversário da trágica Noite dos Cristais (cometida por nazistas em Berlim, Alemanha), advertiram a humanidade pelo crescimento do antissemitismo no mundo. Não se referiram em um só momento ao martírio do povo palestino. Só não veem que perdem apoio por causa da arrogância dos governantes do Estado sionista. Sua obsessão pelo extermínio dos palestinos tem causado um repúdio sem precedentes, além do fato de que matar palestinos, matar árabes, também é antissemitismo. Afinal, os árabes, pelas mesmas Escrituras, são filhos de Ismael, filho de Abrão com Hagar, e, portanto, são também Semitas. Ou agora vão mudar as Escrituras segundo os interesses dos sionistas e de seus aliados dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e União Europeia? Não é a ‘terra prometida’ a que está por trás desse afã desvairado, mas o subsolo cobiçado, pelas riquezas existentes.

Por que os palestinos, os árabes, é que são ‘terroristas’? Foram eles, por acaso, os nazistas europeus que cometeram o Holocausto contra os judeus na Europa. Por que os palestinos, os árabes, têm que pagar a conta dos crimes cometidos pelos europeus em solo europeu? Até quando vai continuar a violência contra o povo palestino? Violência iniciada em 1917, quando o então premiê britânico Arthur Balfour prometeu a Palestina para os sionistas, conforme a Declaração Balfour, destinada ao Lorde Rotschild, banqueiro poderoso da City Londrina, representante do movimento sionista britânico. Aliás, antes mesmo da derrota do império turco-otomano em 1917 (final da Primeira Guerra Mundial), foi celebrado o Acordo Sykes-Picot, entre os chanceleres da Grã-Bretanha e da França, loteando o rico território árabe entre impérios britânico e francês, embora o famigerado T. E. Lawrence (Lawrence da Arábia, no cinema, espião britânico) tivesse entregue um documento do governo britânico prometendo libertar toda a cobiçada Arábia se os líderes árabes apoiassem o ocidente contra o império turco-otomano, verdadeiro conto do vigário.

Em 27 de novembro de 1987, quando fundamos o Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino, em Corumbá, tivemos ao nosso lado os queridos e saudosos Amigos-Companheiros Jornalista Margarida Marques, pelo Sindicato dos Jornalistas, e Doutor Roberto Orro, então Secretário de Estado de Justiça, além da Jornalista Maria Helena Brancher, então representante do Grupo de Apoio ao Índio, núcleo MS (GAIN-MS), e da Professora Yone Ribeiro Orro, pelo Instituto Brasileiro de Amizade e Solidariedade aos Povos (IBASP), núcleo MS. Daquele histórico momento também participaram a Professora Doutora Gisela Levatti Alexandre (diretora do CEUC/UFMS), o Professor Doutor Valmir Corrêa (Coordenador do Curso de História e Vereador do PT), o Médico e General Lécio Gomes de Souza (Diretor da Casa de Cultura Luiz de Albuquerque, ILA, e um dos fundadores do Curso de História em Corumbá), a Professora Mestra Elenir de Mello Alves (Biblioteconomista responsável pela Biblioteca Pública Estadual Dr. Gabriel Vandoni de Barros, que organizara e sediara a Primeira Mostra da Cultura Árabe-Palestina, entre julho e setembro de 1987), as Professoras Heloísa da Costa Urt, de saudosa memória, e Marlene Terezinha Mourão (representantes do Centro de Estudos e de Desenvolvimento Cultural de Corumbá, CEDECEC) e os Professores Maurício Lopo Vieira e Manoel do Carmo Vitório (integrantes da URT designados pelo Amigo-Companheiro Carmelino de Arruda Rezende, então Secretário de Estado do Trabalho, empossados como primeiros membros da Coordenação Colegiada do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino).

Esperamos ansiosa e humildemente a manifestação de Vocês, coerente com sua trajetória de luta e história de vida, que respeitamos, apoiamos e admiramos desde a sua geração anterior. Não somos poderosos (não é o poder o que procuramos), mas somos formadores de opinião, solidários e sabemos que estamos do lado certo da História. Não nos virem as costas, e como disse o Poeta Antonio Machado, sevilhano das terras que já testemunharam a generosidade ‘moura’, “o caminho se faz ao caminhar”.

Corumbá (MS), 9 de novembro de 2023.

PALESTINA, PALESTINO: RESISTIR É O SEU DESTINO!

A PAZ MUNDIAL COMEÇA NA PALESTINA!

Ahmad Schabib Hany

Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino

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