quarta-feira, 12 de outubro de 2022

OUTUBRO DE ESPERANÇA, LUTA E REGOZIJO

Outubro de esperança, luta e regozijo

Outubro é mês de importantes marcos históricos: instalação do Estado Democrático de Direito em 1988, com a promulgação da Constituição Cidadã; realização, desde 1994, de eleições democráticas em todo o Brasil; e divisão, em pleno regime de 1964, de Mato Grosso e criação de Mato Grosso do Sul, que beneficiou, sobretudo, Campo Grande.

Primeiro mês depois de iniciada a primavera no hemisfério sul, outubro é portador de novos horizontes, momentos que marcaram os rumos da História da humanidade nas diferentes regiões da Terra, sobretudo neste país-continente.

Dia 5 de outubro de 1988, meio da tarde, o Congresso Nacional estava em festa devido à solenidade de promulgação da Constituição Federal de 1988: Doutor Ulysses Guimarães, o Senhor Diretas, encerrava os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte com seu emblemático discurso em que louvava a implantação do Estado Democrático de Direito. Obviamente, a maioria do centrão e grande parte dos canalhas que mamaram nos anos sombrios estavam desconfortáveis, ávidos de vingança e rancor.

A partir de 1994, o mês de outubro passou a ser o mês de realização do primeiro turno das eleições no Brasil. Desde então a soberania popular teve a sua manifestação maior neste mês, que passou a celebrar os momentos de esperança, luta e regozijo. Pilar da democracia, o voto livre, direto e secreto é uma conquista consignada pela Assembleia Nacional Constituinte na década de 1980, que revogou o entulho autoritário de 1964.

A celebração do Dia da Padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, teve sua data de devoção reconhecida durante o mandato do presidente José Sarney, e a partir de então as manifestações populares passaram a ser explicitadas em todos os quadrantes do país, sobretudo em Aparecida do Norte, pois com o feriado nacional foi possível ir à cidade paulista como devotos no sagrado direito de manifestar sua fé e devoção.

Pois, com perplexidade e tristeza, registro nesta data em que escrevo este texto um ato de vandalismo protagonizado pelas hordas fundamentalistas ligadas ao inominável que tumultuaram o sagrado ato de devoção dos católicos, além de agredir um rapaz e uma senhora que por acaso trajavam roupas vermelhas nessas celebrações. Mais uma vez, a propósito, o inquilino que teima por todos os meios permanecer no Planalto mais um mandato decidiu ‘assistir’ a uma das missas no Santuário Nacional de Aparecida, mesmo tendo conhecimento da nota de sua Arquidiocese a respeito da presença de candidatos em atos litúrgicos da Igreja Católica.

E há exatos 30 anos, num 12 de outubro de 1992, que o Doutor Ulysses Guimarães, em companhia de Dona Mora Guimarães, o Senador Severo Gomes e sua Esposa, se eternizou depois de atuar bravamente na destituição de outro inominável que mentiu para a nação e acabou desmascarado pela histórica CPI de Collor. Desde o trágico acidente com o helicóptero que caiu no litoral norte de São Paulo, o Dia da Padroeira tem sentido de saudade, pois esse grande protagonista da capitulação do regime de 1964 encerrou sua jornada na terra, para tristeza dos que conhecem a história recente do Brasil.

Por outro lado, a Vida, generosa e pródiga, propiciou à nossa Família, no primeiro dia do mês, o regozijo de celebrarmos, durante décadas, o aniversário de nascimento de nosso querido e saudoso Pai, Mahoma Hossen Schabib, cuja conduta de peregrino incansável, cidadão do mundo à frente de seu tempo, nos abriu horizontes e forjou o caráter -- no seu entender, o maior patrimônio de todo ser humano.

Por meio de meu Pai conheci inúmeros Amigos que ganhei para a Vida. Ainda criança, Dona Amélia Abraham Katurchi, que falava fluentemente o espanhol e o árabe, era uma das Amigas com quem ele conversava quando descia para o centro de Corumbá. Saudosa e querida Mãe do Senhor Jorge José Katurchi, querido Amigo de décadas, Dona Amélia sempre dedicou sua gratidão ao povo corumbaense com generosidade e afeto.

Seu Jorge Katurchi, do alto de seus 96 anos, celebra seu aniversário neste 11 de outubro com o mesmo entusiasmo de seus tempos juvenis, de brilhante jogador de futebol e de garboso cidadão apaixonado por sua querida e saudosa Dona Anna Thereza Rondon Maldonado Katurchi e pela Corumbá de todos os encantos e culturas. E, sobretudo, um cidadão honrado e Pai-Avô dedicado, exemplo para gerações e gerações.

Companheiro de primeira hora do Pacto Pela Cidadania, Seu Jorge é um incansável batalhador das grandes causas de Corumbá. Em tempos sombrios, soube defender muitos injustiçados, ainda que fosse mal interpretado: entre eles estava o saudoso Promotor de Justiça Dr. José Mirha, seu Amigo dos tempos de escola, que até a última semana de Vida o visitara, depois de ter sido o primeiro candidato a senador do PT de Mato Grosso do Sul.

E por citar o estado, no mesmo dia em que Seu Jorge comemora seu aniversário Mato Grosso do Sul celebra a data de sua criação. Foi em 11 de outubro de 1977 que o então general-presidente Ernesto Geisel sancionou a Lei Complementar nº 31, que dividiu Mato Grosso. Detalhe: o vice-governador era o Dr. Cássio Leite de Barros, corumbaense nada identificado com o movimento divisionista e que por ironia da História foi o governador derradeiro de Mato Grosso uno. Nunca é demais lembrar que a divisão foi um casuísmo do regime de 1964, na ânsia de garantir três senadores da Arena e uma maioria folgada de deputados federais que ampliassem a já diminuta bancada situacionista na Câmara dos Deputados.

Em 43 anos de existência (o governo foi instalado a 1º de janeiro de 1979), à exceção de dois governadores -- Dr. Wilson Barbosa Martins e Zeca do PT --, só Campo Grande foi beneficiada por ser capital do estado. É flagrante como o interior do estado é vítima dos governos que se sucederam: como se fosse um carma (até porque o movimento divisionista nasceu no início do século XX em Corumbá, como ato de protesto de grandes comerciantes contra a centralização administrativa praticada por Cuiabá), o Coração do Pantanal e da América do Sul se ressente pela ausência de políticas de desenvolvimento que promovam a autonomia do mais antigo centro comercial do Centro-Oeste do país.

Finalmente, a celebração do Dia da Professora e do Professor e do Dia da Médica e do Médico, mais que um ato de digno reconhecimento desses honrados ofícios, desperta o valor da Educação e da Ciência como instrumentos de afirmação da Vida e da cidadania. Ainda que em tempos cruentos, a dedicação das Professoras e Professores e das Médicas e Médicos aos respectivos ofícios fez diferença: despertar de uma consciência crítica e de percepção da realidade, uma postura, aliás, de várias gerações que não hesitaram em participar do processo de democratização seja na defesa da Educação Pública ou no Movimento da Reforma Sanitária, berço do Sistema Único de Saúde (SUS).

Por conta do momento iluminado em que vivemos, quando a cidadania passa a conhecer as propostas do futuro dirigente do Brasil e de Mato Grosso do Sul, na certeza de que não seremos novamente vítimas do apagão eleitoral ocorrido em 2018 (e que milhões de pessoas pagam caro pelo desgoverno existente), celebremos outubro como o primeiro mês primaveril a levar esperança, regozijo e consciência de luta em defesa dos valores democráticos e civilizatórios, para que o fascismo que atenta o Estado de Direito não se perpetue e destrua tudo que foi construído com muito denodo e generosidade pelas gerações anteriores.

Ahmad Schabib Hany

Um comentário:

Estela Márcia disse...

Oi, Scha, pensando cá comigo... afinal, o Mato Grosso do Sul é um estado ou é uma junção de municípios... que identidade construímos?