quarta-feira, 7 de julho de 2021

"SE DE TEUS ESTUDOS ESSE É O FRUTO..."

“SE DE TEUS ESTUDOS ESSE É O FRUTO...”

Academia Militar das Agulhas Negras está sendo chamuscada pelas patacoadas do chamado ‘núcleo duro’ do (des)governo de Jair Bolsonaro. Muitos de seus membros são egressos dessa academia militar, o que incomoda oficiais que não comungam com o pensamento e, sobretudo, a controvertida prática dos principais assessores do Palácio do Planalto.

Há um sábio ditado espanhol que solenemente ensina: “Lo que natura no da Salamanca no presta.” Numa rápida interpretação, significaria: “Aquilo que a natureza não oferece a Sorbonne não empresta.” [Salamanca é das mais destacadas universidades espanholas há alguns séculos, tanto quanto Coimbra, em Portugal, ou Sorbonne, na França.] Mas há um irreverente ditado português, um tanto esquecido, que assim consigna: “Quem burro vai a Santarém, burro vai e burro vem.”

Decorridos praticamente três quartos do mandato do mito, eis que surgem curiosíssimas situações, insólitas, inauditas, capazes de ruborizar o mais ‘zen’ dos cidadãos da Terra. Do capitão, apesar de ter frequentado a Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), já se sabia, ou, no mínimo, se presumia um comportamento nada ortodoxo. Agora, de ex-colegas de academia que fizeram carreira modelar, isso, de fato, é de pasmar...

Um ex-colega de AMAN trabalhando no gabinete do então deputado federal para atuar num trabalho, mais que desqualificado, simplesmente ilícito, é de causar ofensa aos bravos patriotas que têm na caserna sua razão de ser, jamais meio de vida. Mas foi o que aconteceu, de acordo com os registros do gabinete de pessoal do Legislativo fluminense, como também na Câmara Federal, em Brasília.

E, agora, num governo que começa a derreter em meio à enxurrada de denúncias de atos nada republicanos praticados por militares da reserva (e também da ativa, pois o ex-ministro é general que não foi para a reserva), é de causar perplexidade. Onde está o alardeado patriotismo auriverde?

São os fatos os que refutam quaisquer argumentos em sentido contrário. É possível fazer vistas grossas à recorrente teimosia do detentor do cargo mais importante da República de incentivar a inobservância às medidas de biossegurança para preservar vidas humanas e, simultaneamente, durante a maior parte do tempo em que pandemia se alastrou seu ministro de Saúde colocar pessoas sem formação na área para fazer tudo, como permitir intermediários sem qualquer know how na aquisição de vacinas, em vez de negociar com farmacêuticas como a Pfizer diretamente e, sem perda de tempo e de vidas, honrar a tradição brasileira de ser o exemplo da vacinação com anterioridade e em tempo recorde?

Obviamente, acrescente-se a soberba de fundamentalistas neopentecostais, militantes declarados do sionismo ‘cristão’... Eis a razão da falência da fórmula auriverde. Diante dos fatos que vêm à tona, o recomendável é tirar o slogan ‘Pátria Amada’, sob pena de a irreverência popular brasileira transformar em ‘pátria (m)amada’, como já ocorreu nos anos de chumbo, tempos do saudoso, inteligente e desconcertante O Pasquim. Ainda que tentasse a volta da censura e atentasse contra a liberdade de manifestação de opinião e do direito à informação isenta e crítica, não teria sucesso porque hoje a tecnologia é sua maior inimiga (só voltando para a Idade Média, da qual são saudosistas).

O fato é que a fórmula BBB (Bíblia, bala e boi) não deu liga, não colou: cada qual em seu quadrado, faltou liaison (palavra francesa relacionada à ligação, a graça daquele idioma latino, em que, ao pronunciar uma palavra, parece haver uma aglutinação fonética, uma justaposição semântica que expressa harmonia). Pois, faltaram harmonia, humildade e objetividade a esse ajuntamento de interesses tão adversos quanto incongruentes. Essa consigna (aliás, copiada dos nazistas, como já ficou patente) de “Brasil acima de todos e Deus acima de tudo”, na prática, revelou-se simplesmente “nós acima da lei”.

Logo os patrioteiros que viviam a dizer que Lula, por não ter diploma universitário, não sabia governar. Ou, melhor, não era digno de governar. E foram além: por eles, não era digno de ser livre e, pior, de viver. Quando foi levado preso para cumprir uma pena fake em Curitiba, condenado pela republiqueta de Moro-Dallagnol (anulada pelo pleno do Supremo Tribunal Federal), vazou uma vergonhosa ‘torcida’ (ou teria sido uma ‘reza’ de impolutos ‘cristãos’?) de servidores públicos em pleno trabalho rogando praga para a velha aeronave usada para trasladá-lo caísse ou fosse derrubada.

Agora, a realidade mostra o contrário. O Professor Doutor Fernando Henrique Cardoso, aliás, com seu pífio governo, em 2002 já havia deixado esse aprendizado para as novas gerações, para a posteridade. Mas soberbos doutos de plantão, residentes (ou, melhor, pretensos residentes) na casa-grande, esnobaram, fingiram não ter compreendido a lição da história, que por meio de fatos, tortos ou não, constrói a linha do tempo contra a qual negacionistas de toda natureza se insurgem, a despeito da limpidez dos fatos...

Meu querido e saudoso Pai costumava contar que, recém-chegado à Amazônia boliviana, nos idos de 1940, ficara impressionado com a desenvoltura de um Pai indignado com a futilidade de um filho que passara mais de dez anos na Europa, frequentando caríssimas universidades, sem ter visto sua esperada evolução. Em vez de discurso, o filho, ao desembarcar do avião, improvisou uma trova pobre, mais ou menos assim: “Olho para o céu e vejo uma estrela. Venho para Magdalena, fico pensando nela. E a vida me inspira: aiaiai que bela, aiaiai que bela...” Ante a perplexidade dos convidados (e a indignação dos progenitores), o Pai não pensou duas vezes, e, em vez de boas-vindas, desatou a trovar, também de improviso: “Se de teus estudos esse é o fruto, aiaiai que bruto, aiaiai que bruto...”

Pois bem, hoje a História (com letra maiúscula) desnuda o ‘rei’ e sua corte bizarra. Hoje o pai da nação, o Povo (maiúscula, por favor), repreende no maior estilo quem atentou contra a verdade, se serviu das mais deslavadas mentiras (desde antes da ‘fakeada’) e acha que com seu narcisismo e soberba continuará a ‘passar a lábia’ a quem desdenhou desde sempre: ficou provado que as hordas que o sustentam se comparam às hienas que só conhecem e reconhecem a si e aos seus mesquinhos interesses, de modo que, na menor ameaça de ruir, essas mesmas hordas serão as primeiras a lhe virar as costas e se declarar ‘decepcionadas’ com seu líder, como fizeram com o falso ‘herói’ de toga, que hoje amarga o ostracismo sob a proteção do império que o engendrou em suas plagas, depois de desmascarada sua trama, sua farsa, na ‘republiqueta da leva jeito’.

Ahmad Schabib Hany

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