sexta-feira, 9 de março de 2018

A PROPÓSITO DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER



A PROPÓSITO DO DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Feliz Dia Internacional de Luta da Mulher! Destaco com negrito, versalete e sublinhado, pois a data a ser celebrada é de luto (pelo massacre das tecelãs de Nova Iorque, em 1857, pelo “crime” de fazer greve para conquistar direitos, como jornada de trabalho não superior a 12 horas) e de luta (graças à coragem das mulheres, sobretudo as das décadas de 1900 a 1970 que, por meio de diferentes correntes políticas e nacionalidades, conseguiram unir sua voz em todo o mundo e, ao promover o Ano Internacional da Mulher, em 1975, instituíram essa data). Uma luta, aliás, incessante e crescente -- não apenas pelos desafios impostos pela evolução da sociedade, mas, sobretudo, pelas forças do atraso, que voltam a se fortalecer em todos os quadrantes do planeta --, cuja agenda (ou pauta) precisa ser atualizada diuturnamente por todas as cidadãs e cidadãos, independentemente do gênero, da opção sexual ou das concepções políticas, ideológicas, filosóficas ou religiosas.
Como termômetro, o dignificante empoderamento da mulher é não só mecanismo democratizante das sociedades em sua mais nobre qualificação humana -- a própria evolução da sociedade e a consolidação do humanismo só ganhou consistência e legitimidade com a efetiva afirmação do protagonismo da mulher --, mas elemento indispensável na construção de valores éticos, libertários e, sobretudo, solidários. Na História, às mulheres couberam papéis imprescindíveis na necessária transformação da vida em sociedade, as noções de coletividade e de liberdade, que vão do corpo à alma, no sentido mais amplo. Daí que a onda de intolerância retrógrada que vem ganhando espaço no vácuo de uma vassalagem religiosa obscurantista deve ser enfrentada por meio da luz, da ciência, da razão, do conhecimento, tal como o foi no Renascimento ocidental corajosamente protagonizado pelos humanistas de então, muitos dos quais tiveram a sua profícua vida ceifada precocemente.
Diferentemente do que diz a mi(r)dia deformadora e desinformante que predomina feito praga em nossa sociedade, o aumento da violência contra a mulher, seja em casa, no trabalho, no trânsito ou em outros espaços públicos ou privados, decorre do machismo, ou melhor, da misoginia meticulosamente alastrada por agentes do atraso travestidos de paladinos da moral, porta-vozes do obscurantismo medieval que desaba sobre nossas cabeças e quando menos esperarmos estaremos todos indo para o cadafalso. A luta de emancipação e empoderamento da mulher é, sim, luta de todo aquele que, com sinceridade, deseja uma sociedade mais justa, mais solidária, mais libertária e mais fraterna. Do contrário, as conquistas duramente consignadas na Constituição Cidadã e hoje ameaçadas acintosamente por seres bizarros impensantes estarão perdidas, a exemplo dos direitos trabalhistas, recentemente demonizados como causadores da crise produzida e alimentada pelos mesmos membros da quadrilha que tomou de assalto os destinos da nação.
Em nosso atual contexto, de infindáveis retrocessos e absurdos personagens (nada originais e totalmente bizarros), como certos sacerdotes fundamentalistas que se pretendem donos da verdade -- das mais diferentes denominações cristãs, judaicas, islâmicas e budistas -- que usam a religião para se promover politicamente, distorcendo seu papel. No Brasil, ligados a Eduardo Cunha (aquele deputado corrupto que usou e abusou da boa-fé de pessoas bem intencionadas para fazer das suas, locupletar-se, locupletar seus iguais e, pior, provocar o maior retrocesso da história do parlamento brasileiro), os tais sacerdotes são, na verdade, charlatães que usam fé, a religião, para angariar poder e atingir objetivos inconfessáveis. Não por acaso estão hoje de mãos, pés e rabos presos ao mais retrógrado dos candidatos à Presidência, aquele que foi expulso de sua corporação por tentativa de sabotagem no início da redemocratização e que ao longo de sua pífia trajetória no parlamento absolutamente nada produziu, além de polêmicas decorrentes de sua incontinência fecal, digo, mental.
Dessa forma, e com sinceridade, mantive-me no silêncio no dia de ontem por entender que não via motivo algum para comemorar. Reservadamente, desejei feliz dia de luta à mulher, mas me dei o direito de divergir de qualquer ato comemorativo, pois o momento é de luto e luta, muita luta, e não a hipócrita celebração promovida pelo mercado para vender flores, doces, cosméticos e roupas. A Vida é muito mais que o culto ao consumo, até por conta do momento em que vivemos. Como comemorar quando os meliantes da quadrilha que usurpou o poder apearam a primeira presidenta da República exatamente por ela ser íntegra e honesta para se acumpliciar com eles? Como comemorar quando a atual ministra que preside a mais alta corte do Judiciário exerce o seu mandato cada vez mais parecida aos seus colegas dos outros poderes, todos com o funesto semblante de mortos-vivos, insensíveis às conquistas democráticas duramente introduzidas no ordenamento jurídico pátrio?
A História cobrará, sim, dos obtusos obscurantistas de ocasião, que se valem das fraquezas e do atraso social em que vivemos, para formar hordas medievalescas ensandecidas e entorpecer os horizontes alvissareiros que dez anos atrás flamavam e inflamavam o cotidiano generoso então existente e cuja permanência foi interrompida pelo ódio, pela intolerância e pela inveja. Sim, porque justiceiros togados, pastores fundamentalistas, medíocres golpistas e saudosistas da (mal)ditadura são militantes em muitas bizarrices, sobretudo a inveja, a intolerância e o ódio.
Contudo, não podemos deixar de clamar: nefastos, tremei: chegaram as mulheres!
Ahmad Schabib Hany

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