quinta-feira, 2 de junho de 2022

PROFESSOR FAUSTO MATTO GROSSO PRESENTE!

Professor Fausto Matto Grosso presente!

A eternização do incansável ativista político, democrata, homem público, intelectual e Professor Fausto Mato Grosso deixa mais pobre nossa frágil sociedade civil. À querida Família, em especial à sua brava Companheira de Vida, Dra. Maria Augusta Rahe Pereira, aos Filhos e Netos, nossos profundos sentimentos e solidariedade fraternal, e ao querido Fausto nossa sincera gratidão.

A eternização, dia 1º de junho, do incansável democrata, ativista político, homem público, intelectual e Professor Francisco Fausto Matto Grosso Pereira deixa a frágil sociedade civil muito mais pobre, mais óbvia. Porque quando um gigante generoso e abnegado articulador político de sua estatura encerra sua jornada todos nós ficamos menores e mais, muito mais, pobres.

Como poucos, o Professor Fausto conseguiu reunir qualidades ímpares ao longo de sua Vida, sem pompa nem circunstância: disciplinado, estudioso, competente, discreto, comedido, humilde, honesto, rigoroso, abnegado, incansável, sincero, coerente e, sobretudo, consciente de seu papel histórico. Integrante da generosa e talentosa geração de 1968, por formação, sempre preferiu correr o risco de errar coletivamente a acertar sozinho, quando voto vencido nas renhidas discussões partidárias e associativas de que participou com desenvoltura e pioneirismo.

Diferentemente da maioria, quase totalidade, dos agentes políticos do Estado, Fausto foi leal e solidário ao único partido de sua Vida, o Partidão (o velho PCB, dirigido em sua fase emblemática por Luiz Carlos Prestes, o Cavaleiro da Esperança), se considerarmos o MDB histórico e seu sucedâneo, o PMDB, como Frente Democrática à qual ele e seus leais e queridos Camaradas Carmelino de Arruda Rezende e Onofre da Costa Lima Filho se dedicaram por, no mínimo, duas décadas. Habilidosamente, ensinaram velhos expoentes da política regional, sem ofendê-los, a praticar coerentemente a democracia liberal.

Fez jus ao honrado ofício de Professor, mesmo quando arbitrariamente demitido da ex-UEMT (Universidade Estadual de Mato Grosso) ao organizar a primeira mobilização de docentes em sua legítima pugna por direitos, 50 anos atrás (1972). Graduado em Engenharia Civil pela UFPR (Universidade Federal do Paraná), retornou a Mato Grosso para atuar profissionalmente. Ao revelar-se exímio calculista, num tempo em que a tecnologia não havia subtraído o mérito da competência humana nas áridas searas do cálculo e da precisão do projetista, conquistou meritoriamente sua cadeira no recém-criado curso de Engenharia Civil de Campo Grande (então Mato Grosso uno).

Ocorre que o competente engenheiro civil, além de brilhante calculista, era íntegro em suas concepções humanísticas, e não temia a cara feia dos feitores de outrora. Embora tivesse militado nas hostes do movimento católico progressista do final dos anos 1960, se propôs a cerrar fileiras no velho Partidão, cuja história remete às primeiras iniciativas de organização da classe operária num país, desde a colonização lusitana, acostumado a tratar as questões sociais como ‘caso de polícia’. O que, aliás, voltou a não ser novidade nestes tempos sombrios, quando o Partidão celebra 100 anos e nosso querido Camarada discretamente sai de cena.

Como disse o poeta e Jornalista Edson Moraes em seu comovente tributo ao Professor Fausto, 44 anos depois de conhecê-lo: o querido e agora saudoso Camarada desde jovem era uma referência para a vanguarda política brasileira que atuava no sul deste estado conservador. No período em que esteve coercitivamente afastado de seu ofício docente, dedicou-se à formação política e ideológica de inúmeras gerações, tendo sido fundador, no âmbito do Partido, do Centro de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais (CEPES), em sua efêmera, mas marcante, existência, aos fundos da icônica Livraria Guató, do grande, querido e saudoso Manoel Sebastião da Costa Lima, o inesquecível Manoel da Guató.

A primeira geração de calouros universitários de Mato Grosso do Sul conheceu Professor Fausto no começo de 1979, numa reunião do Movimento Mato-grossense de Anistia e Direitos Humanos, senão me engano coordenada pelo saudoso Doutor Ricardo Brandão, na recém-inaugurada sede da OAB/MS (Seccional de Mato Grosso do Sul da Ordem dos Advogados do Brasil). Semanas antes, o Doutor Wilson Barbosa Martins, então cassado pelo regime de 1964 e conhecido até então como “Irmão do Dr. Plínio”, tomara posse na presidência da entidade, uma das vanguardas pela democratização do Brasil. Naquele ato Fausto representava a Associação de Engenheiros e Arquitetos de Campo Grande (que depois passaria a ter abrangência estadual), ao lado de organizações emblemáticas como a Coordenação Regional da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e a representação estadual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência).

A conquista da Anistia, a persuasiva campanha pró-Assembleia Nacional Constituinte e pela revogação de todo o entulho autoritário (AI-5, decretos 228 e 477, senadores biônicos, eleições indiretas, fim do bipartidarismo e legalização de todos os partidos anteriores a 1964, entre outros atos da legislação draconiana vigente à época) eram exaustivamente reverberadas em todos os espaços políticos de então, sempre sob a coordenação de Fausto Matto Grosso e o apoio incondicional de Carmelino Rezende e de Onofre Lima Filho. Obviamente, isso causava uma ciumeira entre muitos dirigentes da oposição, como o lamentável episódio protagonizado pela Vereadora Nelly Bacha (em 1983 nomeada a primeira prefeita de Campo Grande), que denunciou uma conspiração contra ela por não ter tido votos suficientes para eleger-se em 1978.

Isso o tornou um candidato bastante cotado nas eleições de 1982, quando, ao lado de seu Companheiro de Partido, Advogado Marcelo Barbosa Martins (Filho do Doutor Plínio), foi eleito vereador da capital. Ele e Marcelo foram os dois primeiros vereadores do PCB, ainda proscrito pela legislação arbitrária. Mesmo assim, o mandato dos dois foi modelo para diversos parlamentares em todo o Brasil. Contraditoriamente, por terem assumido a legenda do Partidão, os dois não conseguiram se reeleger ou voltar a se eleger depois, a despeito do reconhecimento de sua competência técnica, desenvoltura política e, sobretudo, ética parlamentar. Mais uma vez, referência de conduta, pelos adversários inclusive.

Com a anistia aos demitidos pela antiga UEMT, o Professor Fausto voltou a assumir a sua cadeira como docente da Engenharia Civil da agora UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul). Participou de importantes movimentos dentro da UFMS e seu ápice foi a nomeação, pelo Reitor Celso Pierezan, como Pró-Reitor de Extensão e Assuntos Comunitários. Durante o mandato do Professor Pierezan, o Professor Fausto implantou o memorável Festival de Corumbá. Foram três edições anuais em que atividades artísticas muito parecidas em seu formato à atual versão do Festival América do Sul Pantanal permitiram a consolidação de Corumbá como berço da cultura sul-mato-grossense. Em seu memorável depoimento para um artigo sobre o Cinquentenário do CPAN/UFMS, Fausto demonstrou estar realizado com a realização desse projeto, inspirado no Festival de Ouro Preto, de iniciativa da UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto).

Em decorrência da vitória do então candidato José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, no Movimento Muda MS, em 1998, depois de uma renhida disputa interna no PPS em que o então candidato a Senador Carmelino Rezende fora derrotado, o Professor Fausto Matto Grosso foi um dos três secretários de Estado nomeados pelo governador Zeca em 1999. Titular da Secretaria de Estado de Planejamento e Ciência e Tecnologia, Fausto empreendeu importantes inovações em sua pasta. Além da adoção de uma política pública de Ciência e Tecnologia, com o competente apoio da Professora Sônia Jim (sua Superintendente de Ciência e Tecnologia), desenvolveu o Programa MS 2020, dentro da metodologia de planejamento estratégico, com diversos cenários. Esse programa passou a ser replicado em outros estados durante a gestão de Ciro Gomes no primeiro mandato do Presidente Lula, à frente do Ministério da Integração Nacional, de cuja secretaria-executiva o saudoso Engenheiro Frederico Valente era titular, e o Professor Fausto assessor.

Mais que ativista político e homem público de competência indiscutível e ética política a toda prova, o Professor Fausto Matto Grosso é a expressão fidedigna do ser humano de elevada formação humanística e rara sensibilidade social. Trata-se de um cidadão do mundo à frente de seu tempo e um generoso e incansável Companheiro e Pai cujo legado ético e político honra e lisonjeia a todos os que tiveram a honra e o privilégio de conviver e compartilhar com ele, ainda que por efêmeros momentos de sua grande mas despretensiosa jornada cidadã, na construção do Estado Democrático de Direito e da consolidação nas três esferas administrativas de efetivas políticas públicas sociais e de desenvolvimento sustentável, na perspectiva da Agenda 21, que como poucos soube implementar ao longo de suas atividades profissionais e políticas.

Até sempre, querido Amigo-Camarada Fausto! E obrigado por imenso legado, e por ter existido, resistido e ter exemplarmente respeitado e compreendido posições paradoxais, embora pontuais, sobretudo a partir de 2015, o que em absolutamente nada abalou sua Amizade, que levaremos para todas as nossas vidas. Nossa gratidão sincera por tantos exemplos de humildade, perseverança, sinceridade, coerência e dignidade. Sua querida Família, em especial à sua brava Companheira de Vida, Doutora Maria Augusta Rahe Pereira, Filhos e Netos, receba nossos profundos sentimentos e sincera solidariedade, com os votos de muita força neste momento de dor e saudade, da dimensão de seu ideal por uma nova sociedade, liberta e transformadora para e pelas gerações vindouras. Professor Fausto Matto Grosso presente!

Ahmad Schabib Hany

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