sábado, 18 de junho de 2022

COMEMORANDO O QUÊ?

Comemorando o quê?

Aquele que admitiu a um seleto grupo de investidores não levar ‘jeito’ para o cargo estava indisfarçavelmente exultante, três dias depois de confirmada oficialmente a execução do Jornalista Dom Philips e do Indigenista Bruno Pereira, numa ‘motociata’ na capital do estado em que as vítimas foram alvo de tocaia, para perplexidade da opinião pública internacional.

Que não leva ‘jeito’ para o mais importante cargo da República, isso nunca foi novidade. Não é preciso ser um expert para constatar os estragos de um político que diz não ser político, mas não só passou quase toda a vida vivendo da política como enfiou quase toda a sua prole na política. E agora, em pleno exercício do cargo, participa acintosa e indisfarçavelmente exultante de uma ‘motociata’ com apoiadores em Manaus, três dias depois de oficialmente ter sido confirmada execução com requintes de crueldade, no extremo oeste do Amazonas, do Jornalista Dom Philips e do Indigenista Bruno Pereira, dois defensores da Amazônia pelos quais o mundo voltou sua preocupação sobre o Brasil.

Teria havido algum compromisso público inadiável, como dignitário, na capital do estado em que foram vitimados os reconhecidos defensores da Amazônia, do patrimônio natural por ela representado e dos povos da floresta?

Quando, no início de 2021, a covid-19 fizera do Amazonas o epicentro da pandemia e as pessoas infectadas pelo novo coronavírus padeciam por falta de oxigênio e remédios para assegurar a sobrevivência dos doentes, teria ele se deslocado com igual presteza a fim de demonstrar o apoio e a solidariedade da principal autoridade às vítimas e às famílias enlutadas?

Como perguntar não ofende, será que seus assessores mais próximos lhe explicaram alguma vez que, assim como a Vida é princípio de direitos, o princípio da dignidade humana faz parte das cláusulas pétreas da carta constitucional de todo Estado de Direito digno do nome?

A opinião pública internacional, sobretudo os colegas dele, está com seu olhar voltado para o Brasil, até porque apenas começaram as investigações sobre mais essa vergonhosa iniciativa das quadrilhas que vivem das ilegalidades e agora se sentem representadas e incentivadas por muitos integrantes do primeiro escalão do atual inquilino do Palácio do Planalto, muitos deles célebres por fazerem apologia à impunidade, como ‘deixar passar a boiada’.

A propósito, esse ex-ministro do Meio Ambiente que ganhou a triste notoriedade pela ousada soberba ao pretender ensinar o ardil da prevaricação, gravada em vídeo oficial de uma reunião ministerial judicialmente tornado público, recebeu alguma sanção de alguma instituição republicana?

Qualquer cidadão medianamente informado sabe que todo servidor público, inclusive o detentor do mais alto cargo da República, deve cumprir com o que a lei determina e também observar os protocolos condizentes com a função pública e, sobretudo, as mais comezinhas regras de comportamento e normas de urbanidade e empatia comuns a todos os seres humanos do planeta. Sabemos todos, também, que nem nos momentos mais críticos da pandemia de covid-19 ele demonstrou qualquer gesto espontâneo de empatia e solidariedade.

Deixemos de hipocrisia: não se trata de uma coincidência inocente o regozijo em mais uma ‘motociata’, desta feita em Manaus, capital do estado em que Dom Philips e Bruno Pereira foram martirizados. Trata-se da expressão mais autêntica da abominável coalizão de hordas saídas dos fétidos porões embolorados da história que conseguiram tirar do âmago os sentimentos mais canhestros que todo humano pode trazer em seu subconsciente.

Não é demais trazer para estes tempos sombrios o emblemático Sermão da Montanha, em que Jesus ensina as bases da Doutrina Cristã, sintetizada em Mateus 5:39: “Mas eu lhes digo: Não resistam ao perverso. Se alguém o ferir na face direita, ofereça-lhe também a outra.” Portanto, não é cristão o comportamento daqueles que recorrem à violência com requintes de crueldade contra os que veem como inimigos por estarem em posições antagônicas, mas nem por isso ilegítimas, na defesa da Amazônia, sua biodiversidade e proteção dos povos da floresta, como Dom Philips e Bruno Pereira.

E todo cuidado é pouco quando se trata de reconhecidas figuras dessas hordas que vivem a tergiversar as Escrituras ao sabor de interesses inconfessáveis, como os fariseus denunciados por Jesus em diversas ocasiões, alguns deles envolvidos nas acusações que levaram Pôncio Pilatos, em nome do Império Romano, a prender e condenar Jesus.

Ahmad Schabib Hany

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