segunda-feira, 14 de março de 2022

Doutora Carime, uma estrela a brilhar

Doutora Carime, uma estrela a brilhar

Aos 28 anos, Doutora Carime Mustafá Moussa, jovem médica corumbaense, se eternizou em desastre rodoviário, e a interrupção de sua jornada benfazeja comoveu até quem não a conhecia.

Perplexidade e muita dor. É o que causou o fatídico desastre que interrompeu a Vida e a jornada benfazeja da Doutora Carime Mustafá Moussa, jovem médica de 28 anos, que semeava conforto e amor em seu cotidiano e detinha brilhante projeção profissional. Durante o período mais duro da pandemia de covid-19, a Doutora Carime esteve na linha de frente da Santa Casa de Corumbá, onde também deixou saudade entre colegas e pacientes.

Se pessoas com as quais a Dra. Carime trabalhou (e até pessoas que não tiveram a sorte de conhecê-la) se comoveram com sua trágica partida, não dá para imaginar a dor da Família. Embora não haja palavras capazes de trazer qualquer conforto nesta hora de intensa dor e saudade, somamos nossa solidariedade e os sinceros sentimentos ao Pai, o engenheiro eletricista Mohamed Moussa, à Mãe, Dona Fátima Mustafá Moussa, Irmãos, Tios e Primos da jovem médica que estampava em seu semblante a realização pela escolha de um ofício sagrado, pois cuidar da Vida das pessoas, sobretudo em tempos de pandemia, é próprio de quem tem muito amor pelo próximo.

É comum vermos todo jovem profissional à procura de novos horizontes, sobretudo na ânsia de atingir a excelência, uma atualização na área de sua especialização. Longe de qualquer relação de causa e efeito, mas até por essa tragédia me permito observar que as instituições patronais deveriam ter uma política de atualização profissional permanente para que a população de cidades como Corumbá não perdessem profissionais com um futuro promissor. Não me parece plausível que um jovem profissional deva deixar seu trabalho para fazer um curso e submeter-se a plantões extenuantes em pequenas cidades do interior em que o deslocamento após o plantão é inevitável e oferece riscos iminentes à própria existência do profissional.

Meu saudoso Pai era Amigo do Senhor Hussein Moussa e de Dona Himdi, progenitores do engenheiro eletricista Mohamed Moussa, Pai da Dra. Carime, imigrantes libaneses contemporâneos dele. Foi na década de 1980 que conheci os então jovens cônjuges e durante anos os via em companhia de seus Pais. A dedicação aos estudos e o amor ao Povo hospitaleiro que acolheu sua Família são marcas indeléveis desses imigrantes, que são gratos e reconhecem o valor das oportunidades proporcionadas pelo Brasil.

Em 1987, quando participamos da organização da 1ª Mostra da Cultura Árabe-Palestina de Corumbá (realizada pela biblioeconomista e Professora Elenir Machado de Mello, gestora da Biblioteca Pública Estadual Dr. Gabriel Vandoni de Barros, nas dependências da Casa de Cultura Luiz de Albuquerque), o Senhor Hussein e Dona Himdi fizeram questão de emprestar alguns instrumentos musicais e peças artísticas trazidas por eles do Líbano para expô-las durante os quase três meses de mostra. Foi quando pude conhecer melhor o casal de idosos, com quem, quando possível, conversávamos sobre o mundo árabe e as suas imensuráveis riquezas, sobretudo sua cultura milenar.

Hoje, quando lamentamos a trágica partida precoce de uma jovem Filha/Neta dedicada a salvar vidas e levar conforto a seus semelhantes, queremos louvar a saudosa memória desses imigrantes que souberam transmitir o amor ao conhecimento e ao Povo generoso que os acolheu décadas atrás. Agora transformada em estrela, a Doutora Carime se eterniza ao lado dos Avós que sabiamente escolheram o coração do Pantanal e da América do Sul para louvar a Vida e a esperança por dias melhores para a humanidade.

Obrigado, Doutora Carime, por nos ensinar tanto em tão pouco tempo de existência! Que a luz que acompanhou sua trajetória entre nós continue a iluminar sua eterna existência, inclusive nos corações e almas de sua querida e honrada Família!

Ahmad Schabib Hany

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