sábado, 19 de março de 2022

Cadê Mikhail Gorbatchev, o último líder da URSS?

Cadê Mikhail Gorbatchev, o último líder da URSS?

Há pelo menos 30 anos a Rússia vem sendo cercada pela OTAN, sob a batuta da Casa Branca e a conivência de Bruxelas (‘capital’ da União Europeia), a despeito dos esforços diplomáticos para não precipitar o tabuleiro de xadrez na região e quebrar o tênue equilíbrio entre as forças ocidentais e orientais nas ricas terras que integraram a União Soviética. Onde, afinal, está Mikhail Gorbatchev, seu último líder supremo, que não se manifesta?

Muitos creem inocentemente que o derradeiro secretário-geral do PCURSS teria morrido. Está vivo, até demais. Foi Raissa Gorbatchev, a esposa intelectual, que se eternizou em 1999. Ele, em quase tudo, é parecido a Fernando Henrique Cardoso (inclusive na viuvez, longevidade e entreguismo pró-ocidental), cuja esposa, a antropóloga Ruth Cardoso, era a cabeça pensante do casal. De forma discreta, o antropólogo Darcy Ribeiro revelou nas entrelinhas em uma de suas entrevistas derradeiras.

Refugiado em Londres desde que, levando a grana do Prêmio Nobel da Paz, Gorbatchev abandonou covardemente Moscou, em 1991. O ex-líder da União Soviética só aparece em palestras para seleto grupo de oligarcas ocidentais, na Europa ou nos Estados Unidos. A alegação é de que a fundação que leva seu nome lhe consome o tempo e acaba não podendo ampliar sua, digamos, ‘concorrida’ agenda. Diferente de seu antigo discurso, nada de ‘transparência’ e muito menos ‘reestruturação’ (seus vocábulos marqueteiros).

Alguma vez Gorbatchev veio à América Latina? E ao Brasil? Nunca. Porque seu negócio é fazer média com os ziliardários do Fórum Econômico Mundial e as restritas reuniões anuais de Davos, Suíça. Raissa era a pensadora, não ele. Essa cantilena de ‘glasnost’ e de ‘perestroika’ nunca passou de lero-lero, ‘pra inglês ver’, aliás, com os quais convive desde 1991. Tanto é que, com o maior cuidado, ‘deixou de existir’, saiu de cena, como por encanto, com varinha de condão...

Ocorre que esse banana embolorado que se dizia ‘socialista’ -- mas ficou evidente que não passava de reles sionista, serviçal do império (nada diferente de Volodimir Zelenski, o ‘gentili’ ucraniano que virou presidente) -- tem assistido insensível ao conflito que pode levar o mundo à Terceira Guerra Mundial. Como que ele nada tivesse com a invasão ocidental da OTAN e, mais recentemente, da União Europeia em toda a região que constituiu a superpotência que fazia frente aos Estados Unidos durante a ‘guerra fria’.

É verdade que muitos ex-comunistas vivem a justificar Gorbatchev e seus similares pelo mundo (como o brasileiro Roberto Freire, que nada tem a ver com o grande educador Paulo Freire) -- argumentando que ele fora ‘vítima’ de um golpe da linha-dura soviética. Mas que absolutamente nada fez quando o fantoche Boris Yeltsin, alcoólatra assumido, brincou de ser ‘sucessor’ de líder supremo na Rússia e, sem qualquer gesto digno, o Judas da União Soviética sequer tentou impedir que a até então superpotência atômica viesse a se desintegrar como um suspiro de açúcar sob um jato de água.

Em português claro e direto: Gorbatchev, sim, tem tudo a ver com a instabilidade que ameaça não só o leste europeu, mas todo o Planeta. Ele não foi ‘vítima’, como o ardil do ocidente o conceituou nos anais de sua ‘história’. Ele é um dos pivôs não só da ruína da antiga União Soviética, como da criminosa entrega claudicante de toda a infraestrutura e a tecnologia dos países que compunham o Pacto de Varsóvia para o ocidente, inclusive o da Rússia, que por mais de uma década ficaram na mão de títeres viciados como Boris Yeltsin e seus sequazes.

Sem dúvida, a tragédia humana existe e deve ser assumida por todos os ‘líderes’ atuais, do ocidente e do oriente. Porque desde 2014 era uma bomba-relógio já alertada pelos mais atentos estudiosos, sobretudo de geopolítica, mas, para agradar os interesses do capital financeiro, dos Estados Unidos, da OTAN e das potências da União Europeia, não foram adotadas as medidas preventivas. E com o maior cinismo, Biden (que em 2014 era vice de Barak Obama) e seus coadjuvantes (Boris Johnson, Emmanuel Macron e Olaf Scholz) querem passar uma imagem de pacifistas solidários. Não passam de reles sabujos das poderosíssimas corporações transnacionais, que não param de contabilizar lucros enquanto as bombas caem nas cabeças de pessoas indefesas, inofensivas e inocentes não só na Ucrânia, mas na Síria, Palestina, Iêmen, Sudão, Congo, Guiné, Haiti e outros países da África, Ásia e América Latina.

Independentemente da posição política ou ideológica de cada um, é hora de cobrar uma postura sincera dos políticos. Afinal, esse jogo hipócrita de não assumir seus vínculos e suas preferências com as grandes corporações transnacionais é a principal causa das tragédias humanitárias, inclusive dentro do Brasil. Ou há quem duvide que, em nosso caso, são as instituições financeiras, os poderosíssimos bancos, os que têm auferido os maiores lucros desde a década de 1960? É hora de eles pararem de bancar os tolinhos e assumirem a qual ‘senhor’ estão a servir...

Ahmad Schabib Hany

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