domingo, 27 de junho de 2021

PROFESSOR CARLOS PATUSCO (IN MEMORIAM)

PROFESSOR CARLOS PATUSCO (IN MEMORIAM)

Engenheiro mecânico, músico e, sobretudo, grande Professor de Matemática, fez de seu ofício instrumento de humanização e protagonismo. Seu legado permanece nas mentes e corações iluminados, fomentados por ele por décadas a fio.

Por meio de minha Irmã Janan, ex-aluna e colega sua desde os tempos do Centro Universitário de Corumbá (CEUC), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), tomei conhecimento da eternização do agora saudoso Professor Carlos Henrique Patusco. Corumbaense por opção e coração, chegou ao Pantanal nos anos 1970 como engenheiro da Fábrica de Cimento Itaú Corumbá, onde se aposentou.

Mas desde antes da aposentadoria na área de produção o Professor Patusco já estava em sala de aula na formação de inúmeras gerações de professores nas áreas de ciências exatas. Detentor de uma rara inteligência e de vasta cultura, embora modesto, sabia lidar com maestria com as limitações inerentes às capacidades humanas, fossem na área das exatas ou da cultura geral, sobretudo da música e das letras, aliás, um insaciável leitor em tempo integral.

Talvez ele não soubesse, mas pelo menos duas obras de memórias o citam elogiosamente por seus atributos incomuns. Uma delas, em que o autor, Tadeu Roberto Marinho, em “Memórias de um sessentão - o blog que virou livro”, expressa com admiração a rara qualidade do Professor Patusco, não sem destacar a modéstia que o caracterizava: “Ele, realmente, é muito bom nas duas áreas. São aqueles sujeitos fora da curva.”

A outra obra é alusiva ao cinquentenário de criação dos cursos superiores em Corumbá, acerca dos bastidores da abertura do ensino universitário pela persuasiva atuação do igualmente saudoso Médico e Professor (com letras maiúsculas) Salomão Baruki, seu Amigo e Companheiro também na fundação do Instituto de Ensino Superior do Pantanal (IESPAN), do qual foi vice-diretor e secretário-geral na breve existência do derradeiro projeto de Universidade do Pantanal do Professor Baruki.

Tive a honra de conhecê-lo melhor quando, como representante do IESPAN, integrou a comissão preparadora do Comitê de Monitoramento do Programa Pantanal, entre 2000 e 2002. Confesso que foi nesse convívio, de alto nível, que passei a admirá-lo, embora já o conhecesse de vista no período anterior à sua aposentadoria na UFMS. Profundamente coerente como homem de ciência, as suas oportunas intervenções ao longo de dois anos de reuniões periódicas sempre foram voltadas para os interesses maiores da ciência, o que não era comum, pois muitas instituições estavam interessadas em assegurar ‘nichos’ de mercado para futuros projetos que poderiam vir a desenvolver.

Pouco antes de integrar o projeto do IESPAN, o Professor Patusco, recém aposentado na UFMS, aceitou trabalhar longe do conforto de sua casa, numa espécie de magistério itinerante em que jovens docentes universitários atuavam na então nova Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Esse depoimento me foi dado pela querida Amiga Professora Maristela Missio, assim que ela foi aprovada por concurso pela Universidade, e ele chamava a atenção dos jovens professores não apenas pela disposição incondicional, mas pela generosidade e alegria contagiante, apesar da precariedade das condições em que na época eram oferecidas aos docentes itinerantes.

O amor pela ciência foi sobejamente renovado. Todos os seus Filhos seguiram seu ideal e se decidiram pela pesquisa e docência em diferentes instituições federais. Em setembro de 2020, lamentavelmente, seu Filho Luiz Armando, pneumologista e docente no curso de Medicina da UFMS, em Campo Grande, depois de longa resistência, se eternizou, mas o legado e o compromisso com a ciência e a ética foram adotados por colegas e alunos, e sua memória está viva nos meandros e nas atividades da Universidade.

Menos de um ano depois, é o Professor Patusco quem se despede de nós. Foi ao encontro do Filho. Mas seu exemplo de incansável docente e de leitor quase compulsivo ficou em nossas mentes e corações. Quem não conheceu, em Corumbá, aquele jovem octogenário que, em suas incessantes caminhadas diárias, percorria as ruas centrais da cidade, não sem antes passar pela Unidade II do atual CPAN, quando revia ex-alunos e ex-colegas de ofício e se permitia interromper seu sagrado compromisso por alguns minutos, de modo a ‘matar a saudade’ de seu ambiente familiar?

Até sempre, Professor Patusco, e obrigado pelas aulas livres de História e de Vida!

Ahmad Schabib Hany

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