PROFESSOR
CARLOS PATUSCO (IN MEMORIAM)
Engenheiro mecânico, músico e,
sobretudo, grande Professor de Matemática, fez de seu ofício instrumento de
humanização e protagonismo. Seu legado permanece nas mentes e corações
iluminados, fomentados por ele por décadas a fio.
Por meio de minha Irmã Janan, ex-aluna e colega
sua desde os tempos do Centro Universitário de Corumbá (CEUC), da Universidade
Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), tomei conhecimento da eternização do
agora saudoso Professor Carlos Henrique Patusco. Corumbaense por opção e
coração, chegou ao Pantanal nos anos 1970 como engenheiro da Fábrica de Cimento
Itaú Corumbá, onde se aposentou.
Mas desde antes da aposentadoria na área de
produção o Professor Patusco já estava em sala de aula na formação de inúmeras
gerações de professores nas áreas de ciências exatas. Detentor de uma rara
inteligência e de vasta cultura, embora modesto, sabia lidar com maestria com
as limitações inerentes às capacidades humanas, fossem na área das exatas ou da
cultura geral, sobretudo da música e das letras, aliás, um insaciável leitor em
tempo integral.
Talvez ele não soubesse, mas pelo menos duas obras
de memórias o citam elogiosamente por seus atributos incomuns. Uma delas, em
que o autor, Tadeu Roberto Marinho, em “Memórias de um sessentão - o blog
que virou livro”, expressa com admiração a rara qualidade do Professor Patusco,
não sem destacar a modéstia que o caracterizava: “Ele, realmente, é muito bom
nas duas áreas. São aqueles sujeitos fora da curva.”
A outra obra é alusiva ao cinquentenário de
criação dos cursos superiores em Corumbá, acerca dos bastidores da abertura do ensino
universitário pela persuasiva atuação do igualmente saudoso Médico e Professor
(com letras maiúsculas) Salomão Baruki, seu Amigo e Companheiro também na
fundação do Instituto de Ensino Superior do Pantanal (IESPAN), do qual foi
vice-diretor e secretário-geral na breve existência do derradeiro projeto de
Universidade do Pantanal do Professor Baruki.
Tive a honra de conhecê-lo melhor quando, como
representante do IESPAN, integrou a comissão preparadora do Comitê de
Monitoramento do Programa Pantanal, entre 2000 e 2002. Confesso que foi nesse
convívio, de alto nível, que passei a admirá-lo, embora já o conhecesse de
vista no período anterior à sua aposentadoria na UFMS. Profundamente coerente
como homem de ciência, as suas oportunas intervenções ao longo de dois anos de
reuniões periódicas sempre foram voltadas para os interesses maiores da
ciência, o que não era comum, pois muitas instituições estavam interessadas em
assegurar ‘nichos’ de mercado para futuros projetos que poderiam vir a
desenvolver.
Pouco antes de integrar o projeto do IESPAN, o
Professor Patusco, recém aposentado na UFMS, aceitou trabalhar longe do
conforto de sua casa, numa espécie de magistério itinerante em que jovens
docentes universitários atuavam na então nova Universidade Estadual de Mato
Grosso do Sul (UEMS). Esse depoimento me foi dado pela querida Amiga Professora
Maristela Missio, assim que ela foi aprovada por concurso pela Universidade, e
ele chamava a atenção dos jovens professores não apenas pela disposição
incondicional, mas pela generosidade e alegria contagiante, apesar da
precariedade das condições em que na época eram oferecidas aos docentes
itinerantes.
O amor pela ciência foi sobejamente renovado.
Todos os seus Filhos seguiram seu ideal e se decidiram pela pesquisa e docência
em diferentes instituições federais. Em setembro de 2020, lamentavelmente, seu
Filho Luiz Armando, pneumologista e docente no curso de Medicina da UFMS, em
Campo Grande, depois de longa resistência, se eternizou, mas o legado e o
compromisso com a ciência e a ética foram adotados por colegas e alunos, e sua
memória está viva nos meandros e nas atividades da Universidade.
Menos de um ano depois, é o Professor Patusco quem
se despede de nós. Foi ao encontro do Filho. Mas seu exemplo de incansável
docente e de leitor quase compulsivo ficou em nossas mentes e corações. Quem
não conheceu, em Corumbá, aquele jovem octogenário que, em suas incessantes
caminhadas diárias, percorria as ruas centrais da cidade, não sem antes passar
pela Unidade II do atual CPAN, quando revia ex-alunos e ex-colegas de ofício e
se permitia interromper seu sagrado compromisso por alguns minutos, de modo a ‘matar
a saudade’ de seu ambiente familiar?
Até sempre, Professor Patusco, e obrigado pelas
aulas livres de História e de Vida!
Ahmad Schabib Hany
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