HORA DE VIRAR
A PÁGINA
A naturalização de uma sucessão de absurdos, ou
melhor, de cúmulos do absurdo, revela a complacência de uma sociedade que não
enxerga com sensatez seu presente e muito menos seu porvir. Ou, como legado da
tragédia que está sendo a pandemia, mudamos com seriedade esta postura e
viramos literalmente a página da História, ou capitulamos todos, feito
suicidas...
Soltar
os anéis para garantir os dedos. Foi o que aconteceu com a decapitação de
Salles, aquele ministro que não deixa saudade, mas um rastro de destruição em
todos os biomas brasileiros. Óbvio, além da cínica estratégia de ‘vamos
passando a boiada’ enquanto os brasileiros de debatem como puderem com a
trágica pandemia...
Ricardo
Salles, um obscuro advogado da metrópole paulistana que alçou um voo em que foi
incapaz de dizer a que viera: gerir as políticas ambientais como seres minimamente
ilustrados, que vivem no século XXI (não na Idade Média), foi algo difícil,
impossível de ser feito. Ao contrário, a postura de reles despachante de
interesses de suspeitos de crimes e contravenções, como madeireiros, grileiros,
garimpeiros e congêneres, marcou a gestão voltada para tudo que fugisse dos
paradigmas da Agenda 21, demonizados, aliás, pelo ajuntamento de forças
ultraconservadoras que, em vez de governar, atentam contra o Estado Democrático
de Direito.
No
entanto, a queda do ministro antiambiental não significa que o núcleo de poder
do Palácio do Planalto tenha reconhecido sua desconexão com a realidade. Tratou-se
tão somente de estratégica saída de cena de um ministro em situação
insustentável. Pior, no momento em que a CPI da Covid-19 flagra fatos
comprometedores em que o detentor do principal cargo da República sai
chamuscado. Em que pegou mal o empenho presidencial de participar da
intermediação para aquisição de uma vacina desconhecida e cujo uso no Brasil
ainda não tinha sido autorizado, nem em caráter emergencial, pela Anvisa.
Num
cenário de guerra de terra arrasada, os meses de maio e junho são contexto de
um período sombrio, de desesperança e de angústia, muita angústia. Indiferente
a tudo isso, os principais integrantes do governo federal dão passos perigosos
para privatizar todo o sistema energético brasileiro, da maneira mais
predadora, em que o consumidor será o responsável por pagar literalmente a
conta. Simultaneamente, o mesmo ocorre no tocante à flexibilização das normas
de demarcação de terras indígenas e da gestão territorial das reservas
indígenas, votada a toque de caixa pela Comissão de Constituição e Justiça da
Câmara e já com rumo certo para passar pelo rolo compressor do plenário e
seguir para o Senado na maior brevidade possível.
Em
dois anos e meio de um governo que acintosamente optou por desmontar as
políticas de Estado, previstas na Constituição Federal de 1988, e atentar
flagrantemente contra as instituições democráticas, fica inconcebível
justificar atos insólitos, que fazem do Brasil um pária no concerto das nações.
Aliás, é uma sucessão de perdas concretas em todas as direções as ocorridas, e,
para agravar, com o nítido propósito de permanecer por um tempo desconhecido,
ignorando o mandato constitucional, ainda que mediante golpe.
Desgoverno
de abutres, de predadores. Não é preciso ser exímio analista político para ver
a olho nu a característica comum a todos os integrantes do ajuntamento de
políticos da republiqueta da Barra, que migrou de mala e cuia para o planalto
central com o claro propósito de fincar estaca e ferir de morte o Estado
Democrático de Direito. Entretanto, para sorte das forças democráticas
sinceramente comprometidas com a ressurreição de todo o legado da Constituição
Cidadã, a truculência e o desprezo do saber conspira contra esses vermes que
não conseguirão atingir seus nefastos propósitos.
Essa
é a hora de virar a página. Uma página funesta, como eles e seus malditos e
insanos propósitos. Horda de meliantes que, numa sociedade eivada de suicidas e
narcisos, sem qualquer mérito, tomou de assalto os destinos da nação, inclusive
o impostor de juiz-herói que se refugiou na terra de seus amos e senhores, o
pivô da sucessão de golpes que abriu a caixa de pandora, da qual saíram todos
esses fétidos monstrengos, feios, néscios e desequilibrados. Porque até para
fazer maldade é preciso ter inteligência. Eles não.
Ahmad Schabib Hany
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