Mais
um desserviço
A imprensa corporativa nunca
deu tanto destaque aos ‘relatórios anuais’ da Transparência Internacional como
durante governos de esquerda mundo afora. É o que faz agora com o Brasil, como
já fez com a Argentina de Fernández e o México de López Obrador.
Como nunca, desde que ousou contrariar a posição
serviçal do ocidente perante o sionismo e o conjunto de forças vinculadas ao
império decadente, o governo Lula se encontra sob fogo cruzado não só das
corporações de mídia e governos subordinados aos interesses do establishment do mundo conturbado, mas
da rede de organizações não governamentais, entre elas as especializadas na
promoção de rankings de todo tipo,
seja na economia, governança, questões ambientais, segurança pública, direitos
humanos etc.
Não podia ser diferente com as que medem a ‘percepção
de corrupção’ mediante critérios no mínimo curiosos, como a Transparência
Internacional (TI), põe o Brasil dez posições abaixo e um ponto menos em
relação a 2022. Logo o governo que promoveu efetivo resgate da credibilidade das
instituições republicanas de controle e fiscalização. Claro que o papel do
centrão e o ‘poder paralelo’ exercido pelos presidentes da Câmara Federal e do
Senado nas ‘emendas impositivas’ têm atrapalhado o esforço sobre-humano do
governo Lula.
Ao atento leitor não deve ter passado despercebido
o momento em que a TI divulgou seu relatório anual com o ranking da corrupção entre os países do já combalido concerto das
nações. Trata-se de ONG bem sintonizada com Bruxelas, Manhattan e as
instituições financeiras multilaterais, mais conhecidas por FMI, Banco Mundial,
BID e BIRD, entre outras. Não poderia haver melhor momento (para eles) de
retaliar os ‘governos rebeldes’, como o de Lula, que recente e dignamente apoiou
a petição do governo da África do Sul contra o genocídio patrocinado pelas
potências coloniais sanguessugas na Palestina.
Devo confessar que quando o falecido Filho do
saudoso Jornalista Claudio Abramo, Claudio Weber Abramo, fundou e chefiou a
Transparência Brasil (TB), versão brasileira da TI, até fiquei tentado a
acompanhar o desempenho daquela entidade. Não pela temática, muito cara para
golpistas de todos os matizes -- desde canastrões desqualificados e burros (eis
que a natureza lhes foi pouco generosa com os seus parcos e desarticulados
neurônios e superlativa em sua vaidade de gazelas trôpegas) como Urinol e Mero,
aqueles da ‘Leva Jeito’, até orangotangos das fardas emboloradas como
Tripanosoma, Penacho e Aloe Vera, patrioteiros saudosos da ditadura de triste
memória que agiram mediante comportamento desequilibrado, estridente e
irracional no desgoverno do ‘brimo’ golpista e do inominável.
Chamou-me a atenção o fato de o fundador e
primeiro diretor da TB, Weber Abramo, ser Filho desse Jornalista honrado e
diretor de rara postura ética em meio a tantas hienas que redundam nas ilhas
fiscais em que foram transformadas as abundadas redações da mídia corporativa. Basta
rever o deplorável papel entre 2013 e 2016 municiando pretextos e atiçando
provocações nada cidadãs da matilha do GAFE (Lobo, Abriu, Falha e Estradão). As
tais ‘jornadas’ financiadas pelos falsos moralistas descendentes do baronato do
café e de seus agregados endinheirados que povoaram a metrópole paulistana no
pós-guerra de 1945 e que se fartaram em farras desavergonhadas com dinheiro
público nas décadas de 1960, 1970 e 1980 e fizeram a maior dívida externa da
história até então, isto é, 164 bilhões de dólares contratados entre 1964 e
1985, segundo dados conservadores.
Ora, pôr o Brasil atrás de países reconhecidamente
prisioneiros da pior das corrupções, entre elas a da venda de sua soberania,
como a Ucrânia do nanico moral Zelensky, é claro deboche de uma realidade em
que se faz palpável aquilatar o grau de ingerência dos donos do mundo na
conduta da população, sobretudo juvenil, atenta ao que a moda e a corrente
instiga, como ‘percepção de corrupção’ e não concentração de renda e exclusão
social. É sobre a apatia ocidental pelos desvalidos e segregados, como se não
fossem da espécie humana, desde os tempos dos ‘navios negreiros’.
E quem seria o candidato a vítima da volúpia do
agente do Estado que desertou para os achaques da corrupção protegida e
sonegada pelo desgoverno do mais sórdido presidente, sua excrescência o
inominável? Ora, dirão, isso é ‘narrativa’, o que conta é o serviço que Mero e
Urinol prestaram ao país ao ‘repatriar’ bilhões do erário -- só não revelam que
sua farsa sob holofotes e enredos hollywoodianos destruíram empresas
brasileiras sólidas com expertise e competitividade internacional, milhares de
empregos qualificados que elas propiciavam ao hoje esquálido mercado de
trabalho brasileiro e a participação no PIB com as divisas que elas traziam
para o Brasil pelos serviços qualificados pelo mundo afora.
Ou os impolutos chefes da ‘Leva Jeito’ e os donos
dos oligopólios midiáticos desconheciam que a ‘segurança jurídica’ de que tanto
são ciosos não admite que, sob qualquer hipótese legal, corporações como
Andrade Gutierrez, Mendes Junior, Odebrecht e OAS sejam alvo de destruição,
além da punição de seus executivos? A Siemens, Samsung, Ford e Boeing,
envolvidas em diferentes escândalos escabrosos de corrupção corporativa, tiveram
seus ativos confiscados? Não, apenas executivos foram exemplarmente punidos. A ‘segurança
jurídica’ de que se dizem defensores não foi devidamente observada na farra de
Mero e Urinol, a cujos amos e senhores interessava tirar do mercado e cacifar
as suas corporações.
Não é preciso ser correligionário do Presidente
Lula para enxergar o esforço, tão logo foi empossado, de recolocar as
instituições nos trilhos do Estado Democrático de Direito, do qual, aliás, o
troglodita inominável afastara ainda antes de tomar posse em 2019, sob o
aplauso das elites sórdidas que tomaram de assalto empresas estatais mediante
operações midiáticas e privatizações eivadas de vícios jurídicos e propinas, em
detrimento dos reais interesses da população brasileira. Em 12 meses, os
diferentes gestores setoriais do atual governo fizeram inúmeras conferências e
audiências públicas, a fim de assegurar a participação pública, além do efetivo
controle social previsto na Constituição Federal de 1988 e a reestruturação da
Controladoria-Geral da União, desmantelada pelos desgovernos do ‘brimo’
golpista e do palerma inominável.
Foi, aliás, o que fizeram com Alberto Fernández na
Argentina pós-Mauricio Macri (cujas malversações sequer foram investigadas e
punidas, sob pressão das mesmas instituições financeiras multilaterais que
abertamente trabalharam contra Fernández e as prioridades de seu governo
titubeante) e com AMLO (Andrés Manuel López Obrador) no México tímida e
discretamente progressista que, como ‘puxadinho’ da Casa Branca, tem a sua
soberania amealhada acintosamente desde os tempos de Porfirio Díaz, o ditador
que sentenciou a sina mexicana quando profetizou: “Pobre de nosso México, tão
longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos!”
Mas por que a mídia corporativa brasileira é tão
vira-lata? Não é preciso ser um especialista do complexo estudo da
idiossincrasia rasteira e sanguessuga das elites parasitárias desde antes da
Revolução de 1930, que historiadores revisionistas passaram a chamá-la de
golpe. Quem sou eu, reles filho de imigrantes apaixonados pelo Brasil e seu
povo? Mas me ouso divergir de doutos seguidores dessa nova história. Embora o
grito do Ipiranga de setembro de 1822 pelo príncipe herdeiro da coroa
portuguesa e a proclamação da República em novembro de 1889 por militares
palacianos apoiados por escravocratas que tiveram seus interesses contrariados pela
abolição da escravatura tenham sido protagonizados de forma excludente, sem a
participação popular, o movimento de 1930 não pode ser compreendido como golpe,
mas ápice do processo de rebeliões sociais contra as oligarquias da década
anterior, entre elas a Coluna Prestes, o Tenentismo e a Revolta do Forte de
Copacabana.
E vem desse contexto histórico a postura oligárquica
dos donos dos jornalões embolorados. O Brasil só pôde ter seu primeiro jornal
editado em 1808, sob o rigor do controle da família real, que fugira para o Rio
de Janeiro. Aliás, durante todo o período colonial a censura ferrenha à
circulação de ideias e escritos impediu que fossem abertas gráficas ainda que
pequenas em território nacional, tanto quanto escolas e universidades. Além de
privar a população do acesso à informação mediante periódicos e livros, a
imposição medievalista de recorrer ao analfabetismo como política de Estado
caracterizou a colonização lusitana em todos os continentes. Saquear ou sonegar
os tributos da coroa era menos grave que publicar clandestinamente qualquer texto
impresso, daí porque gráficas e institutos eram mais controlados até em
Portugal que o comércio de pedras preciosas e especiarias.
As ideias iluministas, republicanas e
abolicionistas circularam no Brasil, literalmente, ‘a boca pequena’, como se
dizia na época. Não havia liberdade de imprensa nem de opinião. Como não havia
universidades, ao contrário das demais colônias ibéricas no ‘Novo Mundo’, o
obscurantismo medieval campeava solto num território cuja colonização era
explorar, explorar, explorar. Daí porque os descendentes dessas elites
retrógradas hoje se rebelam ante qualquer possibilidade de ver a ‘plebe’
frequentar os locais cujo acesso era exclusivo para elas, as elites. Preferiram
dar com os burros n’água com o inominável a ter que ver Lula mais uma vez
promovendo a ascensão social da ‘gentinha’, do ‘povinho’.
O apartheid nas terras tupiniquins foi dissimulado.
Afinal, como uma elite assumidamente escravista
(a exploração da mão-de-obra escrava ocorre até hoje de modo recorrente), sonegadora (se não por meio de isenções
privilegiadas, praticavam a evasão de divisas e o contrabando, corrompendo
fiscais da coroa), negacionista (não
admite, sob hipótese alguma, ideias evolutivas, sobretudo científicas), intolerante (recusa-se a aceitar o
diferente, só admite o que eles acreditam ser ‘padrão’: ‘branco’, ‘cristão’ e
‘civilizado’), narcisista (só
consegue enxergar a si e aos seus, como disse Caetano, “narciso acha feio o que
não é espelho”) e hipócrita
(imitando os ‘civilizados’, quer aparentar o que ela sabe que não é, autenticamente
moderna).
Isso pretenderam questionar (ridicularizar, até)
os ousados vanguardistas que promoveram a Semana de Arte Moderna em 1922, mais
um movimento a ser agregado às transformações da década de 1920 que contribuíram
para o fim do mandonismo patrimonialista das oligarquias durante a República
Velha, de cujas oligarquias são herdeiras.
Ahmad
Schabib Hany
Nenhum comentário:
Postar um comentário