quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

APERTARAM A DESCARGA

Apertaram a descarga

Em visível desespero, o filhote de Eduardo Cunha vem agindo com o fígado, fazendo jus à sua origem do esgoto do centrão. Tratado com a dignidade que o cargo lhe confere, tem repetido o cacoete do inominável, sentindo a inexorável ação do tempo: sente-se no cadafalso da guilhotina, ou melhor, na iminência da descarga, e não se importa destruir o Brasil e o porvir de seu povo laborioso.

O que, afinal, diferencia este do ‘finado’ Eduardo Cunha?

Irmãos siameses, ungidos no manto nefasto do centrão, tanto um quanto o outro só difere no varejo: Cunha gostava de esnobar seu ‘poder paralelo’, a fustigar Dilma Rousseff e sua base de apoio parlamentar. Já este, bem ao estilo de jagunço, não possui qualquer pingo de empatia ou comiseração, tanto que diversas vezes recorreu ao baixo expediente da ameaça descarada para advertir Lula e seu governo.

Alguém se lembra se esse mesmo expediente ele usara para pôr o punhal no pescoço do inominável?

Jamais, porque bandido tem seu código de ética bem estabelecido, e é sabido que entre eles o buraco é mais embaixo. Tanto que o tal orçamento secreto, que assegurou a sobrevida do desgoverno, teve rito sumário e todos os seus participantes juram de que nunca existiu, que o amor pelo Brasil, patriotismo a toda prova, foi o que balizou as (nada republicanas) relações entre si.

É patético seu modo de agir, próprio do período em que o inominável fingia que conduzia o desgoverno de tristíssima memória, assim, superlativamente. Deslumbrado com o poder ‘conquistado’ durante o mandato do arremedo de hitlerzinho de ‘casinha’ de escolinha paroquial (ou confessional do interiorzão), com todo o devido respeito pelas duas que me abriram os horizontes para o conhecimento e me forjaram como cidadão em fins dos anos 1960, este pseudolíder do próprio umbigo exorbitou, anacronicamente (fora do tempo) da sensatez que pauta a lide política.

Dias depois de ter feito o esboço desta reflexão em texto, eis que vejo o grande e sábio Jornalista Mauro Lopes, da Revista Fórum / Opera Mundi, analisar inteligentemente o erro fatal do jagunço que, com o também poderoso ex-sinistro da casa à época do inominável, deram sobrevida ao agonizante e loooonguíssimo mandato que o pateta tresloucado queria perenizar como ditadura, uma versão 2.0 da (mal)ditadura abominável de 1964.

Lopes, brilhante analista político sediado em Brasília desde o tempo em que o jornalão da alameda Barão de Limeira 425 era dirigido pelo saudoso e corajoso Jornalista Claudio Abramo, revelou que, mais que advertência, o discurso virulento do arremedo de Eduardo Cunha foi demonstração de perda de poder e seu destempero, em vez de ‘causar’, serviu para acelerar o processo de esvaziamento da ‘força’ com que se dava o direito que colocar a faca no pescoço do Presidente Lula ao longo deste início de terceiro mandato.

Engana-se ele ao fazer demonstração de força por estar mancomunado com a extrema-direita golpista, alvo da operação mais recente da Polícia Federal, na véspera de feriado de carnaval, como a dizer que o dito presidente-jagunço agora não passa de rei momo de uns dias de folia. Se sua ausência foi evidente na celebração do primeiro ano da vitória na intentona frustrada em 8 de janeiro de 2023, reiterada na abertura dos trabalhos do Poder Judiciário, agora, desmascarados os orangotangos terraplanistas com recaída totalitarista dos anos 1960, como Tripanosoma, Penacho e Aloe Vera, o pretenso primeiro-sinistro com cacoetes de jagunço ficou sem a sonhada maioria para fazer o sucessor e continuar a fazer os achaques e chantagens com que construir sua fortuna.

É que não há ‘crime perfeito’. Todo ‘esperto demais’ acaba subestimando sua vítima, ou melhor, superestimando seu ‘poder’. Sobretudo sob vigência plena do Estado Democrático de Direito, como, à exceção dele e de algumas recaídas de seu coirmão da casa decana, presidentes do Judiciário e do Executivo chamaram para si, com a importante presença do sensato e inteligente Presidente do Senado Federal.

Apertada a descarga, é inevitável que o excremento contido na latrina vá para o esgoto. É o que está a ocorrer com os ‘discípulos’ de Eduardo Cunha. Como maldição, todos eles, depois de prestarem relevantes serviços para as elites recalcadas deste país-continente, vão para o fundo do poço, quando não para o esgoto de onde jamais deveriam ter saído. Valeu, Mauro Lopes, pela confirmação de que o jagunço-mor vai na inércia dos golpistas com os quais ele tanto se locupletou.

Ahmad Schabib Hany

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