Juvenal
Ávila, outra revelação do Consórcio
Ainda ‘menor de idade’, Juvenal
Ávila surpreendeu pela voz única e gosto musical apurado. Desenvolveu seu
esquema próprio de apresentação das canções, de forma vanguardista, indicando,
além do intérprete, o compositor e o gênero musical.
“Eu quero que você me ame / Que você me chame
quando precisar / Eu quero saber ir embora / Sem ter dia e hora pra poder
voltar / Eu quero enquanto o tempo passa / que você na raça / saiba me ganhar /
Eu quero ter a vida inteira / Pra fazer besteira e você perdoar...” (Sérgio
Bittencourt, ‘Eu quero’, 1974)
Esse foi um dos últimos sucessos do poeta e
Jornalista Sérgio Bittencourt, filho de Jacó do Bandolim, também célebre autor
de ‘Naquela mesa’, em que homenageia postumamente seu pai. Foi lançado em
Corumbá praticamente ao mesmo tempo que nos grandes centros, graças à ousadia
de um jovem radialista, fruto das oportunidades proporcionadas pelo Consórcio
Corumbaense de Comunicação (CCC).
Diretor musical da Rádio Difusora Mato-grossense e
apresentador titular de um programa noturno de grande audiência (nessa época a
televisão não era competitiva), Juvenal Ávila de Oliveira intuitivamente se
afirmava como expert de música
popular brasileira. Ao mais breve lapso, lançava na Pioneira as canções e os intérpretes mais cativos do Brasil. O
ambiente acolhedor da equipe, sem dúvida, contribuiu para o sucesso desses
novos talentos, que surpreendiam colegas seus dentro e fora do Mato Grosso uno.
Ícones da MPB eram apresentados em diversas
canções ao longo da grade de programação da Difusora, fazendo com que Corumbá
estivesse no mesmo nível de vanguarda dos centros metropolitanos. Eram tocadas
canções interpretadas/compostas por Gonzaguinha, Ivan Lins, Fafá de Belém,
Alcione, Chico Buarque, Milton Nascimento, João Bosco e Aldir Blanc, Caetano
Velloso, Gal Costa, Elis Regina, Nara Leão, Gilberto Gil, Vinícius de Moraes,
João Nogueira, Milton Carlos, Tom Jobim, Miúcha, Toquinho, João Gilberto,
Caymmi, Novos Baianos, Bethânia, Alceu Valença, Belchior, Simone, Martinho da
Vila, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Luiz Ayrão, Benito Di Paula, Gonzaga,
Geraldo Vandré, Sérgio Bittencourt, Jacó do Bandolim, Sérgio Ricardo,
Pixinguinha, Noel Rosa, Edu Lobo, Baden Powell, Carlos Lira, Orlando Silva,
Tito Madi, Raymundo Fagner, Antônio Carlos e Jocafi, Sá & Guarabira, Ney
Matogrosso, Secos & Molhados, Carmen Miranda e outros não menos
importantes.
No primeiro texto de regate da história do CCC, tratamos
do talentoso poeta e Jornalista Edson Moraes, que depois de comunicador e
repórter de rádio o generoso e incansável Jornalista Luiz Gonzaga Bezerra o lapidou
como repórter investigativo e brilhante redator no carro-chefe do CCC, a Folha da Tarde, tendo sido titular da
coluna No bolso do repórter, a seção
mais lida do jornal.
Era tanta a juventude talentosa dessa geração,
chamada ‘de ouro’, que outro colega saído da coirmã Rádio Clube de Corumbá,
Juvenal Ávila (mais novo e dono de voz ‘aveludada’ comparada à do imortal Hélio
Ribeiro, da Bandeirantes, de São Paulo) acabou migrando para a Rádio Difusora
Mato-grossense. Talentos revelados havia muitos, tais como Gino Rondon, Jonas
de Lima, Augusto Malah, Ronaldo Bardawil, Farid Yunes Solominy, Marília Rocha,
Marluci Brasil, Luiz Antônio Fidélis, Ademir Lobo, Nelson Urt, Roberto
Hernandes, João de Oliveira Neves e Ronaldo Ney, além dos citados Edson Moraes
e Juvenal Ávila.
Corumbá nas décadas anteriores à divisão de Mato
Grosso contava com uma plêiade de talentos na radiofonia (Jota Aguilar, Admar
Amaral, César Augusto, Carvalho Sobrinho, Adolfo Rondon, Onofre Bueno da Silva,
Antônio Ávila, Ângelo Vieira, Antônio Barcellos de Jesus, Pedro Gonçalves de
Queiroz, Domingos Vieira Filho, Lalá Quidá etc), no Jornalismo (Renato Baez,
Carlos Paulo Pereira, Jorcêne José Martínez, Clarimer da Meira Navarro, José
Ignácio da Silva Neto, José Feliciano Batista Neto, Amir Fernandes, Nelson Dias
de Rosa etc) e nos diversos gêneros da cultura (Clio Proença, Rubens de Castro,
Gabriel Vandoni de Barros, Manoel de Barros, Wega Nery, Jorapimo, Antonio
Burgos, Hebe Lacerda, Rubén Darío Román, Nancy Lima Baptista, João Lisboa de
Macedo, Corina Maciel Chamma, Lécio Gomes de Souza, Fadah Scaff Gattass, Cleto
Leite de Barros, Edy Assis de Barros, Lincoln Gomes de Souza, Salomão Baruki,
Magali de Souza Baruki, Zenno Sim, Augusto César Proença, Dilermando Luiz
Ferra, Valmir Batista Corrêa, Gilberto Luiz Alves, Lúcia Salsa Corrêa, Marlene
Mourão, Leonides Justiniano, Geraldo Roca, Islândio de Jesus, Sandro Nemir,
José Eloy, Nelson Mirrha, Juvenal Castelo Branco, João Carretoni, Tadeu Vicente
Atagiba, Ênio Conturbia, Calixto dos Santos Gonçalves, Norma Atagiba, Geraldo
Alexandre, Hélio Ferreira, Nilson Pereira de Albuquerque, Orlando Bejarano,
Deneval Ribeiro Elias etc), bandas como MJ-6, Django e Arame Farpado e membros
do Grupo ALEC, como Benedito C.G. Lima, Ângela Maria Pérez, Ângela Bulhões,
Rubens Galharte, Balbino G. de Oliveira, Jadiel Araújo etc.
Juvenal Ávila ainda não era maior de idade, isso
criava alguma saia-justa aos responsáveis pelos veículos. Era levado para
cobrir eventos de grande audiência, como concursos de miss e festivais de
música (muito concorridos então), mas precisava de autorização do meritíssimo
senhor juiz ‘de menores’, como soía denominar-se no tempo do Código de Menores,
vigente à época, que chancelavam sem hesitação. Era dos campeões de cartinhas
sentimentais de ouvintes que se declaravam apaixonadas pelo misterioso dono da
voz. Por causa de seu bom gosto na seleção musical, Daniel Lopes, que ouvia
sempre a opinião de Luiz Gonzaga Bezerra e de Amir Fernandes, o designou
diretor musical da Pioneira e um dos
apresentadores do noticiário, Rotativa
Noticiosa.
Em 1974, ele integrou a equipe de radialistas e
jornalistas que cobriram o concurso de Miss Mato Grosso em Aquidauana. Quase
não volta: o dono de uma das emissoras da cidade sede do concurso ficou tão
empolgado com a performance do jovem locutor que fez de tudo para que trabalhasse
lá. Não conseguindo seu intento, o designou representante da emissora na
recém-criada Agência Mato-grossense de Imprensa (AMI), e assim, uma espécie de
correspondente em Corumbá, ele precisava gravar diariamente as notícias a serem
levadas ao ar pela coirmã aquidauanense.
Ao contrário da Rádio Clube, de onde Juvenal era
oriundo, a Difusora Mato-grossense não dispunha dos recursos tecnológicos ‘de
ponta’ que a emissora da família Anache adquirira. Na urgência do envio do
material gravado vez por outra não faltavam problemas, mas acabavam contornados
pelos desafios constantes das inovações jornalísticas. Além das lendas vivas
com quem conviviam e recebiam importantes conselhos profissionais que até hoje
recordam com gratidão, como o experiente radialista Onofre Bueno da Silva, cujo
epíteto era O Papa do Rádio, responsável,
no final da carreira, pelo programa de fim de tarde Ave-Maria, na Rádio Clube, às vezes com a participação do tenor
Lincoln Gomes.
Um dos mantras mais ouvidos na Pioneira era de que o talento é capaz de
superar as limitações dos velhos e superados equipamentos. Embora dispusesse de
auditório (pois a Difusora era do tempo dos programas de auditório, ao vivo),
só contava com um estúdio, até então não gravava jingles (eram gravados no estúdio de um locutor veterano, Carvalho
Sobrinho, em sua residência). Em compensação, sua transmissão cobria todo o
Pantanal e parte do Paraguai e Bolívia. O próprio Gonzaga testemunhara isso em
Cáceres, antes de se mudar para Corumbá.
Graças a esses generosos conselhos, Juvenal Ávila
uniu o útil ao agradável: dedicou-se a pesquisar na rica discoteca da emissora
mais antiga do sul do estado canções de diferentes gêneros, bem como a trocar
correspondência com profissionais da indústria fonográfica, então em franca
expansão e desejosa de divulgação. A precariedade acabou dando lugar à conexão
com os produtores e diretores das gravadoras mais badaladas.
Walter Silva, Tárik de Souza, Sérgio Augusto,
Sérgio Cabral e Sílvio Lancellotti se tornaram ‘íntimos’ para o ainda púbere de
voz ‘aveludada’. Adolescentes, os colegas de escola viam Juvenal como exemplo a
ser seguido, tamanho o sucesso não só com as ouvintes, mas pela conexão com o
‘mundo exterior’. E, generoso, ele compartilhava sua experiência sem se
preocupar com algum prejuízo em seu trabalho, extenuante e de muita
responsabilidade.
Em seu tempo no CCC, isto é, na Rádio Difusora,
introduziu a vanguardista identificação das canções para o público: nome da
canção, gênero musical, nome do(a) intérprete (ou da banda), nome do(a)
compositor(a) ou compositores, ano de gravação e selo fonográfico. Ousado,
fazia release da canção quando nova.
Tudo telegráfico (hoje seria twitteriano), que não cansava o ouvinte, pelo
contrário, aguçava-lhe a curiosidade.
É claro que Gonzaga o chamou para fazer matérias
para algum dos impressos do CCC, mas o desempenho excepcional na direção
musical e na apresentação do radiojornal fez com que focasse sua carreira na
radiofonia, que ele alternou com a Psicologia quando ingressou na vida
universitária. Mesmo afastado da radiofonia, é referência até hoje, que como
colaborador apresentou e dirigiu programas de qualidade em rádios comunitárias.
Juvenal é primo do célebre radialista Antônio
Ávila, eternizado na primeira década deste século. Descendente de cuiabanos, sua
família veio para Corumbá durante a construção da ferrovia Corumbá -- Santa
Cruz de la Sierra, e por pouco não nasceu em Roboré, na Bolívia. O pai, Seu
Marciano de Oliveira, era mestre de obras, e a mãe, Professora Tereza Ávila de
Oliveira, diretora de escola estadual em Ladário. Sua conexão com as ondas do
rádio levaram Juvenal a experiências extraordinárias que serviram de esteio
para sua trajetória profissional. Hoje, a MPB é mola mestra do foco de
recém-aposentado, pois entende que as novas gerações compreendam a história do
Brasil por meio de seus gêneros musicais, sobretudo pela diversidade cultural,
que faz do país ponto focal planetário.
Ahmad
Schabib Hany
Um comentário:
Eu bem que devia conhecer o Juvenal... acho que ia rolar papos interessantíssimos ... especialmente sobre as mulheres e os concursos de misses...
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