terça-feira, 27 de fevereiro de 2024
Acervo Instituto Sócio-Ambiental (FSP 27 abr. 1980)
ATÉ SEMPRE, PROFESSOR PAULO CABRAL!
Até
sempre, Professor Paulo Cabral!
Sociólogo, o Professor Paulo
Eduardo Cabral foi, para os alunos de Humanas na extinta FUCMT, uma referência
fraternal. A discrição e generosidade com que se relacionava com as diferentes
gerações de docentes e discentes ao final do regime de 1964 incentivou muitos
jovens aos estudos e, sobretudo, à pesquisa.
Terça-feira, 27 de fevereiro de 2024. Por meio de
mensagem de uma de minhas Irmãs fui impactado pela notícia da súbita
eternização de um docente emblemático, entre os tantos que a Vida generosamente
nos brindou. O querido e inesquecível Professor Paulo Eduardo Cabral, então
jovem Sociólogo (desses com letra maiúscula), substituíra o lendário Padre
Félix Zavattaro na disciplina de Sociologia Geral da licenciatura em História
da FUCMT no emblemático ano de 1979, primeiro ano da existência oficial de Mato
Grosso do Sul.
Na aula de apresentação, Paulo Cabral, de barba
cerrada e bolsa a tiracolo, fora bastante comedido, e se ativera à ementa da
disciplina. Entretanto, nas discussões que ele mesmo provocava em sala e,
sobretudo, nos trabalhos solicitados ao longo do ano, sinalizara algo não muito
comum em tempos de autoritarismo e arapongagem: ao estimular o estudo a fundo
de sua disciplina, e por extensão da História numa perspectiva das relações
sociais, nos permitia apropriar-nos de um instrumental metodológico até então
censurado.
Embora discreto, nunca censurou ou monitorou as
nossas ‘irreverências estudantis’, pois queríamos ‘ir além’ do ‘feijão-com-arroz’.
Esclarecia dúvidas, ajudava a compreender melhor algum texto mais denso, mas
recomendava que fosse feito em grupos de estudo, de preferência fora da
instituição (óbvio, porque estávamos cheios de arapongas na sala de aula).
Certa vez levei um genial livreto da Editora Avante, de Portugal, com um texto
de Amílcar Cabral sobre educação e colonização. Por prudência, pediu-me ‘emprestado’
o livreto. Deu-me o telefone de sua casa e me convidou a visitá-lo no final de
semana. Lá, afetuosamente, me explicou por que me tirara o livreto. Recebeu-me
tão bem, que voltei inúmeras vezes à casa em que então morava, na Coophafé,
Vila Santa Fé.
Na época, o primeiro ano era básico e os alunos de
História faziam as mesmas disciplinas com os colegas de Pedagogia, Letras e
Geografia. As novas gerações não fazem ideia, mas ainda vigiam os nefastos
decretos 228 e 477, espécie de AI-5 do ensino universitário, e nas licenciaturas
era expressamente proibido estudar (e, portanto, citar) Paulo Freire, Anísio
Teixeira, Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Caio Prado Jr., Nelson Werneck Sodré,
Edgar Carone, Florestan Fernandes, Theotônio dos Santos, Fernando Henrique
Cardoso, José Carlos Mariátegui, Pablo González Casanova, Enzo Faletto, Jean
Piaget, Emile Durkheim, Max Weber, Georg Hegel, Rosa Luxemburg, Herbert
Marcuse, Georg Lukáks, Erich Fromm, Antonio Gramsci, Jean-Paul Sartre, Simone
de Beauvoir, Friedrich Engels e, obviamente, Karl Marx, entre outros não menos
importantes.
No sisudo curso de História da FADAFI/FUCMT,
tínhamos quatro docentes que à época considerávamos ‘dos nossos’, por conta de
nossa inconformidade juvenil: além do Cabral (ele permitia ser chamado pelo
nome), Frei Fiorello Collet (de quem não tive mais notícias, titular da
disciplina de Métodos e Técnicas de Pesquisa, em cuja primeira aula, antes de
se apresentar, entrou recitando o poema de Carlos Drummond de Andrade “E agora,
José?” e nos incentivou a desenvolver, na prática, as diferentes linhas de
pesquisa, bibliográficas e de campo, tendo me incentivado a fazer uma enquete
sobre o exame final obrigatório na instituição, quase uma ‘heresia’), a
Professora Yara Blum Penteado (muito didática e generosa, uma verdadeira Mãe na
formação universitária, titular da disciplina de Antropologia Cultural, outra
incentivadora nos estudos, sobretudo dos clássicos, tanto que no trabalho final
de seu curso me permiti desenvolver um trabalho dentro daquilo que então era
uma verdadeira irreverência, os autores marxistas de referência, sem citá-los)
e o Professor Giuseppe Buttera (titular de Filosofia, com forte sotaque
italiano, que depois de ter deixado a Congregação Salesiana decidiu estudar
Medicina na UFMS e cheguei a encontrá-lo na modesta pensão de meu Pai como
mochileiro com a sua Companheira, rumo a Machu Picchu, durante as férias, no
início da década de 1980).
Como técnico da então Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Social, o Sociólogo Paulo Eduardo Cabral foi um dos
organizadores, em fins de abril de 1980, do Primeiro Seminário
Sul-mato-grossense de Estudos Indigenistas (que fazia um alerta na consigna em
gradiente EXTERMÍNDIO), de que participaram os líderes indígenas Mário Juruna,
Domingos Veríssimo Marcos e Marçal de Souza (três anos depois vítima de
execução já anunciada por ele em razão da cobiça de terras indígenas, crime
impune que completou 40 anos sem que o mandante tivesse sido ao menos
formalmente acusado), além de antropólogos da estatura de Darcy Ribeiro e Fernando
Altenfelder, que generosamente interagiam com estudantes presentes ao evento
durante os cinco dias de debates e denúncias dos povos originários.
Nessa época eram poucos os professores que ‘ousavam’
assistir às exibições do Cineclube Universitário, uma das geniais iniciativas
do Diretório Acadêmico Félix Zavattaro (DAFEZ) na brilhante gestão da “Semente”,
com os hoje Professores Amarílio Ferreira Jr., Marisa Bittar, Paulo Roberto
Cimó Queiroz, Paulo Marcos Esselim, Mário César Ferreira, José Carlos Ziliani e
Tito Carlos Machado de Oliveira, em parceria com o DAJS (Diretório Acadêmico
José Scampini, do Serviço Social, cuja presidente então era a querida e saudosa
Mariluce Bittar, Irmã da Marisa e minhas vizinhas na Cândido Mariano, o que me
honrava muito, pois eram duas lindas referências intelectuais e de ascendência
libanesa). O agora saudoso Cabral e o Professor Luiz Salvador de Sá, do curso
de Psicologia, participaram dos debates realizados após a exibição dos filmes,
em sua maioria do Cinema Novo.
Não tenho dúvida que a qualidade da graduação que
então fizemos deveu-se muito a esses Professores com letra maiúscula (que não
se limitam aos citados, pois havia entre os ‘não progressistas’ a dedicação ao ‘ofício’,
como eram formados os docentes. Os tempos eram de repressão, muitos dos que
aparentavam conservadorismo depois se revelaram bastante abertos, tanto que a ‘Semana
de História’, iniciada na gestão Semente e continuada por nossa geração sem o
apoio da entidade acadêmica (porque os ‘comunistas’ perdemos a disputa pela
sucessão no DAFEZ em razão do desgaste natural de duas gestões seguidas e,
também, de uma inusitada aliança de Companheiros de esquerda filiados ao PT,
que nascia então, e alunos seminaristas ligados à Missão Salesiana, mantenedora
da FUCMT).
Em 1987, encontrei num final de tarde o Professor
Paulo Cabral saindo de um cartório da rua Delamare, em Corumbá, ocasião em que,
assessor técnico do saudoso Doutor Roberto Orro na Secretaria de Estado de
Justiça, participava de uma pesquisa para a construção da rede notarial que
décadas depois, com a criação da internet, hoje está toda interligada. Até
nisso o Cabral tem sua contribuição discreta e competente. Meses mais tarde,
quando da fundação do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino,
no auditório do CEUC/UFMS, era para ele ter vindo numa comitiva de Campo
Grande, em que a saudosa Amiga-Irmã Margarida Marques e sua colega e Amiga
Maria Helena Brancher (autora da foto emblemática de Marçal de Souza),
acompanhadas da Professora Yone Ribeiro Orro tiveram participação ativa, mas
problemas de saúde em sua Família acabaram impedindo.
Fomos nos encontrar na Segunda Semana Social
Brasileira, em Brasília, em julho de 1994, quando dividimos o mesmo alojamento
coletivo para parte da comitiva de Mato Grosso do Sul no convento das freiras
franciscanas estigmatinas, por sinal bastante acolhedoras e simpáticas. Na
época ele era o ponto-focal da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e
pela Vida e, alternando compromissos entre o Encontro Nacional da Ação da
Cidadania e a etapa nacional da Segunda Semana Social Brasileira, conseguia
fazer, competente e generosamente, o que qualquer mortal teria dificuldades abissais.
Homem despido de qualquer vaidade, quando foi
demitido da FUCMT por razões não acadêmicas (ele e a Professora Yara Penteado)
foi imediatamente contratado pelo CESUP, que logo se transformaria na
Universidade para o Desenvolvimento Regional do Pantanal (UNIDERP), tendo sido
por décadas chefe de gabinete da reitoria e mais tarde diretor do Hospital
Veterinário dessa instituição. Mais uma vez sua discrição e competência ajudou
a construir o estado que viu nascer. Depois que um grupo transnacional adquiriu
a maioria das ações do quadro societário da entidade mantenedora, acabou por
realizar velho sonho de morar em um sítio, em Terenos.
Depois de aposentado, dedicou-se às letras, tendo
sido membro e presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do
Sul. Entre os livros que Paulo Cabral escreveu, o registro meticuloso da
extinta Moderna Escola Campo-grandense de Ensino (MACE), por ocasião de seu
cinquentenário, é emblemático. A mais recente obra a prefaciar foi a antologia
de crônicas que o Jornalista Maranhão Viegas fez durante a pandemia de covid-19,
‘Cápsulas de oxigênio’. Generoso e comedido, o paulistano que escolheu Mato
Grosso do Sul quando era instalado se eterniza depois de constatar que o
conservadorismo e a tibieza da minoria progressista se complementam numa
sociedade excludente, hipócrita e, sobretudo, seduzida pelo fascismo travestido
de neopentecostalismo.
Em entrevista a Brayner Silva (Folha de Campo
Grande, 17 jun. 2022), observara: “Muito me espanta ver pessoas pedindo a
volta da ditadura, um momento deplorável da nossa história. Só na democracia,
com todos os seus defeitos, vamos conseguir aprimorar a política. Sem política
não existimos, não fazemos nada, não resolvemos nada. Então, reforço que a
política é o meio de se conseguir uma sociedade justa e igualitária.”
Até sempre, querido Amigo e Professor Paulo Cabral!
Obrigado pelas inúmeras lições de cidadania, generosidade, comedimento e
humildade, que seu fecundo legado de discrição e competência ilumine mentes e
corações destas e das próximas gerações!
Ahmad
Schabib Hany
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024
DESVARIO AGLUTINADO
Desvario
aglutinado
A avenida Paulista foi palco do
‘Baile da Ilha Fiscal’ da dinastia sanguessuga do palerma daqui. Enquanto isso
Milei, palerma da Argentina, tirava as manguinhas de fora para se masturbar:
cérebro de rato é assim, ejacula pelo neurônio.
Em causa própria: sem qualquer dissimulo, lá vai
ele, cínico e covarde, manifestar seu louvor pela ‘pátria-mãe’ sionista para se
proteger das agruras da Justiça do Estado Democrático de Direito, contra o qual
ele atentou diversas vezes. Creu que fosse fácil dar golpe, golpeado está para
o resto de seus pérfidos e tacanhos dias. Era tanto palerma aglutinado, que até
São Pedro generoso desconfiara, e deu um jeito para não ser imiscuído nesse ato
pecaminoso, em que um mala sem alça que se diz bispo, em vez de pregar o amor,
disseminou o ódio e a soberba.
Como é possível haver tanta gente sem noção que até
o hino da luta contra a ditadura, “Caminhando” (“Para não dizer que falei de
flores”), de Geraldo Vandré, foi executado? Mas nem assim conseguiram disfarçar
a ansiedade e a preocupação pelo futuro de seu ‘mi(n)to’, com os dias contados.
Hoje não há mais disfarce: um coronel da reserva, em Campinas, fugia para não
ser preso com um arsenal de mais de uma centena de armas de grosso calibre e
duas granadas, depois de pegar fogo e a munição pipocar feito fogos de
artifício, para desespero da vizinhança. Quer maior ‘patriotismo’ que o desses
palermas?
A avenida Paulista, tomada de manifestantes de
diversos estados do país, lembrou o ‘Baile da Ilha Fiscal’. Em clima de
velório, os manifestantes em delírio vociferavam diatribes em vez de acenar
àquilo que deveria ser pauta de seus negócios, digo, de seu programa. Farsa
também tem fim, seja no Brasil, na Argentina (Milei não perde por esperar, se é
que vai sobreviver: argentino gosta de fígado cru, principalmente se for de anhuma
de armário, depois de tanta safadeza feita em tão pouco tempo), na Ucrânia ou no
território milenar da Palestina, invadido e saqueado pelo Estado sionista, mas
terroristas são os palestinos.
O último suspiro do ‘império’ no Brasil, em
novembro de 1889, foi o tristemente célebre ‘Baile da Ilha Fiscal’. Ele entrou
para a história. E a dinastia de dom Pedro II saiu de vez. Do palácio imperial
e dos destinos da Nação. Mas com uma grande diferença: dom Pedro II e a
princesa Isabel gostavam, e muito, de ler, ao contrário desses desprovidos de
cérebro que se prestam ao ridículo papel de títeres descartáveis, feito papel
higiênico de latrina pública. E ainda têm a cara de pau de afirmar que a
Palestina pertence aos sionistas.
Como a Vida, a História (ambas com letra maiúscula)
é imponderável. Inclusive a palermas pretensiosos, que não se enxergam. Desprovidos
de luz própria, vivem à sombra de seus amos e senhores -- oh, yes! --,
títeres degenerados que são: o inominável palerma daqui (inelegível e a
qualquer momento ‘engaiolável’), cara de bitola estreita, e o da Argentina, que
na falta de ‘primeira-dama’ nomeou a irmã para cravar sua ‘macheza’. Os dois do
‘armário’, da noite para o dia viraram judeus desde criancinhas. O diabo que os
carregue!
O palerma inominável daqui é o inominável da
Argentina amanhã: precisa segurar-se na haste da bandeira daquele Estado
sionista para que seu único neurônio atinja o orgasmo, na obsessiva procura de
proteção ao seu deus-dará de araque. Tanto este quanto aquele nunca tiveram fé
em nada, absolutamente nada, como confirma seu ex-companheiro de faquinhas e
facadas, ‘Miguelón, el bigotudo’ (também conhecido pela alcunha de Papito),
lá em Nioaque, que rompeu com ele por ter-lhe dado um calote homérico em sua
última entrega de aparelhos de videocassete ‘quatro cabeças’, para fins de
contrabando.
Ora, inominável por inominável, a marca de seus
gestos e atitudes tem a mesma chancela: o ego, a indiferença com o outro, o
oportunismo barato e cínico, e assim por diante. Nunca espere absolutamente
nada de quem vive às voltas de seu próprio umbigo. Quando não do ímpeto das
partes baixas, feito ser em êxtase incessante, insaciável. Por que, ao lado de
seu nefasto ‘gabinete do ódio’ ele tinha uma ‘salinha de tortura’? A tortura
era a lascívia, a troca de faquinha, coisa que tanto o de cá quanto o de lá
entendem bem.
E dá para ser ‘religioso’ vivendo em contubérnio,
a fornicar, prevaricar, procrastinar, conspurcar, delinquir, traquinar,
ameaçar, amealhar, corromper e fazer chupetinha?
Em quatro longuíssimos e tenebrosos anos do desgoverno
do inominável, esses palermas fizeram de tudo, menos efetivar políticas
públicas, como: a) investir na expansão de vagas para a primeira infância
(segundo o IBGE, nestes anos pós-golpe de 2016, os índices de crianças com
idade até 5 anos recuaram, estando em 2023 em 37% quando deveriam estar em, no
mínimo, 50% dessa população); b) implementar as iniciativas, de modo
articulado, de atendimento à população de rua, que cresceu durante os anos de
golpismo e passou a ser alvo de ações criminosas de apoiadores do inominável,
como se morador de rua não fosse humano; c) reestruturar articuladamente
políticas de enfrentamento da miséria e da fome, a assistir, capacitar e
trabalhar a autoestima dos membros das famílias em situação de vulnerabilidade
social, e d) distribuir de maneira republicana e com respeito à dignidade
humana os produtos constantes de programas de acesso a medicamentos de uso
contínuo (e absorventes higiênicos), em vez de tê-los abandonado em depósitos e
até descartado em imóveis vazios, cometendo crimes abissais durante a gestão a
que foram guindados mediante manipulação de eleitores, em conluio da imprensa
corporativa com os criminosos da ‘Leva Jeito’.
São esses os patriotas de meia pataca que passaram
a infestar, feito pandemia, ambientes até então saudáveis, que com sua infecção
estragaram por completo. Precisaremos de tempo e boa vontade para desinfetar todos
eles. Levará tempo, sim, mas será necessário, e urgente, pois quanto mais
demorarmos maiores os riscos das sequelas inimagináveis. Porque precisamos
entender, sem meias palavras, que tivemos danos irreparáveis, pelo menos a
curto prazo, no tecido social, há muito esgarçado (em 1950, 1954, 1955, 1960,
1961, 1964, 1966, 1967, 1968, 1969, 1970, 1971, 1972, 1973, 1974, 1975, 1977,
1981, 1984, 1985, 1990, 1991, 2013, 2014, 2015, 2016, 2018, 2019, 2020, 2021,
2022 e 2023).
É tanto número, não? Mas são todos esses anos,
sim. Basta fazer uma leitura meticulosa em nossa história recente (digo, dos
últimos 80 anos) constatará tudo isso. Aliás, por essa razão toda vez que há
golpes no Brasil, a grade curricular é alterada, sobretudo na área das ciências
humanas e sociais, para que as novas gerações sejam ‘anestesiadas’, isto é,
privadas do conhecimento de sua própria história, memória e, sobretudo,
identidade. Não nos esqueçamos de que “quem conhece ama” (sempre lembrado pelo
Amigo-Irmão Arturo Castedo Ardaya). Para os golpistas é fundamental ‘livrar-se’
do ônus da responsabilidade histórica, que é impiedosa, implacável.
Essa é a principal razão do temor dos golpistas
flagrados com as calças arriadas em 8 de janeiro de 2023: como “nunca antes na
história deste país”, os ‘intocáveis’ estão sendo investigados e julgados, um a
um. Até os orangotangos mais felpudos. Inclusive o palerma inominável, que,
metido a ‘dono do mundo’, tentara, ele mesmo, comandar o golpe para manter-se
no poder. Mas se deu mal. Incompetentes até para fazer arapongagem (ilícita), cometem
aos montes irregularidades de todo tipo, sempre sob as câmeras deles mesmos.
Burrice atrás de burrice, e narcisismo a toda prova...
O pior é que esses palermas insensíveis se passam
por ‘cristãos’, quando já o deixaram de ser, uma vez que, sem eles/as terem
percebido, passaram a ser um ‘puxadinho’ das seitas sionistas que, da ‘teologia
da prosperidade’, migraram para a ‘teologia da dominação’. A advertência do historiador
João Cézar de Castro Rocha, em entrevista ao canal de Eduardo Moreira, do Instituto
Conhecimento Liberta, para a migração das igrejas neopentecostais, até então
cristãs, e hoje subordinadas à orientação do legado de Davi em seu reinado de
perfil agressivo. Em síntese, a troca de Jesus Salvador, com seu legado de reconciliação,
concórdia e perdão, por Davi, o rei que usou a força como instrumento de
dominação e enviou um general leal, Urias, à frente de batalha, para ficar,
depois de sua morte em combate, com a viúva como sua concubina. Uma troca
sugestivamente perigosa, em se tratando de denominações originalmente cristãs.
Daí porque muitos participantes da chiadeira da
avenida Paulista, neste final de semana, estavam com as hastes das bandeiras do
Estado sionista nas mãos, como a pedir socorro ao Davi das hordas avassaladoras
e diversas vezes flagrado em situações nada leais com os seus, fosse por cobiça
da mulher do próximo (caso da noiva de Urias) ou por atitudes nada condizentes
com um rei destinado ao autodenominado ‘povo eleito’. É um desafio ímpar, mas
será necessário aos líderes de denominações cristãs, sejam evangélicas ou
católica, bem como denominações espíritas e de matriz africano e culto indígena,
uma iniciativa urgente, inadiável, para a necessária reconciliação do País com
a sua tradição ecumênica, em que as manifestações de fé convivem de modo
sincero e fraternal, exemplo admirado pela maioria dos povos de todos os
países, de todos os continentes. Inclusive muçulmanos e judeus não sionistas.
Ahmad
Schabib Hany
domingo, 25 de fevereiro de 2024
Israel amenaza con la Bomba Atómica. El genocidio se intensifica. Geopolítica
Al-Quds (Jerusalém) - Fairouz (EN-FR)
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024
NO RASTRO DO ENCONTRO MÉDICI-BANZER
No
rastro do encontro Médici-Banzer
Realizado menos de seis meses
depois do sangrento golpe militar que fez o coronel Hugo Banzer Suárez ascender
meteoricamente ao cargo de general e se tornar o ditador boliviano com mais
tempo de mando (e um dos mais ricos de seu país),
o encontro com o seu colega Emílio Garrastazu Médici em Corumbá foi o marco de
criação, com o aval do então todo-poderoso senador Filinto Müller, do consórcio
de comunicação para ‘embaçar’ a reeleição de Cecílio de Jesus Gaeta, um incômodo
oposicionista, ‘pero no mucho’.
“Eu te amo,
meu Brasil, eu te amo! / Ninguém segura a juventude do Brasil...”
No Sesquicentenário da Independência, quando as
moedas comemorativas traziam o perfil do general Emílio Garrastazu Médici ao
lado do de dom Pedro I, mais que o Hino Nacional, era essa a trilha sonora
prevalente. Não havia rádio que não tocasse o hit ufanista de ‘Os incríveis’, de autoria de Eustáquio Gomes de
Farias, da dupla Dom e Ravel. Os mesmos de “Você também é responsável”,
música-tema do Movimento Brasileiro de Alfabetização (Mobral),
no auge da repressão política que se sucedeu às mobilizações populares de 1968,
por liberdades democráticas e contra a ditadura.
Corumbá, 4 de abril de 1972. Primeiro, o avião
presidencial brasileiro com o general Médici aterrissa, e o séquito de
seguranças, jornalistas e políticos da Arena (Aliança Renovadora Nacional)
disputam espaço. Ensaiado, o presidente, do alto da escada que o levará ao solo
corumbaense, faz pose de estadista acenando para a população, cujo acesso foi
vedado ao mesmo aeródromo que recebera anos antes, exilado, Jânio Quadros,
último presidente eleito que renunciara na esperança de ser reconduzido ao
cargo pelo povo, e cujo vice, igualmente eleito pelo voto direto e secreto,
João Goulart, fora golpeado oito anos antes.
Mas um fotógrafo local rouba a cena: com total
desenvoltura, faz um gesto para o temido presidente aguardar um pouco, enquanto
ele involuntariamente repete o cacoete com que era conhecido, de coçar
compulsivamente as partes, o que ficou na memória de
todos os colegas. O fotógrafo era ninguém menos que o
poeta e renegado nordestino Jadiel Araújo, o Jadi, que escolhera Corumbá como terra para a sua prole, morador da
Vila Soloaga, na Feira Boliviana. Sua sina de perseguido pelo regime, que
mantinha em segredo até o fim da ditadura, foi conhecida pela matéria do
Jornalista Luiz Taques, no semanário Jornal
da Cidade, na década de 1980.
Quanto à histórica (irreverente) cena na chegada de Médici a
Corumbá, o Professor
João de Souza Alvarez, então auxiliar de Jadiel, assegura que um colega fez o
registro fotográfico, revelou o filme, ampliou a foto em papel tamanho 18x24
(centímetros) e a enviou ao seu endereço de trabalho.
Superado aquele imprevisto, aterrissa, minutos
depois, o avião presidencial boliviano, que traz o coronel, aliás, generaleco
Hugo Banzer Suárez, que menos de sete meses antes se tornara ditador e máximo
comandante das forças armadas da Bolívia, passando para trás o líder golpista,
também coronel fascista, Andrés Selich Chop, morto em circunstâncias suspeitas
nas escadarias do palácio Quemado (presidencial) depois de dois anos do golpe
sangrento em que sequestrou, torturou e fuzilou impiedosa e impunemente
adversários de todos os matizes político-ideológicos no afã de usufruir do
cargo, assegurar as benesses do poder para os seus e atender aos seus amos de
Washington e Brasília, um dos primeiros experimentos de Henry Kissinger na
América do Sul (preparação para o do Chile em 1973).
Após a execução protocolar dos hinos do Brasil e
da Bolívia, da salva de tiros de pólvora seca, da passagem em revista ao
pelotão de militares perfilados e da saudação dos dois chefes de estado no
aeroporto, a comitiva presidencial brasileira e boliviana sai em carro blindado
rumo ao Comando do VI Distrito Naval (Ladário),
onde os discursos, compromissos diplomáticos e almoço de recepção são
realizados, distantes dos clamores populares por liberdade, democracia e
justiça de seus respectivos conterrâneos privados dos direitos constitucionais
inalienáveis.
Sob o sol causticante de 10
horas da manhã, estende-se a coluna de alunos
corumbaenses e ladarenses uniformizados e a segurar bandeiras de papel do
Brasil e da Bolívia, alinhados desde a saída do Aeroporto Internacional de
Corumbá, pelas ruas Edu Rocha, Cabral, Frei Mariano e América e rumar à Avenida
Rio Branco com destino a Ladário, município criado por iniciativa do deputado
udenista corumbaense Wenceslau de Barros, trinta anos antes, para permitir
fazer um prefeito na cobiçada região à UDN (União
Democrática Nacional, partido que não conseguia ganhar eleições municipais em
Corumbá e presidenciais no Brasil desde a democratização, em 1946).
Como em toda ditadura, crianças e adolescentes das
camadas populares eram usados sem clemência para a demonstração de uma
popularidade artificial. Quatro anos antes, na ruidosa inauguração da Estação
Ferroviária Internacional de Corumbá, em maio de 1968, cena de igual magnitude
fora preparada. Outros os ditadores, que acabaram enviando seus respectivos
ministros dos Transportes para representá-los. Neste caso ao menos os alunos
ficaram protegidos pela generosa sombra da arrojada arquitetura de um dos
projetistas amaldiçoados pelo regime de 1964 por não comungar das ideias
fascistas: um discípulo do genial arquiteto Oscar Niemayer (comunista alinhado
a Luiz Carlos Prestes) foi
autor, anos antes, do projeto da imponente ferroviária internacional sem ter
havido como interromper as obras, já bastante adiantadas.
O encontro Médici-Banzer poderia ter sido
realizado em Brasília ou La Paz, mas o então todo-poderoso senador cuiabano
Filinto Strubing Müller, prestigiado líder da Arena e do Governo no Senado e
que depois acumulou a presidência nacional da Arena, do Senado e do Congresso
Nacional, atendendo aos apelos dos arenistas mato-grossenses angustiados com a
popularidade crescente do imprevisível e polêmico deputado estadual
oposicionista (‘pero no mucho’)
Cecílio de Jesus Gaeta (do MDB, Movimento Democrático Brasileiro),
precisavam dar provas efetivas à população de que tinham prestígio no poder.
Afinal, o governador de Mato Grosso era um corumbaense, José Manuel Fontanillas
Fragelli, o primeiro a ser indicado por uma lista sêxtupla pela Arena, com o
aval de Müller, e o secretário de Justiça era Salomão Amaral, irmão do médico
Moysés Amaral, dois membros recém-integrados à Associação dos Diplomados da
Escola Superior de Guerra (ADESG).
Na verdade, a Arena precisava se exibir
protagonista de um novo Brasil e o anúncio em Corumbá da lenda do polo
siderúrgico, da zona franca ‘y otras cositas más’ (de interesses
inconfessáveis, relacionados às duas ditaduras) viriam beneficiar os arenistas
locais nas eleições de 1974, como o deputado Carlos Ronald Albaneze e o senador
Paulino Lopes da Costa, eis que em 1965, em pleno momento de demonstração de
poder, a UDN conseguira sepultar o Tratado de Roboré, ao denunciá-lo, isto é,
não homologá-lo na Câmara Federal. O encontro de Médici com Banzer, portanto,
servira de demonstração de prestígio perante a incrédula sociedade corumbaense,
cujas conquistas das décadas anteriores estavam se esvaindo. O evento valeu
como avant première do projeto do
Consórcio Corumbaense de Comunicação (CCC), apoiado pelos membros do governo
cuiabano e avalizado e financiado por Filinto Müller, no afã de ‘embaçar’ a
reeleição de Gaeta em 1974.
A consigna dos novos donos do poder era “onde a
Arena vai mal, um jogo do [Campeonato] Nacional; onde a Arena vai bem, um jogo
também” -- o jogo, contudo, poderia ser jogado pelo ‘time’ dos cartolas da
política federal, e a conjuntura de Corumbá se transformara em fator de unidade
às forças políticas que travavam uma guerra intestina pelo controle da
situação, isto é, da Arena. A população corumbaense, entretanto, era dona de
uma autoestima que afrontava os novos donos do poder, até no futebol. Não era
casual o fato de um time proletário como o ABCR Marítimos chegar a tetracampeão
do Centro-Oeste brasileiro, a despeito das elites locais terem transformado o
Guarapuava, um dos barcos do Serviço de Navegação da Bacia do Prata, em
navio-prisão dos perseguidos pelo novo regime, em abril de 1964.
Para Gaeta, com sua verve singular, havia “remela
na pupila dos olhos [Corumbá] do ex-governador Pedro Pedrossian” -- eleito em
1965 pelo opositor Partido Social Democrático (PSD, de Juscelino Kubitschek,
Tancredo Neves e Ulysses Guimarães, e em Mato Grosso, de Filinto Müller)
graças à votação consagradora do eleitorado corumbaense, de tradição
trabalhista --, que, sob pressão de ser cassado pela ‘heresia’ (sic) de ter derrotado Lúdio Martins
Coelho (da UDN, com todo o apoio do aparato militar) com os ‘votos subversivos’
dos ‘comunistas’, acabou aderindo à Arena, quando, no ano seguinte, apoiara o
candidato Breno Medeiros Guimarães, médico da Noroeste do Brasil (empresa da
qual Pedrossian tinha sido prestigiado engenheiro-chefe no governo deposto e
assessor do presidente da Rede Ferroviária Federal S/A), e que acabou eleito
graças a uma inusitada trama reduzida a desarranjo intestinal dos fiscais do
MDB, cujo candidato era o deputado estadual Rômulo do Amaral, franco favorito.
Esse fato foi confirmado anos depois pela justiça eleitoral, conforme pesquisa
do Professor Valmir Batista Corrêa, mas apenas vitória moral para o veterano
oposicionista, também eclipsado pela avalanche gaetista.
Depois do episódio da urna do Leque, Pedro
Pedrossian não mais repetiu em Corumbá a façanha eleitoral de 1965, embora em
1978, com o apoio ‘rebelde’ de Cecílio Gaeta (MDB, ‘pero no mucho’), tirara do
advogado Plínio Barbosa Martins a eleição de primeiro Senador pelo voto direto
do recém-criado Mato Grosso do Sul (ajudado, sobretudo, pelo instituto da
sublegenda, outro casuísmo do regime, ao lado do de senador biônico,
introduzido pelo ‘Pacote de Abril’, de 1977, quando o general Ernesto Geisel, ao
usar o AI-5, pôs em recesso o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal,
cassou os líderes do MDB e impôs uma série de emendas à carta constitucional da
Junta Militar de 1969, batizada de Emenda Constitucional Nº 1, para tornar a
Constituição de 1967 ainda mais autoritária).
Eis a gênese do Consórcio Corumbaense de
Comunicação (CCC), que, a despeito de surgir para atender interesses nada
ortodoxos dos arenistas mato-grossenses, se transformou em verdadeira escola de
Comunicação graças à generosidade do Jornalista Luiz Gonzaga Bezerra (trazido
pelo colega Daniel de Almeida Lopes, diretor-geral do CCC) e à plêiade de
Jornalistas e Comunicadores que generosamente ofereceu para Corumbá, Mato
Grosso e o Brasil, como Edson Moraes, Gino Rondon, Jonas de Lima, Juvenal Ávila
de Oliveira, Augusto Alexandrino dos Santos Malah, Ronaldo Bardawil, Luiz
Antônio Fidélis e Ademir Lobo.
Ahmad
Schabib Hany
Páginas da história de Jerusalém Sexta feira 23 de Fevereiro2024
A Rádio Cairo
Internacional do Egito
Apresenta “Páginas da
história de Jerusalém”
Produzida e apresentada
por Magido Abacar
Música-tema: Al Kuds (“Jerusalém”), Fayruz
Sexta-feira, 23 de fevereiro
de 2024.
https://youtu.be/SlBPzk1GWYI
Palestina sempre no coração p30 Sexta feira 23 de Fevereiro 2024
A Rádio Cairo
Internacional do Egito
Apresenta “Palestina
sempre no coração” programa 30 - Uma série especial dedicada ao povo palestino
irmão
O entrevistado desta
edição: Dr. Paulo Sérgio Pinheiro, cientista político brasileiro, ex-secretário
de Direitos Humanos do Governo Federal do Brasil
Produzida por Mohamed
Abd El Kamel e apresentada por Angélica Torres Lima
Sexta-feira, 23 de fevereiro
de 2024.
https://www.youtube.com/watch?v=sCxx9TXH7CU
PIOR QUE A PANDEMIA
Pior
que a pandemia
A humanidade que se cuide:
historiador alerta sobre migração da ‘teologia da prosperidade’ para a ‘teologia
da dominação’ pelo ‘sionismo cristão’. É o abandono do legado cristão e imersão
total à apologia de Davi como inspirador com base no Velho Testamento.
Eduardo Moreira, com sua brilhante equipe de
Jornalistas reconhecidamente experientes, trouxe à baila uma questão que nos
últimos anos parecia não ‘fechar’: neopentecostais brasileiros se tornaram ‘sionistas
cristãos’, e abandonaram o cristianismo. Como assim?
Na última semana de fevereiro, o Instituto
Conhecimento Liberta, em debate memorável, apresentou um discreto historiador,
João Cézar de Castro Rocha, que elucidou de forma lúcida e didática a transição
dos neopentecostais brasileiros da ‘teologia da prosperidade’ para a ‘teologia
da dominação’. Ocorreu nos últimos 15 anos, quando Jesus Cristo deixa de ser o Salvador
e de forma explícita Davi, como majestade judaica, se torna referência dessas
comunidades que nasceram como cristãs mas que, inexplicavelmente, migraram para
o judaísmo em sua forma mais incisiva, “com a espada, em vez do perdão”.
Lembro-me como hoje que abaixo da logomarca de
pelo menos duas dessas denominações, com todo o marketing mais elaborado,
traziam a declaração de serem ‘Igreja de Cristo’, e nas últimas décadas, sob
pretexto de estilizar sua logomarca, simplesmente aboliram a consigna. É
que simplesmente abandonaram o cristianismo para enveredar pelo assaz legado de
Davi, rei dos judeus, aquele que enviou o general Urias à frente de guerra e ao
sucumbir fez de sua viúva concubina sua.
Jesus Cristo tem insofismável legado reconciliador
e de concórdia, além da fé libertadora que enseja. Davi tem um legado de
agressividade, além da palavra, mas da espada. Como, dizendo-se cristãos, podem
adotar a Lei de Talião (do ‘olho por olho, dente por dente’), que Jesus
rejeitou ao preconizar o perdão, a clemência, reconciliação?
Lembram-se da ‘teologia da prosperidade’? O
neopentecostalismo se disseminou em todo o mundo prometendo prosperidade, desde
os anos 1960, tempo do Exército da Salvação e da Aliança para o Progresso, auge
da guerra fria. Essas mesmas denominações, que tiveram um boom nas três últimas décadas -- que coincide com o efeito das
políticas de reparação e distribuição de renda promovidas pelo governo federal
a partir da promulgação da Constituição Cidadã --, depois de conquistar seus
fiéis com promessas de prosperidade, agora se transformam em seitas de
dominação, de submissão, em que as comunidades religiosas passam a viver em um
mundo paralelo, ao gosto e sabor dos líderes.
Trata-se de meticuloso estratagema made in USA que desde a década de 1930,
portanto quase centenário, articula o sionismo e outras ideologias extremistas.
Se nos atentarmos para a ascensão do nazismo e as demais ideologias
ultradireitistas, como o fascismo, salazarismo e franquismo, ocorre no mesmo
período, valendo-se da tradição religiosa, fundamentada na cosmovisão ‘judaico-cristã’,
quando elas, pelo menos do ponto de vista judeu ortodoxo, são incompatíveis,
eis que os judeus veem como Jesus a negação de seus cânones ao contrapor a Lei
e a condição de ‘povo eleito’ e leva sua mensagem ao ‘gentio’, além do perdão
para a reconciliação.
Não cito as denominações para não melindrar seus
fiéis, até por ter muitos/as Amigos/as nessas comunidades religiosas, alguns
com prerrogativas de liderança. Para esclarecer o/a paciente leitor/a: não se
trata de melindre ou medo. Aliás, há pouco mais de dois anos, em debate,
desmascarei um dos gurus regionais, o que não me envaidece, pelo contrário, me
entristece. Foi nessa ocasião que me inteirei de que uma parte considerável
desses ‘gurus’ foi formada dentro de cadeias.
Sem preconceito, mas formação de sacerdotes,
independentemente da denominação ou da origem, precisa ser realizada em
seminários, pela gama de fundamentos teológicos, filosóficos e metodológicos a
ser estudada. A fragilidade na fundamentação teórica leva o sacerdote a
limitações na interpretação (nos termos religiosos, exegese e hermenêutica,
absorvidos pelas ciências humanas ao longo do tempo e que exigem muita
dedicação nos estudos), aliás, recorrente nestes tempos de fanatismo e
intolerância.
A fé é libertadora; jamais opressora, dominadora,
como temos visto nas últimas décadas, sem explicação plausível. É extremamente
arriscado para o convívio salutar, para a sobrevivência da própria humanidade. Humildes
fiéis a se transformar em tonton macouts,
‘teleguiados’, verdadeiros milicianos, praticamente terroristas: sentem-se ‘soldados’,
ou ‘cruzados’, para lembrar um termo medieval. Pessoas pacatas transformadas em
lobos, predadores, pela ‘causa’ -- qual causa, afinal, eles sequer sabem qual é
a tal ‘causa’?
A estratégia maniqueísta -- do ‘bem’ contra o ‘mal’
-- é perigosamente pegajosa, fácil de ser incutida, por ser simplista e de
fácil manipulação. Cooptar pessoas de boa-fé, gente inocente, destituída de
qualquer maldade, sempre em nome da ‘fé’ (na verdade doutrina distorcida da
cristã), da ‘tradição’ (confundem-se costumes com valores importados, de outras
culturas, quando não forjados em experiências tirânicas), da ‘família’ (o que
não se faz da abstração da unidade familiar, ao extremo de dividir famílias
inteiras com mensagens de ódio e segregação), da ‘pátria’ (abstrai-se o sentido
de pátria e nisso coloca-se ao lado da bandeira do Brasil a de Israel, como se
esta fosse uma pátria celestial, divina e acima de todas as outras).
O 8 de janeiro de 2023 serviu de alerta para as
instituições democráticas. Quando pessoas comuns se transformam em seres
irreconhecíveis até para suas próprias famílias. Depois de seiscentos anos, de
um lento processo de evolução social em que valores foram sendo erigidos à luz
da razão, vemo-nos às voltas de teocracias que atentam contra o legado
humanista e civilizatório, duramente construído a partir do Renascimento.
Isso não é casual. Há causas por trás. E, pior, há
quem esteja saindo no lucro com todas essas experiências: basta vermos
potências em franca decadência, que recorrem a todos os expedientes sórdidos
para assegurar a sobrevida de sua hegemonia. Na esteira, aqueles que ao longo
desse período estavam compartilhando as benesses do poder. Essa, aliás, é a
base desse aparentemente inexplicável fundamentalismo: recorrendo a uma fé cega
-- como dizia o poeta nos idos de 1970, “fé cega, faca amolada” --, há toda uma
estrutura de poder invisível em expansão e consolidação, e, quanto mais tempo
passar, maiores as fissuras do tecido social, já bastante esgarçado.
Uma sociedade, sobretudo do ponto de vista da
renda, profundamente injusta, em que a concentração de renda, do acesso aos
bens e serviços públicos, é restritiva, excludente. Não se trata do País
apenas. É na verdade a sociedade contemporânea, capitalista, que está em franco
processo falimentar há mais de 100 anos. Querem uma prova? A Revolução de 1930,
do Brasil, escancarou essa dicotomia: uma oligarquia com vida nababesca e uma
imensa maioria relegada à miséria, analfabetismo, exclusão social e fome. Mas
antes, bem antes, diversos setores nacionais já se rebelavam contra isso, ainda
no século XIX, antes da ‘abolição da escravatura’ (entre aspas, porque, em
pleno século XXI, a fiscalização do Ministério Público do Trabalho ainda flagra
centenas de pessoas vítimas de trabalho igual ao regime de escravidão).
Ou por que Getúlio Vargas, João Goulart e, de modo
mais ‘sutil’, Lula e Dilma são odiados pelos ‘novos ricos’? Muitos enriquecidos
mediante atividades ilícitas, criminosas, como as atividades de garimpo e
mineração ilegal; grilagem de terras indígenas e de reservas da biodiversidade;
‘madeireiros’, ‘pescadores’ etc; sonegadores de tributos, contrabandistas e
traficantes de todo tipo: entorpecentes, fauna e flora nativa, genes
representativos de nossos biomas, metais preciosos ou não metais cobiçados pela
indústria de alta tecnologia, códigos genéticos humanos e de outras espécies
etc.
É perceptível que a ‘fórmula mágica’ do
inominável, a título de exemplo, foi aglutinar, ao mesmo tempo, mercadores da fé
(líderes ‘fundamentalistas’ neopentecostais), líderes de milícias e outras
organizações criminosas (inclusive de dentro das cadeias e dos distantes
territórios indígenas invadidos para saquear madeira, ouro, cassiterita, pedras
preciosas, animais de espécies nativas, tráfico humano para retirada de órgãos,
trabalho escravo e prostituição etc), empresários e militares recalcados (‘saudosistas’
da ditadura, hoje bem evidentes), ‘pessoas de bem’ (leiam-se ‘donas-de-casa’ de
famílias oligárquicas, entre outras, indignadas com a Lei das Empregadas
Domésticas e diversos direitos sociais conquistados durante os governos de Lula
e Dilma); misóginos e homofóbicos (e as demais variantes, contra transexuais, lésbicas
etc), racistas de todos os matizes, e as ‘maria-vai-com-as-outras’, muito comuns pela idiossincrasia
brasileira (ficou patente que há mais homens que mulheres nessa categoria).
Desde que o Presidente Lula tomou posse, em
janeiro de 2023, temos visto crescer a olho nu o extremismo, sobretudo
neopentecostal. O historiador João Cézar, aliás, muito arguto e fundamentado, deu
o alerta oportuno e tempestivo. Cabe a religiosos das denominações cristãs
evangélicas e católica, bem como das comunidades espíritas, de matriz africano
e indígena, a iniciativa reconciliadora, em sintonia com o legado
verdadeiramente cristão, de pacificação e fraternidade, para o reencontro do
País com a sua fé diversa e libertadora à luz da solidariedade e da ética
universal, em concórdia e comunhão.
Tarefa que deve ser compartilhada por todas as
cidadãs e todos os cidadãos conscientes de seu papel de membros do Estado
Democrático de Direito que precisa preservar todas as conquistas duramente
efetivadas para as gerações que vierem depois de nós. É urgente e inadiável.
Cada qual fazendo, anonimamente, a sua parte, o Brasil estará dando, mais uma
vez, exemplo para a humanidade. Depende, apenas, de nossa iniciativa.
Ahmad
Schabib Hany
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024
O RETIRANTE QUE DESMASCAROU A BESTA
O
retirante que desmascarou a besta
Horrível, Netanyahu ficou irado
por ter sido desmascarado por um estadista com mesma origem dos palestinos,
retirante. A fala não teve qualquer erro, foi precisa, mas o efeito foi
devastador para a farsa sionista e pôs abaixo o manto de hipocrisia que cobre o
sionismo há longuíssimos 75 anos, segundo os judeus ortodoxos, que não se
cansam de denunciá-los o tempo todo.
Com sinceridade, cada dia que passa vemos a crosta
de hipocrisia que reveste a chamada ‘sociedade ocidental’, toda ela erigida na
farsa, que mal esconde cobiça, ganância, saque, supremacismo troglodita e,
pior, exploração escravista de milhões, senão bilhões, de seres humanos, sem
qualquer piedade ou compaixão.
Senão, quem promoveu, deliberada e criminosamente,
o fluxo migratório que virou crise humanitária em nossos dias? Basta nos
reportarmos às canalhices de George Bush, Bill Clinton, George W. Bush e Barak
Obama, entre 1990 e 2016, que desestabilizaram os países árabes na Península
Arábica (‘Golfo Pérsico’ na nomenclatura hegemônica ocidental) e o Oeste da
Ásia e Norte da África (‘Oriente Médio’ para os ocidentais) com a ‘primavera
árabe’ (nem primavera, nem árabe), para ‘levar a democracia’ (isto é, promover
o saque, a cobiça, ao depor e executar Saddam Hussein no Iraque e assassinar
por linchamento Muammar Gaddafi na Líbia, sob aplausos satânicos de Hillary
Clinton). Governo, soberania e infraestrutura destruídos, o que virou ‘casa da
mãe joana’ do ocidente, cobrou caro dos governos ocidentais, pois só esses dois
países empregavam toda a mão de obra qualificada de toda a África e boa parte
da Ásia árabe, não restando aos trabalhadores (e especialistas com formação
universitária) outra rota que a Europa.
Mas a ira da besta-fera Netanyahu, que não é
santa, pois comanda despoticamente o regime sionista no enclave ocidental no
coração do ‘Oriente Médio’ (como eles chamam) atingiu o cúmulo porque a ‘precisão
cirúrgica’ que o acertou em cheio não se originou de alguma bomba de última
geração de milhões de dólares. O torpedo preciso veio de um retirante que o
povo brasileiro levou 500 anos para produzi-lo, das entranhas de Dona Lindu, retirante
igual o Filho e toda a sua Prole, com letra maiúscula.
Nordestino e palestino têm em sua etimologia o
d-e-s-t-i-n-o, que para muitos parece sortilégio, superstição, mas para quem é
sobrevivente da exclusão, fome, exploração e, sobretudo, opressão, ou melhor,
para quem vive um dia de cada vez, essa palavra tem um poder transformador.
Netanyahu, como todo supremacista, não conhece nada disso, nem faz ideia. Mas
sentiu o efeito fulminante por entre as ventas, seus fétidos glúteos de besta-fera
que é, como todo troglodita que se acha e crê que pode tudo. Só que não.
Ao assistir à cobertura das emissoras peçonhentas
de televisão aberta, a sua total falta de originalidade -- tudo igualzinho,
roteirizado pelo script hollywoodiano
mal parido em Nova York -- dei asas à imaginação. Enquanto a voz do ‘correspondente’
chapa-branca made in USA reproduzia a
cansativa ladainha sionista, me vi conversando com uma querida Amiga-Irmã da
hoje distante juventude que, inocentemente, se brindou a tirar um fio solto do
casaco de lã andina de um colega e, de repente, o que era casaco subitamente se
resumiu a um fio apenas. Querida Amiga, soltamos longas gargalhadas por conta
dessa situação, naquele instante constrangedora, mas que virou uma anedota
gostosa perto já de celebrar seu cinquentenário.
O Presidente Lula, eloquente e corajoso -- e,
acima de tudo, sábio, diferentemente da maldita soberba sionista, que atrevida
e maledicentemente o mandou estudar História, com que direito?! --, puxou o fio
da meada e despiu o carniceiro de Gaza, cara de traseiro de anhuma (com todo o
respeito pelo pobre animal), deixando-o nu diante de todos, às vésperas de uma
audiência importante da Corte Penal Internacional de Haia em que a Assembleia
Geral da ONU havia decidido submeter a questão da ilegalidade das possessões de
1967. Então, para humilhar o líder árabe Gamal Abdel Nasser realizou um ataque
surpresa às três capitais dos países árabes que resistiam ao Estado sionista --
Cairo, Damasco e Bagdá --, por isso ‘Guerra dos Seis Dias’ [‘Terceiro Assalto’
para os árabes, inclusive nome do livro do Jornalista Mohamad Heikal, Amigo,
assessor e biógrafo de Nasser, que se eternizou quarenta anos depois do líder
que sacudiu os árabes].
Diferente dos serviçais do império, dos sionistas
e congêneres, Lula foi de uma elegância desconcertante, discretamente aplaudida
pelos covardes líderes ocidentais que, mesmo dando bilhões de dólares, não
conseguem deter os extremistas e fundamentalistas que tomaram de assalto o poder
sionista. Graças à atitude corajosa do Estadista brasileiro, há tênue panorama
de que, com o desgaste a que foi submetida essa besta fera, melhoram as
condições de negociar minimamente um cessar-fogo para abastecer os armazéns de
medicamentos e alimentos em todo o território de Gaza.
Dia após dia, vemos tal qual na tela gigante dos cineteatros
da década de 1960 como a soberba humana é torpe, estúpida. Tomado de ira, por
pura vaidade, baixa o nível e ataca sem qualquer respeito e civilidade um chefe
de Estado que, de modo respeitoso mas contundente, disse o que todos sabem,
inclusive ele, seus assessores e os próprios aliados em todo o mundo: soldados
altamente armados e preparados têm atacado mulheres e crianças. São elas as
terroristas? É injustificável, daí o ataque destemperado: feito o inominável no
cadafalso, sua defesa reiterada são ataques desequilibrados e mentiras
delirantes, nas quais nem eles creem.
Confesso que muita gente Amiga, inclusive na
Família, se deixou levar pela avalanche de pânico: precisei ser rude, para chamá-los
à razão, pois achavam que se tratasse de grande pisada de bola, quando na verdade
foi jogada de mestre. Na antevéspera de uma reunião preparatória para a Cúpula
do G20, no Rio de Janeiro, sob a presidência do Brasil, daqui a menos de sete
meses, será preciso não só definir algumas estratégias que tratarão da
governança global (isto é, a nova ordem internacional, pós-globalização
unilateralista), o do combate à fome e à insegurança alimentar que atinge mais
de dois terços da população mundial e do conjunto de medidas para frear as
mudanças climáticas. Essas questões já foram tratadas em duas reuniões
multilaterais, no Cairo e em Adis Abeba, junto à Liga dos Estados Árabes (LEA)
e à Organização da Unidade Africana (OUA).
Enquanto, internamente, as viúvas e órfãos do palerma
-- aquele que desgovernou o Brasil por longuíssimos e intermináveis quatro anos
-- surtam histericamente criando factoides políticos, sobretudo na imprensa
corporativa e Congresso Nacional, o Presidente Lula tem capitalizado apoio de
mais de 150 Estados-membro das Nações Unidas, que já se articulam para estruturar
o que virá a ser a nova geopolítica global. Se trouxas que passaram quatro anos
a prevaricar, conspurcar, conspirar e, pasmem, fornicar lascivamente, acham que
têm competência para atrapalhar o soerguimento do Brasil no concerto das nações
sob a liderança respeitada de Lula, enganam-se: que vão cuidar de lamber as
feridas, pois seu ‘messias’ também está em maus lençóis e está levando com ele
vários orangotangos bem felpudos. Como dizia nossos ancestrais, quem não tem
competência não se estabelece. E o capetão que os carregue.
Ahmad
Schabib Hany
segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024
NETANYAHU: DESATINO OU ESCÁRNIO?
Netanyahu: desatino ou escárnio?
Eis
que o carniceiro de Gaza vem diante das câmeras falar de ética, consciência e
dignidade humana. Com que moral? Olhe para as suas mãos, digo, patas, manchadas
do sangue da infância palestina! Em seu delírio de facínora, essas crianças
também são terroristas?
Confesso que jamais desejei estar vivo para ver
tamanha truculência, covardia e cinismo misturados! Que ‘civilização’, que
sociedade, que mundo mais injusto e pérfido!
Como um dos exércitos mais poderosos e bem
treinados (e a bem da verdade, corruptos!) pode se passar por ‘vítima’, quando
todos conhecem, reconhecem e temem seu poder. A maioria dos estadistas
ocidentais teme o establishment israelense pelas ameaças claras que faz
a quem os contradiz. Já vimos muitos políticos europeus, norte-americanos
(estadunidenses e canadenses, sobretudo; mas mexicanos também), asiáticos
(japoneses e sul-coreanos), africanos e da Oceania se borrarem de medo -- e que
medo! -- da pressão econômica, midiática e política exercida pelas organizações
sionistas.
Foi eloquente a falta de educação e de tato
diplomático com o Brasil e o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O indivíduo
que se diz ‘chanceler’ de Netanyahu, um extremista que não tem qualquer
iniciação na diplomacia, vomitou ofensas e humilhações diante do embaixador do
Brasil em Tel Aviv, em público, rasgando protocolos e convenções
internacionais.
O Presidente Lula, com a coragem que lhe é
peculiar, falou o que os covardes ‘líderes’ ocidentais, verdadeiros serviçais
dos sionistas e colonialistas de plantão, sabem, mas têm medo de dizer a
verdade. Borram-se todos, de olho nas próximas eleições e os riscos que podem
correr senão cumprirem com o script. Isso não é democracia, é plutocracia.
Maldição é o mínimo que me vem à consciência quando
vejo essas bestas em forma de gente a fazer teatrinho de gosto duvidoso para
verdadeiros monstrengos que dizem ser parte majoritária do eleitorado
israelense. Esse é o tal ‘povo eleito’? Não, jamais! Deus, o Criador, não seria
injusto, insensível e, muito menos, desumano.
E por falar em maldição, aparecem nas redes sociais
uns mercadores da fé formados em cadeias, nunca em seminários, para amaldiçoar
a Nação, o Brasil, por ter escolhido livre e secretamente o Presidente Lula, e
não o seu inominável, serviçal mercenário desses monstros travestidos de gente.
Covardes, todos ainda vão pagar pelas suas canalhices; se antes a impunidade
protegia criminosos, hoje não.
Esses indivíduos, cujos similares estão espalhados
em outros países, são os extremistas. É a extrema-direita que, como cadáver
insepulto, saiu da cova para assombrar sem dó nem piedade as novas gerações. Em
pacto com o capiroto, tergiversam as Sagradas Escrituras, de todas as
denominações, credos, confissões e seitas. Passam-se por sacerdotes, mas não
passam de mercadores da fé.
Passou da hora de fazer vista grossa a essas
figuras demoníacas. Para começar, nunca se dedicaram ao estudo da Teologia,
Filosofia, Exegese e Hermenêutica, sem as quais tentam interpretar ao bel
prazer as Sagradas Escrituras, independentemente de sua denominação. Os seus
fiéis, de boa-fé, acabam induzidos a verdadeiros delírios: a fé é libertadora,
não instrumento de dominação e aprisionamento.
Até dá impressão de que num passe de mágica
voltamos à Idade Média e ao obscurantismo assassino, aterrorizador. Quem não
aceitava o que era doutrinado era submetido a toda forma de tortura sem
qualquer comiseração, benevolência.
A tirania intolerante que se gestou ao longo da interminável
noite de horrores com que se travestiram os tempos medievais nos ensinou, com o
Humanismo advindo do Renascimento que a espécie humana é uma só e que não há
ninguém, absolutamente ninguém, superior a outrem.
Portanto, esse supremacismo europeu sionista que
querem impor na Palestina não vingará. O jugo colonial, que entregou a
Palestina entre fins do século XIX e a primeira metade do século XX, cessará,
leve o tempo que levar. Mas Netanyahu e seus assemelhados estarão condenados,
senão nos tribunais penais internacionais, pela História.
Curiosamente, o Renascimento foi possível graças à
preservação, pelos árabes, dos livros produzidos na Antiguidade Clássica. Ou de
onde foram resgatados os escritos cujas cópias eram queimadas como satânicas
pelos europeus intolerantes e obscurantistas? Por que os dois Estados
remanescentes da Península Ibérica desenvolvida ao longo da Idade Média pelos
‘mouros’ foram os vanguardistas nas grandes navegações e cuja herança até hoje
está imponente e explícita como testemunha de um tempo de esplendor cultural
efetivo e inquestionável?
Pois os descendentes desses mesmos árabes que na
Renascença promoveram a luz, o saber e a concórdia por meio do legado clássico
protegido das hordas medievais, por conta do igualmente europeu império turco,
acabaram vítimas da cobiça, deslealdade e truculência europeia, e deu no que
deu: os árabes, então protetores dos judeus, hoje vitimados pelos seguidores de
uma quase seita chamada sionismo, bem como de sua interface ocidental (o
sionismo cristão, patrocinado por seitas estadunidenses desde fins da década de
1930), sempre em aliança com as correntes de ultradireita.
Se o carniceiro de Gaza usa como ameaça o
‘antissemitismo’, é oportuno refrescar-lhe a memória, dele e de seus assessores
e correligionários pelo mundo: os árabes, portanto, os palestinos, também são
semitas, pela ascendência de Ismael, o filho de Abraão com Hagar que todas as Sagradas
Escrituras tidas como fonte do monoteísmo existente na atualidade narram com
todas as letras.
Antissemitismo, sim, é o que estão fazendo em Gaza,
na Cisjordânia e em Jerusalém. Sim, e também na Palestina toda, Líbano, Síria,
Iraque, Líbia, Iêmen, enfim, em toda a Arábia, hoje dividida em mais de 22
Estados, fruto do Acordo Sykes-Picot, o mesmo que permitiu que o barão
Rotschild e seu Movimento Sionista Internacional recebessem como moeda de troca
a Declaração Balfour.
Finalmente, serviçais sionistas e congêneres,
aprendam a ler -- ler em profundidade, com critério e muita atenção -- os velhos
livros de história deixados nas maiores bibliotecas do ocidente pelos
colonizadores europeus com o saque descarado feito em todos os países árabes
destruídos e roubados em seu patrimônio maior, o seu patrimônio cultural,
histórico e arqueológico.
Óbvio, o conhecimento é restrito a eles, em sua
obsessão de dominar o mundo. Coisa feia, mas como eles continuam a se achar
‘superiores’, eles nos veem como inferiores, gentios, por isso não veem crime
algum ao dizimar populações inteiras na Palestina, na África, em outros países
árabes (até porque Israel não tem oficialmente fronteiras demarcadas e, pior,
não tem constituição escrita: só é cidadão quem for admitido por eles, dentro
de seus critérios). Isso não dizem para todos, mas eles têm ciência disso.
Em outras palavras, a ira de Netanyahu decorre da
‘heresia’ cometida pelo Presidente Lula, que com coragem e galhardia, chamou de
genocídio o que ocorre em Gaza. Aliás, objeto de julgamento pelo Tribunal Penal
Internacional de Haia, que -- por coincidência? -- o governo sionista não
reconhece, e, portanto, não se submete a seus julgamentos.
Aliados dos nazistas e de todos os extremistas de
direita, os sionistas querem ver o Messias (deles) vir logo. Portanto, quanto
antes o Apocalipse vir, para eles melhor. Só que não. Para nós, o ‘resto’ da
humanidade interessa este mundo bem conservado, justo, solidário, com
distribuição de renda, feliz e, sobretudo, com muito conhecimento para que o
bem-estar decorrente do progresso chegue a todas e todos. E que viva a
diversidade, a pluralidade e a solidariedade! Amém e aleluia!
Ahmad Schabib Hany