CUBA,
BIDEN E AS NOVAS ‘PRIMAVERAS’
Em 2011, os Estados Unidos e
seus aliados do ocidente promoveram aquilo que se chamou de ‘Primavera Árabe’,
que não era ‘primavera’ e muito menos ‘árabe’. Dez anos depois, vemos os
nefastos resultados, positivos só para os abutres do mercado do petróleo, pois
a maior das ditaduras, a Arábia Saudita, não só se mantém como continua a maior
aliada dos governos ocidentais e das grandes corporações.
Nem tudo que reluz é ouro, sobretudo quando se
trata de Havana. É que colonizadores que se sucederam ao longo dos últimos
cinco séculos chamaram o bronze de ‘ouro de havana’, seguramente em tom
discricionário. Mesmo assim, os conglomerados midiáticos nestes dias vêm se
jactando com os tumultos protagonizados por grupos que muito lembram os
famigerados, a partir de 2013, do ‘ponha-se na rua’, ‘movimento Brasil
desestabilizado’, ‘patrioteiros desvairados’ e ‘corrupção auriverde’.
Quem pensou que Joe Biden assumiria a Casa Branca
para levar a justiça e a paz para o mundo se enganou redondamente. Ele só é
menos predador que Donald Trump, porque a base dos apoiadores do ex-presidente
estadunidense é perigosamente neofascista, medieval e negacionista. De resto, a
lógica da defesa do império americano é a mesma, e sempre haverá serviçais
prontos para vender a mãe pátria por trinta moedas.
Muito antes de terem-se tornado ‘superpotência’, os
Estados Unidos, já no século XIX, tentavam pôr as manguinhas de fora. A
doutrina Monroe, cuja ardilosa consigna era ‘A América para os Americanos’,
queria estabelecer uma ‘reserva de mercado’ colonial em todo o continente.
Eduardo Galeano, na década de 1970, resgatou o repto de Simón Bolívar, que
advertiu o presidente James Monroe: “A América para os americanos, não. A
América para a humanidade.” O Haiti, Cuba e outras ex-colônias
latino-americanas, recém-libertas com muita luta já experimentavam o jugo e o
saque ‘libertário’ dos ‘irmãos do norte’ e seus fantoches das repúblicas
bananeiras.
Os estudiosos da geopolítica sabem que, a rigor,
não há diferença substancial entre a política externa dos republicanos e dos
democratas. E a maior prova disso é o Estado de Israel, cujo governo, seja qual
for, não sofre qualquer sanção do mais ‘democrata’ dos inquilinos da Casa
Branca. E inversamente em relação a Cuba, Venezuela, Nicarágua, Argentina,
Bolívia, Palestina, Síria, Irã, China, Rússia e Coreia do Norte.
As diferenças são quanto à forma de agir, para o
chamado público externo. Sobretudo, depois do fim da ‘guerra fria’, em 1990. Antes,
por conta da lógica bipolar, os governos dos Estados Unidos precisavam calibrar
bem as suas sabotagens, até para não provocar o outro lado. Aliás, a crise dos
mísseis de Cuba, em outubro de 1962, é emblemática - o
recuo de John Kennedy ante o apoio de Nikita Krushev aos jovens rebeldes da
Ilha (Fidel, Ernesto e Camilo) foi um componente determinante para o atentado
de Dallas, semanas depois, contra a vida do único presidente católico da
história estadunidense, nunca elucidado.
Desde que o Povo Cubano (com maiúsculas) destituiu
Fulgencio Batista, fantoche dos Estados Unidos que fazia da ilha um grande
bordel para saciar a sevícia dos ricaços do continente, os sucessivos inquilinos
da Casa Branca impuseram um bloqueio econômico que já dura mais de 60 anos. Com
Jimmy Carter e Obama houve uma discreta redução das sanções, mas antes Trump e
agora Biden têm que cumprir promessas de campanha e, indiferentes às questões
humanitárias, tensionam os ânimos para atingir seus funestos objetivos, isto é,
voltar a fazer da ilha o bordel dos abutres estadunidenses.
Há dez anos tivemos a famigerada ‘Primavera Árabe’,
avalanche de revoltas convocadas pelas redes sociais sem liderança, organização
ou agenda -
que nada tinha de primavera e muito menos de árabe, como depois foi constatado pelo
vazamento das transcrições de mensagens entre agentes dos órgãos de segurança
dos Estados Unidos protagonizado por Edward Snowden -, e
cujos resultados foram a destruição e/ou desestabilização de potências
econômicas autônomas árabes, entre elas a Líbia e a Síria, sob pretexto de ‘levar
democracia’, com o único afã de controlar a produção de petróleo e a instalação
de gasodutos pelas corporações estadunidenses e europeias.
Nessa época, Barack Obama tinha como
vice-presidente ninguém menos que Joe Biden, o mesmo que andou chafurdando em
diversas democracias latino-americanas, a começar por Honduras, Paraguai e
Brasil, como Snowden revelou para o mundo. Na Líbia e Síria as mãos de Biden
estão manchadas com o sangue inocente de centenas de milhares de civis mortos
ou que tiveram suas vidas amputadas em todas as acepções, inclusive a literal.
E, pior, a herança maldita é ainda maior, pois a tragédia humanitária que a
África vive até hoje é decorrência da desestruturação estatal, econômica e
política da Líbia, que por décadas absorveu a mão de obra continental com sua
economia estável e mercado de trabalho bem remunerado e protegido por uma
seguridade de país socialista, tal qual o Egito de Gamal Abdel Nasser e o
Iraque de Saddam Hussein.
Com Biden, logo recomeçaram as escaramuças na
Nicarágua mediante a campanha de desprestígio do novo mandato do sandinista
Daniel Ortega, e na Síria de Bashar Al-Assad, que provou para o mundo que a tal
‘oposição’ tinha armas mais letais que as forças regulares sírias e que o tal ‘Estado
Islâmico’ não passava de mercenários recrutados no ocidente, com o adestramento
de agentes de Israel e dos Estados Unidos.
No funesto tabuleiro de xadrez - em
que milhares (senão milhões) de vidas humanas são rifadas -,
estratégias, tecnologias e projetos de armas bélicas são experimentadas, cujo
patrocínio geralmente cabe às ‘obedientes’ ditaduras totalitárias da Arábia
Saudita, Qatar, Omã e Emirados Árabes Unidos, as novas colônias do Tio Sam. Por
quê? Mais que o petróleo, os Estados Unidos precisam se manter na hegemonia a
qualquer custo, mesmo sabendo que em menos de dez anos a China já terá se
consagrado a maior potência mundial, para desespero de Trump e sua matilha de
serviçais, patrioteiros que mamam suas pátrias com belíssimos salários enquanto
submetem as suas populações à miséria, à fome e à mortandade pandêmica. Isso
também a mídia não mostra...
A turnê do diretor da CIA a diversos países da
América do Sul, revelada pela mídia não empresarial (aliás, sequer comentada
pelas grandes redes televisivas tupiniquins), dias atrás, é a evidência de que
os sabujos de plantão conhecem a extensão do estrago mas, serviçais como são,
nada farão para assegurar a soberania, a paz e a integração regional. Por quê?
Porque seus amos e senhores do império assim o desejam. Mas a tecnologia é o
maior inimigo dos ‘tigrões-tchutchucas’, toda vez que abafam o naco em suas pregas
pestilentas, o saldo lhes é negativo.
Sobretudo no ibope... Que assim seja!
Ahmad
Schabib Hany
2 comentários:
Uma importante recapitulação da história política norteamericana recente que a grande midia procura apagar ou desvirtuar.
Sem dúvida, Professora! Obrigado pelo generoso comentário, que leva para uma reflexão oportuna e inadiável.
Grande abraço!
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