quinta-feira, 29 de julho de 2021

A DAMA DE SÃO PEDRO

A DAMA DE SÃO PEDRO

Aos 79 anos, Dona Ivone Torres de Moraes se eterniza depois de perder seu Companheiro e grandes Amigos, como Seu Agripino Magalhães Soares, Padre Pascoal Forin e Dom Segismundo Martínez. Festeira de São Pedro desde a juventude, a ausência física da incansável realizadora está sendo sentida pela comunidade de pescadores e da Cervejaria.

No ano em que o banho de São João de Corumbá e Ladário foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Dona Ivone Torres de Moraes, que veio de Cuiabá para ser a emblemática festeira de São Pedro, se eternizou, aos 79 anos, no dia 23, em Campo Grande, onde visitava as duas Filhas que lá residem.

Dona Ivone era devota de São Pedro desde a juventude, quando, já casada, passou a peregrinar com a bandeira do santo pelas casas de doadores de Corumbá e Ladário para realizar a festa do Padroeiro dos pescadores. Sua fé e devoção fez com que superasse as dificuldades próprias de uma pessoa de origem humilde e desconhecida pela população até ganhar o reconhecimento da coletividade pantaneira.

Em fins dos anos 1980, ganhou o apoio da Professora Terezinha Baruki, então vereadora, com quem realizou diversas atividades em favor de sua comunidade e de quem se tornou Amiga inseparável. Mesmo depois de ter deixado a atividade parlamentar, a Professora Terezinha e Dona Ivone estiveram juntas em várias frentes pioneiras de empoderamento feminino. Era comum ver Dona Ivone em visita à Professora Terezinha em sua sala de direção de escola.

Personalidade forte e bastante determinada, Dona Ivone Torres esteve presente nos mais diferentes eventos realizados durante as últimas quatro décadas. Em 2013, foi uma das personalidades homenageadas pelo Festival América do Sul. Mas a honraria não lhe subiu à cabeça: ao contrário, tornou-a ainda mais humilde e leal com a sua comunidade, constituída de pessoas com muitas carências e invisibilidade.

Seu Alfredo Torres de Moraes, um dos Filhos da Matriarca, revelou algum tempo atrás que para Dona Ivone não havia diferença de credo religioso ou laços de família: bastava pertencer à sua comunidade para merecer o mesmo tratamento que dispensava ao Padroeiro de sua devoção. Não por acaso, o café da manhã era servido em sua modesta e acolhedora casa todo dia 29 de junho, dia do Santo.

Além de sua Família, ela construiu uma Irmandade que saberá transpor sua ausência física, porque a fé com que fortaleceu os laços de uma das mais antigas comunidades da bicentenária Corumbá, sem dúvida, será o sagrado alicerce do povo que tem o mesmo humilde e sagrado ofício de Pedro, escolhido para erigir, dois milênios atrás, a Igreja de Jesus, como ‘pescador de gente’.

A comunidade de pescadores e todo o Bairro Cervejaria estão sentindo a perda de um de seus ilustres baluartes depois da partida de Seu Agripino Magalhães Soares - centenário cururueiro e construtor de viola de cocho -, Padre Pasquale Forin - titular da Paróquia de São João Bosco durante décadas -, Dom Segismundo Álvarez Martínez - Bispo Emérito da Diocese de Corumbá e inúmeras vezes capelão de São Pedro, a capela da comunidade - e Seu Moraes, o Companheiro de Dona Ivone e Pai de seus Filhos.

Nas poucas vezes que, em companhia de Seu Alfredo, tive a honra de ser recebido no lar de Dona Ivone pude constatar o grande coração que palpitava nesse espírito de devota convicta e fervorosa, e que não resistiu às vicissitudes destes nada generosos tempos sombrios. Seu legado de luz, paz e concórdia renascerá em outros corações...

Até sempre, Dona Ivone, e obrigado por ter existido e nos ensinado solidariedade, amor e humildade na cândida forma de mulher do povo, poderosa pela força interior e a fé inarredável de pessoa sábia e guerreira de paz e empatia!

Ahmad Schabib Hany

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