A
DAMA DE SÃO PEDRO
Aos 79 anos, Dona Ivone Torres
de Moraes se eterniza depois de perder seu Companheiro e grandes Amigos, como
Seu Agripino Magalhães Soares, Padre Pascoal Forin e Dom Segismundo Martínez.
Festeira de São Pedro desde a juventude, a ausência física da incansável
realizadora está sendo sentida pela comunidade de pescadores e da Cervejaria.
No ano em que o banho de São João de Corumbá e
Ladário foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN), Dona Ivone Torres de Moraes, que veio de Cuiabá para ser a emblemática
festeira de São Pedro, se eternizou, aos 79 anos, no dia 23, em Campo Grande,
onde visitava as duas Filhas que lá residem.
Dona Ivone era devota de São Pedro desde a
juventude, quando, já casada, passou a peregrinar com a bandeira do santo pelas
casas de doadores de Corumbá e Ladário para realizar a festa do Padroeiro dos
pescadores. Sua fé e devoção fez com que superasse as dificuldades próprias de
uma pessoa de origem humilde e desconhecida pela população até ganhar o
reconhecimento da coletividade pantaneira.
Em fins dos anos 1980, ganhou o apoio da
Professora Terezinha Baruki, então vereadora, com quem realizou diversas
atividades em favor de sua comunidade e de quem se tornou Amiga inseparável.
Mesmo depois de ter deixado a atividade parlamentar, a Professora Terezinha e
Dona Ivone estiveram juntas em várias frentes pioneiras de empoderamento
feminino. Era comum ver Dona Ivone em visita à Professora Terezinha em sua sala
de direção de escola.
Personalidade forte e bastante determinada, Dona
Ivone Torres esteve presente nos mais diferentes eventos realizados durante as
últimas quatro décadas. Em 2013, foi uma das personalidades homenageadas pelo
Festival América do Sul. Mas a honraria não lhe subiu à cabeça: ao contrário,
tornou-a ainda mais humilde e leal com a sua comunidade, constituída de pessoas
com muitas carências e invisibilidade.
Seu Alfredo Torres de Moraes, um dos Filhos da
Matriarca, revelou algum tempo atrás que para Dona Ivone não havia diferença de
credo religioso ou laços de família: bastava pertencer à sua comunidade para
merecer o mesmo tratamento que dispensava ao Padroeiro de sua devoção. Não por
acaso, o café da manhã era servido em sua modesta e acolhedora casa todo dia 29
de junho, dia do Santo.
Além de sua Família, ela construiu uma Irmandade
que saberá transpor sua ausência física, porque a fé com que fortaleceu os
laços de uma das mais antigas comunidades da bicentenária Corumbá, sem dúvida,
será o sagrado alicerce do povo que tem o mesmo humilde e sagrado ofício de
Pedro, escolhido para erigir, dois milênios atrás, a Igreja de Jesus, como ‘pescador
de gente’.
A comunidade de pescadores e todo o Bairro
Cervejaria estão sentindo a perda de um de seus ilustres baluartes depois da partida
de Seu Agripino Magalhães Soares -
centenário cururueiro e construtor de viola de cocho -, Padre
Pasquale Forin -
titular da Paróquia de São João Bosco durante décadas -, Dom
Segismundo Álvarez Martínez -
Bispo Emérito da Diocese de Corumbá e inúmeras vezes capelão de São Pedro, a
capela da comunidade -
e Seu Moraes, o Companheiro de Dona Ivone e Pai de seus Filhos.
Nas poucas vezes que, em companhia de Seu Alfredo,
tive a honra de ser recebido no lar de Dona Ivone pude constatar o grande
coração que palpitava nesse espírito de devota convicta e fervorosa, e que não
resistiu às vicissitudes destes nada generosos tempos sombrios. Seu legado de
luz, paz e concórdia renascerá em outros corações...
Até sempre, Dona Ivone, e obrigado por ter
existido e nos ensinado solidariedade, amor e humildade na cândida forma de
mulher do povo, poderosa pela força interior e a fé inarredável de pessoa sábia
e guerreira de paz e empatia!
Ahmad Schabib Hany
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