sábado, 31 de julho de 2021
sexta-feira, 30 de julho de 2021
O Brasil sob as cinzas da Cinemateca e os laços neonazistas
O
Brasil sob as cinzas da Cinemateca e os laços neonazistas
No final de tarde desta
quinta-feira, incêndio no galpão da Cinemateca Brasileira transforma em cinzas
documentos, imagens equipamentos da extinta Embrafilme. Essa tragédia que
acabou com um acervo de cem anos do cinema brasileiro ocorreu dias após o ex-capitão
ter sido flagrado em relações espúrias com neonazistas ‘de pedigree’ pelo
interior e exterior do País.
Uma semana depois do apagão da Plataforma Lattes,
responsável pelo cadastro oficial de pesquisas e pesquisadores brasileiros, e o
risco de perdermos a soberania científica nacional, cá nos vemos às voltas com
um incêndio com características no mínimo curiosas: três salas do galpão da
Cinemateca Brasileira, no final da tarde desta quinta-feira, dia 29, foram
reduzidas a cinzas com centenas de milhares de documentos, filmes e
equipamentos da extinta Empresa Brasileira de Cinema (Embrafilme), um acervo único
com mais de 100 anos da história do cinema no País.
Sou da geração que aprendeu muito, que ‘descobriu
o Brasil’, com o cineclubismo -
e aí faço um agradecimento sincero aos Amigos que me deram essa oportunidade
assim que ingressei na FUCMT, em Campo Grande, hoje quase todos docentes
universitários bem realizados, por seus próprios méritos: Amarílio Ferreira
Junior, Paulo Roberto Cimó Queiroz, Mário César Ferreira, José Carlos Ziliani,
Marisa Bittar, Tito Carlos Machado de Oliveira, Paulo Marcos Esselin, Mário
Sérgio Lorenzetto, João José de Souza Leite, Paulo Eduardo Cabral, Yara Brum
Penteado e Luiz Salvador de Sá -,
daí que Embrafilme foi, sim, uma usina de talentos que, com arte, graça,
talento e irreverência, abriu os horizontes das amplas maiorias cerceadas de
liberdade pela censura imposta pelo regime de 1964, sobretudo a juventude
desassossegada, ávida de conhecimento e de novos horizontes.
O incêndio que destruiu todo o acervo em
audiovisual e documentos da Embrafilme não parece ter sido casual. Ou melhor,
não foi casual. Não se trata de acusação leviana, aliás, recorrente entre os
atuais ocupantes dos principais cargos do País. O proceder que caracteriza a
gestão em curso, em que o aparente abandono é marca registrada, só pode levar a
tragédias como essas. Os fatos falam por si: há menos de duas semanas o
Ministério Público havia advertido o governo federal sobre o risco de incêndio
por conta do abandono, a despeito do compromisso do gestor federal de assumir
em 45 dias seu dever de cuidar do patrimônio cinematográfico nacional, vencido
no início deste mês.
A subalternização da Cinemateca Brasileira, cujo
contrato de gestão com a Fundação Roquete Pinto (do Ministério da Educação)
venceu e não foi renovado desde 2019, está devidamente constatada não apenas
com o corte de verbas previstas nas rubricas do orçamento público como pelo
abandono institucional explícito: a precarização das instalações desde 2016 vem
produzindo uma sucessão de perdas irreparáveis causadas por incêndios e
enchentes que poderiam ter sido evitados.
Além disso, o indisfarçável desapreço pela
cultura, pelas artes, pelo conhecimento, que eles chamam de mecanismo de ‘aparelhamento’,
quando na verdade são oportunidades únicas de libertação, emancipação, de
milhões de pessoas dos grilhões da submissão, da ignorância, da subserviência,
da opressão, do mandonismo e da opressão. Inclusive dessa sectária medieval,
travestida de fundamentalismo neopentecostal, em que tudo que não é como seu
dogma recebe o tratamento obscurantista de herege...
O escárnio com que este (des)governo trata a coisa
pública é de causar indignação. Seu misto de negacionismo e fundamentalismo
contumaz está destruindo, em efeito cascata, as bases da identidade nacional, do
patrimônio cultural, da riqueza da cativante diversidade e pluralidade que faz
do Brasil um país cosmopolita por natureza. Creditar à fatalidade o abandono
deliberado de tudo aquilo que é sagrado é caçoar da inteligência coletiva de
uma nação de luto.
A necropolítica está assumindo contornos de
crueldade requintada. Até quando teremos que fingir que crimes de lesa-pátria
como esse não ‘acidentais’? O nazifascismo está se assenhorando do porvir de
uma das maiores potências mundiais e, como se nada de fora da ordem houvesse, a
‘opinião pública’ permanece plácida, inerte...
Mais de meio milhão de vidas humanas perdidas, nas
cidades, campos, florestas, reservas indígenas, quilombos e favelas, com suas
respectivas histórias individuais e coletivas, suas inquietudes, sonhos e
realizações. Incomensuráveis perdas de vidas em todos os reinos de seres vivos,
em sua maioria ainda não identificados pela ciência, nos biomas atingidos pelas
queimadas impunes (Amazônia, Pantanal, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e
Chaco). Desmonte criminoso dos sistemas que garantem a soberania nacional nas
áreas tecnocientífica e cultural (INPE, INPA, IPHAN, CNPq etc). Entrega de
empresas estratégicas brasileiras (estatais e privadas) aos concorrentes
transnacionais, verdadeiros abutres, financiadores do golpe de 2016, entre
tantas outras perdas.
Enquanto outros povos do Planeta se encantam com o
esplendor cultural, étnico, ambiental, mineral, hídrico, econômico e
territorial, as sucessivas tragédias -
irreparáveis, enfatize-se, porque não há como recuperá-las -, por
ação ou omissão, empobrecem um porvir modelar, paradigmático. Uma nação que já
havia se encontrado e conquistado seu lugar no concerto das nações, vocacionada
para liderar uma nova era, de multilateralismo e pacifismo. Mas que o
servilismo de parcela de sua elite econômica e de corporações de abutres e
quadrilhas de fora de lei (milicianos, jagunços, parasitas, sanguessugas, grileiros,
garimpeiros, madeireiros, sonegadores, vendedores de sentenças judiciais,
mercadores de fé e vidas humanas e serviçais do império maldito) formaram o
consórcio do genocídio e, com destreza e despudor, aniquilam o gigante
adormecido.
Mais um gentil oferecimento da alcateia de facínoras
que tomou de assalto os destinos da nação. A maioria desses recalcados, na
acepção de Sigmund Freud, deveria ter sido interditada, colocada em camisa de
força, para não causar mais estragos irreparáveis ao Brasil. Na verdade, para
os nazistas, eles estão acima de todos e seu projeto de nação está acima de
tudo, o resto é farsa, como todas as juras que fazem quando são pegos de calças
curtas, ou melhor, são pegos com seus fétidos glúteos expostos diante de seu
crime inconfessável...
Agora, sim, é hora de parar essa sangria. Cada dia
protelado, maiores serão os prejuízos que as futuras gerações terão. A razão
clama por justiça. A história, por resgate. O Povo (com letra maiúscula), a
verdadeira razão de ser do Estado de Direito, por soberania.
Ahmad Schabib Hany
quinta-feira, 29 de julho de 2021
A DAMA DE SÃO PEDRO
A
DAMA DE SÃO PEDRO
Aos 79 anos, Dona Ivone Torres
de Moraes se eterniza depois de perder seu Companheiro e grandes Amigos, como
Seu Agripino Magalhães Soares, Padre Pascoal Forin e Dom Segismundo Martínez.
Festeira de São Pedro desde a juventude, a ausência física da incansável
realizadora está sendo sentida pela comunidade de pescadores e da Cervejaria.
No ano em que o banho de São João de Corumbá e
Ladário foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(IPHAN), Dona Ivone Torres de Moraes, que veio de Cuiabá para ser a emblemática
festeira de São Pedro, se eternizou, aos 79 anos, no dia 23, em Campo Grande,
onde visitava as duas Filhas que lá residem.
Dona Ivone era devota de São Pedro desde a
juventude, quando, já casada, passou a peregrinar com a bandeira do santo pelas
casas de doadores de Corumbá e Ladário para realizar a festa do Padroeiro dos
pescadores. Sua fé e devoção fez com que superasse as dificuldades próprias de
uma pessoa de origem humilde e desconhecida pela população até ganhar o
reconhecimento da coletividade pantaneira.
Em fins dos anos 1980, ganhou o apoio da
Professora Terezinha Baruki, então vereadora, com quem realizou diversas
atividades em favor de sua comunidade e de quem se tornou Amiga inseparável.
Mesmo depois de ter deixado a atividade parlamentar, a Professora Terezinha e
Dona Ivone estiveram juntas em várias frentes pioneiras de empoderamento
feminino. Era comum ver Dona Ivone em visita à Professora Terezinha em sua sala
de direção de escola.
Personalidade forte e bastante determinada, Dona
Ivone Torres esteve presente nos mais diferentes eventos realizados durante as
últimas quatro décadas. Em 2013, foi uma das personalidades homenageadas pelo
Festival América do Sul. Mas a honraria não lhe subiu à cabeça: ao contrário,
tornou-a ainda mais humilde e leal com a sua comunidade, constituída de pessoas
com muitas carências e invisibilidade.
Seu Alfredo Torres de Moraes, um dos Filhos da
Matriarca, revelou algum tempo atrás que para Dona Ivone não havia diferença de
credo religioso ou laços de família: bastava pertencer à sua comunidade para
merecer o mesmo tratamento que dispensava ao Padroeiro de sua devoção. Não por
acaso, o café da manhã era servido em sua modesta e acolhedora casa todo dia 29
de junho, dia do Santo.
Além de sua Família, ela construiu uma Irmandade
que saberá transpor sua ausência física, porque a fé com que fortaleceu os
laços de uma das mais antigas comunidades da bicentenária Corumbá, sem dúvida,
será o sagrado alicerce do povo que tem o mesmo humilde e sagrado ofício de
Pedro, escolhido para erigir, dois milênios atrás, a Igreja de Jesus, como ‘pescador
de gente’.
A comunidade de pescadores e todo o Bairro
Cervejaria estão sentindo a perda de um de seus ilustres baluartes depois da partida
de Seu Agripino Magalhães Soares -
centenário cururueiro e construtor de viola de cocho -, Padre
Pasquale Forin -
titular da Paróquia de São João Bosco durante décadas -, Dom
Segismundo Álvarez Martínez -
Bispo Emérito da Diocese de Corumbá e inúmeras vezes capelão de São Pedro, a
capela da comunidade -
e Seu Moraes, o Companheiro de Dona Ivone e Pai de seus Filhos.
Nas poucas vezes que, em companhia de Seu Alfredo,
tive a honra de ser recebido no lar de Dona Ivone pude constatar o grande
coração que palpitava nesse espírito de devota convicta e fervorosa, e que não
resistiu às vicissitudes destes nada generosos tempos sombrios. Seu legado de
luz, paz e concórdia renascerá em outros corações...
Até sempre, Dona Ivone, e obrigado por ter
existido e nos ensinado solidariedade, amor e humildade na cândida forma de
mulher do povo, poderosa pela força interior e a fé inarredável de pessoa sábia
e guerreira de paz e empatia!
Ahmad Schabib Hany
quarta-feira, 28 de julho de 2021
RÉQUIEM PARA A SOBERANIA CIENTÍFICA
RÉQUIEM
PARA A SOBERANIA CIENTÍFICA
Reportagem da revista Fórum revela que o servidor do CNPq queimou no
mesmo dia em que o sinistro da (não)Ciência, Tecnologia e Inovações dava
salamaleque a uma líder neonazista alemã. É o que negacionistas podem chamar de
coincidência ‘providencial’. Para eles, é claro, porque para o País é uma
tragédia.
Fazer ciência em meio a tantas adversidades
decorrentes do caos promovido pelos déspotas nada esclarecidos que tomaram de
assalto os destinos da nação já é uma proeza. Imagine-se agora, privados da
mais elementar ferramenta de trabalho sediada no Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), que é o cadastro nacional de
iniciativas científicas.
Na última quinta-feira, dia 22, o servidor
(computador responsável pelo banco de dados das pesquisas desenvolvidas ou em
desenvolvimento e o cadastro geral de pesquisadores e professores universitários,
conhecido como Plataforma Lattes) do CNPq queimou e, por não dispor de back up,
corre-se o risco de informações estratégicas de anos de produção científica
terem sido perdidas.
Em síntese, o violento corte de verbas para o
desenvolvimento da ciência desde 2016, quando o governo Temer iniciou o
desmonte do Estado com a emenda constitucional do teto dos investimentos
públicos, é o principal fator pela precarização das políticas públicas de
consolidação da soberania tecnocientífica nacional. É claro que a gestão
controversa do ex-capitão, que não tem usado todos os recursos constantes das
rubricas do já minguado orçamento, é o responsável por essa tragédia: é inconcebível
que não haja back up para salvaguardar o banco de dados da produção científica.
Gostem os fundamentalistas ou não, a soberania
científica nacional foi consolidada nos anos 2003-2016, não por acaso nos
governos de Lula e Dilma. A despeito do discurso patrioteiro do atual governo, absolutamente
nada o sinistro Marcos Pontes fez em favor do necessário desenvolvimento da
ciência, da tecnologia e das inovações brasileiras. Ele, que se beneficiou do
avanço tecnocientífico dos anos Lula quando virou celebridade por ter sido o
primeiro astronauta brasileiro, acabou refém do complexo de subalternidade do
núcleo duro do governo do ex-capitão.
Aliás, enquanto o servidor da Plataforma Lattes,
do CNPq, sofria as avarias decorrentes dessa intercorrência, como revelou a
reportagem da revista Fórum, o
titular da pasta recebia a líder neonazista da Alemanha, deputada Beatrix Amelie.
Apesar do ranço nazista da parlamentar alemã, seu partido, AfD, tem um posicionamento
oposto à subalternidade doentia dos atuais inquilinos do Planalto, o que não
justifica o fanatismo excludente dos neonazistas alemães, cujos ancestrais
protagonizaram crimes de lesa-humanidade julgados pelo Tribunal de Nuremberg, e
hoje negados pelos seguidores.
A propósito de soberania científica, o patrono da Plataforma
Lattes, o renomado físico e matemático brasileiro César Lattes, foi um
cientista que dedicou seus melhores anos ao desenvolvimento da ciência em todo
o mundo. Falecido em 2005, o legado de Lattes está presente em todos os
quadrantes do Planeta, tendo sido injustiçado pela Academia de Ciências da
Noruega ao premiar com o Nobel de Física o chefe da equipe, Cecil Power (e não
o descobridor, ele) de uma subpartícula atômica que revolucionou os conceitos
básicos da Física, em 1946. Na década de 1960, construiu um observatório
astronômico em La Paz, Bolívia, que leva seu nome, com o generoso objetivo de
aprimorar as redes de observação do Universo.
Pena que os atuais gestores da Educação e da
Ciência, Tecnologia e Inovações na esfera federal não tenham noção da
importância da consolidação da soberania tecnocientífica em território
brasileiro. E a maior prova disso é a perda absurda do cadastro geral de
pesquisadores e sua valiosa produção científica. Mais um crime cometido contra
a soberania nacional, no âmbito da ciência e tecnologia, que não tem justificativa.
Ahmad Schabib Hany
sábado, 17 de julho de 2021
EDMIR FIGUEIREDO DE MORAES (IN MEMORIAM)
EDMIR
FIGUEIREDO DE MORAES (IN MEMORIAM)
Abelha, Neno, Sandino. Mas seu
maior orgulho era ser o ‘Irmão do Edson Moraes’. Fez história e empoderou
expressivos segmentos sociais durante sua existência de grandes conquistas
coletivas. Por conta do desapego ao poder e ao dinheiro, enfrentou dificuldades
próprias de quem é motivado pelas grandes causas. Neste dia 15 de julho
encerrou sua intensa jornada, sempre na luta...
Edmir Leocádio Figueiredo de Moraes. O eterno e
terno Abelha das grandes causas. Eu o conheci em Campo Grande, quando ele ainda
era secundarista e liderava a oposição, ao lado de outros jovens idealistas, a
um capacho da ditadura cujo nome não vem ao caso. Foi-me apresentado pelo
querido e saudoso Senhor Mário Corrêa Albernaz, que, surpreso por não
conhecê-lo, completara: “É o Irmão do Edson Moraes.”
Embora a Amizade (dessas com letra maiúscula) com
o Edson, já naquela época, fosse longeva, do tempo em que ele foi a grande
revelação do Jornalismo combativo em Corumbá, nos idos de 1975, tendo como
mestre o querido e saudoso Jornalista Luiz Gonzaga Bezerra, na emblemática Folha da Tarde de Daniel de Almeida
Lopes, só fui conhecer o incansável (e muitas vezes desconcertante) Sandino em
Campo Grande no início da década de 1980.
De fala bem articulada e envolvente, seus olhos
claros e vívidos e um sorriso espontâneo (tipicamente cuiabano-pantaneiro),
Sandino ou Edmir, Neno ou Abelha, era contraponto do comportamento padrão da
vanguarda estudantil da época. Discrição e comedimento eram predicados
imprescindíveis na luta pela democratização. Mas a espontaneidade do querido
‘Irmão do Edson’, que muito o lisonjeava, fazia o mais sisudo combatente pela
democracia embarcar em sua cativante narrativa de verdadeiro contador de
causos. Um pantaneiro universal e internacionalista.
A oposição à direção fantoche da entidade
representativa dos secundaristas da capital era constituída por um coletivo bem
diverso e politizado. Entre eles, jovens com traços de adolescentes, como Márcio
Bittar, Valdir Neves, João Pedro Wessner e Carlos Mena, hoje quase todos com
uma carreira política sólida, embora distantes da utopia socialista acalentada.
O forte laço que os mantinha unidos era a agenda pela democratização do País:
Assembleia Nacional Constituinte, eleições diretas em todos os níveis, ensino
público gratuito do fundamental ao superior, liberdade de organização e
manifestação do pensamento (fim da proscrição e censura), revogação do AI-5 e
legislação correlata (Lei de Segurança Nacional e decretos 228 e 477) e volta
dos militares aos quartéis.
Durante algum tempo eu chamei o querido e agora
saudoso Abelha de Sandino. Coube ao próprio Amigo Mário Albernaz me advertir
que seu nome não era esse e que em Família o apelido era Neno. Na primeira
oportunidade, fui tirar dúvida: por que ‘Sandino’? Deu-me uma verdadeira aula
sobre o líder nicaraguense Augusto César Sandino e sua luta contra a opressão ianque.
A Frente Sandinista de Libertação Nacional comemorava, então, o primeiro ano da
derrota do ditador sanguinário e dócil serviçal ianque Anastasio Somoza, que, asilado
no Paraguai de Alfredo Stroessner, foi assassinado por aliados como queima de
arquivo, com disparos de bazuca em Assunção, após ter prestado relevantes
serviços aos seus amos e senhores imperialistas.
Além de sua atuação no movimento secundarista, Abelha
apoiou a formação da JPMDB, ou o setor jovem do PMDB, tendo percorrido o estado
todo na campanha pela eleição do Doutor Wilson Barbosa Martins, em 1982. Mas
foi na mobilização pelas Diretas-Já, em 1983-84, que percebeu que sua atuação
era estratégica em Corumbá, o que o trouxe de volta para o coração do Pantanal,
onde atuou nas mais importantes causas de seu tempo (sobretudo, no processo de
efetivação do Estado Democrático de Direito, consignado na Constituição Federal
de 1988).
Muito espontâneo e sincero, militou em vários
partidos até se identificar com o Partido dos Trabalhadores, em 1989, quando da
primeira campanha presidencial pós-1964, com o apoio a Lula contra Collor: participou
da organização do velho PCB, depois do PCdoB e de modo efêmero da ‘Hora do
Povo’, um grupo instável que muitas vezes fazia alianças com setores da direita,
como durante o golpe contra Dilma. Sem constrangimento, Abelha explicava de
modo convincente sua peregrinação até se encontrar no PT, como fruto de
amadurecimento pessoal e do próprio Partido dos Trabalhadores, que evoluiu com
desenvoltura até se consolidar como o maior partido brasileiro.
As mobilizações pela democratização e a
necessidade de resgatar sua própria condição de afrodescendente lhe despertaram
o gosto pela História, cursada no então CEUC (hoje Campus do Pantanal da UFMS).
Foi um dos pioneiros na organização dos grupos de estudo e de luta pela
igualdade dos negros, como à época se dizia. Trouxe para Corumbá ícones da luta
contra o racismo estrutural e, por mérito, foi o primeiro titular da
Coordenadoria de Políticas de Igualdade Racial de Corumbá, quando atuou ao lado
de Companheiros de primeira hora, como os queridos Arturo Castedo Ardaya e
Cristiane Sant’Anna de Oliveira (subsecretário de Cidadania e coordenadora de
Políticas para a Mulher), na gestão do então petista (e primeiro prefeito do PT
em Corumbá), Ruiter Cunha de Oliveira.
Solidário e combativo, Abelha esteve ao lado dos
povos originários (sobretudo, Guató, Guarani, Terena e Ayoreo), palestino, boliviano,
paraguaio, cubano, venezuelano, sírio e haitiano ao longo das últimas décadas.
Foi um ardoroso defensor dos Direitos Humanos, em todas as suas dimensões. Incansável
combatente, apaixonado pelas grandes causas, Abelha viveu com intensidade e
humildade, generosamente se entregando às grandes causas coletivas. Era avesso
aos cargos e às benesses do poder, ainda que brigasse pelo reconhecimento das
bases na composição das estruturas de governo, como garantia das conquistas a
serem mantidas.
Coincidência ou não, nosso Sandino se eternizou
quatro dias antes do dia em que 42 anos atrás sandinistas empreendiam uma
acachapante derrota à ‘dinastia’ Somoza e seus 43 anos de ditadura familiar na
Nicarágua. Mais que discreto militante de causas maiores, foi, é e será sempre
um expoente de luta por uma sociedade melhor, um mundo mais justo e solidário. Até
sempre, Companheiro Abelha, e obrigado pelo generoso legado de solidariedade e
humildade em toda a sua existência de entusiasmo coerente!
Ahmad
Schabib Hany
quinta-feira, 15 de julho de 2021
CUBA, DO TAMANHO DE SEU ALTIVO POVO
CUBA,
DO TAMANHO DE SEU ALTIVO POVO
Embora o território cubano,
insular, seja pouco maior que o do estado de Pernambuco ou do Paraná, ou duas
vezes o do município de Corumbá, o zelo por sua soberania, isto é, a altivez de
seu Povo é de uma dimensão ímpar. Tanto que desde 1959 vem resistindo a
centenas de tentativas de intervenção da maior potência mundial e a um bloqueio
econômico genocida, que deveria ter sido condenado pela Assembleia Geral das
Nações Unidas por crime de lesa-humanidade.
Nossa solidariedade sincera, irrestrita e
incondicional ao digno e altivo Povo Cubano, cujo tamanho é da dimensão de sua dignidade.
A despeito da força descomunal com que os Estados Unidos - a
maior potência militar e econômica do planeta -
a ameaçam, Cuba resiste, sobrevive e dá inequívoca prova de galhardia e altivez
a toda a humanidade.
A ‘pax americana’ resultante da melancólica dissolução
da União Soviética e do triunfo do império na ‘guerra fria’, em 1990, é prova
viva do escárnio e cinismo com que a Casa Branca (na verdade, os ‘falcões’ do
Pentágono) impõe(m) sua hegemonia supremacista sobre toda a Terra. E do
Universo, tamanha é sua cobiça pelo poder.
O mundo bipolar dos quase 50 anos do pós-guerra de
1945, em que duas superpotências vencedoras do maior conflito bélico da
história da humanidade disputavam a hegemonia do planeta, deu lugar a uma ordem
unipolar perversa, em que democracia, justiça e liberdade não passam de vão
pretexto para oprimir e saquear povos cujas identidades e valores diferem diametralmente
da cosmovisão predadora celta, a base da ‘american way of life’ (‘modo de vida
americano’), habilmente vendido por Hollywood desde 1930.
Não é que os descendentes de piratas, corsários e
aventureiros puritanos emigrados da Europa nos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX e
XX convenceram seus contemporâneos de que eles, reles súditos do Tio Sam, são
os donos da ‘democracia’, ‘justiça’ e ‘liberdade’, as três senhoras
violentadas, esculpidas a ponta de sabre e garrucha calibre 44 sem pudor ou
sensibilidade?
Os mesmos supremacistas que escravizaram os
afrodescendentes até o início da segunda metade do século XX e exterminaram centenas
de povos originários usando o Crucifixo e a Bíblia como passaporte para a
impunidade têm hoje o cinismo, a cara de pau, de dar o veredito de quem é ‘civilizado’,
‘democrata’ e ‘libertador’ -
isto é, quem são discípulos de seus paradigmas ‘civilizatórios’- para
merecer suas ‘bênçãos’ batismais, ou melhor, o salvoconduto para a desforra...
Enquanto protegem malfeitores que desgovernam e
tiranizam nações como Haiti, Egito, Colômbia, Equador, Peru, Honduras,
Guatemala, Arábia Saudita, Qatar, Kuwait, Omã, Emirados Árabes Unidos, Bahrein,
Líbia, Argélia, Marrocos, Iraque e Jordânia (entre outras), fazem atos de
sabotagem contra Cuba, Palestina (ou melhor, o que ainda resta de Gaza e
Cisjordânia), Síria, Líbano, Irã, China, Rússia, Coreia do Norte, Vietnã, Nicarágua,
Venezuela, Bolívia e Argentina.
Tal qual o Vietnã, a nação que empreendeu uma
acachapante derrota militar e política à superpotência ianque em plena ‘guerra
fria’, Cuba é a ‘cereja do bolo’, ou melhor, da cínica cobiça imperial (ou
imperialista). Depois de John Kennedy, todo presidente dos Estados Unidos se
sente no direito (na verdade, dever) de acrescentar uma maldade aos valorosos
habitantes da Ilha rebelde, que desde os tempos de José Martí sabem dar um
basta retumbante aos gendarmes do império.
Embora tenhamos grandes -
brilhantes, dignos, cultos e inteligentes -
Jornalistas (com letra maiúscula), a chamada grande mídia (que de grande só tem
o bolso, a ganância dos patrões) é uma vergonha: nem no tempo da ditadura de
1964 se fazia ‘cobertura’ tão desavergonhada como a da última intentona golpista
do governo Biden a Cuba, dias atrás (replicando a já desbotada ‘primavera árabe’,
digo, o ‘ocaso árabe’, em que verdadeiras quadrilhas sucederam líderes
nacionalistas que asseguravam a soberania dos países destruídos pelos agentes
do império e corporações abutres com as garras manchadas do sangue inocente das
populações vitimadas).
Nem a ‘grande imprensa’ nem a Casa Branca tem moral
para se arvorar defensora dos ‘valores democráticos’. O cineasta estadunidense
Oliver Stonne (o diretor do célebre ‘Nascido a 4 de Julho’), há poucos dias,
denunciou durante a abertura do Festival de Cinema de Cannes que a prisão do
Presidente Lula foi uma trama feita nos Estados Unidos com o claro intuito de
frear o fortalecimento das esquerdas na América Latina. Ora, um império que
reluta perder a hegemonia e que, para evitar ‘descer a ladeira’ da história,
recorre a todo ardil a ponto de negar a própria trajetória na defesa, outrora,
de valores republicanos e liberais, dispensa justificativas.
Para que não pairem dúvidas, é bom esclarecer que,
ao contrário de marcas registradas como aquele famoso refrigerante gaseificado
ou a fotocopiadora, ‘democracia’ não é produto criado pela indústria
estadunidense, que, aliás, hoje perde para a pujante China e isso deixa o ‘Tio
Sam’ com seus fétidos glúteos expostos. Ficou provado, nas eleições mais
recentes dos Estados Unidos, que nem suas eleições são diretas e o seu sistema
eleitoral é tão caduco quanto o seu conceito de ‘democracia’ (sinônimo, isso
sim, de plutocracia, isto é, poder dos ricaços, dos milionários, como quando,
um século atrás, no tempo da ‘política café com leite’, o poder dos coronéis
era o que decidia no Brasil).
O status quo estadunidense compreende que regime
democrático pra valer deve se submeter aos interesses do ‘deus’ mercado e sua ‘mão
invisível’, que o Estado tem que ser ‘mínimo’ e deixar que todos os serviços
públicos sejam regulados pela bolsa de valores (como São Paulo, governado há
mais de duas décadas pelos tucanos, fez, razão do apagão energético no governo
de FHC e da crise hídrica do mefistofélico Temer). Dá vergonha dizer, mas
Amigos com uma trajetória política democrática de outrora e hoje defensores do
golpe de 2016 não se ruborizam ao fazer apologia do ‘social liberalismo’ do
sociólogo arrependido que traiu sua própria biografia.
Por isso, com a mesma convicção e embasamento
teórico que nos forjaram na luta pela democratização, hoje condenamos as
intervenções disfarçadas de ‘primaveras’ vindas do ‘grande irmão do norte’,
quer seja no Brasil, na América Latina, África, Ásia, Europa e Oceania.
Parodiando o Governador Leonel Brizola com respeito à Globo, nem por uma mera
coincidência nossa posição pode ser idêntica à da Casa Branca. Se Biden quer
ser solidário ao Povo Cubano, que reveja as sanções econômicas contra Cuba,
sobretudo o bloqueio econômico genocida, responsável pela tragédia humanitária que
vem sufocando inocentes de todas as idades que habitam a Ilha Rebelde.
Dói-me muito saber que os ‘socialistas
arrependidos’ que vivem a justificar a traição de Mikhail Gorbatchev diante do
golpe de Boris Yeltsin, um degenerado corrupto vendido ao ocidente, e que
consolidou a ‘pax americana’ imposta a partir dos países árabes com a ‘tempestade
no deserto’ e a entrega total da Palestina aos sionistas, continuem a fazer
vistas grossas ante as incessantes agressões do império decadente, como se isso
fosse uma mera ficção.
Meu saudoso, querido e sábio Pai, a propósito,
dizia sentir dúvidas dos bons propósitos de Gorbatchev, ele que era um
estudioso da geopolítica global desde os antes da Guerra de 1939. Como viveu
até julho de 1996, pôde confirmar sua preocupação. Ao contrário dos ‘socialistas
arrependidos’, cuja grande maioria hoje não só renega a importância do
socialismo como justifica o golpe de Aecinho de 2016, o seu apoio a Temer (com
a participação em seu governo), a farsa da republiqueta da ‘leva jeito’ e a
conversa de que ‘somos 70 por cento’, quando as pesquisas escancaram que a soma
de todos os seus possíveis candidatos não chega a 15 por cento. Será que eles
aderiram ao negacionismo?
Ahmad
Schabib Hany
segunda-feira, 12 de julho de 2021
CUBA, BIDEN E AS NOVAS 'PRIMAVERAS'
CUBA,
BIDEN E AS NOVAS ‘PRIMAVERAS’
Em 2011, os Estados Unidos e
seus aliados do ocidente promoveram aquilo que se chamou de ‘Primavera Árabe’,
que não era ‘primavera’ e muito menos ‘árabe’. Dez anos depois, vemos os
nefastos resultados, positivos só para os abutres do mercado do petróleo, pois
a maior das ditaduras, a Arábia Saudita, não só se mantém como continua a maior
aliada dos governos ocidentais e das grandes corporações.
Nem tudo que reluz é ouro, sobretudo quando se
trata de Havana. É que colonizadores que se sucederam ao longo dos últimos
cinco séculos chamaram o bronze de ‘ouro de havana’, seguramente em tom
discricionário. Mesmo assim, os conglomerados midiáticos nestes dias vêm se
jactando com os tumultos protagonizados por grupos que muito lembram os
famigerados, a partir de 2013, do ‘ponha-se na rua’, ‘movimento Brasil
desestabilizado’, ‘patrioteiros desvairados’ e ‘corrupção auriverde’.
Quem pensou que Joe Biden assumiria a Casa Branca
para levar a justiça e a paz para o mundo se enganou redondamente. Ele só é
menos predador que Donald Trump, porque a base dos apoiadores do ex-presidente
estadunidense é perigosamente neofascista, medieval e negacionista. De resto, a
lógica da defesa do império americano é a mesma, e sempre haverá serviçais
prontos para vender a mãe pátria por trinta moedas.
Muito antes de terem-se tornado ‘superpotência’, os
Estados Unidos, já no século XIX, tentavam pôr as manguinhas de fora. A
doutrina Monroe, cuja ardilosa consigna era ‘A América para os Americanos’,
queria estabelecer uma ‘reserva de mercado’ colonial em todo o continente.
Eduardo Galeano, na década de 1970, resgatou o repto de Simón Bolívar, que
advertiu o presidente James Monroe: “A América para os americanos, não. A
América para a humanidade.” O Haiti, Cuba e outras ex-colônias
latino-americanas, recém-libertas com muita luta já experimentavam o jugo e o
saque ‘libertário’ dos ‘irmãos do norte’ e seus fantoches das repúblicas
bananeiras.
Os estudiosos da geopolítica sabem que, a rigor,
não há diferença substancial entre a política externa dos republicanos e dos
democratas. E a maior prova disso é o Estado de Israel, cujo governo, seja qual
for, não sofre qualquer sanção do mais ‘democrata’ dos inquilinos da Casa
Branca. E inversamente em relação a Cuba, Venezuela, Nicarágua, Argentina,
Bolívia, Palestina, Síria, Irã, China, Rússia e Coreia do Norte.
As diferenças são quanto à forma de agir, para o
chamado público externo. Sobretudo, depois do fim da ‘guerra fria’, em 1990. Antes,
por conta da lógica bipolar, os governos dos Estados Unidos precisavam calibrar
bem as suas sabotagens, até para não provocar o outro lado. Aliás, a crise dos
mísseis de Cuba, em outubro de 1962, é emblemática - o
recuo de John Kennedy ante o apoio de Nikita Krushev aos jovens rebeldes da
Ilha (Fidel, Ernesto e Camilo) foi um componente determinante para o atentado
de Dallas, semanas depois, contra a vida do único presidente católico da
história estadunidense, nunca elucidado.
Desde que o Povo Cubano (com maiúsculas) destituiu
Fulgencio Batista, fantoche dos Estados Unidos que fazia da ilha um grande
bordel para saciar a sevícia dos ricaços do continente, os sucessivos inquilinos
da Casa Branca impuseram um bloqueio econômico que já dura mais de 60 anos. Com
Jimmy Carter e Obama houve uma discreta redução das sanções, mas antes Trump e
agora Biden têm que cumprir promessas de campanha e, indiferentes às questões
humanitárias, tensionam os ânimos para atingir seus funestos objetivos, isto é,
voltar a fazer da ilha o bordel dos abutres estadunidenses.
Há dez anos tivemos a famigerada ‘Primavera Árabe’,
avalanche de revoltas convocadas pelas redes sociais sem liderança, organização
ou agenda -
que nada tinha de primavera e muito menos de árabe, como depois foi constatado pelo
vazamento das transcrições de mensagens entre agentes dos órgãos de segurança
dos Estados Unidos protagonizado por Edward Snowden -, e
cujos resultados foram a destruição e/ou desestabilização de potências
econômicas autônomas árabes, entre elas a Líbia e a Síria, sob pretexto de ‘levar
democracia’, com o único afã de controlar a produção de petróleo e a instalação
de gasodutos pelas corporações estadunidenses e europeias.
Nessa época, Barack Obama tinha como
vice-presidente ninguém menos que Joe Biden, o mesmo que andou chafurdando em
diversas democracias latino-americanas, a começar por Honduras, Paraguai e
Brasil, como Snowden revelou para o mundo. Na Líbia e Síria as mãos de Biden
estão manchadas com o sangue inocente de centenas de milhares de civis mortos
ou que tiveram suas vidas amputadas em todas as acepções, inclusive a literal.
E, pior, a herança maldita é ainda maior, pois a tragédia humanitária que a
África vive até hoje é decorrência da desestruturação estatal, econômica e
política da Líbia, que por décadas absorveu a mão de obra continental com sua
economia estável e mercado de trabalho bem remunerado e protegido por uma
seguridade de país socialista, tal qual o Egito de Gamal Abdel Nasser e o
Iraque de Saddam Hussein.
Com Biden, logo recomeçaram as escaramuças na
Nicarágua mediante a campanha de desprestígio do novo mandato do sandinista
Daniel Ortega, e na Síria de Bashar Al-Assad, que provou para o mundo que a tal
‘oposição’ tinha armas mais letais que as forças regulares sírias e que o tal ‘Estado
Islâmico’ não passava de mercenários recrutados no ocidente, com o adestramento
de agentes de Israel e dos Estados Unidos.
No funesto tabuleiro de xadrez - em
que milhares (senão milhões) de vidas humanas são rifadas -,
estratégias, tecnologias e projetos de armas bélicas são experimentadas, cujo
patrocínio geralmente cabe às ‘obedientes’ ditaduras totalitárias da Arábia
Saudita, Qatar, Omã e Emirados Árabes Unidos, as novas colônias do Tio Sam. Por
quê? Mais que o petróleo, os Estados Unidos precisam se manter na hegemonia a
qualquer custo, mesmo sabendo que em menos de dez anos a China já terá se
consagrado a maior potência mundial, para desespero de Trump e sua matilha de
serviçais, patrioteiros que mamam suas pátrias com belíssimos salários enquanto
submetem as suas populações à miséria, à fome e à mortandade pandêmica. Isso
também a mídia não mostra...
A turnê do diretor da CIA a diversos países da
América do Sul, revelada pela mídia não empresarial (aliás, sequer comentada
pelas grandes redes televisivas tupiniquins), dias atrás, é a evidência de que
os sabujos de plantão conhecem a extensão do estrago mas, serviçais como são,
nada farão para assegurar a soberania, a paz e a integração regional. Por quê?
Porque seus amos e senhores do império assim o desejam. Mas a tecnologia é o
maior inimigo dos ‘tigrões-tchutchucas’, toda vez que abafam o naco em suas pregas
pestilentas, o saldo lhes é negativo.
Sobretudo no ibope... Que assim seja!
Ahmad
Schabib Hany
domingo, 11 de julho de 2021
GOL IMPRESSO
GOL
IMPRESSO
Depois de ameaçar, mais uma
vez, o Estado Democrático de Direito se sua vontade de o voto impresso não ser
adotado em 2022, Jaz Messias Bolsonaro recebe a melhor demonstração de
dignidade do Povo, que, diante da derrota do selecionado nacional de futebol
para o da Argentina só seria aceito pelo PR se o gol fosse impresso.
A história do Brasil conta que, assim que chegou a
Família Real ao Rio de Janeiro, em fuga da Metrópole pelas ameaças de Napoleão
Bonaparte, em 1808, as casas marcadas com PR (de Príncipe Regente) e cujos
moradores precisavam desocupar imediatamente a irreverência carioca se
encarregou de apelidar o PR de “Ponha-se na Rua”.
Pois 213 anos depois, a galhofa da própria
tragédia faz do Povo (maiúscula!) recorrer à irreverência para satirizar a total
falta de bom senso da metralhada que tomou de assalto os destinos da nação...
Assim como o voto, só o gol impresso é que será
válido, segundo o deboche popular, para Jaz Messias Bolsonaro, cujo conceito
vem derretendo como as calotas polares ante as mudanças climáticas.
Não se trata de climatério nem de cemitério (embora seus amiguinhos milicianos sejam uns capetas nisso e em ‘otras cositas más’, basta ver o compasso de espera em que se transformaram os inquéritos do Ministério Público do Rio de Janeiro para elucidar o atentado contra Marielle Franco e as rachadinhas do 02).
É à velha e eficaz irreverência popular que nos
referimos. E contra a sisuda e cínica indiferença palaciana diante da tragédia
humana que tomou conta do Brasil desde que o destemperado e irascível mandarim diz
comandar o Pais durante este pandemônio.
Não sabemos o que pensam eles, os assessores. Até
porque, para esses senhores, a Copa América iria atenuar os impactos de eventuais
denúncias da CPI da Covid e as partidas da Conmebol mudariam os rumos da
avalanche em que se transformou a avaliação do ‘mito’ e de seus aliados. Mas a
realidade tem sido bem diferente...
Claramente desesperado, Jaz Bolsonaro tem evitado
frequentar a irrequieta circulação de pessoas nos grandes centros urbanos.
Prefere a horda de motoqueiros com placas camufladas, como que quisesse mandar
um recado para a imprensa e membros de outro Poder da República, o Judiciário.
Uma clara tentativa de dizer que está preparando o golpe com base na
experiência ocorrida na Bolívia em 19 de novembro de 2019, quando uma horda de
meliantes tupiniquins orquestrou o terrorismo sobre motos ante o indefeso e
inofensivo povo originário andino.
Rei Midas às avessas, tudo que Jaz Bolsonaro toca
vira m... (que não é de Messias). Disse apoiar Mauricio Macri na Argentina, e
ele sofreu acachapante derrota para Alberto Fernández e Cristina Fernández de Kirchner;
na Bolívia, depois das maldades que ajudou fazer contra os povos originários (a
soberba não o deixa ver que todo nefasto que atenta contra os índios desde os
tempos da colonização sofre os horrores da maldição milenar), conseguiu alguns
milhares de votos de ‘votos-laranja’ da fronteira para a golpista Áñez e seus
aliados, que perderam peremptoriamente para Luis Arce Catacora; no Chile não
foi diferente, com a lavada que a esquerda deu nas últimas eleições na terra de
Augusto Pinochet, um de seus ídolos e ex-patrão de Paulo Guedes; Estados Unidos
e Israel estão na mão dos opositores de dois fundamentalistas malévolos, Donald
Trump e Benjamin Netanyahu, que perderam a rapadura e hoje não mais podem ‘abençoar’
as maldades do Nero tupiniquim.
Os que conhecem a vida pregressa desse mefistofélico
ser, que de tanto mentir nem ele consegue acreditar em suas ‘verdades’, sabem
que ele virou refém de si mesmo. E não adianta tentar vender a alma ao diabo,
que nem ele em xepa de feira levaria consigo um estrupício daqueles: ele já se
enfastiou de imitadores de Hitler, Mussolini, Salazar, Franco, Batista,
Stroessner, Médici, Banzer, Pinochet, Videla, Bermúdez, Somoza, García Meza,
Áñez etc.
Nem aqui, nem ali, Jaz Messias Bolsonaro...
Ahmad Schabib Hany
sábado, 10 de julho de 2021
Todo empezó en Abril: Capítulo 1: Cesare Civita y La Editorial Abril
TRIBUTO PARA MARIA IMACULADA GOMES
TRIBUTO
PARA MARIA IMACULADA GOMES
Um ano e quatro meses depois de
sua eternização, perplexo com essa revelação, faço este tributo para a Amiga
que a Vida me presenteou e que me deu importantes lições para viver.
Estávamos em fevereiro de 1981, e logo que
embarquei na Ferroviária Internacional de Corumbá, depois de ter passado as
primeiras férias sem a minha Avó Guadalupe Ascimani de Hany (que havia se eternizado
em dezembro de 1980, durante o estado de sítio na Bolívia sob o general
narcotraficante Luis García Meza), deparei-me com duas até então colegas
comensais no pensionato da querida e saudosa Dona Raimunda, situado na Rua
Aquidauana, 66, centro de Campo Grande.
Maria Imaculada Gomes e Alice Gonçalves eram
vendedoras de uma das lojas das Casas Pernambucanas da capital, e também haviam
embarcado no emblemático trem noturno da Noroeste depois de passar o feriado de
carnaval na casa da Família de Imaculada, como sempre a chamamos. No início da
viagem fomos ao vagão-restaurante para passar o tempo até conseguir conciliar o
sono, no embalo e na percussão das rodas do trem em contato com os trilhos.
No pensionato de Dona Raimunda -
generosa senhora do Pará a mim apresentada pelo querido Donizete Cardoso,
colega na pensão de Dona Horiza e seu Hotel dos Fazendeiros -,
sempre que possível, trocávamos meia-dúzia de palavras enquanto aguardávamos a
vez de almoçar. Por conta disso, nos conhecíamos de nome, mas nunca havia
calhado de nos perguntarmos de onde éramos oriundos. Mato Grosso do Sul então
contava com apenas dois anos de existência institucional, e Campo Grande era
destino de migrantes de todo o Brasil, daí porque perguntar sobre a procedência
do interlocutor não era de bom tom.
Eu costumava comer ‘aquele’ bife a cavalo servido
no trem, mas Imaculada e Alice não quiseram pedir, o que me fez demover daquela
decisão. Alice propôs um brinde ao nosso inusitado encontro: pela primeira vez
ela vinha para o Pantanal e tanto Imaculada como eu jamais imaginávamos sermos
de Corumbá, ainda que ambos oriundos de outras localidades (ela era de Minas
Gerais e chegara ainda criança ao coração do Pantanal e da América do Sul). A
conversa regada a refrigerante fez efeito, e logo nos baixou o sono...
Voltamos para nosso vagão. As duas Amigas
encontraram suas poltronas intactas. Eu não: havia uma moça literalmente
apagada na minha. Envergonhado, não quis acordá-la e me encostei próximo do
espaço dos lavabos, ao final do vagão. Imaculada, observadora, veio ao meu
encontro para me convidar para ficar no recosto de sua poltrona, mas recusei agradecido.
Naquela época, mais que timidez, era fundamental reiterar o respeito pelas
Amigas, mas seu gesto me marcou profundamente, como depois lhe revelei.
De volta à rotina, em Campo Grande, voltamos a nos
encontrar no pensionato de Dona Raimunda. Na hora do almoço, como de hábito. Acompanhada
da Amiga inseparável, Alice, uma catarinense que adotara Campo Grande na
infância. Para não constranger Imaculada, pois eu passei a morar no pensionato,
costumávamos conversar no corredor externo até serem liberadas as vagas nas
longas mesas com os comensais, mais de cento e cinquenta só na hora do almoço.
Além de Alice, outros colegas da mesma loja vinham almoçar no pensionato e não
podíamos dar asas a maledicências de eventuais desafetos.
Em poucas semanas nos tornamos grandes Amigos, a
ponto de passarmos a trocar muitas confidências: tínhamos em comum a realização
pessoal e profissional como jovens ávidos de novos horizontes. Além dos
estudos, nossas conversas tratavam de desabafos, em especial no ambiente de
trabalho, onde chefes ou encarregados assediavam as colegas mais jovens, em sua
maioria solteiras. Tanto que acordamos, para esse efeito, que ela me
apresentaria como ‘namorado’.
Em Campo Grande ela morava com sua Irmã, já casada
e Mãe de um casal de Filhos. No Conjunto dos Ferroviários, Bairro São
Francisco. Por sinal, bem perto do Patronato São Francisco, onde estudava sua
Sobrinha mais velha e um ano antes eu havia dado aulas. A Irmã Maria Lucion,
querida e generosa Diretora do educandário, logo que nos viu, veio a nosso
encontro, e não escondeu a felicidade de ver a Família de Imaculada em minha
companhia. Parece que a sábia franciscana interpretava os olhares de jovens
como nós. Não demorou muito, nossa Amizade se intensificou.
Quando a apresentei ao querido e saudoso Amigo
Senhor Mário Albernaz, ele a convidou para participar, na medida do possível,
das atividades que realizávamos. O problema é que viajávamos muito para o
interior do estado por causa do projeto que desenvolvíamos então, que me levou
a trancar matrícula na FUCMT. Ela estava concluindo o ensino médio (segundo
grau, na época), na Escola Raul Sans de Matos (entre Vila Carvalho e São Bento).
Acompanhei-a algumas vezes às aulas, que coincidiam com as minhas, do lado
oposto da cidade. Ela também me acompanhou em algumas viagens curtas, como a Bandeirantes
e Jaraguari, tendo encantado todas as pessoas Amigas que a conheceram. Sua
discrição e meiguice chamavam a atenção das pessoas. Seu Juarez, de
Bandeirantes, que nos recebeu em sua casa, disse estar encantado com ela, por
sua maneira de ser.
No início de 1982, acredito que em abril, me
surpreendeu com sua decisão de retornar a Corumbá em caráter definitivo. Disse-me
de sua desistência de seu projeto de Campo Grande, agradecendo por nossa
Amizade (dessas com letra maiúscula), que disse levar para toda a Vida. Sempre
como Amigos, voltamos a nos ver, em breves encontros, e em um dos derradeiros
me fez o impactante convite, de que fosse um dos seus padrinhos de casamento,
pois decidira voltar com um ex-namorado que a pediu em casamento, a ser
celebrado na Primeira Igreja Batista de Corumbá.
Senti-me lisonjeado com o convite (logo naquela em
cuja escola, em 1969, me preparei para o exame de Admissão, isto é, para o
ingresso ao ginásio, e guardava lembranças muito caras, como o Pastor Cosmo
Gomes de Souza, a Professora Irlene Santos e seu Cunhado Roque Bareiro, meu
colega de turma), mas declinei dele. Confesso: não me sentia à altura de ser padrinho
de casamento, mesmo que a considerasse Amiga muito especial, pois eu nem era
casado. Ela compreendeu, como de hábito: conversando, tínhamos essa conexão, o
que fortalecia nossa Amizade.
Cinco anos depois, em 1987, encontramo-nos por
acaso, na quadra anterior ao Colégio Santa Teresa, em Corumbá. Emocionados,
pusemos nossa conversa em dia, da maneira mais telegráfica (hoje seria
tuiteriana), concluída com a chegada do Pastor Cosmo, que vinha ao encontro
dela. À época já era Mãe de um casal de Filhos. Passaram-se mais 16 anos, e nos
reencontramos na Cidade Dom Bosco, em 2004: ela estava indo ao encontro de seu
terceiro Filho, então de 9 anos, aluno do fundamental. Aproveitei a
oportunidade para lhe apresentar minha então futura Companheira, quando
visivelmente feliz nos desejou muita felicidade. Foi esse o nosso encontro
derradeiro.
Para minha surpresa, quatro anos depois, por meio
de meu agora saudoso Amigo Franz Wünder Arza, tomo conhecimento, num encontro
casual em um antigo supermercado local, que o Filho mais velho de Imaculada se
casara naquela semana com a Filha caçula dele. Era 2008. Visivelmente desconcertado,
ele se desculpara por não termos sido convidados para a celebração, ao se
lembrar da nossa, ocorrida três anos antes e para a qual ele fizera questão de
estar presente com a Família -
“para testemunhar o casório do solteirão”, como costumava caçoar comigo.
Por ironia, no mês em que Franz se eterniza sou impactado
também pela eternização da querida Imaculada, ocorrida um ano e quatro meses antes. Sua
discrição, meiguice e, sobretudo, seu legado de Amizade, compreensão e lealdade
ficarão na memória e no coração.
Até sempre, querida Imaculada, e obrigado por sua
Amizade, ter existido e me ensinado a viver como adulto!
Ahmad Schabib Hany
quarta-feira, 7 de julho de 2021
"SE DE TEUS ESTUDOS ESSE É O FRUTO..."
“SE
DE TEUS ESTUDOS ESSE É O FRUTO...”
Academia Militar das Agulhas
Negras está sendo chamuscada pelas patacoadas do chamado ‘núcleo duro’ do (des)governo
de Jair Bolsonaro. Muitos de seus membros são egressos dessa academia militar,
o que incomoda oficiais que não comungam com o pensamento e, sobretudo, a controvertida
prática dos principais assessores do Palácio do Planalto.
Há um sábio ditado espanhol que solenemente ensina:
“Lo que natura no da Salamanca no presta.” Numa rápida interpretação, significaria:
“Aquilo que a natureza não oferece a Sorbonne não empresta.” [Salamanca é das
mais destacadas universidades espanholas há alguns séculos, tanto quanto
Coimbra, em Portugal, ou Sorbonne, na França.] Mas há um irreverente ditado
português, um tanto esquecido, que assim consigna: “Quem burro vai a Santarém,
burro vai e burro vem.”
Decorridos praticamente três quartos do mandato do
mito, eis que surgem curiosíssimas situações, insólitas, inauditas, capazes de ruborizar
o mais ‘zen’ dos cidadãos da Terra. Do capitão, apesar de ter frequentado a
Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), já se sabia, ou, no mínimo, se
presumia um comportamento nada ortodoxo. Agora, de ex-colegas de academia que
fizeram carreira modelar, isso, de fato, é de pasmar...
Um ex-colega de AMAN trabalhando no gabinete do
então deputado federal para atuar num trabalho, mais que desqualificado,
simplesmente ilícito, é de causar ofensa aos bravos patriotas que têm na
caserna sua razão de ser, jamais meio de vida. Mas foi o que aconteceu, de
acordo com os registros do gabinete de pessoal do Legislativo fluminense, como
também na Câmara Federal, em Brasília.
E, agora, num governo que começa a derreter em
meio à enxurrada de denúncias de atos nada republicanos praticados por
militares da reserva (e também da ativa, pois o ex-ministro é general que não
foi para a reserva), é de causar perplexidade. Onde está o alardeado
patriotismo auriverde?
São os fatos os que refutam quaisquer argumentos
em sentido contrário. É possível fazer vistas grossas à recorrente teimosia do
detentor do cargo mais importante da República de incentivar a inobservância às
medidas de biossegurança para preservar vidas humanas e, simultaneamente,
durante a maior parte do tempo em que pandemia se alastrou seu ministro de
Saúde colocar pessoas sem formação na área para fazer tudo, como permitir
intermediários sem qualquer know how na aquisição de vacinas, em vez de
negociar com farmacêuticas como a Pfizer diretamente e, sem perda de tempo e de
vidas, honrar a tradição brasileira de ser o exemplo da vacinação com
anterioridade e em tempo recorde?
Obviamente, acrescente-se a soberba de
fundamentalistas neopentecostais, militantes declarados do sionismo ‘cristão’...
Eis a razão da falência da fórmula auriverde. Diante dos fatos que vêm à tona,
o recomendável é tirar o slogan ‘Pátria Amada’, sob pena de a irreverência
popular brasileira transformar em ‘pátria (m)amada’, como já ocorreu nos anos
de chumbo, tempos do saudoso, inteligente e desconcertante O Pasquim. Ainda que tentasse a volta da censura e atentasse contra
a liberdade de manifestação de opinião e do direito à informação isenta e
crítica, não teria sucesso porque hoje a tecnologia é sua maior inimiga (só
voltando para a Idade Média, da qual são saudosistas).
O fato é que a fórmula BBB (Bíblia, bala e boi)
não deu liga, não colou: cada qual em seu quadrado, faltou liaison (palavra francesa relacionada à ligação, a graça daquele
idioma latino, em que, ao pronunciar uma palavra, parece haver uma aglutinação
fonética, uma justaposição semântica que expressa harmonia). Pois, faltaram
harmonia, humildade e objetividade a esse ajuntamento de interesses tão
adversos quanto incongruentes. Essa consigna (aliás, copiada dos nazistas, como
já ficou patente) de “Brasil acima de todos e Deus acima de tudo”, na prática, revelou-se
simplesmente “nós acima da lei”.
Logo os patrioteiros que viviam a dizer que Lula,
por não ter diploma universitário, não sabia governar. Ou, melhor, não era
digno de governar. E foram além: por eles, não era digno de ser livre e, pior,
de viver. Quando foi levado preso para cumprir uma pena fake em Curitiba, condenado pela republiqueta de Moro-Dallagnol
(anulada pelo pleno do Supremo Tribunal Federal), vazou uma vergonhosa ‘torcida’
(ou teria sido uma ‘reza’ de impolutos ‘cristãos’?) de servidores públicos em
pleno trabalho rogando praga para a velha aeronave usada para trasladá-lo
caísse ou fosse derrubada.
Agora, a realidade mostra o contrário. O Professor
Doutor Fernando Henrique Cardoso, aliás, com seu pífio governo, em 2002 já
havia deixado esse aprendizado para as novas gerações, para a posteridade. Mas
soberbos doutos de plantão, residentes (ou, melhor, pretensos residentes) na
casa-grande, esnobaram, fingiram não ter compreendido a lição da história, que
por meio de fatos, tortos ou não, constrói a linha do tempo contra a qual
negacionistas de toda natureza se insurgem, a despeito da limpidez dos fatos...
Meu querido e saudoso Pai costumava contar que,
recém-chegado à Amazônia boliviana, nos idos de 1940, ficara impressionado com
a desenvoltura de um Pai indignado com a futilidade de um filho que passara
mais de dez anos na Europa, frequentando caríssimas universidades, sem ter visto
sua esperada evolução. Em vez de discurso, o filho, ao desembarcar do avião,
improvisou uma trova pobre, mais ou menos assim: “Olho para o céu e vejo uma
estrela. Venho para Magdalena, fico pensando nela. E a vida me inspira: aiaiai
que bela, aiaiai que bela...” Ante a perplexidade dos convidados (e a
indignação dos progenitores), o Pai não pensou duas vezes, e, em vez de
boas-vindas, desatou a trovar, também de improviso: “Se de teus estudos esse é
o fruto, aiaiai que bruto, aiaiai que bruto...”
Pois bem, hoje a História (com letra maiúscula)
desnuda o ‘rei’ e sua corte bizarra. Hoje o pai da nação, o Povo (maiúscula,
por favor), repreende no maior estilo quem atentou contra a verdade, se serviu
das mais deslavadas mentiras (desde antes da ‘fakeada’) e acha que com seu
narcisismo e soberba continuará a ‘passar a lábia’ a quem desdenhou desde
sempre: ficou provado que as hordas que o sustentam se comparam às hienas que
só conhecem e reconhecem a si e aos seus mesquinhos interesses, de modo que, na
menor ameaça de ruir, essas mesmas hordas serão as primeiras a lhe virar as
costas e se declarar ‘decepcionadas’ com seu líder, como fizeram com o falso ‘herói’
de toga, que hoje amarga o ostracismo sob a proteção do império que o engendrou
em suas plagas, depois de desmascarada sua trama, sua farsa, na ‘republiqueta
da leva jeito’.
Ahmad Schabib Hany
terça-feira, 6 de julho de 2021
RÉQUIEM PARA FRANZ WÜNDER ARZA
RÉQUIEM
PARA FRANZ WÜNDER ARZA
Engenheiro civil dedicado,
construtor incansável, cristão esmerado, Pai e Esposo exemplar. Mesmo com a
pressão se aproximando de zero, chegou caminhando até o Pronto-Socorro Municipal,
onde se eternizou amparado por um dos Filhos...
Amigo de infância, o engenheiro civil Franz Wünder
Arza dedicou sua Vida ao estudo das ciências exatas e, na idade madura, da Bíblia.
Estudioso como poucos, destacou-se com louvor no colégio e nas universidades
que frequentou. Fazer cálculo, na verdade, era o que mais gostava, sentia
prazer. Assim que concluiu a graduação e retornou a Corumbá, na década de 1980,
frequentou o então Centro Universitário de Corumbá (Universidade Federal de
Mato Grosso do Sul) para fazer Matemática. Mas acabou interrompendo por causa
das obrigações profissionais e das responsabilidades de Pai de Família.
Desde tenra idade aprendeu a assumir
responsabilidades. Quinto entre sete Filhos, Franz era Irmão do técnico em
enfermagem aposentado Crisanto Wünder Arza e da Senhora Gloris Wünder Arza Vaca
(viúva do saudoso Senhor Adolfo Vaca Valle, chefe da estação ferroviária
boliviana em Corumbá, e Pais da querida Sarvia, Johnnie, Quitita e Nena),
Amigos de Família muito queridos. Seus Pais vieram para o Brasil ainda no tempo
da Comissão Mista Ferroviária Brasileiro-Boliviana. O Senhor Crisanto Arza, que
se eternizou há exatos 50 anos, em 1971, era Irmão da Senhora Nely Arza de
Schabib (Companheira por mais de 60 anos do Professor Hussein Khalil Schabib,
Primo de meu saudoso Pai e que se encontrava entre nós quando de sua súbita
eternização, há exatos 25 anos, em 1996). A Senhora Elizabeth Wünder de Arza,
verdadeira Matriarca e incansável cidadã que, depois da perda precoce do
Companheiro, cuidou de sua Família numerosa com esmero e firmeza, tanto que
todos os Filhos e Filhas tiveram uma formação ética e profissional digna.
Durante décadas o “Hotel Trinidad – Beni” foi
referência para os passageiros bolivianos e turistas do mundo todo, cujo prédio
foi projetado e construído pelo Senhor Crisanto e seus então jovens Filhos.
Franz dividia seu tempo entre estudar e realizar seu trabalho no
estabelecimento da Família. Nem mesmo quando fez o serviço militar interrompeu
suas obrigações familiares, e muito menos os estudos. Assim que concluiu o científico
(como na época era chamado o ensino médio), partiu para realizar o sonho de
cursar Engenharia Civil, tendo, nesse ínterim, conhecido e casado com a
Professora Norma Castro de Arza, sua Companheira de luta e de Vida. Com ela
constituiu uma Família muito querida: Richard, Jonathan, David e Heidi,
exemplos, também, de Filhos, e que lhes deram Netos igualmente queridos, entre
eles a Yohana e o Josué.
A Professora Norma, de formação evangélica, foi
determinante para que o querido e hoje saudoso Franz passasse a ler a Bíblia do
mesmo jeito que estudava a Matemática, com denodo e disciplina. Não por acaso,
todos os seus Filhos e Filha têm formação cristã e, alguns deles, cursaram o
Seminário Batista de Dourados, onde o querido Amigo Pastor Marcelo Moura foi
diretor, depois de ter sido responsável pela Primeira Igreja Batista de
Corumbá, entre 1993 e 1999, quando, ao lado do Pastor Fernando Sabra Caminada
(da Igreja Presbiteriana de Corumbá) e do saudoso Padre Pasquale Forin (então
Vigário-geral da Diocese de Corumbá), participou do Comitê de Corumbá e Ladário
da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida, sob a coordenação-geral
do também saudoso Dom José Alves da Costa, à época Bispo Diocesano de Corumbá.
O Richard, aliás, consagrou-se Pastor e, com sua
Companheira, Flávia, também Pastora e Maestrina, desenvolvem trabalho missionário
em Corumbá e Ladário, além de cuidar da Professora Norma, que há alguns anos
vem precisando de um apoio maior por causa das sequelas de um AVC que limitou
seus movimentos. Quando o Filho e a Nora decidiram se estabelecer na região, Franz
e a Professora Norma ficaram num regozijo só, mas agora interrompido pela
súbita eternização dele, que superou uma crise diabética cinco anos atrás,
considerado milagre para a maioria dos familiares e amigos que acompanharam a
dura resistência do ‘homem que calculava’, como carinhosamente nos referíamos a
ele.
Nesse meio-tempo, entre os cuidados com a
Companheira e a própria saúde, dedicou-se como nunca a sua pequena empreiteira,
tendo recorrido à ajuda do Richard para a parte mais dura de toda construção,
que é pôr literalmente a mão na massa. Nosso derradeiro encontro, não por
acaso, foi numa antiga casa de materiais de construção, pouco antes da
pandemia. De fato, eram visíveis as sequelas do longo período em que esteve
sendo cuidado no hospital, como ele me dissera: considerava-se um privilegiado
por ter saído com vida e força suficiente para voltar a trabalhar.
E como um verdadeiro obreiro, em todas as acepções,
eternizou-se depois de caminhar por algumas quadras até chegar ao
Pronto-Socorro Municipal de Corumbá, atendendo aos apelos da Companheira,
preocupada com a pressão arterial próxima de zero, que não era percebida pelo aparelho.
Antes de ser atendido, foi amparado por um dos Filhos, por meio de quem se
despediu de toda a sua querida Família e de sua incansável jornada, um exemplo
para todos os que tiveram o privilégio de conhecê-lo e privar de sua Amizade.
Nosso fraternal, sincero e solidário abraço a toda
a querida Família Wünder Arza, em especial à Professora Norma, Filhos e Filha,
Noras e Genro, Netos e Netas, além da Irmã Gloris e do Irmão Crisanto e
respectivas Famílias. O querido e incansável Franz provou que é possível
acreditar com fé e amor, sempre com aquele sorriso que só ele sabia ter, que
como a ele, levaremos em nossas mentes e corações. Até sempre, Franz, e
obrigado por ter existido, sempre com esse seu jeito peculiar!
Ahmad Schabib Hany