AINDA
É CEDO, MAS CORUMBÁ ESTÁ DE PARABÉNS
Independentemente de qualquer
simpatia partidária ou pessoal, a administração de Corumbá e, por tabela, o
governo do estado, estão de parabéns por não terem se submetido às hordas de desvairados/as
que querem ver o “circo pegar fogo”.
Há pouco mais de um mês, dias antes
do isolamento social, o tio de um querido Amigo que lamentavelmente enveredou
pela aventura bolsonarista me confidenciou estar admirado com a capacidade gerencial
do atual prefeito de Corumbá. Pessoa lúcida e com a sábia simplicidade do povo
brasileiro, do alto de seus oitenta anos, sem que eu tivesse tocado no assunto,
fez questão de me dar seu ponto de vista, até porque ele costuma ler meus
textos indignados. Bem peculiar ao seu jeito mineiro, o venerável octogenário
declarou o que em diferentes segmentos se prioriza, sobretudo na atualidade: equilíbrio,
sensatez e conexão com a realidade, o primeiro atributo de qualquer cidadão/ã
que quiser fazer carreira política, em todas as instâncias administrativas.
Ainda é cedo para ser feita qualquer
manifestação mais contundente, pois a previsão de crescimento exponencial de
contágios da pandemia de covid-19 no Brasil é de que ocorrerá entre três e
cinco semanas (entre a segunda quinzena de maio e a primeira quinzena de junho).
Por outro lado, não tenho procuração — e muito menos contato — com os atuais titulares
da administração de Corumbá e do governo do estado, mas é digna de aplauso e
reconhecimento a conduta sensata e corajosa de determinar e manter as medidas,
nada populares, restritivas e de prevenção para a contenção do contágio pelo
novo coronavírus no Pantanal. Esse reconhecimento deve ser estendido aos
titulares das secretarias de Saúde e aos/às trabalhadores/as em saúde, que vêm
expondo suas vidas neste momento, além da definição de estratégia de prevenção
com esmero e profissionalismo.
Óbvio que isso não é suficiente, mas
é fundamental. Precisamos lembrar que o Sistema Único de Saúde (SUS), em meados
de 2016, foi ferido de morte com a inominada PEC da Morte (ou do teto), que
congelou por 20 anos os investimentos em todas as políticas sociais, menos no
pagamento do chamado “serviço da dívida”. Agora que todos/as viram que é o SUS,
na hora “h” quem salva a vida, independentemente de o usuário do sistema ter ou
não algum plano de saúde privado, é mais que hora de uma grande cruzada para
recuperá-lo, porque ele também está no CTI por causa da falta de investimentos
nos últimos quatro anos.
Mas a coletividade precisa dar a sua
parte, que é se resguardar, manter o isolamento / distanciamento social, até
como demonstração de amor aos seus entes queridos e ao próximo. Isso não
eclipsa a boa conduta demonstrada pelos atuais titulares dos principais cargos
do município (no caso, Corumbá) e do estado e as autoridades sanitárias, em tempos
adversos, quando a maior autoridade nacional vive a debochar e acintosamente
descumprir as mais simples medidas de respeito à vida de seu semelhante — e
isso ganha maior relevância. Ainda mais quando o novo ministro da Saúde não
disse a que veio, deixando à deriva a fundamental atuação em nível nacional. Em
seu primeiro encontro com os governadores, demonstrou total desconhecimento do
fluxograma do SUS e, pior, tendo se deixado dirigir pelo general que acabou de
assumir a Secretaria Executiva do Ministério da Saúde, quando disse que de saúde
nada entendia, e que seria breve a sua passagem por aquele cargo.
Quem vive a se declarar cristão,
judeu, muçulmano, budista, umbandista, kardecista ou racionalista também deve
demonstrar respeito pela vida. Até porque há uns/as — entre aspas, por favor —
xeiques, bispos/as, pastores/as, líderes, missionários/as, padres, monges/as,
dirigentes espíritas e pais de santo que praticam a sua fé para auferir
prestígio e dinheiro, muito dinheiro — o que, a bem da verdade, não são a
maioria, mas a exceção que desonra líderes religiosos de todas as denominações,
seitas e doutrinas. O fato é que líder religioso cônscio de seu ofício sabe que
não precisa lotar seu templo, centro ou terreiro para celebrar sua fé e a de
seus fiéis ou irmãos de fé.
Também não é demais dizer que não
faltam pressões de grupos econômicos, religiosos, políticos e sociais para
relaxar as medidas restritivas, o que é uma imprudência. A vida, no sábio
ensinamento de um dos mais renomados estudiosos do Direito contemporâneo,
Norberto Bobbio, é mais que direito: é princípio de direitos, porque sem ela
nada faz sentido, tudo que temos, ou conquistamos, deixa de fazer sentido. E,
como toda estratégia de combate à pandemia, o objetivo maior é a preservação da
vida — independentemente se de um/a idoso/a, rico/a, pobre, criança,
adolescente, jovem, adulto/a, famoso/a, da ativa ou inativo/a —, ela que é
graça, ou princípio de direitos, precisa ser levada em conta por uma grande
corrente de empresários/as, políticos/as e religiosos/as ligados/as ao atual
governo federal, motivada por fatores incompreensíveis, insiste em renegar e
até mesmo debochar.
Como disse o atual titular da
Secretaria da Saúde de Mato Grosso do Sul, replicando a fala de seu colega da
Bahia: por coerência, os/as manifestantes recalcitrantes destes últimos fins de
semana que assinem um documento abrindo mão de respiradores e de terapia
intensiva caso contraiam a covid-19. Pois é, aí, sim, daria para acreditar na
convicção deles/as, só que costumam ser os primeiros a exigir atendimento
público quando lhes convém. E por falar em conveniências, neste final de semana
tentaram uma aglomeração numa pequena cidade de Goiás, destino final de várias caravanas
(se é assim que as hordas podem ser chamadas), para se prepararem para uma
suposta “guerra civil”, como foi anunciada por um pastor delirante replicado
pelo capetão corona no dia 19, sob a “sábia” orientação de um novo “guru”, um
obscuro deputado celebrizado pela filha que não conseguiu ser nomeada ministra
do Trabalho na gestão golpista de Michel Temer: esqueça as Forças Armadas, o
negócio é desenferrujar os revólveres e esmagar mortadelas. Essa denúncia é do
competente jornalista Bob Fernandes, disponível pelo link <>.
Em meu modesto entendimento, é hora
de esquecer mágoas e questões de âmbito pessoal para interromper por meio da
legalidade essa escalada assassina, porque eles/as querem o caos, carnificina,
destruição. Sem exagero, é preciso trazer Sérgio Moro, Wilson Witzel, João
Dória, José Serra, Geraldo Alckmin, Ronaldo Caiado e tantos/as outros/as para a
grande frente pela preservação do Estado Democrático de Direito. Ou as
instituições democráticas dão um basta às hordas, às matilhas fascistas, ou
esses/as psicopatas vão pôr a perder uma construção de décadas pela psicose de
alucinados/as, fanáticos/as “religiosos/as” e, sobretudo, delinquentes
milicianos/as que acintosamente têm suas atividades protegidas pela família dos
patetas recalcados, desde o interior do palácio presidencial, onde montaram seu
(sic) “quartel general”, afinal, é para isso que Carlixo se instalou em
Brasília, e ele tem know-how de sobra para esse serviço sujo.
Ahmad
Schabib Hany
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