terça-feira, 7 de novembro de 2023

TERRA PROMETIDA, NÃO: SUBSOLO COBIÇADO

Terra prometida, não: subsolo cobiçado

Antes mesmo de os nazistas porem em prática o legado de Goebbels (homem da propaganda de Hitler), os sionistas já promoviam campanha publicitária com base em passagens do Pentateuco para sensibilizar religiosos de denominações monoteístas mais populosas, a Terra Prometida.

Leva-nos a uma tomada de posição o recente escândalo causado pela fala criminosa de uma ‘comentarista’ dona de um programa na Rádio Bandeirantes (que nas décadas de 1970, 1980 e 1990 foi vanguarda, ao lado da tevê do mesmo grupo, no Jornalismo e em muitos programas, sobretudo de música popular brasileira e do cinema-arte, mas agora se encontra em franca decadência). Não podemos deixar passar uma só declaração racista, sobretudo neste momento em que o povo palestino vem sendo alvo de campanhas criminosas comparáveis à propaganda nazista da primeira metade do século passado.

Indignante em sua fala é não demonstrar qualquer hesitação ao pregar o extermínio dos palestinos, dizendo que ‘não há inocentes em Gaza’ (sic). Assume-se sionista e recorre a citações do Pentateuco (Velho Testamento, na Bíblia) para dizer que ela luta, sim, por sua ‘terra ancestral e presente’. Primeiro, o Estado de Israel tem apenas 76 anos e foi fundado sobre o território milenar da Palestina. Em pleno século XX, é o único que não tem fronteiras definidas (e há quem diga que as duas listras azuis são explícita afirmação que seu território começa no rio Nilo (Egito) e termina no Eufrates (Iraque). Somente tem direito à cidadania, ou nacionalidade, ‘israelense’ quem professa a religião judaica, não quem nasce dentro de seu território, como nos demais países do Planeta.

Com base no Departamento de Estado dos Estados Unidos, agora surge uma campanha para ‘alertar’ sobre o aumento de casos de antissemitismo. Como assim? Os árabes somos semitas também, ou vão mudar as escrituras, ao sabor dos interesses da Casa Branca e do Knesset, parlamento do Estado sionista imposto aos palestinos sem os consultar? Essa é a tal ‘democracia’ ocidental? Não foi esse o legado dos atenienses nem dos renascentistas e iluministas, até porque eles eram assumidamente laicos: l-a-i-c-o-s, alguns declaravam solenemente serem ateus, ante a barbárie cometida em nome de Deus na Idade Média...

Ao contrário da atual propaganda nazissionista, os árabes ao longo da história protegeram os judeus das perseguições do ocidente, sobretudo nas Cruzadas e na Inquisição. Ou por quê havia milhares (senão milhões, não se sabe ao certo) em território ibérico quando os ‘mouros’ dominaram a península e legaram contribuições civilizatórias que fizeram os reinos católicos da Espanha e Portugal pioneiros na Europa que renascia depois da lúgubre e obscurantista Idade Média, de sortilégios e privilégios apenas para os ‘sangue azul’? Por quê, afinal, os Palestinos e demais árabes terem que pagar a conta do holocausto nazista, praticado por europeus e imposto aos judeus nas primeiras décadas do século XX, em território europeu?

Qual direito divino (sic) detém o ocidente e, por tabela, os judeus para invadir, expulsar, saquear, difamar, humilhar, aprisionar, infelicitar quatro ou mais gerações de palestinos em seu próprio território? Hoje está provado que os sionistas, com sua obsessão e ação de extermínio acintoso dos palestinos, pretende não só se apossar do território milenar que cultivaram, habitaram, desenvolveram, viveram e conviveram por milênios: os sionistas querem usurpar sua história, suas culturas, seu protagonismo na vanguarda da humanidade e, sobretudo, sua existência enquanto povo milenar. Aliás, o fato de ser judeu nascido e criado na Europa ou em outro continente não significa que tenha a mesma cultura dos originários palestinos, pois judeus europeus são e serão sempre europeus.

Contra fatos não há argumentos, e muito menos narrativas falaciosas. Antissemitismo é o que vem sendo cometido no genocídio de Gaza, nos massacres da Cisjordânia e da velha e milenar Jerusalém, berço das três religiões monoteístas mais populosas do Planeta.

A história tem mostrado que muitas falácias a que recorreram os poderosos em diferentes tempos têm sido o uso da religião para dominar e subjugar grandes contingentes humanos. No final do século XIX, o movimento sionista fundado por Theodor Herzl, um judeu europeu interessado na criação de um ‘lar nacional para os judeus’ quando a Grã-Bretanha era a poderosa potência colonial, detentora do império britânico, ‘aquele em cujo território o sol não se punha’.

Os sionistas, depois de sondar ricas terras da Patagônia (não muito distante das cobiçadas Ilhas Malvinas, pertencentes à Argentina, e não Inglaterra), estiveram de olho no território de Uganda (África, continente rico em diamantes, ouro e petróleo), e até na Amazônia, na América do Sul, onde as lendas europeias do mitológico El Dorado (ou, em português, Eldorado) despertavam a cobiça pelo ouro e outros minérios. Meu Avô materno Yussef Al-Hany, um dentista libanês druso (em árabe ‘derzi’, uma denominação religiosa oriental espiritualista) que passara pela Europa até chegar à Amazônia, mais de um século atrás (tempo da Madeira-Mamoré), contava epopeias de ousadas expedições cujos integrantes sumiram na profundeza da selva tropical, à época temida pelas lendas, feras e, sobretudo, pela malária endêmica.

Nessa época o império turco-otomano -- que no século XV conquistara o coração do império romano do oriente (império bizantino), com a queda de Constantinopla, e que levara às grandes navegações por conta da procura de rotas alternativas para compra de especiarias e tecidos das Índias e outros fornecedores do oriente, empreendimento liderado pelos reinos católicos da Espanha e de Portugal graças ao legado árabe na Península Ibérica -- se encontrava em franca decadência e nos estertores da morte. Grã-Bretanha e França, de olho no espólio turco, já se articulavam para lotear o território árabe, a despeito das promessas feitas, por meio de T. E. Lawrence (o famigerado Lawrence da Arábia), de que, em troca da ajuda dos líderes árabes no enfrentamento dos tirânicos feitores turco-otomanos, obteriam sua libertação -- ledo engano: ingleses e franceses já haviam se entendido, por meio do Acordo de Sykes-Picot, na partilha do imenso mundo árabe, desde parte da Ásia e a região magrebina da África.

Pouco tempo depois, em plena Primeira Guerra Mundial, o chanceler britânico Arthur Balfour envia a um dos máximos líderes sionistas de Londres, o Lorde Rotschild, carta que entra para a história como Declaração Balfour, em que o representante do Reino Unido (antes de derrotar o império otomano) se compromete a concretizar o propósito sionista do ‘lar nacional judeu’ na Palestina, que ainda estava sob o domínio da Turquia. Enquanto os colonizadores britânicos proibiam os árabes de qualquer arma, sobretudo com munição, os sionistas europeus, recém-chegados, usando sempre a falaciosa metáfora de ‘forças de defesa’, promoveram, sim, atentados, como o do Hotel David, em Jerusalém, onde as autoridades coloniais britânicas se hospedavam enquanto serviam ao império britânico.

Outro atentado terrorista cometido por grupos como o Irgun e o Haganá (eram mais de seis organizações de milicianos europeus ligados ao sionismo) foi o famigerado Massacre de Deir Yassin, de 1947, quando famílias inteiras de palestinos, em pânico, abandonaram suas aldeias, suas plantações seculares de oliveiras e suas atividades milenares de vida no campo. Eles, por serem judeus, podiam recorrer ao terrorismo, como o Estado de Israel, desde que existiu por decisão de governos de países-membro da ONU, em 1947, SEM CONSULTAR O POVO PALESTINO, sobre um território único que eles partilharam de propósito sem continuidade, para impedir que remanescesse o Estado da Palestina, como não existe até hoje. E a imprensa ocidental vem cinicamente chamar de ‘ministério de saúde (minúsculas, pois é falácia, não existe governo constituído) do Hamas’, ‘exército do Hamas’, ‘guerra contra o Hamas’, se sequer há um Estado constituído, um governo criado.

Se no tempo dos faraós, milênios atrás, os sacerdotes já se valiam da fé, esse recurso foi usado também pelo império romano depois do século IV depois de Cristo, quando césar, o imperador romano, se ‘converteu’ ao cristianismo. Depois de séculos de perseguição aos cristãos, o mesmo império que perseguiu e até fez o julgamento de Jesus Cristo (com o conluio dos sumos rabinos Anás e Caifás, que O denunciaram como ‘falso Messias’, não esqueçamos).

Valendo-se, dessa forma, das escrituras religiosas, os sionistas, antes mesmo de Joseph Goebbels ter-se tornado célebre homem da propaganda de Adolf Hitler na Alemanha, já usavam a repetição da narrativa destituída de qualquer base histórica. Valiam-se da ‘tradição’ religiosa para tentar legitimar sua campanha, explicitamente propagandística. Benjamin Netanyahu e aquela ‘comentarista’ sionista são a prova eloquente de que eles se consideram acima do bem e do mal. Essa balela de terra prometida (sem maiúsculas, pois não passa de propaganda sionista), assim como a vergonhosa consigna de ‘uma terra sem povo (sic) para um povo sem terra’ tem que ser desmascarada. Como Joe Biden disse em 1986, ‘se não existisse Israel, teríamos que criar um’, os Estados Unidos e a União Europeia precisam, sim, de um enclave ocidental na Arábia milenar, sobretudo por causa do SUBSOLO COBIÇADO.

A verdadeira razão por que a OTAN e todas as potências econômicas e militares ocidentais se mobilizam não é a ‘terra prometida’, mas o subsolo cobiçado. A história demonstra sem qualquer artifício, de modo explícito e transparente. Foi só eclodir o conflito na Palestina para a OTAN se ‘esquecer’ da Ucrânia, governada desde 2014 por um sionista, Volodimir Zelensky. Coincidência? Não, é que eles são os ‘eleitos de deus’ (sem maiúscula, pois não se trata do Criador, mas o da propaganda sionista). Daqui a pouco, vão querer, por causa do lítio e da água, nos tirar da América do Sul. Só que não: vivemos ‘os últimos dias de Pompeia’, fim do nefasto império do ocidente. Talvez nossa geração não veja, mas nossos Filhos e Netos viverão tempos alvissareiros, livres da tirania sionista, cuja mais eloquente manifestação de opressão e barbárie acontece neste momento na Palestina, milenar, que encontrará paz quando as atuais potências ocidentais se recolherem à sua insignificância histórica, como povos de índole predadora e seu comportamento, igual ao de Átila, o uno, com rastro de terra arrasada.

Ahmad Schabib Hany

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

REFLEXÃO INDISPENSÁVEL

Reflexão indispensável

Relação de cumplicidade em alto nível, as interações, ou melhor, trocas de mensagens e ideias entre quem faz da escrita tentativa de reflexão coletiva e quem generosamente lê e se sente à vontade e no direito-dever de uma quase autocrítica de mão dupla.

Graças a um comentário sincero do Amigo-Irmão-Companheiro-Camarada Professor Tito Carlos Machado de Oliveira, um dos líderes estudantis (ao lado dos igualmente queridos Amarílio Ferreira Junior, Marisa Bittar, Paulo Roberto Cimó Queiroz, Paulo Marcos Esselim, Mário César Ferreira, José Carlos Ziliani, Mário Sérgio Lorenzetto e a saudosa Mariluce Bittar, quase todos Professores Doutores) entre 1979 e 1984 na então FADAFI/FUCMT, me permito fazer breve pausa para refletir com efetiva empatia neste conturbado momento, sobretudo no dia 2 de novembro, a propósito da transitoriedade de nossa passagem pela Terra, pela qual temos a bizarra pretensão de nos apossarmos, quando, na verdade, é ela a que nos acolhe, nutre, estimula e desenvolve até nos misturar ao pó de seu solo.

Mesmo sendo feriado, e creio que até por isso, acabei tomando meu café da manhã só, ou melhor, com meus pensamentos e eles trazendo a presença de pessoas que se eternizaram ao longo dos últimos tempos.

Como costumo tomar café em xícara de 300ml, gole por gole, entre a nostalgia pelos queridos que a Vida generosamente me presenteou como Irmão (Mohamed), Pai (Mahoma), Mãe (Wadia), Familiares, Amigos/as, Companheiros/as e Colegas. Por terem partido mais recentemente cito Dona Maria Taques, Camarada Jadallah Safa, Professor Jorge Mariano, Seu Jorge Katurchi, Amigo Marcos Boa Ventura, Seu Augusto César Proença, Padre Osvaldo Scotti, Professor José Carlos Abrão, Seu Pando Temeljkovitch, Doutor Lamartine Costa, Professor Fausto Matto Grosso, Professora Rocío Bolivia Román, Professor Julio Paro, Amigo Luiz Eduardo de Oliveira, Seu Amin Cestari Baruki, Tio Hussein Khalil Schabib, Doutor Adelmo Lima, Professor Francisco Carlos Ignácio, Professora Terezinha Baruki, Dona Ivone Torres, Amigo Mário Márcio Katurchi, Amigo Joaquim Ivan do Amaral, Dona Agustina Parejas Urquidi, Professora Maria Ester Batesti, Hermano Andrés Menacho, Dona Sebastiana da Silva, Seu José Ribeiro Sobrinho, Seu Haymour Hamad, Professor Carlos Patusco, Tio José Tamim Hany, Camarada Wilfredo Mujica, Padre Pasquale Forin, Amiga Maria Imaculada Gomes, Tio Miguel Safwat Hany, Dom Segismundo Martínez, Jornalista Armando Amorim Anache, Seu Reinaldo Antônio de Campos, Doutor José Carlos Cataldi, Tia Teresa May Hany de Paz, Amigo Adimir Lobo, Seu José de Pontes, Seu Ariodê Navarro, Seu Lincoln Gomes, Jornalista Farid Yunes, Professor Edmir Abelha Moraes, Seu Mário Corrêa Albernaz, Amigo Pascoal Sotero Galeano, Professora Ester Senna, Dona Anna Thereza Katurchi, Professora Eunice Ajala Rocha, Doutor Márcio Baruki, Amigo Leodevar Rodrigues Jardim, Jornalista Néstor Taboada, Seu Edgar de Almeida, Amigo Badu Mônaco, Professora Maria Auxiliadora Ferreira, Prefeito Ruiter Cunha, Jornalista Lorenzo Carri, Dona Gueisi Montero, Seu Oacir do Amaral, Seu João Luiz Miguéis, Dona Maria de Fátima Franco, Pastor Cosmo Gomes, Seu Luiz Guilherme Lacerda, Dona Rosa Maria Katurchi, Doutor Cleto Leite de Barros, Professora Mariluce Bittar, Poeta Manoel de Barros, Professor Augusto Alexandrino Malah, Padre Ernesto Saksida, Camarada Carlos Fuentes, Pastor Antônio Ribeiro de Souza, Dom José Alves da Costa, Jornalista Margarida Marques, Camarada Manoel Sebastião da Guató, Doutora Angélica Anache, Companheiro Aurélio Tórrez, Amigo Adriano Aveiro, Companheira Heloísa Urt, Professor Eduardo Saboya, Doutor Walter Volmar Rien, Doutora Laurita Anache, Doutor Walter Mendes Garcia, Doutor Lício Paiva Garcia, Professor Salomão Baruki, Doutor Joilce Araújo, Jornalista Márcio Nunes Pereira, presentes.

O telefonema solidário do Professor Valmir Corrêa, de Campo Grande, me traz de volta à realidade. Preocupado com a escalada da violência contra as crianças e jovens na Faixa de Gaza e Cisjordânia, na Palestina (ou melhor, no que restou de seu histórico território) sob ocupação, me ligou para que transmitisse sua solidariedade à comunidade palestina local, de cujos integrantes mais velhos é Amigo há mais de quatro décadas. Em seguida, o Professor João Alvarez telefona para saber sobre os rumos da tragédia que se avizinha, mesma preocupação, aliás, de outro Amigo da mesma época, o Psicólogo Juvenal Ávila: as pessoas conscientes sabem do genocídio que está sendo cometido sob a complacência da União Europeia, dos Estados Unidos e da OTAN.

Mas é a Vida a que pede passagem nesta quinta-feira nostálgica. Generosa e inspiradora, ela nos ensina que nada somos sem nossos semelhantes, sem as pessoas que, como nós, também lutam para sobreviver. É verdade que neste momento da história da humanidade há muito ódio e mentira espalhados por todas as partes, tanto em nossas relações pessoais como entremeadas nas mídias sociais. E tem uma explicação: as grandes corporações do planeta, temendo a perda de seu poder, usam todos os artifícios para pôr as pessoas umas contra as outras, mesmo que isso possa levar a Terra ao seu fim. Para essas corporações, o que importa é o binômio dinheiro e poder. O resto é balela.

Por essa razão, precisamos nos despir de falsas verdades e passar a aceitar o ‘outro’ como ele ou ela é, isto é, o mesmo que nós. Em milhares de anos, desde que a espécie humana está na condição de ‘superior’ (pretensão, é verdade!), de estar ‘no topo’ entre as demais espécies de animais do Planeta, hoje, como nunca antes, as mudanças climáticas e o excesso de arsenais atômicos em diversas partes do mundo já representam uma grande e temerária ameaça para todas as espécies.

Como nos ensina o Professor Tito de Oliveira em sua mensagem, ainda que a tensão vivida nestes tempos nada generosos nos cause impulsos inevitáveis e temíveis, é fundamental que os contenhamos para conseguirmos processar a necessária reflexão, um mínimo de racionalidade, para manter acesa a tênue chama da civilidade, da urbanidade. É verdade que há momentos em que acabamos chutando o pau da barraca e queremos ver ‘o circo pegar fogo’, mas o prudente é não chegarmos ao extremo, até para não justificar o ódio disseminado pelos robôs programados para disseminar mentiras e ódio, puro ódio.

Como por encanto, a melodia do imortal Sérgio Bittencourt ‘Naquela mesa’ toma conta de minha mente. É o tributo às pessoas queridas que se eternizaram, ora citadas ou não. É a forma como em alto estilo homenageamos nossos iguais (sem sermos narcisistas) e nos reeducamos para focarmos no burburinho, no alvorecer do novo dia, cujos protagonistas são as crianças de zero a 14 anos que vêm tentando sobreviver ao intenso bombardeio.

Ahmad Schabib Hany

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

REFLEXÃO INDISPENSÁVEL

Reflexão indispensável

Relação de cumplicidade em alto nível, as interações, ou melhor, trocas de mensagens e ideias entre quem faz da escrita tentativa de reflexão coletiva e quem generosamente lê e se sente à vontade e no direito-dever de uma quase autocrítica de mão dupla.

Graças a um comentário sincero do Amigo-Irmão-Companheiro-Camarada Professor Tito Carlos Machado de Oliveira, um dos líderes estudantis (ao lado dos igualmente queridos Amarílio Ferreira Junior, Marisa Bittar, Paulo Roberto Cimó Queiroz, Paulo Marcos Esselim, Mário César Ferreira, José Carlos Ziliani, Mário Sérgio Lorenzetto e a saudosa Mariluce Bittar, quase todos Professores Doutores) entre 1979 e 1984 na então FADAFI/FUCMT, me permito fazer breve pausa para refletir com efetiva empatia neste conturbado momento, sobretudo no dia 2 de novembro, a propósito da transitoriedade de nossa passagem pela Terra, pela qual temos a bizarra pretensão de nos apossarmos, quando, na verdade, é ela a que nos acolhe, nutre, estimula e desenvolve até nos misturar ao pó de seu solo.

Mesmo sendo feriado, e creio que até por isso, acabei tomando meu café da manhã só, ou melhor, com meus pensamentos e eles trazendo a presença de pessoas que se eternizaram ao longo dos últimos tempos.

Como costumo tomar café em xícara de 300ml, gole por gole, entre a nostalgia pelos queridos que a Vida generosamente me presenteou como Irmão (Mohamed), Pai (Mahoma), Mãe (Wadia), Familiares, Amigos/as, Companheiros/as e Colegas. Por terem partido mais recentemente cito Dona Maria Taques, Camarada Jadallah Safa, Professor Jorge Mariano, Seu Jorge Katurchi, Amigo Marcos Boa Ventura, Seu Augusto César Proença, Padre Osvaldo Scotti, Professor José Carlos Abrão, Seu Pando Temeljkovitch, Doutor Lamartine Costa, Professor Fausto Matto Grosso, Professora Rocío Bolivia Román, Professor Julio Paro, Amigo Luiz Eduardo de Oliveira, Seu Amin Cestari Baruki, Doutor Adelmo Lima, Professor Francisco Carlos Ignácio, Professora Terezinha Baruki, Dona Ivone Torres, Amigo Mário Márcio Katurchi, Amigo Joaquim Ivan do Amaral, Dona Agustina Parejas Urquidi, Professora Maria Ester Batesti, Hermano Andrés Menacho, Dona Sebastiana da Silva, Seu José Ribeiro Sobrinho, Seu Haymour Hamad, Professor Carlos Patusco, Camarada Wilfredo Mujica, Padre Pasquale Forin, Amiga Maria Imaculada Gomes, Dom Segismundo Martínez, Jornalista Armando Amorim Anache, Seu Reinaldo Antônio de Campos, Doutor José Carlos Cataldi, Amigo Adimir Lobo, Seu José de Pontes, Seu Ariodê Navarro, Seu Lincoln Gomes, Jornalista Farid Yunes, Professor Edmir Abelha Moraes, Seu Mário Corrêa Albernaz, Amigo Pascoal Sotero Galeano, Professora Ester Senna, Dona Anna Thereza Katurchi, Professora Eunice Ajala Rocha, Doutor Márcio Baruki, Amigo Leodevar Rodrigues Jardim, Jornalista Néstor Taboada, Seu Edgar de Almeida, Amigo Badu Mônaco, Professora Maria Auxiliadora Ferreira, Prefeito Ruiter Cunha, Jornalista Lorenzo Carri, Dona Gueisi Montero, Seu Oacir do Amaral, Seu João Luiz Miguéis, Dona Maria de Fátima Franco, Pastor Cosmo Gomes, Seu Luiz Guilherme Lacerda, Dona Rosa Maria Katurchi, Doutor Cleto Leite de Barros, Professora Mariluce Bittar, Poeta Manoel de Barros, Professor Augusto Alexandrino Malah, Padre Ernesto Saksida, Camarada Carlos Fuentes, Pastor Antônio Ribeiro de Souza, Dom José Alves da Costa, Jornalista Margarida Marques, Camarada Manoel Sebastião da Guató, Doutora Angélica Anache, Companheiro Aurélio Tórrez, Amigo Adriano Aveiro, Companheira Heloísa Urt, Professor Eduardo Saboya, Doutor Walter Volmar Rien, Doutora Laurita Anache, Doutor Walter Mendes Garcia, Doutor Lício Paiva Garcia, Professor Salomão Baruki, Doutor Joilce Araújo, Jornalista Márcio Nunes Pereira, presentes.

O telefonema solidário do Professor Valmir Corrêa, de Campo Grande, me traz de volta à realidade. Preocupado com a escalada da violência contra as crianças e jovens na Faixa de Gaza e Cisjordânia, na Palestina (ou melhor, no que restou de seu histórico território) sob ocupação, me ligou para que transmitisse sua solidariedade à comunidade palestina local, de cujos integrantes mais velhos é Amigo há mais de quatro décadas. Em seguida, o Professor João Alvarez telefona para saber sobre os rumos da tragédia que se avizinha, mesma preocupação, aliás, de outro Amigo da mesma época, o Psicólogo Juvenal Ávila: as pessoas conscientes sabem do genocídio que está sendo cometido sob a complacência da União Europeia, dos Estados Unidos e da OTAN.

Mas é a Vida a que pede passagem nesta quinta-feira nostálgica. Generosa e inspiradora, ela nos ensina que nada somos sem nossos semelhantes, sem as pessoas que, como nós, também lutam para sobreviver. É verdade que neste momento da história da humanidade há muito ódio e mentira espalhados por todas as partes, tanto em nossas relações pessoais como entremeadas nas mídias sociais. E tem uma explicação: as grandes corporações do planeta, temendo a perda de seu poder, usam todos os artifícios para pôr as pessoas umas contra as outras, mesmo que isso possa levar a Terra ao seu fim. Para essas corporações, o que importa é o binômio dinheiro e poder. O resto é balela.

Por essa razão, precisamos nos despir de falsas verdades e passar a aceitar o ‘outro’ como ele ou ela é, isto é, o mesmo que nós. Em milhares de anos, desde que a espécie humana está na condição de ‘superior’ (pretensão, é verdade!), de estar ‘no topo’ entre as demais espécies de animais do Planeta, hoje, como nunca antes, as mudanças climáticas e o excesso de arsenais atômicos em diversas partes do mundo já representam uma grande e temerária ameaça para todas as espécies.

Como nos ensina o Professor Tito de Oliveira em sua mensagem, ainda que a tensão vivida nestes tempos nada generosos nos cause impulsos inevitáveis e temíveis, é fundamental que os contenhamos para conseguirmos processar a necessária reflexão, um mínimo de racionalidade, para manter acesa a tênue chama da civilidade, da urbanidade. É verdade que há momentos em que acabamos chutando o pau da barraca e queremos ver ‘o circo pegar fogo’, mas o prudente é não chegarmos ao extremo, até para não justificar o ódio disseminado pelos robôs programados para disseminar mentiras e ódio, puro ódio.

Como por encanto, a melodia do imortal Sérgio Bittencourt ‘Naquela mesa’ toma conta de minha mente. É o tributo às pessoas queridas que se eternizaram. É a forma como em alto estilo homenageamos nossos iguais (sem sermos narcisistas) e nos reeducamos para focarmos no burburinho, no alvorecer do novo dia, cujos protagonistas são as crianças de zero a 14 anos que vêm tentando sobreviver ao intenso bombardeio.

Ahmad Schabib Hany

terça-feira, 31 de outubro de 2023

DEIXEMOS DE HIPOCRISIA

Deixemos de hipocrisia

Evidências de que ratazanas do ‘centrão’, abutres do ‘mer(d)cado’ e hordas fascistas de pseudocristãos vêm insistindo na tentativa de tornar refém o Presidente Lula, no sórdido afã de impedi-lo de realizar seu ousado programa de reconstrução nacional e, no contexto mundial, consolidar o protagonismo do Brasil como potência de paz. A serviço de quem?

Cheiro de enxofre no ar. Sob a batuta do arremedo nordestino do canalha Eduardo Cunha, lá vêm bandos de ratazanas, sanguessugas e demais parasitas que infestam o palácio da democracia brasileira desde 1988 para emparedar o Presidente Lula. O sórdido propósito é, em conluio com abutres do ‘mer(d)cado’ e com hordas fascistas travestidas de ‘cristãs’, impedir o maior Estadista do século XXI de realizar seu ousado programa de reconstrução nacional para dar um fôlego ao altivo povo brasileiro e, no contexto mundial, consolidar o protagonismo do Brasil como potência de paz e de combate à fome e à desigualdade.

No transcurso do aniversário de primeiro ano da vitória da democracia sobre os fascistas e seus zangões peçonhentos, o Presidente Lula paga por ter-se sagrado vencedor legítimo em um processo eivado de tentativas golpistas de todo tipo: compra de votos abusando das instituições federais para beneficiar a dupla nefasta travestida do ‘pendor’ auriverde; o uso abusivo de robôs para disseminar fakenews acintosa e criminosamente como tática de intimidar e calar a oposição; recorrência excessiva do uso e abuso da máquina do governo federal para dar vantagem desproporcional ao medíocre e criminoso inominável, e desvio escancarado das prerrogativas e funções de titulares no topo da hierarquia federal para submetê-los aos caprichos das hordas fascistas, como o comando nacional da PRF para impedir eleitores do candidato opositor de vencer democraticamente as eleições gerais de 2022 e a liberação promíscua de benefícios sociais indiscriminadamente.

Neste primeiro ano, pasme o leitor, a transição não foi apenas de governo, mas de regime político: entre uma ditadura quase consumada (basta rever imagens do 7 de setembro de 2022 e do 8 de janeiro de 2023) a uma democracia forte mas dura e pesadamente atacada pelas mesmas oligarquias midiáticas cujos feudos são um verdadeiro atentado ao Estado Democrático de Direito. Além da intentona bizarra dos e das intestinos frouxos, para os/as quais ato de bravura se resume a defecar no gabinete do ministro da Corte Suprema, as inúmeras tentativas de desestabilizar política e economicamente as finanças públicas ao longo deste exercício fiscal, seja por meio do ‘mer(d)cado’ ou pelas ações canalhas das ratazanas que tomaram de assalto o Parlamento e vivem a achacar o Planalto, ora por cargos de primeiro e segundo escalões, ora por liberação de verbas que nem sempre chegam a quem deve chegar.

Foi para isso que depuseram a então Presidenta Dilma Rousseff? Uma comprovadamente mulher honesta injuriada, cujo ‘crime’ nunca existiu no arcabouço jurídico brasileiro: foi uma invencionice semântica para dar nome estonteante a um golpe cínico -- ‘pedalada fiscal’ (sic). Foi a fórmula encontrada para tomar de assalto os destinos de uma nação que finalmente dava início a uma nova fase de sua história, entupida de traições e de conspirações única e exclusivamente contra sua laboriosa, acolhedora e generosa população.

Aliás, é muita hipocrisia dos meios de comunicação -- dessa imprensa corporativa, muito bem apelidada de GAFE (Globo, Abril, Folha e Estadão), que cobre com o mesmo cinismo o extermínio de palestinos na faixa de Gaza, a quem apelida de terroristas porque seus amos e senhores assim determinam -- procurar ‘erros’ a Lula para justificar a rapinagem dos mesmos mercenários que, sob o criminoso comando de Eduardo Cunha, Michel Temer e o inominável (toc, toc, toc!), desfalcaram as reservas monetárias superavitárias do País tão logo a Presidenta Dilma Rousseff foi apeada do cargo e mudaram a política do pré-sal para entregá-lo às corporações petrolíferas concorrentes, as mesmas que promoveram (e lucraram com) a ‘primavera árabe’ (que não foi primavera e muito menos árabe) nos países do norte da África e do oeste da Ásia.

Pior: em 2016, primeiro ano do desgoverno golpista, criaram uma lei ‘descriminalizando’ o que haviam inventado como crime -- as tais ‘pedaladas fiscais’, que nunca existiram no ordenamento jurídico e muito menos na jurisprudência brasileira -- e assim o ‘brimo’ golpista, Michel Temer, teve permissão para, ao final daquele exercício fiscal, acumular um déficit vergonhoso de mais de 250 bilhões de reais! Se isso fosse pouco, no último ano do maldito desgoverno do inominável, o canalha recebeu das ratazanas apelidadas de ‘centrão’ autorização para desviar recursos para o que quisesse, o que gerou um déficit nunca antes visto na história republicana, de ‘apenas’ 730 bilhões de reais que, em vez de obras públicas ou programas de reparação da desigualdade social e geração de emprego e renda, foram pura farra financeira, para a compra de votos e a volúpia da ganância.

É cinismo puro vir com essa história de que ‘Lula deu com a língua nos dentes e causou a queda da bolsa de valores e a alta na cotação do dólar’ ao reconhecer que não atingirá a meta, pelo ritmo e má vontade com que o Congresso Nacional tem tramitado as reformas propostas para zerar o déficit fiscal em 2023. No tempo da famigerada Lílian Vite Fibe (digna colega do Alexandre Graxinha), que aderiu ao golpe quando achou que lhe era conveniente e hoje, tal qual a Abril e sua ‘Veja’, não passa de espectro do passado (na verdade, ninguém mais se lembra dela), era bem mais fácil fazer esse tipo de ‘cobertura’. Hoje, com tantos canais de Jornalistas de verdade na internet, o ‘monopólio da verdade’ acabou, para felicidade nossa. O Presidente Lula, depois de conversar com o Ministro Fernando Haddad, da Fazenda, deixou claro à população que não mais seria refém das ratazanas do ‘centrão’ e muito menos do nefasto ser deixado pelo inominável no Banco Central (BC), que logo haverá de se explicar por que granjeou lucros estratosféricos em suas contas offshore durante seu mandato ‘independente’ no BC.

Estadista de alto voo, o Presidente Lula é reconhecido internacionalmente por sua firmeza/capacidade de negociação. Negociador não entrega o jogo, pode até perder uma batalha, porque recua para avançar depois. As elites caducas e serviçais deste país-continente ficam enfurecidas com a capacidade de resistência e ousadia desse nordestino habilidoso. Até a quadrilha da ‘Leva Jeito’ saiu-se mal com ele, a despeito da ‘assessoria’ ilegal daquele pessoal do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, que adestrou (tão limitados, precisaram de ‘treinamento’ para cometer ilicitudes mal executadas por serem incompetentes) esses seres recalcados, invejosos e que se prestaram a um serviço antinacional, crime pelo qual deverão pagar com alguns anos na cadeia. Como é? ‘Ninguém está acima da lei’, não é?

O problema é que esse acinte, essa arrogância cínica, vem de fora. Estados Unidos e a União Europeia dão, mais uma vez, o mau exemplo. Como ‘nossas’ elites vira-latas vivem a se espelhar nas metrópoles emboloradas que inspiram e assanham os mentecaptos, Lula se encontra patinando o tempo todo, inclusive em suas iniciativas de paz, seja na urgente aprovação de criação de corredores humanitários para mitigar o genocídio de inocentes em Gaza ou no cessar-fogo na Ucrânia pelo Conselho de Segurança da ONU, do qual o Brasil em outubro exerceu a presidência rotativa, mas foi sabotado pelas potências bélicas do ocidente, falsamente paladinos da ‘democracia’, da ‘paz’ e da ‘liberdade’.

Cheiro de fósforo branco, agente laranja, napalm... Hoje as tais ‘Forças de Defesa’ do Estado sionista usam armamento proibido, como o fósforo branco, contra a população civil de Gaza. É claro que têm o aval, o apoio, de todas as potências criminosas da OTAN. E a imprensa, conivente como sempre, não revela, não denuncia. Como fizeram em Sabra e Chatila, cujo principal cúmplice e proxeneta, general facínora Ariel Sharon não foi punido, mas premiado com o Nobel da Paz (dos túmulos, imagino!) na década seguinte.

Na Palestina, sobretudo em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém, “o poderoso senhor que na mochila carrega todo o cadáver da infância” (“Sabra e Chatila”, de Alberto Cortez, 1983). Não é de hoje, vem dos tempos de Deir Yassin (1947), Sabra e Chatila (1982) e Jerusalém (2005). É porque foram acostumados a ser tratados como se estivessem ‘acima da lei’. O ocidente traz o ranço das Cruzadas e da Inquisição, creem-se a encarnação da justiça (aí, nesse caso, em minúscula, por favor!) divina, e que podem, ao seu gosto e sabor, mudar as regras de tudo, como senhores do Olimpo, ou melhor, paladinos de ‘Grayskull’...

Gostem ou não, esses senhores haverão de se ver com a História em breve. Nesse ínterim, diante de si encontrarão ninguém menos que a República Popular da China como maior potência econômica a ditar as regras com seu protagonismo diplomático. Nesse contexto, o Brasil, graças a Lula e Dilma, tem um relevante papel a desempenhar, e quanto antes puder ser executado pelo Estadista que o povo brasileiro revelou para a humanidade será melhor para o Planeta, e sobretudo para a Nação, que precisa romper os grilhões que lhe colocaram nestes últimos sete nefastos anos em que títeres do grande ‘irmão’ do norte conspiraram contra a soberania nacional, popular e tecnocientífica.

Ahmad Schabib Hany

quinta-feira, 26 de outubro de 2023

"PALESTINA, PALESTINO, RESISTIR É O TEU DESTINO!"

‘Palestina, palestino, resistir é o teu destino’

A nabka -- tragédia, em árabe, que representa a diáspora imposta aos palestinos pelos colonizadores europeu no pós-holocausto dos nazifascistas -- mutilou milhões de pessoas em suas verdadeiras potencialidades, seja pela agressão assassina ou pela privação de sua condição de refugiado e ter que sobreviver. Afinal, quantos talentos brilhantes foram ceifados por causa da maldita cobiça do ocidente hipócrita, genocida e opressor?

Recorrentemente pegamos pessoas próximas reproduzindo, ainda que em tom de humor, a tal ‘superioridade’ europeia parida em território colonial -- na América, África, Ásia ou Oceania. Dias atrás um Amigo muito querido postou, na véspera de um clássico do futebol, quantos prêmios nóbeis seu país teria granjeado, ao passo que o Brasil ainda nenhum (na verdade, UM, se contarmos o caráter multinacional dos contemplados quando da entrega aos ‘boinas azuis’ da ONU em 1988).

Por trás, o velho preconceito colonialista, de que a miscigenação com os povos originários e os afrodescendentes, imaginem, foram os responsáveis por essa limitação (sic). A cínica e pretenciosa ‘superioridade’ europeia é a forma com a qual, desde os mais remotos tempos da nefasta colonização dos povos (e territórios) dos chamados ‘novo’ e ‘novíssimo’ mundos, as elites serviçais de seus amos e senhores coloniais esnobam seus povos sem atinar que as características aqui existentes são atributos, isto é, qualidades indissociáveis das amplas camadas das populações exploradas e oprimidas, não dos descendentes de pretensos ‘fidalgos’ (para não dizer outra coisa, isto sim, pois não passavam de súditos de quinta categoria em suas metrópoles, presidiários de seus reinos).

Confesso estar tomado de indignação tamanha a arrogância das malditas potências mundiais ante as atrocidades cometidas com requintes de crueldade em territórios árabes, sobretudo em Gaza, Cisjordânia e Jerusalém, o pouco que resta da Palestina milenar. Mas não só: esses sórdidos ‘democratas’ (assassinos cínicos) impuseram o caos e a barbárie em nome de seus valores ‘democráticos’ peçonhentos no Sudão, Iêmen, Síria, Líbia, Iraque, Kuwait, Líbano, Argélia, Egito, Palestina etc, no caso em ordem cronológica regressiva -- desde a criminosa intervenção ‘libertadora’ ocidental no Sudão, Iêmen, Síria, Líbia, Iraque e Kuwait, até a tragédia decenal sofrida, respectivamente, no Líbano (entre 1974 e 1996), Argélia (1955-1963), o Egito (1947-1956) e a própria Palestina (1927-2023), entre outras nações árabes em seus frustrados.

A eternização precoce e inaceitável do Amigo-Irmão Jadallah Suleiman Safa, um notável ser humano, totalmente focado na emancipação do altivo e milenar Povo Palestino, me fez refletir sobre a injustiça cometida contra um povo indefeso e inofensivo. Antes da chegada de miseráveis europeus travestidos de vítimas (dos próprios europeus), entre fins do século XIX e início do século XX (dentro do plano de saquear o território, a história, a cultura e a vida daquele que, em diversas épocas da História acolheram seus confrades -- jamais conterrâneos, pois o fato de professar uma religião não lhe dá potestade, em hipótese alguma, a obter nacionalidade ou cidadania por imposição dos colonizadores), a Terra Santa, sempre cobiçada, era terra de promissão e de abundância.

Basta vermos relatos de expedições europeias, além de T. E. Lawrence (o facínora que, a serviço da Inglaterra, seduziu com suas mentiras líderes árabes com a falsa promessa de liberdade depois de derrotar o império turco otomano). Em Corumbá, cheguei de ler pelo menos dois livros da década de 1940, um em francês e outro em inglês -- um deles de uma senhora idosa síria de nome Ana Saad, Amiga de meu saudoso Pai (moradora numa casa próxima da esquina das ruas Treze de Junho e Antônio João, eternizada em 1972, cujo acervo bibliográfico era deslumbrante, pois o Esposo dela, havia muito tempo falecido, era um intelectual sírio que colaborava com o antigo semanário paulista ‘Al-Urubat’, que significa ‘O Arabismo’, fundado na década de 1930), e outro do querido e saudoso Amigo Soubhi Issa Ahmad, que o adquirira em sua primeira viagem ao Egito, logo depois do Terceiro Assalto (nome como os árabes chamam à famigerada Guerra dos Seis Dias, de junho de 1967), e que o dedicou a um de seus Filhos, creio que nos Estados Unidos.

É, para dizer o mínimo, criminoso ver crianças, adolescentes e jovens saudáveis e cheios de vida, talento, sonhos e determinação (aliás, muita determinação) impedidos de poder estudar o que quiserem, se formarem naquilo que sua vocação lhes oportunizar. Por quê? Porque a nefasta cobiça do colonialismo / imperialismo ocidental, em franca decadência, não querem que povos de cultura milenar comprovadamente intelectualizada, desafiadora e de bases sólidas, os eclipse em sua obtusa mediocridade. Eles não escondem o tráfico de crianças e adolescentes árabes levados para a Europa, ‘ocidentalizados’, como foi o caso de Steve Jobs, cuja origem era síria.

Só em Corumbá e Campo Grande, nas duas colônias palestinas, pude testemunhar meninas e meninos geniais, muito discretos (por pura timidez), assunto que já tinha conversado com o querido e agora saudoso Amigo-Irmão Jadallah Safa. No tempo da OLP (antes de 1989) havia um setor incumbido de proporcionar condições materiais às novas gerações, como política de preservação de seus talentos, até para evitar a ‘fuga de cérebros’, mas a controversa implantação da Autoridade Nacional Palestina tirou o foco desse importante eixo estratégico.

É hora, pois, que todos os cidadãos solidários à Causa Palestina se irmanem -- sobretudo os descendentes das 23 nações árabes, por uma questão de consciência e dever ético (eu, na verdade, não interrompi meus modestos projetos nesse sentido, na perspectiva dos ensinamentos de Herbert de Souza, Paulo Freire e Amílcar Cabral, graças à generosa Professora Doutora Cláudia Araújo de Lima, do CPAN/UFMS) -- para implementarmos o que com Jadallah Safa já vínhamos fazendo, e que precisa ser disseminado em todo o Mundo, porque o sionismo que não apenas se apossar do território da Palestina milenar, mas de sua História, de suas Culturas, de seu protagonismo cidadão ao longo da trajetória da humanidade.

Em sua homenagem, embora ainda não tenha conversado com os demais participantes de nossa modesta iniciativa (por conta das perdas deste fim de semana cancelamos nossas reuniões virtuais), e com a devida autorização da Família desse bravo ativista, daremos o seu nome, para que seu incansável empenho permaneça conosco e os contemporâneos que nunca o conheceram saibam que por trás de um ‘brimo’ que atende o balcão comercial há um cidadão, um ser humano iluminado, preocupado com a humanidade. Como disse meu saudoso Pai num artigo publicado no semanário ‘Tribuna Livre’, fundado pelo querido Professor Valmir Batista Corrêa, em 1987, parodiando Eduardo Galeano em ‘Veias abertas da América Latina’: “A Palestina para os sionistas? Não, a Palestina para a humanidade!”

Finalmente, enquanto houver um cidadão libertário no mundo; enquanto houver um árabe na face da Terra, imperialistas-colonialistas, tremei: haverá revolução! Em outras palavras (isso eu ouvi do Jadallah, a me contar de um ato de que participara em Santiago do Chile), “PALESTINA, PALESTINO, RESISTIR É O TEU DESTINO!”

Ahmad Schabib Hany

terça-feira, 24 de outubro de 2023

DONA MARIA TORRES TAQUES, SEMPRE NA MEMÓRIA E NO CORAÇÃO

Dona Maria Torres Taques, sempre na memória e no coração

Domingo, 22 de outubro, a Senhora Maria Torres Taques, se eternizou depois de uma nonagenária jornada de muita luta, amor e dignidade. De grande estatura ética e, sobretudo, humana, Dona Maria fez de sua existência honrada trincheira de cidadania e muita sobriedade, ‘sin perder la ternura jamás’.

O dia 22 de outubro foi fatídico em dose dupla, diria cavalar. Depois de ter sido impactado pela notícia da eternização do Companheiro Jadallah Safa, veio por meio da delicada (e bem redigida) mensagem de texto da Doutora Regina, Companheira de Vida do Jornalista Luiz Taques, a notícia da eternização da querida e agora saudosa Dona Maria Petrona Torres Taques, Mãe desse Amigo-Irmão de mais de quatro décadas.

Filha de um casal de integrantes da Coluna Prestes, Dona Maria nasceu na década de 1920 no município de Corumbá, então maior entreposto comercial de águas interiores deste país-continente. Viveu intensamente todo o século XX e com critério e sabedoria as duas décadas do século XXI. Espirituosa e dona de reflexões ímpares, cativava todo interlocutor com quem encontrava alguma via de comunicação.

Quando o Jornalista Luiz Carlos Prestes Filho esteve em Corumbá, em 1995, fazendo uma série de reportagens para a revista Manchete sobre os 50 anos da Coluna Prestes, liderada nos anos 1920 por seu lendário Pai, o Cavaleiro da Esperança, ficou encantado com a riqueza de detalhes com que Dona Maria narrou o que seus Pais lhe haviam contado desse emblemático momento da História (maiúscula, por favor, porque não só do Brasil, mas da humanidade, embora desde 1964 escamoteado pelos livros didáticos dominados pela historiografia oficiosa). Além de Luiz Taques e do Ednaldo, o Caçula, não sei se os outros Filhos e Filhas, Netos e Netas e Bisnetos e Bisnetas de Dona Maria conservam essa memória -- até como referência afetiva.

Conheci Dona Maria em meados da década de 1980 por meio de Luiz Taques, sem dúvida o seu maior fã. Não por acaso: o raro faro de repórter cidadão herdara da Mãe. Mais que fonte de ‘inspiração’, na verdade, reflexão, muita reflexão. Porque Dona Maria era uma verdadeira fonte de reflexão; sem exagero, e com o devido respeito, uma sacerdotisa do Oráculo de Delfos, na cosmovisão grega. Até seu caráter helênico tinha um encantador encontro com a ancestralidade greco-latina de seu dialogar. Confesso que não me atrevera a escrever sobre ela em Vida para não estremecer a Amizade (dessas com letra maiúscula) longeva, pois, resguardadas as devidas peculiaridades, ela e meu saudoso Pai tinham muito em comum, desde a paixão indisfarçável pelo saber.

Discretíssima. Não se permitia expor seus geniais critérios, profundos e abundantes. Toda vez que visitava Luiz Taques em Corumbá, as profundas e reflexivas palavras ficavam por conta dos diálogos com a querida Dona Maria, que com sensatez invejável e uso generoso de metáforas ensinava o segredo do bem viver e da comiseração em tempos de tirania, de intolerância. Católica devota de Nossa Senhora, sempre procurou compreender inúmeros amigos/as e familiares espíritas, evangélicos, umbandistas e até ateus -- sem preconceitos ou quaisquer escorregões de intolerância disfarçada.

Aliás, só o Taques para fazer uma perfeita descrição, inclusive física, de Dona Maria, em mais de uma obra sua. Não ousarei repeti-lo, e muito menos citá-lo. Isso ficará para a perspicácia de seu leitor, já identificado com sua discreta sutileza de filho devotado, mas sem pieguice. E a longevidade de Dona Maria tende a se replicar nesse Filho apaixonado, bem como de algumas de suas Filhas, igualmente dedicadas ao máximo de bem-estar da Mãe. O que é raríssimo hoje, pois a quase totalidade dos familiares tende a ‘despejar’ seus idosos em ‘clínicas de repouso’, nome para asilos que bem conhecemos, à exceção honrosa de alguns dignos de reconhecimento.

Em conversas esporádicas com os Filhos e Filhas de Dona Maria, nunca quis perguntar sobre a evidente severidade da Matriarca com sua prole. Meu Pai e minha Mãe, por dizer, o foram, sem nunca terem enveredado em excessos, ainda que, a depender da travessura, tenhamos na memória algumas cenas inevitáveis de seu rigor na preservação de princípios invioláveis. Eram tempos duros, em que qualquer fraqueza no exercício da autoridade materna / paterna era cobrado com rigor pela sociedade, sobretudo se a origem de classe social ou de nacionalidade estivesse em questão.

Viúva desde 1980 do Senhor Narciso Taques, taxista depois de aposentar-se do Ministério dos Transportes, Dona Maria incumbiu-se sozinha de concluir a formação de todos os Filhos e Filhas, que não lhe deram trabalho. Ela se sentia realizada com a sua prole heterogênea: cada Filho, cada Filha, escolheu seu porvir. Fazia gosto pela opção de cada Filho. E como se abateu quando um deles, por contaminação em transfusão de sangue contraíra hepatite C em tratamento hospitalar e não chegara aos 50 anos. Mãe presente. Avó presente. Bisa presente. Amiga presente. E conselheira. Pra ninguém botar defeito.

Não esqueço que, no dia em que acompanhei o féretro de minha saudosa Mãe, Dona Maria me segurou pela mão ao longo do percurso entre a capela e a necrópole, seu jeito ímpar de manifestar seu apoio, carinho maternal. Por ironia da Vida, não pude estar presente ao mesmo percurso no dia 23, pois, embora tivesse tentado chegar a tempo (a mensagem de texto fui receber em cima da hora e quando cheguei à capela da funerária o féretro já havia saído). Mas a nossa conexão com a sua Família, sobretudo com o Amigo Luiz Taques, está acima dessas adversidades. Até porque a magnanimidade de Dona Maria supera com fluidez e cordura os imprevistos da Vida.

Seu legado de empatia, comiseração, solidariedade e, sobretudo, participação permanece vívido e palpitante no conviver e viver dessa Família de pessoas iluminadas, generosas e compreensivas. Nossos profundos e sinceros sentimentos de toda a minha Família pela eternização de Dona Maria a toda a Família Torres Taques, por quem nosso carinho, admiração e amizade sincera se revigoram com o devir dos dias. Até sempre, Dona Maria, e obrigado por ter existido e generosamente nos ensinado o bem viver com comiseração!

Ahmad Schabib Hany

domingo, 22 de outubro de 2023

ATÉ SEMPRE, COMPANHEIRO JADALLAH SAFA!

Até sempre, Companheiro Jadallah Safa!

Depois de resistir por mais de dez dias a um AVC, o Amigo-Irmão Jadallah Safa se eternizou neste domingo, dia 22 de outubro, em São Paulo. Seu exemplo de incansável ativista da Causa Palestina permanece vivo entre nós, que tivemos o privilégio de conviver e aprender por quatro décadas com ele.

O Amigo-Irmão que despeço, incansável e exemplar ativista palestino Jadallah Safa, conheci na luta, na resistência, no inesgotável ativismo em que todo resistente se forja. Interrompera seus estudos universitários na Palestina porque os invasores, os que vivem a impostar a falsa verdade de que são eternas vítimas, não permitiam que palestino pudesse ter diploma universitário. Três anos mais jovem, que eu, havia pouco tempo chegado a Corumbá para sobreviver, como comerciante, dono da humilde Casa Laiali, senão me engano na rua XV de Novembro, entre a Treze de Delamare.

Lembro-me como hoje, precisamente quatro décadas atrás, na mobilização para observar o primeiro ano do Massacre de Sabra e Chatila, em que, como sempre, a hipocrisia israelense usou a insanidade odienta do militar libanês Ellie Hobeika, líder miliciano da Falange Libanesa, para executar, sob ordens e requintes de crueldade de Ariel Sharon, que mais tarde, em vez de punição, receberia Prêmio Nobel da Paz (sic). Era setembro de 1983, quando Corumbá realizara a terceira manifestação de solidariedade à Palestina.

Filha do saudoso Senhor Subhi Issa Ahmad, Amigo-Irmão de décadas de meu saudoso Pai, a hoje saudosa Abla e a sua Amiga Bassma Hussein eram as porta-vozes das mobilizações. Com a discrição e disciplina que lhe eram peculiares, Jadallah se revelara um grande articulador. Logo se tornou Amigo, desses com letra maiúscula. Fui-lhe apresentando as pessoas simpáticas à Causa Palestina, entre elas o então o Professor e Vereador Valmir Batista Corrêa (do PMDB), o Professor Gilberto Luiz Alves, o Professor Tito Carlos Machado de Oliveira, a artista plástica Marlene Terezinha Mourão (querida Peninha), a saudosa Professora Heloísa Helena da Costa Urt (a querida Helô), o Professor Maurício Lopo Vieira (então coordenador da Unidade Regional do Trabalho), o ferroviário Manoel do Carmo Vitório, o saudoso Professor e Vereador Fausto Matto Grosso (do PCB, de Campo Grande) e o também saudoso Manoel Sebastião da Costa Lima, então generoso proprietário da maior livraria da história de Mato Grosso do Sul, a emblemática Livraria Guató, em cuja edícula funcionava a sede do Centro de Estudos Políticos, Econômicos e Sociais (CEPES).

A discrição e o rigor metódico eram a marca indelével desse incansável ativista. Sincera e honestamente, em 40 anos de Amizade e trabalhos incessantes, nunca o vi perder o foco e, sobretudo, a sobriedade. Um verdadeiro estoico em toda a sua generosa existência. Em minha estada em Corumbá, quando o conheci, era aprendiz de repórter num jornalão que associava palestino a ‘terrorista’. A família proprietária, três anos antes, se prestara ao papel de publicar uma foto do então Deputado Antônio Carlos de Oliveira (fundador do Partido dos Trabalhadores em Mato Grosso do Sul) ao lado de Yasser Arafat, líder da OLP (Organização para a Libertação da Palestina) usando um texto-legenda vergonhoso, em que insinuava que o idôneo e combativo parlamentar tivesse ‘vínculos espúrios’ com o ‘terrorismo internacional’.

Ainda vivíamos os derradeiros dias da ditadura, mas a política externa capitaneada pelo chanceler Saraiva Guerrero desvinculara o Brasil da melancólica condição de marionetes dos Estados Unidos e das potências ocidentais, em plena guerra fria. Aliás, mérito de seu antecessor, chanceler Azeredo da Silveira, escolhido pelo general-presidente Ernesto Geisel, com o firme propósito de deixar bem claro de que o Brasil não era ‘quintal dos Estados Unidos’, e assim o Brasil passou a se destacar no concerto das nações pela posição independente e defensor da autodeterminação dos povos e contra o colonialismo ainda vigente nos anos 1970.

Diferente da maioria dos jovens de sua idade, Jadallah lia compulsivamente. Como ler em português requeria muito cuidado (embora tivesse em casa um bom acervo bibliográfico, fazia questão de sublinhar parágrafos inteiros para ter convicção de que compreendera o texto corretamente), e nossas reuniões também tinham uma dose de didática. Generoso, ele também nos ensinava o árabe e o inglês, pois na Palestina se estuda também a língua do colonizador britânico. Ambidestro, escrevia simultaneamente em árabe com a mão esquerda e em inglês ou português com a mão direita. Uma inteligência a toda prova.

Morou oito anos em Corumbá. Nesse período, bastante fecundo por conta da Constituinte e das mobilizações decorrentes da construção do Estado Democrático de Direito, a Vida nos permitiu testemunhar inúmeras atividades no âmbito da defesa de direitos do Povo Palestino. No primeiro ano da Nova República, tivemos a sorte de conhecer Miguel Anacleto Junior, fundador e presidente do Instituto Brasileiro de Amizade e Solidariedade aos Povos (IBASP), com sede em Olinda (Pernambuco), por meio da querida Amiga Yone Ribeiro Orro, esposa do saudoso Deputado Roberto Moaccar Orro, de Aquidauana.

No entanto, sua atuação em Corumbá e região ficou marcada com a histórica realização por mais de 60 dias da I Mostra da Cultura Árabe-Palestina de Corumbá (Casa de Cultura Luiz de Albuquerque, ILA, de 30 de junho a 30 de setembro de 1987, com a importante colaboração da Professora Mestra Elenir de Mello Alves, biblioteconomista responsável da Biblioteca Pública Estadual Doutor Gabriel Vandoni de Barros). O evento contou com a visitação de mais de três mil pessoas e a presença do Secretário de Estado da Cultura, artista plástico Humberto Espíndola; do Diretor-executivo da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Cândido Alberto da Fonseca; do chefe do Escritório de Representação da Palestina no Brasil, Farid Sawan; do Prefeito Municipal de Corumbá, Dr. Hugo Silva da Costa; do Prefeito Municipal de Ladário, o saudoso Professor Nivaldo Ferreira da Silva; do ex-prefeito de Corumbá, o saudoso Dr. Fadah Scaff Gattass; do saudoso Deputado Armando Anache; do Vereador Valmir Corrêa, e do Presidente da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira de Corumbá Najeh Mustafá nos atos solenes de abertura e encerramento.

Por seu turno, outro momento emblemático foi o ato de lançamento do Comitê 29 de Novembro de Solidariedade ao Povo Palestino, no dia 27 de novembro de 1987 no antigo auditório do Centro Universitário de Corumbá (CEUC/UFMS), de que participaram o Secretário de Estado de Justiça, o saudoso Dr. Roberto Orro; a Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Mato Grosso do Sul, a saudosa Jornalista Margarida Marques; a representante do Grupo de Apoio ao Índio (GAIN-MS); o Diretor da Casa de Cultura Luiz de Albuquerque, saudoso Dr. Lécio Gomes de Souza; a Diretora do Centro Universitário de Corumbá, Professora Doutora Gisela Levatti Alexandre; a Biblioteconomista responsável da Biblioteca Pública Estadual Dr. Gabriel Vandoni de Barros, Professora Mestra Elenir de Mello Alves; o Historiador e Vereador Valmir Corrêa, um dos primeiros Professores Doutores em Mato Grosso do Sul; o saudoso Poeta Rubens de Castro, autor de ‘Flor dos Aguaçais’, membro da Academia Corumbaense de Letras que generosamente declamou o célebre poema ‘Sabra & Chatila’, de autoria do Poeta e Compositor argentino Alberto Cortés, em sua versão traduzida ao português para o evento, e os Amigos Professor Maurício Lopo Vieira e Manoel do Carmo Vitório, na época da Unidade Regional do Trabalho (URT), que integraram a primeira coordenação do referido Comitê de Solidariedade.

Ele é um dos milhões de Palestinos e de Palestinas espalhadas pelo Planeta. Não porque quisesse sair de seu país milenar, berço de culturas, protagonista de História. Foi expulso pelos invasores, europeus, que se apossaram de suas terras, suas casas e suas vidas. Já imaginaram uma pessoa com a inteligência e a capacidade do querido Jadallah o que não poderia ter sido? Mas foi impedido de fazer um curso universitário pelos que fingem ser vítimas, quando não passam de criminosos, em todos os sentidos. Foram os nazistas, na Europa, que lhes impuseram o holocausto, por que os Palestinos, por que os árabes, têm que pagar a conta, em piores condições? É porque naquela região há muita riqueza, e a cobiça tem nome e sobrenome, Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia?

Jadallah Safa, em toda a sua Vida honrada e de muita luta, foi um voluntário, pois nunca auferiu qualquer remuneração pelo que fez com denodo, desprendimento e convicção. De uma geração de resistentes palestinos em que a realização acontece pelo resultado do que faz, não de louvores ou de salamaleques, todos os seus trabalhos foram fruto de muita luta, esforço pessoal. Seu mais recente trabalho, a publicação do resgate biobibliográfico do Poeta e Jornalista Ghassan Kanafani (organizado por Yasser Farid Fayad), ativista de esquerda assassinado pelo Mossad em Beirute na década de 1970, corrobora a trajetória fecunda de Vida e de luta, sem holofotes ou frivolidades.

Sou testemunha privilegiado do valor desse grande ser humano, cuja falta fará, não só para a sua Família (deixa Esposa e Filhos/as em São Paulo), mas para a humanidade, logo nestes nada generosos tempos de individualismo e muita vaidade. Além do aprendizado, ganhei dele alguns livros ímpares como ele (o último, que chegou às minhas mãos pelas de seus Irmãos, é este sobre Kanafani), inúmeras horas de atividades inesquecíveis e, para quem não imaginava, deliciosos pratos palestinos que ele mesmo fazia em casa. Aos queridos Amigos-Irmãos Munther, Nasser e Dona Nelly, à Cunhada Jalila, aos Filhos, Primos, Sobrinhos e Sobrinhos-netos, meus profundos sentimentos. Até sempre, Companheiro Jadallah, e obrigado por ter existido!

Ahmad Schabib Hany