Reflexão oportuna
A
coincidência da Páscoa com o Dia da Terra e os 60 anos do golpe financiado
pelos Estados Unidos em 1964 permite uma reflexão oportuna e inadiável, sem a
qual a sociedade brasileira será condenada a viver de joelhos perante os
abutres do império.
Primeiramente, a celebração da Páscoa pelos Cristãos
em todo o mundo é uma das festividades máximas da Cristandade, como consagração
do legado de Jesus Salvador, e pela Ressurreição, como Filho de Deus para
salvar a humanidade. Jesus fora condenado à pena capital pelas autoridades de
Roma na Palestina ocupada pelo império romano, atendendo à denúncia de Anás e
Caifás, sumos rabinos em Jerusalém, ao acusá-Lo como ‘falso Messias’, e Jesus
venceu a morte e ressuscitou no terceiro dia.
Esses rabinos se
recusavam a aceitar a Mensagem de Jesus ao ‘gentio’ (não judeus), quando proclamava
que veio para salvar todo aquele que Nele crê e terá Vida eterna. Anás e seu
genro Caifás O renegaram porque, para eles, o povo escolhido, portanto a ser
salvo, era só o judeu, razão pela qual decidiram denunciá-Lo a Pilatos,
governador romano da Palestina. Contudo, ressuscitou e sua Mensagem foi
acolhida pela maioria da humanidade, e hoje são dois bilhões e meio de pessoas
pelo mundo que professam a fé Cristã, que tem no perdão, na caridade e na esperança
as suas bases. Não mais ‘olho por olho, dente por dente’, mas o infinito perdão
e o amor como base de sua fé generosa e salvadora.
Nas sábias
palavras do Papa Francisco em sua mensagem ‘Urbi et Orbi’ de 2023, sobre a
Páscoa: “Seja ela para cada um de vós, queridos irmãos e irmãs, em particular
para os doentes e os pobres, os idosos e quantos atravessam momentos de
provação e dificuldade, uma passagem da tribulação à consolação. Não estamos
sozinhos: Jesus, o Vivente, está conosco para sempre. Alegrem-se a Igreja e o
mundo, porque hoje as nossas esperanças já não se quebram contra o muro da
morte, mas o Senhor abriu-nos uma ponte para a vida. Sim, irmãos e irmãs! Na
Páscoa, mudaram as sortes do mundo, e hoje (dia que coincide com a data mais
provável da ressurreição de Cristo)
podemos alegrar-nos de celebrar, por pura graça, o dia mais importante e belo
da história.”
Segundo, o Dia da Terra, importante marco da história
recente do sofrido e resiliente Povo Palestino, é celebrado para assegurar a preservação da
milenar História e da Cultura Palestina, sob ameaça de extinção pelas
atrocidades sionistas, de triste memória. A causa imediata para a fixação dessa data foi o
massacre de Al-Jahil (um em centenas desde que a generosidade palestina permitiu
acolher seus algozes por terem sido vítimas de seu similar da Alemanha nazista): 48 anos atrás, em 1976, uma
greve geral contra a desapropriação de terras para assentar colonos sionistas
nos territórios invadidos levou à repressão e morte de seis camponeses e à
mutilação de centenas de manifestantes palestinos pelos sórdidos soldados
invasores.
Como na Roma de
Pilatos e na Grã-Bretanha de Balfour, os Estados Unidos e a União Europeia,
fiéis herdeiros desses impérios com as mãos manchadas do sangue de inocentes de
todos os tempos, vivem a lucrar das tragédias dos povos oprimidos, sobretudo do
Povo Palestino, que há 76 anos, pelo menos, vem sendo vítima não só de uma
insólita guerra de extermínio -- mediante a estratégia bélica de terra arrasada
contra bebês, crianças, adolescentes, mulheres, jovens, idosos e adultos em
plena atividade econômica, se não matando-os, mutilando-os, causando-lhes traumas
permanentes e dilacerando as famílias --, mas de uma sórdida propaganda -- baseada
no legado de Joseph Goebbels, o nazista da propaganda de Hitler -- em que difamam
sua dignidade, sua honra e sobretudo sua humanidade.
Além das mortes
físicas cometidas contra inocentes de todas as idades, há mortes anímicas que
sociólogos, antropólogos, psicólogos e demais especialidades da ciência
precisarão se debruçar ao longo de décadas para desvelar para a humanidade as
feridas abertas na alma de seres humanos que não têm culpa alguma por terem
nascido na Palestina, por cujos ancestrais viverem há milênios na Terra Santa.
Aliás, senhores representantes desses impérios, qual é o crime cometido pelos
milhares de meninos e meninas vil e cruelmente assassinados desde antes de
1948? Por que a insistência maledicente de criminalizá-los, invisibilizá-los e
desumanizá-los sádica e sistematicamente?
‘Estamos lutando
contra animais e agindo em conformidade’, disse o facínora travestido de ministro
da Defesa do estado sionista. Como assim? Na maioria dos países há leis de
preservação e de proteção de animais silvestres e de estimação contra todas as formas
de violência, mas as convenções internacionais, humanitárias e de direitos
humanos e dos animais sequer são permitidas ao Povo Palestino. Por muito menos
que isso -- e merecidamente, diga-se de passagem -- inúmeros réus foram
condenados a penas rigorosas em todos os países cujos governantes são
coniventes com o governo sionista e os protegem como protegessem um ser
inofensivo e indefeso. Mas que detém um dos mais poderosos (e corruptos) exércitos do planeta, diversos órgãos de espionagem e armas
nucleares de última geração.
Os crimes
cometidos pela entidade sionista são comparáveis aos cometidos pelos nazistas, gostem
ou não os sionistas, seus aliados e cúmplices por ação ou omissão (porque
defender criminosos de guerra é crime de cumplicidade). ‘Israel’ está manchada com o sangue de inocentes, sim, desde
antes de sua criação, pela ONU, sem qualquer consulta prévia aos maiores
interessados, a população palestina, de 1,3 milhão de habitantes então. Se as
atrocidades cometidas ao longo destes 76 anos de Nakba (tragédia palestina) já fossem causar perplexidade e repulsa, é
inimaginável a carnificina nestes cinco meses e meio de sórdida violência
humana à Faixa de Gaza, onde atualmente está confinada uma população de mais de
dois milhões de habitantes.
Relatos de
instituições como as Nações Unidas são de pasmar: a fome catastrófica (apesar
dos donativos fazerem longas filas de carretas da ONU, sionistas se
entrincheiram para impedir a passagem pelas estradas permitidas), o frio intenso (a primavera
começou, mas as temperaturas baixas permanecem para torturar civis de todas as
idades que tiveram que ir morar em tendas de lona ou simplesmente sob os
escombros à intempérie), a falta de
água e de higiene (o cerco impediu o acesso aos poços artesianos e redes de
água potável instalados na região e a população é castigada pela falta de água
para beber, preparar alimentos e se higienizar). Aliás, o relato mais recente,
da ONU Mulheres, é de que Gaza já atingiu o nível mais grave de ausência total
de condições de sobrevivência humana, ao ponto de mulheres estarem dando à luz
sem quaisquer condições sanitárias mínimas, o que tem causado mortes de recém-nascidos
e parturientes, por contaminação.
É como esses ditos ‘religiosos’ [tementes a Deus?] tratam os
descendentes dos palestinos, árabes que ao longo da história protegeram seus ancestrais
judeus, perseguidos pela Inquisição e outras investidas europeias vinculadas,
obviamente, ao império romano e seus diversos espólios, na Idade Média e
Moderna. Onde foi perpetrado o holocausto nazista? Na Europa. Onde foram perseguidos
os judeus na Inquisição? Na Europa. Quem, em diversas ocasiões protegeu os
judeus, inclusive durante a perseguição nazista do século XX, acolhendo-os
fraternalmente? Os palestinos, árabes que desde os remotos tempos os tratavam
de ‘primos’ por conta da ascendência semita, pois os árabes também descendem de
Abraão, pela linha de Ismael, filho dele com Hagar, a escrava árabe que lhe deu
um filho. Ou isso foi revogado de seus livros sagrados? Da Torá? Do Talmude,
repleto de códigos para que o ‘gentio’ não o compreenda?
Pois é, e o Brasil
também tem seus ‘representantes’ paralelos que foram ‘pedir desculpas’ ao
nazissionista Netanyahu: dois inomináveis que me recuso a nominá-los, eis que
não passam de fantoches, marionetes, títeres do amarelão que, fazendo jus à sua
tradição de covarde, procurou ‘refúgio’ na embaixada da Hungria no início de
fevereiro. Mas o passeio vai lhes custar caro, pois um grande cidadão
brasileiro que tenho a honra de conhecer [cujo nome não declino, pois não
consegui falar com ele até o momento em que finalizo meu texto] entrou com ação
contra esses dois usurpadores da prerrogativa do Itamaraty [Ministério das
Relações Exteriores, vinculado do Governo Federal] de atuar nessa seara, e não de
bajuladores de genocidas que têm seus dias contados na vida pública, devendo
logo voltar para a privada, de onde jamais deveriam ter saído.
O terceiro tema,
ao qual já adentramos ao fazer alusão aos órfãos e viúvos da ‘redentora’, que
por 21 anos submeteu o Brasil a um atroz regime com sequelas até hoje irremovíveis,
trata dos malefícios de uma aventura golpista protagonizada por pelo menos dois
grandes parlamentares -- Carlos Lacerda e Magalhães Pinto --, na época
governadores da Guanabara e de Minas, que, na ânsia de cessar a consolidação do
getulismo ou trabalhismo como força política hegemônica, ‘venderam sua alma ao
diabo’, isto é, ao governo Lyndon Johnson, dos Estados Unidos, às poderosas multinacionais
(como a ITT, famosa telefônica estadunidense, que repassou muitos dólares aos
golpistas) e ao empresariado ‘patriota’,
ou melhor, ávido de dinheiro para se locupletar com o verde do dólar e o
amarelo do ouro.
Esse filme, aliás, teve um reprise, muito mal feito, e pior, tendo um
neto de um grande parlamentar [eleito em 1985 primeiro presidente civil
pós-ditadura militar], Tancredo de Almeida Neves, grande brasileiro, como pivô
desse arremedo de golpe e que incompetente perdeu a vez para um palerma,
covarde, desqualificado e, pior de tudo, incompetente. O nome? Aéreo Never,
pois nunca mais chegará nem à prefeitura de sua cidade-natal. Pobre diabo. O
que faltou ao golpe de 2016 contra Dilma Rousseff foi a competência
parlamentar da dupla Lacerda-Pinto, em que um mobilizava e o outro articulava.
Só que estes também se deram mal, muito mal, porque outros encilharam os
cavalos e deixaram os protagonistas a ver... torturas! Um deles, Lacerda,
morreu em circunstâncias muito nebulosas, próprias desses pseudopatriotas, quando
articulava uma frente única contra a ditadura e pretendia trazer ao seu lado
ninguém menos que Juscelino Kubitscheck e João Goulart, ambos igual e
coincidentemente mortos em circunstâncias misteriosas, em datas próximas,
quando as ditaduras filhotas do ‘tio sam’ já tinham acertado o Plano Condor.
Decorridos
sessenta anos da aventura golpista de abril de 1964, cabe à sociedade civil, e
a nós, individualmente, a inadiável reflexão, mais que devida, para
literalmente exorcizar os fantasmas do passado, erradicar de vez os impunes
malfeitores que se protegeram nas fardas de diferentes maus soldados e,
finalmente, fazermos as contas com a História, em especial com as gerações
futuras, que não podem viver sob o risco iminente de uma horda de desvairados,
sentindo-se Napoleão dos trópicos, venham surrupiar a soberania popular, cuja
construção custou Vida, muitas Vidas de gente generosa e digna, e cuja memória
não pode ser mais uma vez enxovalhada.
Golpistas têm que
ser presos e condenados, conforme a legislação determina. Nada de privilégios
aos que, tendo a obrigação institucional, ousaram golpear o governo federal e,
por extensão, todos os três Poderes da República. A hipocrisia não tem cabida
aqui: ou se é autenticamente sincero, ou que os hipócritas cantem seu feitos
onde quiserem. Com o necessário debate, em condições civilizadas e mediante
agenda propositiva, é hora de fazer jus ao belíssimo cenário que a Natureza nos
legou e que precisamos, inclusive, cuidar com todo esmero possível.
Em síntese, o Papa
Francisco alertou que Páscoa tem significado etimológico de passagem, transição.
Isso faz sentido com o momento vivido pela Palestina milenar e seu resiliente
povo, que não se abate ainda que sob bombas armadas com uso de armas proibidas,
como o fósforo branco, nem deixa abater pela propaganda vergonhosa das
potências ocidentais. E o mesmo é preciso fazer pelos sessenta anos da ‘redentora’:
com coragem e bastante ética, tomemos para nós o que os jovens do passado, sem
qualquer temor, fizeram por nós em sã consciência e correndo todos os riscos
que correram.
Ahmad Schabib Hany
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