domingo, 31 de março de 2024
sábado, 30 de março de 2024
LEÓN GIECO - EL ÁNGEL DE LA BICICLETA
CLAUDIO ‘POCHO’ LEPRATTI, EL ÁNGEL DE LA BICICLETA
Hoje
é a véspera do transcurso dos 60 anos do golpe empresarial-militar de 1º de
abril de 1964. Então, havia muitos empresários desejosos de estabelecer uma
relação de maior promiscuidade com as corporações empresariais dos Estados
Unidos. Havia também uma horda golpista de militares alinhados à geopolítica do
ocidente, contrários ao Estado de Direito desde antes do suicídio de Getúlio
Vargas, contra uma posição mais altiva do Brasil no concerto das nações. Obviamente
as famílias proprietárias dos mais influentes meios de comunicação da época
estavam frenéticas para, em sintonia com instituições ultraconservadoras como a
Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (a famigerada
TFP), de Plínio Corrêa de Oliveira, e um setor igualmente ultraconservador da
Igreja Católica, que promoveram as edições da Marcha da Família com Deus pela
Liberdade.
Para
coroar a tão necessária reflexão sobre quanto custou à sociedade civil
brasileira essa noite de 21 anos (entre 1964 e 1985), em que mortes, torturas,
prisões ilegais, sequestros criminosos, mortes ‘acidentais’ e tantos outros
crimes foram cinicamente cometidos, faremos uma pausa para ouvir a genial
interpretação do cantor e compositor argentino León Giecco de “El ángel de la
bicicleta”, uma homenagem-denúncia à execução por policiais fardados da
província de Santa Fe, em dezembro de 2001, do assistente social e voluntário
Claudio ‘Pocho’ Lepratti, de um projeto de inclusão social de crianças e
adolescentes em situação de vulnerabilidade estavam comendo. Apesar do apelo de
‘Pocho’ de que não atirassem porque só haviam meninos comendo, as bestas feras,
sem qualquer comiseração, atiraram não só contra os meninos como contra o
assistente social que tentava salvar vítimas da injustiça social que fazem
questão de ignorar acintosamente na Argentina como em todas as partes do mundo,
sobretudo nestes tempos de obscurantismo fascista.
É
este o link com a história trágica deste ativista social religioso em processo
de análise para eventual beatificação (era seminarista salesiano dedicado, por
conta de sua formação, ao Serviço Social): <https://es.wikipedia.org/wiki/Claudio_%C2%ABPocho%C2%BB_Lepratti>.
Vale a pena ler, refletir e compartilhar. Até por conta da Páscoa, que
coincidentemente transcorre nesta véspera do dia do golpe empresarial-militar
que não podemos esquecer. Aliás, não se trata de apenas de lembrar, mas de
exigirmos a devida reparação dos inúmeros danos causados e a responsabilização
dos que estão vivos e têm que pagar pelos seus crimes, até para evitar a sanha
perversa de novas tentativas de golpes, como o tentado em 8 de janeiro de 2023.
Afinal, quantas tragédias parecidas podem ter sido cometidas em nome de um falso patriotismo, cujos desdobramentos conhecemos muito bem.
VIVA O DIA DA TERRA! GLÓRIA ÀS E AOS MÁRTIRES DA PALESTINA!
Viva
o Dia da Terra!
Glória
às e aos Mártires da Palestina!
A Sociedade
Árabe-Palestino-Brasileira em Corumbá se irmana aos cidadãos e cidadãs de todo
o Mundo para celebrar o 48º Dia da Terra, uma data para ser lembrada a milenar
Palestina, de todos os credos, todas as culturas e todas as raças.
A humanidade vem assistindo, com perplexidade e
angústia, ao genocídio perpetrado em Gaza por um dos maiores (e mais corruptos)
exércitos do planeta, o do estado sionista, com a efetiva cumplicidade das
maiores potências financeiras e militares da atualidade: Estados Unidos, Reino
Unido e União Europeia. Como quadrilha, trazem o nome de união não para promover
a paz e o progresso, mas para invadir, saquear, oprimir e, sobretudo, arrasar e
dominar regiões estratégicas do mundo, como a Palestina milenar, Terra Santa de
todos os credos, todas as culturas e todas as raças.
Sob cínico pretexto de retaliar uma ação de
combatentes palestinos em 7 de outubro do ano passado, o governo nazissionista
do carniceiro de Gaza, com o explícito apoio militar, financeiro e, em
especial, publicitário (toda a mídia mercantil faz fakenews contra o
Povo Palestino, sem qualquer limite ético ou compaixão), já causou a morte
injustificável e criminosa de pelo menos 32.650
mártires, 70% deles mulheres e crianças (Faixa de Gaza),
e mais de 453 mártires (Cisjordânia), além de usar a fome e a sede como arma de
guerra, invadir com tropas armadas hospitais e escolas e universidades para
depois explodi-las e sob os escombros manter feridos e mutilados até a morte,
pois impedem a ação de socorro humanitário, o que é crime de guerra, de
lesa-humanidade.
Onde estão
os direitos humanos? A população palestina não tem direito nem aos direitos
animais. O facínora que se diz ministro da Defesa daquele estado sionista disse
com todas as palavras que “estamos lutando contra animais e agindo de acordo”,
e alguma instituição multilateral, como a ONU, condenou a ele e seu governo?
Pelo visto, para a chamada comunidade internacional, a população palestina não
está contemplada nem pelos direitos dos animais, sejam eles silvestres ou
domésticos. Essa é a recompensa ao Povo Palestino, que acolheu as vítimas do
holocausto nazista durante e depois da Segunda Guerra Mundial, e hoje é vítima
desses que foram protegidos desde o tempo das Cruzadas, da Inquisição e do
Nazismo pela generosa mãe Palestina, berço de muitas religiões do mundo, com
bilhões de fiéis.
Agradecemos,
sim, ao Papa Francisco e ao Presidente Lula por suas incansáveis gestões em
favor de um cessar-fogo e a construção de bases sólidas para uma paz justa,
duradoura e efetiva em bases históricas. Mais que mensagens, o Sumo Pontífice
da Igreja Católica e o maior Estadista da história do Brasil têm atuado de modo
exemplar pelos bastidores do concerto das Nações para conter a sanha
sanguinária do carniceiro de Gaza e seu séquito de hipócritas cúmplices, que
por baixo do discurso diplomático abastecem de armamento de última geração,
inclusive armas químicas e nucleares, o tenebroso exército sionista. A
biografia de todos os chefes de Estado e de governo da atualidade tem sua
consciência e suas mãos manchadas do sangue inocente de mães e avós de bebês e
crianças que tiveram a sua vida criminosamente ceifada por haverem nascido na
Palestina de Jesus Cristo e de tantos Profetas, Santos e Sábios ao longo da
História da humanidade.
O Dia da Terra nos remete ao ano de 1976, quando
em 30 de março, durante uma greve geral na Galileia, seis camponeses
palestinos foram assassinados pelos sórdidos soldados invasores, pertencentes
ao estado sionista saqueador e genocida. Sobre os territórios que havia anexado
ilegalmente em 1967, o governo sionista já punha em prática seu odiento projeto
de expropriação de terras particulares, casas de família e áreas públicas para
a construção de colônias judias na ínfima porção territorial que a ONU havia
determinado, na mesma resolução que criou o estado artificial de Israel, para
acolher os habitantes da milenar Palestina.
A
propósito do transcurso do 48º Dia da Terra, em meio ao luto imposto pelo
genocídio sionista, a Sociedade
Árabe-Palestino-Brasileira em Corumbá se irmana aos irmãos e irmãs de todos os
povos, credos e convicções políticas em todo o Mundo para nos mantermos em
vigília permanente em uma celebração de resistência e de revigoramento da
convicção de que os mártires que tombaram desde antes de 1948, início da Nakba
(a tragédia palestina), terão a sua
memória honrada e dignificada, pois a identidade, a cultura e a nacionalidade
palestina permanecerão por milênios, como sempre estiveram, enquanto vários
impérios nasceram, cresceram e desapareceram.
A
Resistência Palestina segue seu curso histórico, sem perder a convicção de que
se trata de uma causa humanista, uma causa do progresso humano e da evolução de
nossos tempos. A História testemunha a determinação e a dignidade de um povo
que vem sendo humilhado e, pior, desumanizado e criminalizado, quando as
principais potências mundiais conhecem os bastidores dessa barbárie. Enquanto
houver um ser humano solidário e progressista na face da Terra e houver
mulheres e homens livres e de valor a empunhar luta emancipadora como esta, as
consignas a seguir ecoarão vibrantes na consciência da humanidade:
Palestina,
palestino, resistir é o teu destino!
A Paz
Mundial começa na Palestina!
Viva o Dia
da Terra!
Glória às
e aos Mártires da Palestina!
Corumbá
(MS), 30 de março de 2024.
Munther
Suleiman Safa
Presidente
da Sociedade Árabe-Palestino-Brasileira em Corumbá
quarta-feira, 27 de março de 2024
REFLEXÃO OPORTUNA
Reflexão oportuna
A
coincidência da Páscoa com o Dia da Terra e os 60 anos do golpe financiado
pelos Estados Unidos em 1964 permite uma reflexão oportuna e inadiável, sem a
qual a sociedade brasileira será condenada a viver de joelhos perante os
abutres do império.
Primeiramente, a celebração da Páscoa pelos Cristãos
em todo o mundo é uma das festividades máximas da Cristandade, como consagração
do legado de Jesus Salvador, e pela Ressurreição, como Filho de Deus para
salvar a humanidade. Jesus fora condenado à pena capital pelas autoridades de
Roma na Palestina ocupada pelo império romano, atendendo à denúncia de Anás e
Caifás, sumos rabinos em Jerusalém, ao acusá-Lo como ‘falso Messias’, e Jesus
venceu a morte e ressuscitou no terceiro dia.
Esses rabinos se
recusavam a aceitar a Mensagem de Jesus ao ‘gentio’ (não judeus), quando proclamava
que veio para salvar todo aquele que Nele crê e terá Vida eterna. Anás e seu
genro Caifás O renegaram porque, para eles, o povo escolhido, portanto a ser
salvo, era só o judeu, razão pela qual decidiram denunciá-Lo a Pilatos,
governador romano da Palestina. Contudo, ressuscitou e sua Mensagem foi
acolhida pela maioria da humanidade, e hoje são dois bilhões e meio de pessoas
pelo mundo que professam a fé Cristã, que tem no perdão, na caridade e na esperança
as suas bases. Não mais ‘olho por olho, dente por dente’, mas o infinito perdão
e o amor como base de sua fé generosa e salvadora.
Nas sábias
palavras do Papa Francisco em sua mensagem ‘Urbi et Orbi’ de 2023, sobre a
Páscoa: “Seja ela para cada um de vós, queridos irmãos e irmãs, em particular
para os doentes e os pobres, os idosos e quantos atravessam momentos de
provação e dificuldade, uma passagem da tribulação à consolação. Não estamos
sozinhos: Jesus, o Vivente, está conosco para sempre. Alegrem-se a Igreja e o
mundo, porque hoje as nossas esperanças já não se quebram contra o muro da
morte, mas o Senhor abriu-nos uma ponte para a vida. Sim, irmãos e irmãs! Na
Páscoa, mudaram as sortes do mundo, e hoje (dia que coincide com a data mais
provável da ressurreição de Cristo)
podemos alegrar-nos de celebrar, por pura graça, o dia mais importante e belo
da história.”
Segundo, o Dia da Terra, importante marco da história
recente do sofrido e resiliente Povo Palestino, é celebrado para assegurar a preservação da
milenar História e da Cultura Palestina, sob ameaça de extinção pelas
atrocidades sionistas, de triste memória. A causa imediata para a fixação dessa data foi o
massacre de Al-Jahil (um em centenas desde que a generosidade palestina permitiu
acolher seus algozes por terem sido vítimas de seu similar da Alemanha nazista): 48 anos atrás, em 1976, uma
greve geral contra a desapropriação de terras para assentar colonos sionistas
nos territórios invadidos levou à repressão e morte de seis camponeses e à
mutilação de centenas de manifestantes palestinos pelos sórdidos soldados
invasores.
Como na Roma de
Pilatos e na Grã-Bretanha de Balfour, os Estados Unidos e a União Europeia,
fiéis herdeiros desses impérios com as mãos manchadas do sangue de inocentes de
todos os tempos, vivem a lucrar das tragédias dos povos oprimidos, sobretudo do
Povo Palestino, que há 76 anos, pelo menos, vem sendo vítima não só de uma
insólita guerra de extermínio -- mediante a estratégia bélica de terra arrasada
contra bebês, crianças, adolescentes, mulheres, jovens, idosos e adultos em
plena atividade econômica, se não matando-os, mutilando-os, causando-lhes traumas
permanentes e dilacerando as famílias --, mas de uma sórdida propaganda -- baseada
no legado de Joseph Goebbels, o nazista da propaganda de Hitler -- em que difamam
sua dignidade, sua honra e sobretudo sua humanidade.
Além das mortes
físicas cometidas contra inocentes de todas as idades, há mortes anímicas que
sociólogos, antropólogos, psicólogos e demais especialidades da ciência
precisarão se debruçar ao longo de décadas para desvelar para a humanidade as
feridas abertas na alma de seres humanos que não têm culpa alguma por terem
nascido na Palestina, por cujos ancestrais viverem há milênios na Terra Santa.
Aliás, senhores representantes desses impérios, qual é o crime cometido pelos
milhares de meninos e meninas vil e cruelmente assassinados desde antes de
1948? Por que a insistência maledicente de criminalizá-los, invisibilizá-los e
desumanizá-los sádica e sistematicamente?
‘Estamos lutando
contra animais e agindo em conformidade’, disse o facínora travestido de ministro
da Defesa do estado sionista. Como assim? Na maioria dos países há leis de
preservação e de proteção de animais silvestres e de estimação contra todas as formas
de violência, mas as convenções internacionais, humanitárias e de direitos
humanos e dos animais sequer são permitidas ao Povo Palestino. Por muito menos
que isso -- e merecidamente, diga-se de passagem -- inúmeros réus foram
condenados a penas rigorosas em todos os países cujos governantes são
coniventes com o governo sionista e os protegem como protegessem um ser
inofensivo e indefeso. Mas que detém um dos mais poderosos (e corruptos) exércitos do planeta, diversos órgãos de espionagem e armas
nucleares de última geração.
Os crimes
cometidos pela entidade sionista são comparáveis aos cometidos pelos nazistas, gostem
ou não os sionistas, seus aliados e cúmplices por ação ou omissão (porque
defender criminosos de guerra é crime de cumplicidade). ‘Israel’ está manchada com o sangue de inocentes, sim, desde
antes de sua criação, pela ONU, sem qualquer consulta prévia aos maiores
interessados, a população palestina, de 1,3 milhão de habitantes então. Se as
atrocidades cometidas ao longo destes 76 anos de Nakba (tragédia palestina) já fossem causar perplexidade e repulsa, é
inimaginável a carnificina nestes cinco meses e meio de sórdida violência
humana à Faixa de Gaza, onde atualmente está confinada uma população de mais de
dois milhões de habitantes.
Relatos de
instituições como as Nações Unidas são de pasmar: a fome catastrófica (apesar
dos donativos fazerem longas filas de carretas da ONU, sionistas se
entrincheiram para impedir a passagem pelas estradas permitidas), o frio intenso (a primavera
começou, mas as temperaturas baixas permanecem para torturar civis de todas as
idades que tiveram que ir morar em tendas de lona ou simplesmente sob os
escombros à intempérie), a falta de
água e de higiene (o cerco impediu o acesso aos poços artesianos e redes de
água potável instalados na região e a população é castigada pela falta de água
para beber, preparar alimentos e se higienizar). Aliás, o relato mais recente,
da ONU Mulheres, é de que Gaza já atingiu o nível mais grave de ausência total
de condições de sobrevivência humana, ao ponto de mulheres estarem dando à luz
sem quaisquer condições sanitárias mínimas, o que tem causado mortes de recém-nascidos
e parturientes, por contaminação.
É como esses ditos ‘religiosos’ [tementes a Deus?] tratam os
descendentes dos palestinos, árabes que ao longo da história protegeram seus ancestrais
judeus, perseguidos pela Inquisição e outras investidas europeias vinculadas,
obviamente, ao império romano e seus diversos espólios, na Idade Média e
Moderna. Onde foi perpetrado o holocausto nazista? Na Europa. Onde foram perseguidos
os judeus na Inquisição? Na Europa. Quem, em diversas ocasiões protegeu os
judeus, inclusive durante a perseguição nazista do século XX, acolhendo-os
fraternalmente? Os palestinos, árabes que desde os remotos tempos os tratavam
de ‘primos’ por conta da ascendência semita, pois os árabes também descendem de
Abraão, pela linha de Ismael, filho dele com Hagar, a escrava árabe que lhe deu
um filho. Ou isso foi revogado de seus livros sagrados? Da Torá? Do Talmude,
repleto de códigos para que o ‘gentio’ não o compreenda?
Pois é, e o Brasil
também tem seus ‘representantes’ paralelos que foram ‘pedir desculpas’ ao
nazissionista Netanyahu: dois inomináveis que me recuso a nominá-los, eis que
não passam de fantoches, marionetes, títeres do amarelão que, fazendo jus à sua
tradição de covarde, procurou ‘refúgio’ na embaixada da Hungria no início de
fevereiro. Mas o passeio vai lhes custar caro, pois um grande cidadão
brasileiro que tenho a honra de conhecer [cujo nome não declino, pois não
consegui falar com ele até o momento em que finalizo meu texto] entrou com ação
contra esses dois usurpadores da prerrogativa do Itamaraty [Ministério das
Relações Exteriores, vinculado do Governo Federal] de atuar nessa seara, e não de
bajuladores de genocidas que têm seus dias contados na vida pública, devendo
logo voltar para a privada, de onde jamais deveriam ter saído.
O terceiro tema,
ao qual já adentramos ao fazer alusão aos órfãos e viúvos da ‘redentora’, que
por 21 anos submeteu o Brasil a um atroz regime com sequelas até hoje irremovíveis,
trata dos malefícios de uma aventura golpista protagonizada por pelo menos dois
grandes parlamentares -- Carlos Lacerda e Magalhães Pinto --, na época
governadores da Guanabara e de Minas, que, na ânsia de cessar a consolidação do
getulismo ou trabalhismo como força política hegemônica, ‘venderam sua alma ao
diabo’, isto é, ao governo Lyndon Johnson, dos Estados Unidos, às poderosas multinacionais
(como a ITT, famosa telefônica estadunidense, que repassou muitos dólares aos
golpistas) e ao empresariado ‘patriota’,
ou melhor, ávido de dinheiro para se locupletar com o verde do dólar e o
amarelo do ouro.
Esse filme, aliás, teve um reprise, muito mal feito, e pior, tendo um
neto de um grande parlamentar [eleito em 1985 primeiro presidente civil
pós-ditadura militar], Tancredo de Almeida Neves, grande brasileiro, como pivô
desse arremedo de golpe e que incompetente perdeu a vez para um palerma,
covarde, desqualificado e, pior de tudo, incompetente. O nome? Aéreo Never,
pois nunca mais chegará nem à prefeitura de sua cidade-natal. Pobre diabo. O
que faltou ao golpe de 2016 contra Dilma Rousseff foi a competência
parlamentar da dupla Lacerda-Pinto, em que um mobilizava e o outro articulava.
Só que estes também se deram mal, muito mal, porque outros encilharam os
cavalos e deixaram os protagonistas a ver... torturas! Um deles, Lacerda,
morreu em circunstâncias muito nebulosas, próprias desses pseudopatriotas, quando
articulava uma frente única contra a ditadura e pretendia trazer ao seu lado
ninguém menos que Juscelino Kubitscheck e João Goulart, ambos igual e
coincidentemente mortos em circunstâncias misteriosas, em datas próximas,
quando as ditaduras filhotas do ‘tio sam’ já tinham acertado o Plano Condor.
Decorridos
sessenta anos da aventura golpista de abril de 1964, cabe à sociedade civil, e
a nós, individualmente, a inadiável reflexão, mais que devida, para
literalmente exorcizar os fantasmas do passado, erradicar de vez os impunes
malfeitores que se protegeram nas fardas de diferentes maus soldados e,
finalmente, fazermos as contas com a História, em especial com as gerações
futuras, que não podem viver sob o risco iminente de uma horda de desvairados,
sentindo-se Napoleão dos trópicos, venham surrupiar a soberania popular, cuja
construção custou Vida, muitas Vidas de gente generosa e digna, e cuja memória
não pode ser mais uma vez enxovalhada.
Golpistas têm que
ser presos e condenados, conforme a legislação determina. Nada de privilégios
aos que, tendo a obrigação institucional, ousaram golpear o governo federal e,
por extensão, todos os três Poderes da República. A hipocrisia não tem cabida
aqui: ou se é autenticamente sincero, ou que os hipócritas cantem seu feitos
onde quiserem. Com o necessário debate, em condições civilizadas e mediante
agenda propositiva, é hora de fazer jus ao belíssimo cenário que a Natureza nos
legou e que precisamos, inclusive, cuidar com todo esmero possível.
Em síntese, o Papa
Francisco alertou que Páscoa tem significado etimológico de passagem, transição.
Isso faz sentido com o momento vivido pela Palestina milenar e seu resiliente
povo, que não se abate ainda que sob bombas armadas com uso de armas proibidas,
como o fósforo branco, nem deixa abater pela propaganda vergonhosa das
potências ocidentais. E o mesmo é preciso fazer pelos sessenta anos da ‘redentora’:
com coragem e bastante ética, tomemos para nós o que os jovens do passado, sem
qualquer temor, fizeram por nós em sã consciência e correndo todos os riscos
que correram.
Ahmad Schabib Hany
domingo, 24 de março de 2024
terça-feira, 19 de março de 2024
PUNIDOS PELA COERÊNCIA
Punidos pela coerência
Às
vésperas dos 60 anos de uma mentira cinicamente gigante, a sociedade precisa
fazer uma necessária autocrítica: por que pessoas competentes são punidas moral
e até fisicamente e as verdadeiramente criminosas protegidas e até
‘abençoadas’?
Estamos às vésperas do transcurso dos 60 anos do
golpe empresarial-militar de 1º de abril de 1964. Sim, para começo de conversa,
31 de março é a primeira das grandes farsas que compõem a mentira superlativa
de uma ‘revolução’ que só aconteceu na imaginação de pessoas incoerentes, de
formação inconsistente e, sobretudo, nada patriotas. Simples assim.
Caso o paciente leitor tiver alguma dúvida, hoje as
hemerotecas dos jornalões têm os seus acervos totalmente digitalizados. Basta
procurar o site de cada um deles e, selecionando os meses de março e abril de
1964, verá que durante todo o mês de março foram realizados eventos de
entidades bizarras como a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e
Propriedade, de Plínio Corrêa de Oliveira [cujo parentesco com os donos do jornalão
da Alameda Barão de Limeira nunca foi negado ou confirmado por Octavio Frias de
Oliveira, o ‘doutor Frias’ da camaleônica Folha de S.Paulo, que mesmo
não sendo jornalista ‘de carteirinha’, tinha mais critério que os filhos que
querem ou quiseram posar como tais] e diversos manifestos pagos nos principais
jornais de grande circulação, além das diversas edições da ‘Marcha da Família
com Deus pela Liberdade’.
Se a ‘redentora’ tivesse ocorrido em 31 de março,
obviamente, em 1º de abril seu triunfo teria sido estampado nos jornalões,
jornaizinhos e pasquins da época. No máximo em 2 de abril, levando em conta que
os jornais, por razões de produção gráfica, precisavam ‘fechar edição’, no
máximo, até às 16 horas do dia anterior. Mais ágil, a redação do hoje embolorado
O Estado de S. Paulo, cujo secretário de redação era ninguém menos que o
grande, célebre e genial Jornalista Claudio Abramo (mais tarde diretor de
redação da Filha, ou melhor, Folha de S.Paulo), fechava edição às
20 horas, e se preparava para lançar em janeiro de 1965 o Jornal da Tarde,
criado pelo igualmente grande e genial Jornalista Mino Carta, para o público
mais exigente e de ideias arejadas.
Conhecer e ler sobre História não é nenhum
bicho-de-sete-cabeças e muito menos chato, como tentam induzir às pessoas
inocentes para serem facilmente manipuladas. Questionar é preciso, como viver e
navegar, também. Quais, a propósito, foram os líderes do golpe de 1964? Carlos
Lacerda e Magalhães Pinto, gostemos ou não deles, grandes parlamentares e
excepcionais articuladores. Além dos empresários interessados na mudança dos
gestores das obras e serviços públicos, que desde a volta de Getúlio Vargas, em
1950, a velha e avarenta oligarquia ex-cafeeira estava sem cacife para as
tretas e farras com o dinheiro público desde os inomináveis tempos coloniais.
Ou como é que as ‘famílias de bens’ têm o seu ‘belo’ patrimônio, senão
sonegando, açambarcando e se locupletando?
Os golpes, no Brasil e em todo o mundo, foram
feitos por interesses financeiros, senão não teriam sido feitos, até porque
custa caro fazê-los. O de 1964, financiado desde os EUA pelo governo de Lyndon
Johnson [aquele que era vice de John Fitzgerald Kennedy, assumiu com a morte de
JFK e que se reelegeu em 1965, membro do Partido Democrata, ferrenho crente da
Igreja Cristã Discípulos de Cristo, seguidora do Novo Testamento e, em
princípio, não sionista, pelo menos até a época], mediante o braço brasileiro
da telefônica ITT e coordenação do então embaixador estadunidense Lincoln
Gordon e do adido militar Vernon Walters, desde o Rio de Janeiro. E,
diferentemente do que depois foi dito, os Estados Unidos foram, sim, parte
interessada no golpe, como corroboram fartos documentos expostos na segunda
metade da década de 1970 pela Biblioteca Lyndon Johnson, com os arquivos que
podiam ser tornados públicos da gestão Johnson, e que o historiador
brasilianista Thomas Skidmore revelou em “Brasil, de Getúlio a Castelo”.
Há evidências da intervenção direta de funcionários
da CIA, do Departamento de Estado e da Embaixada dos Estados Unidos no Rio de
Janeiro, bem como da ITT e de forças militares estadunidenses que emitiram uma
advertência à resistência civil e integrantes da Cadeia da Legalidade, no sul
do Brasil, de que um porta-aviões ancorado em águas nacionais no Nordeste do
país poderia invadir qualquer capital de estado caso a ‘revolução’ estivesse
ameaçada. Vimos, anos depois, o mesmo acontecer no Chile de Salvador Allende,
Bolívia de Juan José Torres, Argentina de Isabelita Perón, Peru de Velasco
Alvarado e Panamá de Omar Torrijos, entre outros países latino-americanos.
Pelo que sabemos, a única ditadura a manter impunes
torturadores foi a brasileira -- aliás, também x-9, sonegadores, corruptos,
procrastinadores, prevaricadores, conspurcadores, genocidas, pedófilos, traidores
da pátria, marginais ligados ao crime organizado, tráfico de drogas,
contrabando de toda natureza etc. A Argentina, Bolívia, Uruguai e até o Chile
do facínora Augusto Pinochet o fizeram, a despeito de todas as pressões e
ameaças, compreensíveis até. Porque a colonização ibérica da América Latina
assegurou certa impunidade e privilégios aos membros das elites -- e os
militares em tempos remotos faziam parte dessas elites --, o que as
Constituições atuais corrigiram. E o Brasil é exemplo disso, pois a Comissão da
Verdade, no Governo da Presidenta Dilma Rousseff, chegou a ser iniciada, razão
pela qual Heleno, Vilas-Boas e congêneres se somaram a Eduardo Cunha e Michel
Temer para cometer o bizarro golpe que levou o Brasil 100 anos para trás.
Essa impunidade, que não só protegeu, como
‘empoderou’ gente fora da lei e totalmente destituída de valores humanos
básicos, como torturadores, ‘arapongas’ ou x-9, matadores, serviçais sem
quaisquer escrúpulos, alcoviteiros, transgressores, malversadores, atiradores e
pistoleiros de aluguel etc, depois do caos preparado para o golpe de 2016
contra Dilma Rousseff, viraram ‘patriotas’ de meia pataca, num misto de tonton
macoute e mercadores da fé (religiosos de araque), para coagir, dominar,
assediar e, sobretudo, oprimir pessoas de boa-fé para induzi-las à prática de
más ações, em confronto com o que pensa e compreende o mundo e a humanidade.
Esses seres desumanos, na acepção do termo, são a
essência do pior que a espécie humana poderia ter produzido, e produziu, nestes
milênios de existência. Quem são? Os fascistas, que ora se comportam como
nazistas, franquistas, salazaristas, integralistas, sionistas, pinochetistas e
banzeristas. Nada têm de humanos e muito menos de cristãos, embora façam
questão de se alardear a expressão fidedigna do legado de Jesus Cristo. Mas,
como muito oportuna e precisamente foi explicitado nas últimas semanas, são
pseudocristãos ou neojudeus, que por causa do ‘sionismo cristão’ hoje são os
maiores divulgadores de uma doutrina que não existe e nunca existiu: as seitas
ligadas à ‘teologia da dominação’ não são cristãs, e, para sorte da humanidade,
jamais serão: como o legado de Jesus Cristo pode se miscigenar com o de Davi, a
majestade judaica anterior a Cristo, que usou sua posição de soberano para, sem
dó nem piedade, levar à morte um general leal a seu reino para desposar de sua
viúva só por cobiça (refiro-me ao acontecido com o general Urias, leal soldado
de Davi, morto em combate, designado pelo monarca soberbo e ávido por
libidinagem)?
Nestes 60 anos de mentiras espalhadas das mais
cínicas maneiras, cabe à sociedade civil, mas sobretudo a cada um de nós, uma
reflexão sincera e determinante: como permitir a volta covarde e criminosa de
verdadeiros terroristas, criminosos sórdidos, para crivar de balas endiabradas
nossa benfazeja Constituição Cidadã, da inteligência e generosidade de nossa
gente a gênese, e promiscuir o porvir das futuras gerações, sem qualquer
compaixão sincera, a despeito de recorrer ao uso de palavras bíblicas para
cooptar séquitos fiéis.
Nossa sociedade só evoluirá mediante um sério e
profundo reencontro com a verdade, que não será com farsas ou aleivosias,
comuns aos que, para dominar, se valem de termos sagrados com o vil intuito de
submeter o próximo ao jugo do ódio, dominação e entrega. Não nos curvemos, não
nos submetamos a essa prática doentia e perniciosa. Aprendemos com a Vida e os
livros herdados de nossos ancestrais que nosso compromisso é com a Vida, tão e
unicamente com a Vida. Enganam-se os que querem nos impor uma farsa, crendo que
somos ineptos ou iludidos. A mesma Vida que nos mostrou a História é a que rege
com altivez e dignidade o devir de nossos semelhantes, dos quais não nos
desligamos. Do Povo para o que é do Povo, sempre!
Ditaduras nunca mais! Fascismo jamais! Nas palavras
do saudoso Doutor Ulysses Guimarães (principal artífice da Constituição Federal
de 1988), “temos ódio à ditadura; ódio e nojo”:
“Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério. / Quando após tantos anos de lutas e sacrifícios promulgamos o Estatuto do Homem, da Liberdade e da Democracia, bradamos por imposição de sua honra. / Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo.”
Que a mensagem do Doutor Ulysses, um dos punidos
por sua coerência, ecoe em nossas consciências e nos revigore. Ditadura nunca
mais! Fascismo jamais!
Ahmad Schabib Hany
quarta-feira, 13 de março de 2024
AGÊNCIA MATO-GROSSENSE DE IMPRENSA, INICIATIVA PIONEIRA DO CCC
Agência
Mato-grossense de Imprensa, iniciativa pioneira do CCC
Entre as diversas frentes em
que o Consórcio Corumbaense de Comunicação (CCC) se envolveu, por certo a mais
ousada foi a Agência Mato-grossense de Imprensa (AMI), para a qual Daniel Lopes se
dedicara com especial afinco.
Juvenal Ávila de Oliveira, uma das revelações do
Consórcio Corumbaense de Comunicação (CCC), foi o ‘prata da casa’ que chegou
com a novidade: uma lauda com o timbre da AMI, Agência Mato-grossense de
Imprensa. Mas como periodicamente Daniel de Almeida Lopes, diretor-geral do
CCC, trazia novidades de ‘outro mundo’, a boa-nova passou despercebida para os
radialistas e jornalistas abrigados no imponente prédio com linhas entrelaçadas
de art nouveau e neoclássico em que a Rádio Difusora Mato-grossense S/A,
prefixo XYA-2, 1490 KHz, e os demais meios estavam sediados, a 80 metros do Jardim
Independência, no coração do Pantanal e da América do Sul.
É que o sucesso como jovem galã do rádio
mato-grossense no concurso de Miss Mato Grosso em Aquidauana lhe proporcionou
mais uma atividade dentro das iniciativas do CCC daquele Brasil superlativo, do
‘ame-o ou deixe-o’, do ‘ninguém segura este país’, do ‘é feito por nós’. Tudo
era grande, que os anedotários logo arranjaram um causo protagonizado por uma
personagem argentina numa farmácia paulistana. O balconista, todo ufanista, falando
ao cliente identificado como argentino, proclama: “O Brasil tem a maior ponte
do mundo [na época, a Rio-Niterói], a maior hidrelétrica do mundo [Itaipu
Binacional], o maior estádio de futebol do mundo [Maracanã]...” Diante disso, o
argentino assustado, anuncia ao balconista da farmácia sua desistência na
compra, pois queria um supositório para seu filho, ainda bebê, com temor de ser
‘o maior supositório do mundo’.
Apadrinhado e avalizado por ninguém menos que
Filinto Müller, o homem forte do regime de 1964 (presidente e líder da Arena e
do governo do general Garrastazu Médici no Senado) e, mais tarde, presidente do
Senado e do Congresso Nacional), até ter encontrado a morte no acidente com a
aeronave da Varig nas imediações de Paris, rumo ao Aeroporto Internacional de
Orly, o CCC nascera de uma ideia até bem intencionada do advogado e pecuarista
José Feliciano Baptista Neto, então sócio e diretor da Folha da Tarde e
da Rádio Difusora Mato-grossense, ao lado do médico e professor Salomão Baruki,
ex-vereador do PSD, partido de Juscelino Kubitscheck de Oliveira e Tancredo
Neves (e em Mato Grosso, de Filinto Müller, até então aliado incondicional de Getúlio
Vargas e do PTB).
A megalomania com que o CCC acabou hipertrofiado
foi fruto da obsessão de Müller por demonstrar prestígio e poder junto aos seus
correligionários logo no estado natal, onde não conseguira por duas vezes se
eleger governador, a despeito de todo o prestígio junto ao Palácio do Catete,
sede do governo federal até a inauguração de Brasília por Juscelino Kubitscheck
de Oliveira, alvo do golpismo doentio da caserna fascista desde os tempos do
Brasil Império. O que permitiu a Daniel Lopes empreender por todas as frentes
em seu projeto político-midiático nos anos de chumbo.
Leal colega e amigo, o Jornalista Luiz Gonzaga
Bezerra, ex-repórter especial do Jornal do Brasil, era a referência
jornalística para o ex-correspondente de O Globo, então medíocre
vespertino que não se constrangera ser reles porta-voz oficioso do regime de
1964, razão pela qual virou esse grande grupo de comunicação que acabou por
desbancar a Rede Tupi de Rádio e Televisão (de Assis Chateaubriant, o
emblemático Chatô), os Diários e Emissoras Associados espalhados pelo Brasil
(inclusive a pioneira Agência Nacional dos Diários Associados, ANDA), a O
Cruzeiro (por mais de 50 anos a maior revista semanal ilustrada), e décadas
depois a Rede Manchete (de Adolfo Bloch, imigrante judeu russo que implantou a
indústria de tintas gráficas no país e depois ousou competir com Roberto
Marinho na televisão), a Bloch Editores e a Manchete (por décadas a
segunda maior revista semanal ilustrada), a Editora Abril (de Victor Civita, o
maior editor de revistas, fascículos e livros da América Latina, que um dia
pretendeu possuir a sua sonhada TV Abril, mas foi sabotado pelo regime de 1964
e depois pelos seus ex-apoiadores, ligados aos Marinho).
Gonzaga, repórter ético e de grande humildade e
talento, não se entusiasmara com a ideia da Agência Mato-grossense de Notícias
(AMI), pois via a superexploração de seus colegas de trabalho na ânsia de
conseguirem ver suas matérias em outras localidades, em especial emissoras de
rádio de todo o estado de Mato Grosso, eis que eram poucas as que dispunham de
jornal impresso, sequer semanários. Até porque o número de analfabetos no
Brasil era também superlativo, apesar da propaganda do Mobral nos anos de
chumbo. Mesmo assim, acabou fazendo mais essa concessão ao parceiro de
aventura: depois do diretor-geral do CCC, era ele, como redator-chefe do
consórcio, que acabava por dirigir a AMI, para ele um investimento perigoso,
pois todo ele era financiado por Müller.
Filinto Müller era declaradamente contrário ao
movimento divisionista comandado pelos arenistas do sul de Mato Grosso, mas,
hábil político, fingia não se incomodar, até para auferir dividendos políticos
em seu estado natal. Não por acaso, designou seu sobrinho Gastão Müller para
cacique político de Três Lagoas e o aparelhou para se projetar igual a ele,
tanto que conseguiu se eleger senador por Mato Grosso com base eleitoral em
Três Lagoas, onde dispunha de um veículo, o Jornal do Povo, porta-voz
das ideias direitistas da família Müller em pleno regime de exceção.
Enquanto para Daniel Lopes se tratava de mais um
produto do pretensioso CCC, para Müller era a rede de controle político com que
mantinha sob seus olhares de lince as articulações dos correligionários, ‘pero
no mucho’, que por trás faziam seus conchavos para conseguir de qualquer
maneira a divisão do velho Mato Grosso uno, muito caro para o veterano senador
e seus projetos políticos pessoais. Bastou perder a vida em Orly em julho de
1973 para que seus ‘consternados’ correligionários corressem até Brasília para
desengavetar o projeto de criação do estado rebelde do sul dos anos 1930, chamado
de Território de Ponta Porã, e em menos de cinco anos, já sob a gestão dos
generais Ernesto Geisel e Golbery do Couto e Silva, se tornasse realidade.
A AMI foi concebida como uma empresa de
distribuição de notícias jornalísticas de caráter privado, mas com largo
financiamento público, como tudo que soía funcionar durante os anos de chumbo: “aos
amigos tudo, aos inimigos a lei.” A equipe original foi a do CCC, em Corumbá, e
depois foi ganhando capilaridade, como uma rede de colaboradores, em todo o sul
de Mato Grosso. Como o predomínio, então, era de rádios AM, muitas notícias
eram gravadas pelos locutores das emissoras afiliadas à AMI e enviadas às
destinatárias por meio da ferrovia que atravessava o estado, de oeste a leste
e, pelo ramal de Ponta Porã, ao sul extremo, fronteira com o Paraguai, por
malotes devidamente identificados. Na época o uso de telex, teletipo e
belinógrafo (como da Agence France Presse, AFP) era exclusivo da central,
localizada no mesmo prédio do CCC, em Corumbá.
A produção de texto era basicamente feita em
Corumbá pelo pessoal da redação da Folha da Tarde, com destaque ao
talentoso e incansável Jornalista-revelação Edson Moraes, que chegara a viajar
a Campo Grande como enviado especial para cobrir a elucidação do caso do
sequestro de Ludinho, filho adotivo da proeminência arenista Lúdio Coelho por
pessoas próximas à sua família, um dos episódios jornalísticos de maior
repercussão, ao lado do assassinato de Levi Campanhã, em que assessores do
Chefe da Casa Civil do governador Garcia Neto estavam sendo investigados. De
fato, a AMI acabou funcionando como vitrine para os talentosos Jornalistas
formados por Gonzaga Bezerra no CCC.
Juvenal Ávila, o primeiro correspondente da AMI
para uma rádio aquidauanense, conta que ainda era muito usado o sistema de
captação de notícias pelo rádio. A própria Rádio Difusora Mato-grossense, sede
do CCC, antes da constituição plena do projeto apadrinhado por Müller, tinha o
emblemático e insubstituível Pedro ‘Papito’ Gonçalves de Queiroz que fazia a ‘escutapress’,
isto é, gravava as notícias internacionais, nacionais, regionais e locais em
gravador de fita-cassete para depois redigi-las ao seu estilo para a produção
dos noticiários da emissora. E em tempos pretéritos, a velha e conhecida ‘tesourapress’,
até pouco tempo usada em larga escala nos velhos jornalões da capital, que até
hoje não perderam o ranço de que a ‘melhor agência de notícias é o copia-cola’,
e que se danem os direitos autorais e o trabalho dos Jornalistas profissionais.
Com o leilão do prédio e da concessão da Pioneira
Rádio Difusora Mato-grossense S/A e do título da Folha da Tarde (este
adquirido pela Empresa Folha da Manhã S/A, carro-chefe do Grupo Folha, da
Alameda Barão de Limeira, 25, Campos Elísios, São Paulo), muitos documentos
foram extraviados, para prejuízo da memória coletiva corumbaense. Antes da
demolição do imponente prédio da emissora, grande quantidade de discos,
documentos e jornais e revistas em português e espanhol foi descartada na
calçada. Alguns aficionados da cultura e da memória ‘garimparam’ verdadeiras
relíquias, mas a maioria do acervo de décadas foi literalmente jogado no lixo.
Além do pioneirismo, a AMI se constituiu em
verdadeiro aríete das demandas represadas das populações localizadas no sul de
Mato Grosso quando o poderoso senador Filinto Müller sai do cenário político e
no vácuo novas lideranças arenistas granjeiam apoio para seus respectivos projetos
pessoais, sob pretexto de apoiar um regime caquético, e receber as benesses do
poder em troca de três senadores pró-regime de 1964 e quatro deputados federais
apoiadores do Planalto (na verdade, cinco deputados federais, pois havia o
médico adesista Walter de Castro que desavergonhadamente votava com a Arena, a
despeito da pressão exercida pela direção regional do MDB sul-mato-grossense).
Herança da ditadura, Mato Grosso do Sul -- que se
resume a Campo Grande, a praticar a mesma conduta excludente que acusava a
Cuiabá --, tem sido verdadeira mordaça para a afirmação do protagonismo cidadão
em todo o território do estado nascido para ser modelo, e o sufocamento das
atividades jornalísticas propriamente ditas é um processo crescente e
irreversível. Todo governante tende a repetir os cacoetes do Faraó de Miranda
(Pedro Pedrossian) e sua Secom de triste memória, em prejuízo do Jornalismo
profissional. A falência da AMI não decorreu do estrangulamento de um projeto
fadado ao fracasso, por ser um projeto de poder arbitrário, mas pelos acertos
involuntariamente realizados pelos talentosos profissionais, o que não
interessa ao establishment, seja em tempos de arbítrio ou de Estado Democrático
de Direito.
Ahmad
Schabib Hany
sexta-feira, 8 de março de 2024
As origens comunistas do 8 de março // Maria Lygia Quartim de Moraes
7 de mar. de 2017 #8m #feminismo #diadamulher
A
socióloga Maria Lygia Quartim de Moraes apresenta as origens comunistas e
socialistas do Dia Internacional da Mulher. Recuperando as condições
históricas, políticas e econômicas do surgimento do movimento de massas das
mulheres, ela comenta a importância de figuras como Clara Zetkin e Aleksandra
Kollontai na criação do Dia Internacional da Mulher, e como ele serviu de
estopim para desencadear a Revolução Russa. Refletindo sobre como a
historiografia hegemônica buscou apagar e falsear o elo entre o feminismo e o
socialismo nas origens do 8 de março, para produzir uma celebração mais
domesticada e até comercializável do Dia Da Mulher, ela defende uma retomada
radicalidade da data como um dia da luta.
🔥Por
um feminismo anticapitalista, antirracista e antiLGBTQfóbico!
Este
vídeo é o segundo de uma série sobre feminismo e marxismo com Maria Lygia
Quartim de Moraes na TV Boitempo.
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segunda-feira, 4 de março de 2024
A ARTE NA EXCELÊNCIA: JACKSON ARRUDA (IN MEMORIAM)
A arte na
excelência
Violonista alado, Jackson Alberto Alves de Arruda, em crônica do poeta e Jornalista Edson Moraes. Homenagem póstuma publicada no Correio de Corumbá em 3 de março de 2024.
Laurinho Balejo, o filho, canta. E
Jackson Alberto Alves de Arruda, o pai, encanta.
Hábito de encantar. De arrebatar quem
quer que seja deste mundo e quiçá de outros além de nossos limitados ouvidos.
Diziam minha mãe e meu pai que as paredes ouvem e guardam os segredos - mas os
astros os ouvem para cantá-los em notas que só existem nas partituras das
lógicas celestiais.
Não tive ainda a oportunidade e o
prazer de conhecer pessoalmente Laurinho Balejo. Fui e sou amigo de diversos
membros desta querida família corumbaense. Porém o Jackson, irmão do Xingo, é
da casa da nossa família em Corumbá. Éramos vizinhos. Morávamos na Rua
Oriental, hoje a Geraldino Martins de Barros, e a Família Arruda a poucos
metros.
Nas constantes e inevitáveis sessões
de poesia e seresta que clareavam as noites da nossa casa, eu, meus irmãos e
minha mãe, Íris, ficávamos embevecidos diante dos concertos de voz e
instrumento protagonizados pelo meu pai, Carlos de Moraes, e o violonista
Jackson. Eles formavam uma dupla daquelas que o céu se aquieta para ouvir e
depois faz gritaria para pedir bis.
Hoje, enquanto meu pai canta no céu,
aqui na terra, na mesma Corumbá de antigamente, o Jackson faz com que seus
dedos deslizem, abracem, apalpem, toquem com singeleza as cordas do violão,
como se estivesse acompanhando o seu querido amigo de sempre. Toda homenagem que
ainda não foi feita à altura do Jackson será inútil, porque inexiste melhor
galardão ao artista deste nível que o reconhecimento de nossos corações, da
nossa alma, dos nossos desejos, dos nossos sonhos.
Gostaria que o Jackson me perdoasse
pelo atrevimento de chamar de homenagem este tão modesto texto. Porque ele
nunca quis o egocentrismo dos altares do pódium, nem o alto do trono, mesmo
sabendo ser majestade. A glória dos grandes e dos bons é ser a excelência na
planície, no ombro a ombro com o povo, nas mãos dadas com a poesia, no olho a
olho com as cifras que caem como gotas vindas em águas do céu.
Jackson, excelência! (Escrito e
publicado em 26.06.2023)
SOBRE HARMONIAS QUE PERTENCEM AOS
CÉUS
Fiz este modesto rabisco para
felicitar os astros celestes, agora honrados com a chegada do ilustre
inquilino.
Na noite de sábado, 02.03.2024, em
Cuiabá, ao sair de uma igreja, Jackson Alberto Alves de Arruda teve um mal
súbito e foi a óbito. Tinha 79 anos e muitos planos - o foco, evidentemente,
naquilo que mais amava: a música.
Virtuoso violonista, autodidata, ser
humano dos mais simples, verdadeiro, um construtor de convivências, destacou-se
na paisagem artística e cultural de Corumbá e Ladário, cirandeou por Mato
Grosso, percorreu chão boliviano e nunca desgrudou-se em definitivo da sua
amada Cidade Branca.
Não gostava de ser considerado o que
foi em vida diante dos donos dos panteons, um injustiçado. Não que almejasse a
glória, os louros e as reverências majestáticas. Preenchia-se, solene, com os
abraços, as palmas e o carinho dos simples e despojados que o ouviam, porque
era assim que via seus arredores humanos: todos iguais.
Jackson era músico do povo.
Pertencimento absoluto. Parafraseava acordes de Vilallobos, Patápio,
Dilermando, João Pernambuco... e dava o confortável alicerce harmônico para os
diversos intérpretes que acompanhava, entre os quais Carlos de Moraes, Lincoln
Gomes, Élcio Freitas.
Jackson sabia de Gounod, de Gonzaga,
de Jobim, de Cavaquinho, de Pequenino, de Agapito, de Pelego, de Melquíades, de
sargento Vaz, de Barrafunda, de Maria Christovam, de Toddy & Tim, de
Favito, de Waldno, de Fala Baixo, do mano Xingo - Jackson sabia até dos pardais
e rolinhas que infestavam nossos quintais na alegre e boêmia periferia dos
beira-morros corumbaenses.
Não importa mais se tenha sido
olvidado pelo Festival Águas do Pantanal, pelo Festival de Bonito, pelo Globo
de Ouro, pelo Grammy.
O que importa é o galardão do amor
que ecoa nas palmas vibrantes dos corações simples que o celebram. Não como um
rei, mas como um servidor que se fazia feliz distribuindo músico para fazer a
felicidade ao seu redor.
Jackson, que sejam dos anjos aquilo
que sempre pertenceu aos céus: as notas do seu violão.
(Edson Moraes - Em 03/03/2024)
IRRITAÇÃO POR QUÊ?
O Estado de
S. Paulo (4 mar. 24): reportagem denuncia liberação, pelo exército, de
armas de grosso calibre a criminosos durante governo passado.
Irritação
por quê?
Há quem diga que haja muita
gente de alta patente ‘irritada’ com as sucessivas revelações de altos oficiais
do exército envolvidos na tentativa golpista de 8 de janeiro. Por quê? O
desgaste ocorreu quando os oficiais fora da lei decidiram enveredar em uma
aventura, e ponto. Uma simples questão de causa e efeito.
Uma colunista, bem intencionada até, de O Globo,
um dos jornais que se prestaram ao vil papel de porta-voz oficioso do regime de
1964, revelou que militares de alta patente estão ‘irritados’ por causa da
investigação feita pela Polícia Federal sobre o envolvimento de altos oficiais
das forças armadas na intentona de 8 de janeiro de 2023. Segundo o jornal, a
irritação decorre da maneira como a chefia da PF tem divulgado os nomes, aos
poucos, em vez de fazê-lo de uma só vez.
De acordo com jornalistas que cobrem operações
policiais, sobretudo da Polícia Federal, não há como esperar para reunir todos
os investigados e de uma só vez fazer a divulgação. O procedimento é padrão por
conta do caráter da investigação, havendo um protocolo a ser seguido, até para
não melindrar ainda mais os setores de defesa do país, acostumados a um
tratamento fora do padrão durante décadas, em especial durante todo o período
do regime de 1964.
Ora, a lei foi feita para todos, indistintamente
de ofício, profissão, cargo, setor, religião ou condição social. Neste caso,
delicado e até inusitado, é o envolvimento de militares da ativa de alta
patente, que oportuno teria sido ‘abortá-lo’ durante a preparação, não após sua
bizarra e indignante ocorrência. A gravidade não está na investigação, mas na
abjeta participação de servidores públicos de carreira cuja missão
institucional é a defesa da pátria ante inimigos externos, como bem preconiza a
Carta Constitucional de 1988. Ocorre que a caserna acabou contaminada com a
‘patriotaria’ masturbada pela turba do ‘Vem pra rua’, ‘Movimento Brasil Livre’,
‘Cançei’ (com ‘c’ cedilhado, como grafavam as damas de Copacabana e
adjacências, numa demonstração do amor superlativo pela pátria e pelo vernáculo)
e libidinosamente excitada pelas operações pirotécnicas da ‘Leva Jeito’ com o
apoio da Lobo, Abriu, Falha e Estradão, e que queriam ‘Lula vivo ou morto’.
Por outro lado, na edição de 4 de março de 2024, o
carrancudo O Estado de S. Paulo deu a conhecer um fato de
assustar os mais céticos leitores do país: no período governamental passado, o
exército teria liberado armas de grosso calibre a mais de cinco mil CACs (caçadores,
atiradores e colecionadores) que se encontravam em situação de flagrante
irregularidade. Talvez a grande maioria dos nascidos depois de 1980 não saiba,
mas esse capitão da reserva só não foi expulso pela generosidade do então
ministro do Exército Leônidas Pires Gonçalves, que, em vez de bani-lo por
insubordinação ‘y otras cositas más’, resolveu mandá-lo para a reserva.
É bem verdade que esses senhores não são maioria
nas forças armadas e que, entre 1978 e 1988, acreditaram que, a exemplo da
impunidade dos terroristas fardados no acidente de trabalho do Riocentro em
1980, fossem protegidos pela impunidade de forma acintosa e aviltante: “Aos
amigos, tudo; aos inimigos, os rigores da lei.” Mas é bom lembrar o papel digno
de militares institucionalistas ao longo da história pátria, a começar pelo
Marechal (maiúscula, por favor!) Henrique Teixeira Lott, que por sua integridade
e coerência militar impediu que Juscelino Kubitschek de Oliveira fosse golpeado
antes de assumir.
O Marechal Lott é responsável pela posse de JK na
Presidência, e, em consequência disso, da construção de Brasília, instalação do
parque industrial automobilístico e, sobretudo, da implementação dos Planos
Quinquenais de Desenvolvimento Nacional, sob a condução do saudoso e grande
brasileiro Celso Furtado, ministro do Planejamento de JK e grande estrategista
na redução das desigualdades regionais e criação de órgãos como Sudene. E, por seu
turno, os generais Dilermando Gomes Monteiro, Euler Bentes Monteiro e o próprio
Golbery do Couto e Silva também são dignos de menção por sua postura
institucionalista, durante o governo do general Ernesto Geisel, que os levou a
enfrentar colegas do alto comando, como Sylvio Frota, Hugo Abreu, João Paulo
Burnier, Adyr Fiúza, Jayme Portella e Enio Pinheiro.
Não podemos esquecer do general Leônidas Pires
Gonçalves, um general institucionalista sabiamente indicado por Tancredo Neves
ao derrotar malufistas e demais remanescentes do regime de 1964. Graças à
firmeza e lealdade à transição democrática, Leônidas foi, ao lado do saudoso
Doutor Ulysses Guimarães, o responsável pelo pulso firme que assegurou a posse
de José Sarney como vice-presidente eleito quando Tancredo Neves fora internado
às pressas para ser submetido à série de cirurgias para curar a diverticulite
que acabou por levá-lo à morte. Não passou despercebida a intenção dos
partidários de Paulo Maluf de criar um tumulto e fraturar a Aliança Democrática
ao insistir que quem deveria assumir interinamente seria o Presidente do
Congresso Nacional, armadilha declinada por Ulysses e referendada por Leônidas,
cuja liderança na área militar era respeitada.
Insisto, há uma imensa maioria de militares de
diferentes patentes e armas que honram a farda e o juramento feito, nunca tendo
se envolvido em golpes. Tanto é verdade, que a aventura golpista de 8 de
janeiro de 2023 não vingou, a despeito da torpe insistência dos áulicos do
inominalismo, de triste memória. Puro oportunismo: tentaram transformar em
‘estadista’ um pateta totalmente despreparado e desequilibrado, sem qualquer
mérito (militar ou político) e, pior, um obscuro parlamentar do chamado ‘baixo
clero’ que por décadas a fio se comportou de maneira questionável. Ele pode ser
modelo para maus políticos, carreiristas e de mau comportamento -- mas dizer
que, independentemente de suas posições políticas, se trate de liderança de
proa é fazer piada de mau gosto.
Sem dúvida, desde a eternização de Carlos Lacerda
e Magalhães Pinto a direita lúcida e erudita está acéfala. O binômio Carlos
Lacerda -- Magalhães Pinto era, de longe, um afiado aríete que abalava as mais
sólidas estruturas institucionais brasileiras. No entanto, os dois, civis e de
convicções liberais ortodoxas, não aceitaram a fascistização do regime que
ajudaram a instalar com o golpe de abril de 1964. Embora o mineiro tivesse
traquejo fora da média, não inspirava confiança dos dirigentes da linha-dura,
pois Pedro Aleixo, vice de Costa e Silva, fora passado para trás simplesmente
por não usar farda.
Por que gente com o perfil de Urinol e sequazes da
republiqueta de ‘cornitiba’ se prestam recorrentemente a endeusar o inominável
e fazer apologia ao fascismo travestido de neopentecostalismo? Seu
comportamento à frente da ‘Leva Jeito’ o explica: em vez de aplicar a lei, ele
e seus cúmplices se dedicaram à prática da ilicitude, e para isso se valeram do
cargo fruto das conquistas da Constituição de 1988. Não nos esqueçamos de que
foi a Constituinte, com muito esforço, tendo à frente ninguém menos que o
Ministro Sepúlveda Pertence a embasar como constitucionalista a autonomia do
Ministério Público como fiscal da lei. Mas os fascistoides da republiqueta de
‘cornitiba’, entre uma ‘festa da cueca’ aqui e outro festival de orgias acolá,
prevaricaram, conspurcaram, procrastinara e, sobretudo, destruíram as
instituições em desserviço dos interesses maiores da República e do Estado
Democrático de Direito. Mas eles ainda vão pagar, e caro, por tudo o que
fizeram -- diferentemente deles, à luz da lei e da Constituição. Não perdem por
esperar.
Portanto, não cabe ‘irritação’ dos que têm como
obrigação tão-somente cumprir a lei. Há por certo para toda a cidadania,
independentemente de ofício, profissão, cargo, setor, religião ou condição
social, o direito inalienável de indignação por desmandos deliberados
reiteradamente no desgoverno passado, cujo titular não teve a hombridade de
assumir, sim, seus erros: liberação de mais de cinco mil CACs a criminosos e a
invasão depredadora aos Três Poderes. Até hoje vive a mentir, mentir, mentir,
como um verdadeiro mau-caráter de envergonhar toda a nação. Basta já de tanta
cara-de-pau: fora da lei tem que ir pro xadrez e não ficar fornicando, promiscuindo,
masturbando, atiçando, conspurcando e ameaçando os Poderes da República. Lugar
de terrorista, enfim, é na cadeia.
Ahmad
Schabib Hany