Compromisso
com o Estado Democrático de Direito
O Estado Democrático de Direito
é uma conquista da sociedade civil que não pode ser destruída sob qualquer
pretexto. Mais que um divisor de águas na história do Brasil, é razão de ser do
processo civilizatório e instrumento de afirmação de uma identidade plural,
diversa e equânime que tornou o País referência internacional.
A História tem dado demonstrações inequívocas de
que vivemos tempos sombrios. Os valores civilizatórios, construídos ao longo de
milênios ao custo de incontáveis vidas humanas, são postos à prova o tempo
todo. Por que insistir tanto em negar o diferente? A troco de teimar numa
hegemonia ilusória e estúpida quando a natureza demonstra diariamente nossa
fragilidade diante de um complexo conjunto de forças naturais que se fazem
presentes em calamidades causadas pelo acúmulo de erros cometidos nos últimos
três séculos pela cobiça e ganância, acreditando-nos ‘superiores’ às demais
espécies.
Por outro lado, a Vida nos ensina a superar
desafios, e os sucessivos dilemas a que somos submetidos nos levam a uma
evolução inevitável, em que a consciência de nossa insignificância e da
interdependência de nossa espécie vai nos fazer descer dos saltos em que nos
pusemos por pura soberba. A mesma inteligência humana que desenvolve mecanismos
para assegurar uma ilusória hegemonia sobre nossos semelhantes e as outras
espécies de seres vivos é a que nos levará, mais pela dor que por amor, a uma
libertação do jugo financeiro, travestido de ‘desenvolvimento’ ou de ‘progresso’.
Na verdade, há mais de um século e meio temos as
razões para optarmos por um mundo menos agressivo, explorador e opressivo - ou
seja, mais justo e equilibrado. No entanto, forças retrógradas têm cooptado
inteligências excepcionais para o, digamos, ‘serviço sujo’ com o único afã de
manter a lógica perversa aparentemente hegemônica como se fosse uma lei
natural, em que os mais ‘inteligentes’ (sic)
são os vencedores. Assim, os que ousam mudar a perversidade naturalizada são
alvo de campanhas difamatórias, que desqualificam bem ao estilo medieval
obscurantista, dentro do simplismo maniqueísta, os mais simples
questionamentos, inofensivos e em sua maioria óbvios.
Pelo menos por três vezes vivemos isto no contexto
brasileiro. No primeiro quartel do século XX, quando forças obscurantistas se
valeram das ondas nazifascistas europeias e mataram (em muitos casos
literalmente) qualquer chance de transformação das relações de nossa sociedade.
No início da década de 1960, novamente forças reacionárias usaram toda sorte de
bandeira, sobretudo dentro da lógica da guerra fria, para sufocar qualquer
chance de transformar a sociedade por meio da Educação e da Cultura - o
ápice foi o golpe de 1964, articulado desde a sede do império, valendo-se para
isso da narrativa da defesa da ‘liberdade’, depois explicitada como censura,
prisão, tortura e execuções sem julgamento prévio.
Nem trinta anos depois de restaurado o Estado
Democrático de Direito, essa mesma narrativa voltou a ser adotada, mas desta
vez de uma forma muito patética. Muitos ex-combatentes pela democracia acabaram
seduzidos pelos ardis golpistas, e por meio de uma sórdida campanha
maniqueísta, a partir de 2013, inicia-se um retrocesso surreal. Vários foram os
ardis: um aparente prurido anticorrupção, uma inaudita sanha moralista em que
questões religiosas e comportamentais foram misturadas perigosamente, uma
venenosa ode a super-heróis tupiniquins (depois desmascarados pelo primarismo
de suas condutas nada éticas e, sobretudo, pelo despreparo no exercício do
próprio ofício) e por fim uma avalanche patrioteira liderada por um ser
comprovadamente desqualificado e vinculado a setores de foras de lei, como
milicianos, grileiros, garimpeiros, madeireiros, sonegadores de tributos,
mineradores clandestinos e fabricantes de armas, mais tarde associado a
mercadores da fé e recalcados dos mais diferentes ofícios e rincões do País.
Como ‘não há mal que dure cem anos’, conforme nos
ensina a sabedoria popular, o ‘rei’ está nu e os seus fétidos glúteos
escancarados, sobretudo quando teima em afrontar as mais comezinhas normas de
convívio institucional. O ‘pó de mico’ espalhado na multidão está vencido e não
mais faz efeito. Cada passo que as hordas mefistofélicas dão mais o afunda: os
seus dias estão contados, ainda que tente atentar contra vidas humanas e dos
biomas (como, aliás, tem feito sem demonstrar qualquer pudor, empatia ou
caridade cristã) e até mesmo a ordem constitucional, sua obsessão precoce,
desde os tempos em que por muito pouco não vira desertor.
Cabe, portanto e tão somente, às pessoas
sinceramente comprometidas com a Vida, com os valores civilizatórios, com o
porvir das próximas gerações e com as reais perspectivas do País a inadiável
tomada de atitude frente ao processo de destruição do Estado de Direito e da
democracia -
e com eles todas as benfeitorias constituídas nos últimos dois séculos de
soberania nacional -,
com a manifestação contundente do não rotundo a tudo que atenta contra o que
foi duramente construído, sobretudo, nos últimos 30 anos.
Acreditar no porvir deste País-continente é dar
uma chance à imediata edificação de um novo tempo, um novo momento, permeado
pelo amor ao próximo como elemento motriz da nova política a ser implementada
já. Chega de ódio! O amor como sinônimo de bem estar, de porvir, de igualdade
de oportunidades, de soberania popular, é o que esta população hospitaleira e
acolhedora precisa e merece.
Ahmad
Schabib Hany
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