AS
RAZÕES DA DESRAZÃO
Literalmente no poder há
séculos, voltaram ao governo em 2019, mas até hoje não demonstram conexão com a
realidade. Por que os ‘donos do poder’ não sabem governar? Tudo leva a crer que
eles só conseguem enxergar a si mesmos, em suas intermináveis disputas.
Meu saudoso e sábio Pai, que cresceu com o século
XX, costumava dizer que pessoas incapazes de uma autocrítica são perigosas, não
por narcisas ou soberbas, mas por serem limitadas e obtusas. E os que sempre se
danam são aqueles que estão em seu entorno, a quem atribuem seus erros e ‘desgraças’...
São três anos de desmandos e até agora os atuais
inquilinos do Planalto não acertaram o passo. Por quê? Não conseguiram dar um
passo sequer, mesmo tendo maioria nas duas casas do Congresso Nacional e com o
apoio e a ajuda ‘profissional’ da chamada ‘grande imprensa’ (na verdade, ‘jornalões’
e as grandes redes de rádio e televisão, distribuídas aos ‘amigos do rei’ nas
décadas de 1960 a 1980), e a prova são os decadentes Alexandre ‘Graxinha’ e
Augusto ‘Nhunhes’, eternos serviçais desde os tempos da (mal)ditadura.
Por que precisaram recorrer aos ‘profissionais’ da
política que eles tanto satanizaram antes e durante os dois primeiros anos de
patacoadas no Planalto e no Congresso? Mesmo assim, não os deixam ‘trabalhar’,
isto é, fazer o ‘serviço sujo’ para o qual vieram sob os mais cínicos pretextos:
patriotaria, éti(ti)ca, ‘corrupição’ e, pasmem, a velha cantilena da ‘moral e
bons costumes’, já desbotada e desacreditada por eles mesmos em 1964.
Não há nada mais bizarro que as elites endinheiradas
e suas hordas de jagunços de todos os tipos -
parasitas, rentistas, agregados, justiceiros, mercadores da fé, bajuladores,
sonegadores de tributos, marajás do serviço público (de farda, toga ou terno),
capitães do mato, grileiros, matadores de aluguel, jagunços, milicianos,
garimpeiros, madeireiros e traficantes, entre outros fora da lei que vivem como
abutres da tragédia coletiva -,
que não saíram do século XIX em pleno século XXI e se acham acima da lei...
Em sua maioria, são pessoas totalmente
desconectadas da realidade. Vivem um mundo -
melhor, um universo -
paralelo. Ainda que alguns tenham domínio da oratória (também pudera, passaram
décadas pagando cursos de oratória, desses mantidos por velhas instituições europeias
especializadas na arte de ‘conquistar seu público pelo discurso’), não têm a
mais simples capacidade de analisar objetivamente a realidade imediata,
imaginem desenvolver um intrincado prognóstico social num país em que o tecido
social é tão (ou mais) vulnerável quanto a sórdida incapacidade de gestão
dessas elites.
Na verdade, essas figuras, ligadas ao passado de
exclusão -
ou melhor, ao atraso -
só se juntaram, aglomeraram, para interromper as tímidas mas consistentes
transformações que vinham sendo operadas a partir de 1993, com Itamar Franco
(flexibilizadas por FHC, a serviço de uma promíscua concessão às mesmas elites
do atraso) e efetivadas nos dois mandatos de Lula e no primeiro mandato de
Dilma. Obviamente, no mandato-tampão do ‘brimo’ golpista Michel Temer é que
começou o retrocesso, ou seja, o desmonte das políticas públicas já implementadas,
cujo ápice foi o nefasto ‘teto de gastos’, e acabar com as reservas do tesouro
e o Estado de bem-estar social, consolidados desde 2003.
Responda rápido: quais são as grandes realizações
do (des)governo Bolsonaro e do seu siamês, Temer? Eles dois têm se limitado a
inaugurar obras iniciadas entre 2003 e 2016 e a trocar nomes de alguns
programas, na ânsia de aparentar um ato que demonstre algum traço que simule
empatia ou solidariedade com as camadas excluídas ou em situação de exclusão.
Tudo um faz de conta, para ficar bonito na foto e poder render algum bônus na
campanha e nos debates da sucessão presidencial, que por sua vontade não
haveria...
Como eles não têm um projeto de Estado ou ao menos
uma agenda propositiva, limitam-se ao desmonte do Estado e das políticas
públicas implantadas depois da promulgação da Constituição de 1988, que os
idiotas a chamam de ‘comunista’ (sic):
educação, saúde, assistência social, cultura, trabalho, meio ambiente, habitação,
emprego e renda, trânsito, transportes, segurança pública, acessibilidade, igualdade
racial e de gênero, desenvolvimento urbano e rural e de direitos das mulheres,
das populações originárias, dos afrodescendentes, das crianças e dos
adolescentes, dos jovens, dos idosos e das pessoas com deficiências, entre
outras políticas não menos importantes.
Parodiando o saudoso Chacrinha, ‘eles’ não vieram
para governar, mas para desmontar, destruir. O compromisso deles é com seus
amos e senhores, moradores de Manhattan, Nova York. Fazem tudo a um estalo de
seus dedos, e que se dane o povo, o País... É a elite que descende dos mesmos
senhores de escravizados e de seus capitães do mato, portanto, tudo o que fazem
é inspirado em seus ancestrais, cuja fortuna tem o cheiro do sangue e da
violência do pelourinho e da senzala.
Sem delongas: a gota d’água foi a Lei da Empregada
Doméstica, sim. Quando Dilma, então Presidenta da República, sancionou a lei,
também assinou a sua sentença política, exigida por todas as ‘famílias de bem’
(ou melhor, de ‘bens’), à exceção de uma irrisória minoria que atua à luz da
lei, de acordo com os direitos inalienáveis de pessoas que muitas vezes dão a
própria Vida pelos patrões, com os quais se identificam, mesmo sabendo que não
têm a chance mínima de desfrutar de algum centavo desses patrões.
Acrescente-se à ‘famigerada’ lei aquela igualmente
condenada Lei de Cotas, do tempo em que Lula era Presidente: como, na cabeça de
quem vive ainda no século XIX, achar normal que a filha/filho da empregada
estude na mesma universidade de seus filhos, ‘bem nascidos’?! E se isso fosse
pouco, dá para aceitar que o sacro espaço do aeroporto possa ser compartilhado
com a família de farofeiros, como empregados, feirantes e demais agregados,
cujo acesso não pode ser outro que o elevador de serviço -
acontece que a política salarial elevou de fato os salários dos trabalhadores e
permitiu uma tímida ‘ascensão’ econômica das classes ‘c’ e ‘d’, que já podiam
passar alguns dias em Miami, por exemplo.
Aí, pronto! A Comissão da Verdade escancarou tudo
o que os órfãos da (mal)ditadura já criam debaixo do tapete da impunidade, o
que ‘causou’ na cabeça dos ‘patriotas’ de pijamas e os tirou do armário, a
ponto de um quase desertor ter virado ‘mito’. Por seu turno, as reservas do
Pré-Sal, descobertas e formuladas no governo do maior estadista do País do
século XXI, despertaram a cobiça do império em decadência que, ao ver a
possibilidade de o Banco de Desenvolvimento dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia,
China e África do Sul) se realizar, começaram a espalhar a discórdia no meio
político, tomado de gente minúscula como aecinho never e josé s(f)erra, até
conseguir atiçar o instinto golpista dessa elite anacrônica, por vários nichos,
inclusive a cloaca da republiqueta da ‘leva jeito’, com o imprescindível
ajutório das famiglias Civita, Marinho, Mesquita e Frias e seus jornalões
embolorados, em conluio acertado com Manhattan.
A desrazão tem nome e sobrenome, sim -
Romero Jucá -,
e atende pela consigna, digo, codinome mefistofélico, ‘estancar a sangria’,
como ficou nítido em 2016. Pois é hora de virar a página, mas sem perder a
memória jamais. Eis as razões da desrazão.
Ahmad
Schabib Hany
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