Charge de Cristóvão Villela, publicada em A Postagem
DUAS
FARSAS DAS MESMAS TRINTA MOEDAS
A demissão de Sérgio Moro, “fritado
em fogo brando” ao mesmo tempo que Bebianno, Lorenzoni, Mandetta e Guedes (o
próximo da lista), evidencia a total falta de compromisso e de lealdade de
Bolsonaro. Por seu turno, o ex-juiz celebrizado pela “Leva Jeito”, como fiel
serviçal do Departamento de Justiça dos EUA, permaneceu na moita à frente do
Ministério da Justiça, o que o iguala a seu chefe.
Enfim chegou ao fim uma “lua-de-mel”
que nada tinha de “lua” e muito menos de “mel”. Pelo menos desde fevereiro de
2019 (apenas quarenta dias da posse), Bolsonaro e Moro já começavam a se
estranhar e sabiam que esse relacionamento estava fadado ao fracasso. Porque
ele fora concebido em meio a um contexto de refrega sórdida em que não havia
construção, e sim destruição — e governar é sinônimo de construir, em todos os
sentidos, inclusive da soberania do país. Chega a ser um mistério como possa
ter demonstrado uma sobrevida de mais de 14 meses quando no segundo mês de
governo as fissuras já estavam expostas...
Em plena expansão da pandemia de
covid-19 no Brasil, numa recaída de seus acessos de inveja e ciúmes — porque em
sua mente rasa só o próprio pode ser a constelação inteira para brilhar, como
centro das atenções —, o atual inquilino do Palácio do Planalto decidiu, sem
razões justificáveis, passar por cima do Ministro da Justiça e Segurança
Pública para demitir o atual diretor-geral da Polícia Federal. Tudo para
“blindar” o filho que vem sendo investigado (atualmente, pois em pouco tempo
outro será a bola da vez, porque todos têm processos em diferentes instâncias),
ou mesmo retaliação à atual coordenação da Lava Jato, que na segunda-feira
emitiu nota repudiando as manifestações antidemocráticas das quais o ocupante
do cargo mais importante da República participou e apoiou.
Dizer que um juiz experiente, com 22
anos de magistratura (seis dos quais sob os holofotes da mídia, que o
transformou em herói enquanto viajava periodicamente à sede do império para
receber as orientações e contatos, sob pretexto de fazer palestras ou cursos), foi
vítima de sua boa-fé, isso é demais. Moro, a bem da verdade, em nada deve a
Bolsonaro: ele é o responsável pelo desmonte do Estado Democrático de Direito
com todo aquele séquito de imbecis “cançados” (com “c” dedilhado tamanha a sua
ignorância idiomática, como ficou patente em cartazes com requintes de um
glamour embolorado, com as fétidas fragrâncias de marcas importadas da
perfumaria e das bebidas destiladas carcomidas pela obsolescência de um tempo
anacrônico, que só existe em suas mentes obtusas).
Bolsonaro é quem deve a “eleição” a
Moro, cujo comportamento flagrantemente parcial foi constatado por juristas do
mundo todo, sobretudo pelos conservadores, que insistem em atribuir ao Estado,
com todas as evidências de esgotamento de suas instituições, uma perenidade que
a própria extrema-direita se encarrega de destruir, quando se declara “antissistema”,
como os “discípulos” de Olavo de Carvalho, o “guru” da dinastia dos PR, patetas
recalcados. Quem ainda insistir em padecer de santa ingenuidade pueril basta
recorrer às inúmeras hemerotecas digitais (arquivos de edições das diferentes publicações
nacionais e estrangeiras, em sua grande maioria antipetista) para relembrar a
prática do nefasto legado de Joseph Goebbels, o homem da propaganda nazista de
Adolf Hitler.
E, de tanto repetir a mentira, a
farsa acabou virando “verdade”: o juiz que fez vista grossa aos envolvidos do
Caso Banestado (como denunciou o pemedebista histórico Roberto Requião,
ex-governador e ex-senador do Paraná, crítico incansável da política econômica
da Presidenta Dilma Rousseff que nunca foi filiado ao PT) de repente vira
herói, a despeito de existirem denúncias de que sua (sic) “conje” Rosângela
Moro era sócia do escritório de advocacia especializado em acordos para delação
premiada, que então inexistiam na jurisprudência brasileira. Da mesma forma, o “ovo
da serpente” do fascismo brasileiro, o obscuro e obtuso deputado federal Jair Bolsonaro,
acaba ficando “bonito na foto”, pela incompetência dos tucanos e seus
comparsas, que perdem a corrida ao pote de ouro para um psicopata defensor de
torturadores e de milicianos a quem até então ninguém, absolutamente ninguém, ousaria
deixar transportar seus filhos em veículo por ele pilotado, digo, dirigido.
Se no plano dos amos e senhores da
Casa Branca “daria tudo certo”, a realidade mostrou precisamente o contrário: a
economia chegou ao colapso (antes da pandemia, basta ver os indicadores dos
últimos 14 meses, até fevereiro, até por conta das provocações contra a China,
maior parceiro comercial do país), a política ficou instável (pelo
desequilíbrio do próprio chefe de Estado, que vive a fustigar seus aliados), a
soberania nacional foi violada e estuprada (e, pior, nem com o ajutório dos
Estados Unidos, conseguiram dar de presente a Embraer com todo seu know-how para
a Boeing, estatal americana ligada ao setor estratégico do império). Em nenhum
momento o herói de Curitiba foi capaz de auxiliar o seu chefe a não enveredar
por tais caminhos mostrando-lhe a necessidade de preservar a segurança jurídica
para afirmar o Brasil como nação séria, confiável e protagonista. Aliás, assim
era vista no tempo em que Lula e Dilma foram chefe de Estado e de governo.
Agora não. A maior vergonha de
qualquer cidadão consciente é ver aquele que se diz presidente a ofender a primeira-dama
da França, presidida por um conservador (portanto, de direita); a debochar da
menina sueca que se preocupa com o meio ambiente; a falar mal e descumprir as
orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), da qual o Brasil é
Estado-membro, em atitudes que mais lembram integrantes de hordas de
recalcados/as a demonstrar uma força desnecessária e muitas vezes
desproporcionais. Mas, quando esse mesmo ser bizarro vê o desqualificado
presidente fraudulentamente eleito dos Estados Unidos (tal qual George W. Bush,
o filho) parece entrar em catarse orgástica, sem qualquer pudor ou discrição,
como o fez na Assembleia Geral das Nações Unidas, quando lhe disse “eu amo você”...
Este momento da história do Brasil me
faz lembrar, mais uma vez, meu saudoso e querido Pai, que com muito humor
recordava uma anedota árabe em que um beduíno brigava com seu camelo, que
ficara emburrado e não queria prosseguir a viagem pelo deserto. Cansado das
tentativas “inteligentes”, decide recorrer à força para demovê-lo de sua
teimosia, mas é o beduíno que sai perdendo, porque o camelo lhe deu um coice
certeiro que o jogou a alguns metros. Então, dando a mão à palmatória,
reconhece: “Em força você me ganha, mas em inteligência estamos quites...”
Empate técnico entre Moro e
Bolsonaro: “Em ardil você me ganha, mas em ética estamos quites...” Pobre país
que precisa de heróis de barro, atolados na lama até o pescoço. E o pior, em
plena pandemia da covid-19, em que precisamos de estadista, e não aventureiro
de calças perdidas.
Ahmad
Schabib Hany
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