“A IGNORÂNCIA É ATREVIDA...”
A
falta de noção torna as pessoas atrevidas, inconsequentes e perigosamente
ousadas. Neste triste momento da história, figuras sem noção no exercício dos
mais importantes cargos da República representam uma ameaça para a
sobrevivência das instituições e, sobretudo, da pretensa civilização,
colocando-a no limiar da barbárie.
Lembro-me, como se fosse hoje, de meu querido e saudoso pai
a nos advertir para o perigo de lidarmos com pessoas sem noção. Quando dizia
sem noção incluía aquelas destituídas de juízo mesmo — as alienadas, mentecaptas
—, bem como as que literalmente vivem na escuridão do saber, ignorantes (mas
sem preconceito, soberba ou empáfia). Tanto umas como outras incorrem em
atitudes-limite, até por conta da falta de consciência do risco iminente de
suas atitudes, por mais bem intencionadas possam ser ou estar.
Bastante disciplinado, meu progenitor até quinze dias antes
de sua eternização, aos 81 anos, fazia questão de ler como se fosse estudante,
com método e horário rígido. Revelara a todos/as os/as filhos/as que seu maior
temor era perder a noção do ridículo. Ele ficara impressionado quando,
recém-chegado à Amazônia, conheceu uma jovem muito linda, filha de um
conterrâneo libanês bem-sucedido, que ao conhecê-lo ficara transtornada,
repetindo, sem nexo, palavras soltas. Contava-nos, com tristeza, como esse
episódio lhe mostrara o lado mais irônico da vida: dispor de recursos materiais,
financeiros, mas não poder oferecer o que para ele era o mais importante na
vida — razão, lucidez.
E lucidez, razoabilidade, é o que mais tem faltado,
sobretudo nestes últimos anos. Em nome de um combate à corrupção de fundo
ideológico (afinal, há família mais corrupta que a pretensa dinastia PR, de
patetas recalcados?), eleitores/as manipulados/as, com inegável apoio de
pastores/as e suas igrejas que mais se assemelham a empresas com franquias pelo
Brasil afora (cujos responsáveis têm metas financeiras a cumprir, e são contra
todo isolamento social por reduzirem seus lucros), permitiram que a
Constituição Federal de 1988 fosse violentada e estuprada. Além do estelionato
eleitoral cometido acintosamente, sem que qualquer juiz eleitoral levasse à luz
o flagrante ardil cometido sob as barbas de todos/as (por isso violentada),
ninguém, em sã consciência, foi capaz de denunciar o estupro em pleno dia,
representado pela prisão do maior líder político brasileiro, gostemos ou não do
Partido dos Trabalhadores (PT), e a mentira da facada em Juiz de Fora ao então
candidato com péssimo desempenho nos debates televisionados.
E, ademais do reconhecimento explícito do Papa Francisco e
de dignitários/as das maiores potências mundiais, a maior prova de que Lula é
um estadista está na obsessão, não só do juiz ladrão que virou sinistro da
injustiça, como do psicopata invasor do Planalto e de sua alcateia que o chama
de pai, que o tempo todo passa inventando fakes sobre ele (Lula) e sua família.
Descobrem que Carluxo tem gajo, disseminam milhões de fake news sobre Lula para
sair do foco. A polícia do Rio encontra pistas que ligam a execução da
Vereadora Marielle Franco e seu motorista à dinastia miliciana, mais uma rajada
de fakes contra o líder inconteste da maior democracia do ocidente. As últimas
são que o prefeito de Nova York tem ligações com o PT e os cientistas da
Fiocruz que desenvolvem a pesquisa sobre a efetividade de uma droga “prescrita”
pelo psicótico (sic) “doutor Morte” no tratamento de vítimas da covid-19
votaram no Haddad em 2018, e por isso são “inimigos”...
O terraplanismo, negacionismo ou cretinismo é
indiscutivelmente pródigo para agregar mentecaptos, mentes rasas, idiotas.
Quando tais seres nefastos, como vírus ou micróbios, decidem ligar-se, os seres
minimamente dotados de inteligência (no sentido amplo) estão condenados à
extinção. Lembram-se dos estudos sobre a Idade Média? Lembram-se da inquisição?
É como se encontram neste momento, sob ameaça de extinção, aqueles/as que ousam
refletir, arguir, divergir. Porque pensar incomoda. Questionar faz mal. Opor-se
aos absurdos passa a ser uma heresia...
Neste domingo, dia 19 de abril (também Dia do Exército, pelo
calendário brasileiro), em visível estado de desespero, Jair Bolsonaro foi para
mais uma sistemática violação das determinações da Organização Mundial da Saúde
(OMS), de evitar aglomerações, para praticar mais um estupro ao Estado Democrático
de Direito. Sob pretexto de “fazer uma live” em frente do Quartel-General do Exército,
em Brasília, foi endossar uma explícita ameaça ao Congresso Nacional e ao Supremo
Tribunal Federal (STF), bradando frases sem nexo, tossindo, desequilibrando-se
(em todos os sentidos) sobre uma camionete branca e, do jeito que mais gosta,
rodeado de “guarda-roupas”, como que estivesse sob ameaça de morte. Ao mesmo
tempo, Carluxo, aquele que está sendo investigado por seus vínculos com
milicianos no Rio, postava o apoio de atiradores de elite (da caserna) ao pai,
numa claríssima ameaça às instituições democráticas.
Um verdadeiro atentado à Democracia, desta vez na condição
de ocupante do mais alto cargo da República, o que configura delito, passível
de sanção com impeachment. Até o momento, apenas três manifestações de repúdio:
a do ministro Luís Roberto Barroso, do STF; do presidente do Conselho Federal
da Ordem dos Advogados do Brasil, Felipe Santa Cruz, e a carta de vinte dos/as 27 governadores/as. Onde estão as vozes
uníssonas dos defensores das liberdades democráticas?
Creio que a Vida foi generosa com meu pai, sempre a dizer:
“A ignorância é atrevida...” Se hoje estivesse entre nós, teria voltado a se
infartar ao ver a autoridade mais importante do país totalmente destituída de
juízo, tal como o autoproclamado presidente dos Estados Unidos, de quem, aliás,
é serviçal, lacaio confesso. E o mais curioso é que, no caso brasileiro, a sociedade
civil dá a impressão de, também, ter perdido a noção do ridículo, ao extremo de
não se indignar perante os atos irracionais do psicopata que tomou de assalto
os destinos da nação e não empreender a urgente e inadiável agenda para uma
transição democrática que nos livre de todos/as os/as canalhas que assombram
impunemente a vida e a liberdade da população brasileira, que não tem por que
ser refém do atraso sociopata de suas elites econômicas, herdeiras das benesses
e da tirania corrupta que por séculos saquearam as riquezas nacionais, sobretudo
seu generoso e hospitaleiro povo.
Ahmad Schabib
Hany
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