AFINAL, O QUE HÁ POR TRÁS DA TROCA DE MINISTRO? (2)
“Não
vejo Bolsonaro como alguém de fato tolo. Ele representa um papel de tonto, de
irresponsável, de ‘mau’...”
Com uma visão profundamente aguçada, uma Amiga pesquisadora,
cujo nome prefiro não expor (por iniciativa minha), fez estas considerações
acerca da troca de ministro da Saúde, as quais faço questão de compartilhar com
os/as Amigos/as leitores/as.
“Li seu texto sobre a troca de ministro da Saúde, e
obviamente concordo com a crítica ao dito presidente e seu ato descabido e
irresponsável. Entretanto, há fios soltos, veja alguns:
“1) Henrique Mandetta recebe de Bolsonaro indiretas públicas
sobre sua atuação no Ministério da Saúde.
“2) A população apoia Mandetta (as pesquisas mostram isso).
“3) Esse apoio repercute favoravelmente para Mandetta, e ele
fica em condições de negociar sua saída, em vista da calamidade que se
aproxima.
“4) Um membro de sua equipe anuncia sua renúncia, Mandetta ‘não
aceita a renúncia’ — posição de poder — e declara publicamente que toda a
equipe sairá (já estava negociada a sua saída).
“4) No dia da saída, Mandetta está seguro (tranquilo?),
recompõe trajetória da sua atuação, avisa uma e outra vez que estamos no início
da expansão do vírus.
“5) Mandetta é recebido sob aplausos e de pé pelo público
presente no dia da sua ‘demissão’, sai por cima, nome feito, credibilidade
restituída depois de atitudes cretinas na política, como o ‘tchau querida’ etc.
“6) Por esses pontos que elenco, creio que ele negociou sua
saída. O substituto é do mesmo partido de Mandetta, ninguém sai perdendo (nós
já estamos perdidos desde que Bolsonaro assumiu).
“7) Observe a atitude de Bolsonaro. Sua fala é muito
insegura e, dizem, guiada por um ponto. Quem está no ponto? Suposição número 1:
Braga Neto (ou são várias vozes?). Nitidamente, Bolsonaro não está no poder.
“8) Observe o aspecto de Bolsonaro, parece doente.
“9) No seu discurso, Bolsonaro diz que ‘ao longo das falas’
que teve com Teich... Dá a impressão de que já estava prevendo a demissão de
Mandetta.
“10) Teich já vinha acompanhando esse governo nefasto com
assessorias etc.
“Em resumo, não creio que Mandetta foi demitido por
Bolsonaro. O agora ex-ministro negociou a sua saída honrosa enquanto estava com
credibilidade, apoio popular, para quê? É um dos fios soltos...
“Bolsonaro não governa. Quem governa? Outro fio solto...
“O DEM sai fortalecido dessa queda de braço. Quem se
favorece com isso? Mandetta, sim. Mas deve haver mais alguém. Caiado? Outro fio
solto...
“Não vejo Bolsonaro como alguém de fato tolo. Ele representa
um papel de tonto, de irresponsável, de ‘mau’... Lembre-se que, quando a
pandemia estava pipocando, ele foi chamado pelo Trump, seu chefe, para quê?
(Não creio que tenha sido um simples encontro para dar ordens, estas ele as
recebe pelo telefone. O que há de fato nesse encontro?)
“Observando as peças do quebra-cabeça, não é tão óbvia a demissão
de Mandetta. Ou, quiçá, eu esteja procurando chifre em cabeça de cavalo...”
Não, querida Amiga, essa sua visão aguçada é fundamental
neste e em todos os momentos da História. O olhar de quem faz ciência, aliás, é
imprescindível para a preservação e consolidação do Estado Democrático de
Direito, sem o qual não há cidadania, não há porvir, não há ciência.
Com todo respeito, faço minhas as suas sábias palavras.
Obrigado por compartilhá-las.
Num momento como estes, torna-se atual, presente, a mensagem
constante do editorial da primeira edição do decano da imprensa da Bolívia, o
“El Diario”, de La Paz, em 1904, quando o seu fundador e primeiro diretor,
Jornalista José Carrasco Torrico, profeticamente escreveu: “A imprensa faz a
luz nas trevas, e quanto existe de progresso no mundo deve-se a seu inesgotável
labor.” (“La prensa
hace la luz en las tinieblas, y cuanto existe de progreso en el mundo, se debe
a su inagotable labor.”). Papel, aliás,
que pode e deve ser atribuído à ciência, também, e com maior relevância.
Ahmad Schabib Hany
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