Pelé, a partida para a eternidade
Edson
Arantes do Nascimento, o menino pobre, talentoso e cheio de sonhos que se tornou
majestade do futebol, fez sua partida derradeira antes da chegada de 2023.
29 de
dezembro de 2022. Data da convocação de Pelé para a eterna seleção dos bambas
da humanidade. Após passar os últimos meses entre idas e vindas ao hospital, Edson
Arantes do Nascimento, o menino pobre, talentoso e cheio de sonhos que se
tornou o eterno o rei, a majestade do futebol, fez a partida derradeira para a
eternidade.
Um Amigo da
Família convencera o Pai que trocasse o ofício de engraxate em sua Bauru do
coração (e do Santos, seu eterno time) pelo emancipador ofício de jogador de
futebol, vocação igual à paterna. Não só abriu os horizontes do ídolo para o
mundo como Pelé revelou o Brasil para toda a humanidade.
O menino de
Três Corações (na verdade de oito bilhões de corações), de Minas Gerais de
Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves, ensinou à humanidade não apenas a arte e
o ofício (porque ele foi de um profissionalismo ímpar) como tornou o esporte
(particularmente o futebol) instrumento de pacificação e harmonia, e fez do Brasil
um país admirado e amado por todos os povos.
Na África,
na Europa e indiretamente no Oriente Médio, Pelé foi pivô de raros momentos de armistício
e concórdia, episódios que ficaram para a história. Se em Vida ele fez proezas
como essas, com sua eternização sua Família resgatou essa vocação inata: para
não concorrer com o momento de congraçamento da democracia com a posse do
Presidente Lula, seu velório e sepultamento serão realizados depois da instalação
do novo governo. Até como forma de união, de pacificação nacional, para
arrefecer a animosidade que ainda teima em atacar o Estado de Direito.
É curioso
que pessoas de origem humilde que galgam posições de sucesso em nossa sociedade
eivada de exclusão, hipocrisia, discriminação e intolerância deem sobejos
exemplos de dignidade, generosidade e empatia. Ao contrário dos beócios membros
da casa grande que teimam em apequenar a grandeza do Povo Brasileiro (com maiúsculas,
por favor!), quando não conspiram contra o porvir deste país-continente em
cujas entranhas se encontram milhares, senão milhões, de pessoas com igual
talento, generosidade e capacidade de realização como Pelé e Lula, brasileiros
que venceram a adversidade e, cada um ao seu modo, contribui para um mundo
melhor.
Em janeiro
de 1984 ouvi perplexo um depoimento desconcertante do célebre Jornalista
Lorenzo Carri (Joelmir Betting do Jornalismo boliviano cujo começo se deu nos
esportes), argentino declaradamente admirador incondicional de Pelé, na época
editor de esportes do diário de maior circulação da Bolívia, o jornal Presencia: em 1959, quando o rei do
futebol fora a La Paz jogar pelo Santos, Carri se iniciava no ofício de
repórter esportivo e, trêmulo e hesitante ante uma estrela em ascensão,
deparou-se com um atleta cordial, afetuoso e generoso (nas palavras de Carri),
como que percebesse a importância dessa reportagem para a vida do jovem principiante.
Graças à
emblemática reportagem, Lorenzo Carri conquista reconhecimento como jornalista
esportivo na Bolívia, status que, segundo o próprio Carri, deve integralmente à
generosidade de Pelé, gratidão que guardou até 2011, ano em que eternizou, onze
anos antes de seu entrevistado. Gestos inusitados como o revelado pelo Jornalista
que editou jornais e telejornais diários na Bolívia a majestade do futebol que
o Brasil ofereceu para a humanidade decerto se multiplicaram pelos quatro
cantos do Planeta.
Pelé se
despede do mundo sem poder comemorar a frustrada vitória da seleção Canarinho em
2022. Mas com seu legado, da dimensão de seu grande talento, gigante personalidade
e imensa alma, torna a humanidade mais excelsa e os brasileiros mais generosos
e solidários.
Até sempre,
Edson Arantes do Nascimento, grande e único Pelé! Agradeço por tido o
privilégio de testemunhar o reconhecimento de um grande Jornalista cuja
iniciação se deveu a um gesto espontâneo de empatia de um menino pobre,
talentoso e cheio de sonhos saído do interior do Brasil e que se tornou
majestade em sua arte para fazer o Planeta mais meigo, afetuoso e fraterno, a
despeito de suas limitações inerentes à condição humana e decorrentes de nossa
sociedade mesquinha e desigual.
Ahmad Schabib Hany
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