quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

A MALDITA HERANÇA DO INOMINÁVEL

A maldita herança do inominável


Além da política de destruição das políticas públicas e das instituições republicanas, numa espécie de guerra de terra arrasada, o inominável quer impor aos atuais comandantes das três forças um flagrante descumprimento à Constituição Federal: a disciplina e a hierarquia.

Fanáticos irascíveis, conservadores exacerbados, seguidores irracionais, neopentecostais fundamentalistas, racistas empedernidos, nazistas e fascistas repaginados, intolerantes remotivados, sonegadores e golpistas incentivados, milicianos e jagunços estimulados, traficantes e contrabandistas organizados, recalcados e ressentidos empoderados, viúvos e órfãos da (mal)ditadura encorajados etc. Esse é o subproduto político do período de (des)governo do inominável no cotidiano da sociedade, que levará décadas para a volta à normalidade.

Enquanto isso, um filho de policial declaradamente simpatizante de Adolf Hitler pratica tiro ao alvo em duas escolas de Aracruz, até então uma acanhada cidade do interior do Espírito Santo. Indiferente às sucessivas tragédias decorrentes da cultura da intolerância e do ódio difundida pelos líderes da extrema-direita no Brasil desde 2013 (sobretudo a partir da candidatura, eleição e posse do inominável no maior cargo da República), o clã da familícia palaciana não desiste de sua obsessão por se manter no poder mesmo tendo sido repelida rotundamente nas urnas.

Entretanto, vem causando perplexidade até entre os mais desatentos o vazamento da informação de que os atuais comandantes das três forças deixariam o cargo na segunda quinzena de dezembro “para não ter que prestar continência” ao Presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois do dia primeiro de janeiro de 2023, quando tomará posse e será o comandante-chefe das Forças Armadas, como estabelece a Constituição Federal.

Postura, aliás, no mínimo questionável, caso se confirmar. Diferente da atitude louvável e altivamente republicana do general Mark Milley, comandante do Estado Maior Conjunto das Forças Armadas dos Estados Unidos que, no fim do desgoverno de Donald Trump, declarou em alto e bom tom, durante o patético ataque terrorista ao Capitólio em 6 de janeiro de 2022, que as Forças Armadas de seu país não iriam avalizar nem embarcariam na aventura golpista preparada pelo tresloucado picareta que disseminou as ideias da extrema-direita pelo mundo afora, inclusive no Brasil.

Que fez política (de guerra) de terra arrasada, que destruiu políticas públicas constantes da Constituição Federal e que fez ruir instituições republicanas, ninguém duvida. Esse indisciplinado, despreparado e incompetente ser bizarro que vem assombrando a nação desde 2019 (e foi mandado para casa por decisão democrática da maioria do eleitorado nos dois turnos de 2022) fez tudo, menos governar para a população durante o mandato que teve nas mãos graças às diatribes daquele que envergonha a toga e de seus sequazes que formaram a republiqueta (de bananas) da ‘leva jeito’, de triste memória.

Nem seus comparsas de orgias orçamentárias o acompanharam em seu intento golpista de afrontar a soberania popular, a despeito da vergonhosa e sorrateira tentativa de, usando o cargo mais alto da República, impedir acintosamente que eleitores nordestinos pudessem votar livremente em seu candidato, além da gastança com compra de votos para reverter a tendência de repulsa de um (des)governo que aumentou os privilégios da parcela mais avantajada do país desde que o Brasil se tornou independente.

Por que, então, os comandantes das três forças (obviamente nomeados pelo inominável quando, sem qualquer respeito pela antiguidade, trocou os anteriores, escolhidos entre seus pares no processo de transição em 2019) decidiram correr o risco de entrar para a história por descumprir o que é mais caro para um militar de carreira, a disciplina e a hierarquia? Deixar vazar (e não desmentir contundentemente) a informação de que eles pretendem deixar seus postos antes da posse do Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva é mais que um flagrante ato de desobediência, de indisciplina e de quebra de hierarquia: é um atentado contra os preceitos constitucionais.

Essa lenda de que ‘eles’ constituem um ‘poder moderador’ não passa de uma tremenda balela, tal qual o inominável é ‘messias’, é ‘mito’. Está mais para fariseu, cínico fariseu, que para messias. Foi, a bem da verdade, por meio dessa acintosa manipulação que as hordas de mefistofélicos se proliferaram pelos quatro cantos deste país-continente. Mas, ainda que com reservas, as instituições republicanas, entre elas as três forças, não se submeteram aos caprichos golpistas do inominável.

Disciplina e hierarquia, por certo, fazem acatar com discrição e galhardia determinações constantes da Carta Constitucional, mas jamais rasgar as suas prerrogativas consagradas no texto escrito durante a celebração cidadã promovida pela Assembleia Constituinte ao longo de 1987 e 1988. A propósito, o saudoso Doutor Ulysses Guimarães explicitou com a contundência requerida pela solenidade de promulgação da Constituição de 1988 que: “Traidor da Constituição é traidor da pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério. (...) Temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. Amaldiçoamos a tirania aonde quer que ela desgrace homens e nações. Principalmente na América Latina.”

A geração do Doutor Ulysses Guimarães construiu esse legado sagrado e generoso. Agora cabe às novas gerações zelar pela manutenção de tamanhas conquistas, frutos de muito denodo, muita abnegação, muita luta, de bravos brasileiros que abriram mão de seus melhores anos de Vida para erigir uma obra modelar para a humanidade. A História, essa grande companheira da humanidade, registrou e continuará a registrar os passos firmes do generoso Povo Brasileiro, cujas instituições devem ser preservadas em nome da soberania nacional, popular e científico-tecnológica. Vida que segue...

Ahmad Schabib Hany

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