O Natal e o armistício
Primeiramente,
feliz Natal de Luz, Vida, Esperança e Confiança (para citar o querido e
exemplar Jornalista Mino Carta)! Enquanto muito(a)s entusiastas querem retomar
bandeiras neste momento extemporâneas, facínoras do inominável continuam, cada
vez com maior ousadia, a atentar contra a vida das pessoas e o Estado de
Direito.
Em tempos
de globalização, o Natal, emblemática data da cristandade, ganhou caráter mais
que universal, é, de fato e de direito, momento de armistício, de desarmamento
e de concórdia entre o antagonismo beligerante que teima impor sua lógica insana
sobre a humanidade, desejosa de Justiça, Paz e Progresso.
Ora, que ‘cristãos’
são esses que se deixam levar por um ódio desumano, injustificável, a tal ponto
de, em pleno clima natalino, preparar um ato terrorista em Brasília, como
denunciou a PM do Distrito Federal no sábado, véspera do Natal?
Não fosse
de causar perplexidade e pavor, o caminhão bomba do Aeroporto Internacional de
Brasília teria sido mais um caso ilustrativo da total desfaçatez que tomou
conta de seres aparentemente normais, inebriados, seduzidos, embriagados,
contaminados pelo fascismo, aqui ingenuamente chamado bolsonarismo. É
terrorismo puro, produzido pela insanidade psicótica de um inominável e seu
grupo de sociopatas que tomaram de assalto os destinos da nação.
Vivemos,
sim, tempos de concórdia e pacificação, mas não há cabida para a impunidade:
esse indivíduo cujo nome não merece ser grafado (até porque sua família não
merece constrangimento ainda maior) não agiu sozinho. Segundo confissão
veiculada na mídia, o objetivo era que o episódio levasse à decretação de
estado de sítio. Mais: ele foi insana e deliberadamente induzido a esse gesto
pelo ‘bombardeio’ sistemático de mensagens das milícias digitais do inominável,
remunerada com dinheiro público e mantida em local privilegiado do Palácio do
Planalto sob o ignóbil nome de ‘gabinete do ódio’ (e que deve entrar para os
anais da Justiça e da História como o ‘gabinete do crime’).
As
autoridades policiais e judiciais não podem nem devem deixar seus autores
(porque é coisa de uma quadrilha, não um ‘lobo solitário’) impunes. Mais: têm
que elucidar os elos existentes entre a prática do crime de terrorismo e toda a
narrativa sórdida, peçonhenta e maldita desses canalhas que, ao longo de pelo
menos quatro anos, permaneceram em seus cargos sobejamente remunerados para
disseminar ódio, intolerância, inimizade e, sobretudo, soberba e sanha de
pretensos ‘cristãos’, ‘moralistas’, ‘conservadores’ (de quê? Eis que destruíram
tudo em vez de conservar, até para fazer jus ao adjetivo que se
autoconferiram).
Além dos
mais, é inevitável que este episódio nos remeta ao famigerado Caso Riocentro,
de abril de 1980, em que um sargento morreu e tenente ficou gravemente ferido com
a explosão acidental de uma bomba que estava sendo transportada para um lugar
daquele espaço cultural, no momento lotado por causa de um show de MPB com a
participação de vários cantores de vanguarda, como Chico Buarque e Milton
Nascimento. Embora as autoridades militares de então não tenham feito a devida
elucidação, toda a imprensa da época mostrou as evidências de se tratar de um ‘acidente
de trabalho’ (sic) feito por
incompetentes agentes de sabotagem da chamada ‘linha-dura’ do regime de 1964,
já em processo de exaustão e total rejeição pela grande maioria da sociedade, a
clamar por liberdades democráticas, tema, aliás, do show alusivo ao Primeiro de
Maio.
Mas, por
que todo fascista, todo ser não necessariamente humano que milita na extrema direita,
tem um fetiche mórbido por atentados terroristas, esquartejamentos e torturas
indescritíveis que nos remetem às praticas da Idade Média, a era do
obscurantismo, das superstições, da intolerância e dos sortilégios?
A predileção
pela necropolítica ficou patente nos últimos anos, em que facínoras saíram do ‘armário’
para atentar acintosamente contra inofensivos e indefesos cidadãos negros,
indígenas, mulheres, lgbtqia+, umbandistas ou de qualquer outra fé de matriz
africana ou originária. A violência desproporcional em atentados como o que
tirou a vereadora Marielle Franco de nosso convívio é recorrente, e o maior
estímulo a esses absurdos foi, sem lugar a dúvidas, o discurso incendiário da
hoje maior autoridade do Brasil.
O fascismo,
decerto a doutrina com o maior acervo de atrocidades já perpetradas contra a
humanidade, traz em sua gênese a insólita violência com requintes de crueldade.
Fruto da inteligência perversa, a mais desumana das ações premeditadas, que
incluem a tortura mental, com morbidez inusitada, é a eloquente expressão de
seres bizarros que praticam a doutrina da barbárie maquiada de ideologia. Pois
saibam que não é ideologia nem linha política: é perversão criminosa, sadismo
puro, recalque travestido de doutrina canhestra.
Talvez por
ingenuidade ou por falta de fundamentação histórica, muito(a)s querido(a)s
ativistas sociais são tentados a cair nessa provocação, recorrendo ao discurso
raso da luta de classes, como se ela apenas existisse na narrativa. A Alemanha
nazista é a maior e mais trágica demonstração de que o acirramento extemporâneo
de determinada pauta classista abriu o caminho sem volta para uma das maiores (senão
a maior) tragédias que a humanidade conheceu e em que, aliás, a própria esquerda
perdeu quadros da estatura de Rosa Luxemburgo. A hora é de um governo de
reconstrução nacional, fora disso só há lugar para aventuras para saciar o
sádico apetite das hienas fascistas.
Neste clima
de congraçamento e pacificação das famílias e da sociedade civil, devemos comprometer-nos
a iniciar uma campanha permanente de fortalecimento de valores que vêm balizando
as sociedades contemporâneas, sobretudo depois do desmascaramento da tragédia
humana produzida pela insanidade do fascismo e do nazismo e seus tentáculos,
como o salazarismo, franquismo, integralismo, sionismo, stroessnerismo,
pinochetismo e banzerismo, cuja cínica e patética apologia está na narrativa do
inominável e de seus parasitas, felizmente incompetentes, mas nem por isso
devem ser poupados de pagar por seus crimes.
As hordas
fascistas estão assanhadas pelo fétido aroma de um (des)governo natimorto e
insepulto. Mais que zelo, precisamos ter comedimento e precaução inesgotável.
Não nos descuidemos, não nos dispersemos, não deixemos de dar-nos a mão: nosso
compromisso com a História, com a própria Vida, nos cobra racionalidade e
prudência. Os fascistas haverão de retornar para o lixo da história, de onde jamais
deveriam ter saído.
Ahmad Schabib Hany
Um comentário:
Estamos todos assustados, mas o medo não nos vencerá.
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