Patriotismo
movido a Viagra
Estas semanas têm sido
reveladoras do nível inimaginável da patriotada que, sem ter feito qualquer
esforço para defender a soberania, vem auferindo vantagens abissais de causar
vergonha aos pracinhas que deram a Vida para combater o nazifascismo em solo
europeu.
Se arrependimento matasse, o número de, digamos,
‘equivocados’ superaria de longe o das vítimas da pandemia de covid-19. Que,
aliás, atingiu essa dimensão pelo desatino de um psicopata de há muito deveria
ter sido interditado.
Não que os arrependidos não devam se redimir de um
erro crasso, grotesco, no afã de manifestar seus recalques ‘y otras cositas
más’ não resolvidas. Têm mais é que fazer penitência pelas consequências
nefastas de seu erro. Porque quem faz de seu voto uma arma não é meramente
eleitor, mas cúmplice de um crime de proporções continentais...
Mas, com quantos Viagras se faz um patriota? Essa
é a pergunta que não quer calar. Meu Amigo João Amorim, um atento cidadão
brasileiro que não foge à luta e, do alto de seus 65 anos, ainda não se
aposentou, dias atrás me cobrou ‘um texto indignado’: “Não é possível que, em
tempos de paz, haja promoção dos altos oficiais e que ressurjam os marechais
sem ter merecido tamanha honraria.”
O Amigo João não é político, não vive da política
-- como, aliás, a família consorte, incapaz de trabalhar e chegadinha numa
contravençãozinha aqui outra acolá --, e se há algo que o deixa indignado é ver
espertalhão se dando bem até demais com o suado dinheiro do povo trabalhador.
João é trabalhador desde a infância, que ao voltar
do grupo escolar engolia às pressas seu almoço e tirava o uniforme para ajudar
o Pai, um nordestino trabalhador que precisou engrossar as fileiras dos
retirantes para oferecer um futuro digno à sua querida prole. Ao se separar da
esposa, os filhos é que passaram a dar um grande ajutório à Mãe, o que
demonstra a sabedoria e o rigor na educação do povo brasileiro.
João, que sempre gostou de trocar ideias comigo,
não votou no ex-capitão. E olhe que a pressão foi medonha: ele me confidenciou
que até pastores que nunca tinha visto se achegaram para ‘orientar’ e, ‘em nome
de Jesus’, pedir para procurar o livramento seu e de seus filhos. Como ele é
quem garante o seu sustento, não revelou seu voto, e se sente livre de qualquer
arrependimento quando vê as patacoadas feitas à luz do dia...
Fomos vizinhos por mais de quatro décadas. Desde a
juventude conversamos de todos os temas, inclusive dos desmandos
administrativos nos três níveis. É que, no breve período em que fui
correspondente de um jornalão da capital, certa vez o entrevistei sobre os
preços das mercadorias na véspera de Natal (de 1984) e me surpreendeu com o
nível de informação. Isso nos aproximou muito, até porque passou alguns anos
fora do Brasil como técnico de manutenção de fogões a gás, ex-empregado de
Paulo Leandro, “o cartão de visitas da Praça Uruguai”, representante exclusivo
da Pibigás.
Dias atrás nos encontramos perto da casa do Neder,
outro velho Amigo, fotógrafo aposentado. É dele esta crítica certeira, muito
próxima de um analista de política tarimbado: “Você viu o decreto para indultar
aquele deputado Silveira? Você acha que esse ato foi de graça? Pode acreditar
que, se ele não desse essa graça o cara punha a coisa no ventilador, e aí o
fedor, digo, o prejuízo era maior...”
“E essa de comprar Viagra, Você pode me explicar?
Só falta mandar fabricar supositório de Viagra... O azulzinho já foi adquirido,
a prótese de pênis, também, tem até gel lubrificante! Na próxima prestação de
contas pode acreditar que terá supositório de Viagra...” Em síntese, João
dissecou a lógica do patriotismo movido a Viagra. Agora não é mais verde e
amarelo, é azulzinho...
Como todo brasileiro que vive de seu trabalho cuja
renda não passa do salário-mínimo, anda descontente com a liberalidade com a
carestia. O combate ao custo de vida não é prioridade deste governo. Para ele, este
governo é dos ‘tubarões’, lembrando a parceria caracu, dos tempos de Figueiredo:
“eles, os ‘grandes’ entram, bonitos, com a cara, e nós, trabalhadores, entramos
com o resto...”
Não é à toa que dizem que patriota amarela quando
vê uma urna em sua frente... Ou foi por acaso o jejum de 21 anos da dita cuja?
Para João, o Viagra não é só para combater a impotência, mas para revigorar o
patriotismo, em especial diante das urnas e a vontade do povo dar o troco e
mandar os caras para o lugar de onde não deveriam ter saído.
Nós, que já tivemos Paulo Henrique Amorim para
comentar o dia-a-dia da política, bem que poderíamos ter agora João Amorim para
elucidar os intrincados casos da política em tempos de guerra... Na Ucrânia.
Ahmad
Schabib Hany
Nenhum comentário:
Postar um comentário