sábado, 1 de maio de 2021

MOMENTO DE LUTO E DE LUTA. MUITA LUTA.

MOMENTO DE LUTO E DE LUTA. MUITA LUTA.

Neste Primeiro de Maio, além do necessário tributo ao(à)s Companheiro(a)s que não mais estão entre nós, a luta contra o fascismo e a destruição dos direitos sociais é mais que dever: é razão de ser. No entanto, lamentamos, mais uma vez, a protelação da celebração articulada com as forças de vanguarda da América Latina, a começar pelos nossos vizinhos mais próximos.

Julho de 2020. Um telefonema do Companheiro Aníbal Monzón, compartilhado com o Companheiro Anísio Guató, nos instigou a participar de um processo de diálogo com os e as Companheiras de organizações populares de nossa América Latina, a começar pela Argentina, Chile, Peru e Haiti.

A bem da verdade, num primeiro momento, pareceu-nos delírio de nosso incansável Companheiro fundador do Grupo Argos de Teatro, que há 25 anos incessantes estimula e desenvolve talentos ao tempo em que forma cidadãos protagonistas de seu tempo. Tanto Anísio quanto eu ficamos quietos, ouvindo mais que falando, sobretudo porque não nos parece fácil construir com responsabilidade um processo daquela dimensão...

Menos de 15 dias depois, lá estávamos todos nós, por meio de uma dessas plataformas de telerreunião conversando com Companheiros da Argentina, Chile e Peru: Oscar, Peru; Ramón e Ricardo, Argentina, e Boris, Chile. Com certa timidez, é certo, mas com muita vontade de conhecer a complexa realidade dos países de nosso entorno, e com os quais, desde os tempos coloniais, estamos de costas, como que nada tivéssemos em comum com eles.

Tratou-se de um até então inédito processo de interlocução espontâneo, voluntário e de verdade sincero. Desde o primeiro momento, que acabou sendo de despedida do Oscar (já em estado terminal em um hospital do Peru), relatos e reflexões sinceras sobre a trajetória da luta de cada expositor em seu respectivo país serviram para alavancar novas relações com Companheiro(a)s da causa dos trabalhadore(a)s por toda a nossa América, efetivamente latina ou não.

A partir de 26 de julho, passamos a nos reunir todos os domingos ao final da tarde, por uma hora, que parecia voar. Verdadeiras aulas vindas de combatentes incansáveis, como os Companheiros Wilfredo (que não mais está entre nós), Walter, Ricardo, Ramón, Boris, Vladimir, Daniel, Jean Clebert, Percy, Alberto, Marina, Thiago, Kelly, Blanca, William, Anísio e Aníbal. Algo que saltou aos nossos olhos é a disciplina rigorosa, do tamanho de suas convicções por uma sociedade melhor, um planeta mais acolhedor. Nesse contexto, a conduta fraternal e orientadora do Companheiro Wilfredo, arrancado de nosso convívio pelo maldito coronavírus, nos marcou profundamente e seu legado generoso e probo deve ser registrado por nosso coletivo com o seu nome inspirador de alguma forma.

Por outro lado, sobretudo para as novas gerações (a quem cabe a responsabilidade histórica de continuar a levar a luta por uma sociedade mais justa e libertária pelas próximas décadas), é hora de, com todo o respeito, romper o casulo e empreender um diálogo permanente com os movimentos populares de vanguarda em toda a América para consolidar os pequenos passos, quase milimétricos, que pudemos dar ao longo destas décadas de incessante tentativa de avançar nessa direção. De concreto, além de um evento pioneiro alusivo ao Dia Internacional dos Trabalhadores, realizado em 2018 na fronteira do Brasil com a Bolívia (e lamentavelmente não mais retomado), só este canal de diálogo permanente com as organizações populares de base ora lembrado é o que foi possível efetivar, e isso graças à teimosia cidadã de Companheiros como Aníbal, Ramón, Ricardo, Boris, Wilfredo e Walter, e que hoje carece de revitalização.

Nunca é demais lembrarmos que as causas autênticas, centrais, não têm dono(a)s e nem toleram serviçais... Mais que boa-vontade e abnegação - desde sempre bem-vindas -, as causas têm a legitimação de coletivos da mesma dimensão delas, do tamanho do mundo, da humanidade. Construamos, pois, este novo capítulo da História (com letra maiúscula) em que o protagonista é coletivo, é “difuso”, não tem dono(a)s e muito menos serviçais. Ao trabalho!

Ahmad Schabib Hany

Nenhum comentário: