O PAÍS DE PAULO GUSTAVO
O talentoso ator e comediante Paulo Gustavo, uma
das 414 mil vítimas da pandemia, teve seu reconhecimento póstumo só comparado
ao da eternização de Ayrton Senna. Desde sempre, o Brasil tem na mente
iluminada e liberta de seus geniais humoristas, dramaturgos e comediantes a
chave de seu porvir libertário e mais alegre. São eles os responsáveis pelo
despertar crítico das grandes maiorias do país e sua possível emancipação.
Depois
de resistir heroicamente por quase dois meses às investidas rasteiras do novo
coronavírus, o talentoso e brilhante ator e comediante Paulo Gustavo se
eternizou na noite desta terça-feira, 4 de maio, causando comoção nacional só
comparada à da eternização do piloto Ayrton Senna, em maio de 1994.
É
a nação de Paulo Gustavo que se manifesta grata, solidária, comovida, mas
também indignada. Como todo humorista, o agora saudoso ator e comediante soube
captar com verdade a alma, o comportamento, a generosidade, irreverência,
espontaneidade, as contradições, angústias e frustrações do povo brasileiro. Sábia
e ousada, a população também soube retribuir de imediato as caricaturas amorosas
e perspicazes que Paulo Gustavo pinçou do cotidiano popular.
Aliás,
cabe aos humoristas, caricaturistas, satíricos, comediantes e saltimbancos o
nobre papel de despertar com alegre irreverência o povo de um país cuja origem
se confunde com o fanatismo e a hipocrisia de ‘cristãos’ de ocasião (pela promiscuidade
institucional que no período medieval e pós-medieval, na verdade renascentista,
existia entre o alto clero e as tais ‘famílias reais’, como em Portugal e
Espanha), que alegavam estar vindo em ‘missão cristã’ para catequizar povos
pagãos, quando a motivação era acintosamente a cobiça, a ganância e a
exploração, com as quais tornaram a então famélica e ignorante Europa em ‘centro
do mundo e berço da civilização’.
Importante
registrar que o talento do brilhante ator e comediante veio de sua vivência,
convivência e capacidade de observação irreverente de sua realidade imediata.
Detentor de uma poderosa autocrítica e sensibilidade humana singular, construiu
meteórica e vitoriosa carreira artística sem perder suas raízes nem o convívio
com a base social de sua própria história.
Em
pouco mais de uma década de intensas atividades profissionais na televisão,
teatro e outros espaços culturais, Paulo Gustavo amadureceu, evoluiu e se transformou
sem ter perdido seu veio genial ou se perdido nos meandros do sucesso. Tudo
isso por conta de uma autenticidade ímpar, aliás, incomum nestes tempos
sombrios de sucesso a qualquer custo.
Além
de ter sabido administrar seu sucesso, doou solidária, generosa e anonimamente a
quantidade que quis a quem precisava, fossem botijões de oxigênio no Amazonas
ou dinheiro para ajudar iniciativas como a do Padre Júlio Lancelotti em São
Paulo ou das obras sociais Irmã Dulce em Salvador. Tudo isso em valores
inimagináveis, na ordem de unidades de milhões de reais, mesmo sabendo que a
pandemia havia interrompido, até então temporariamente, sua apoteótica carreira
artística.
Foi
muito além da dramaturgia: em nome do afeto, do amor em ação, foi um ativista
alegre, contagiante e crítico com muita sutileza e cordialidade. Aliás, altruísmo,
pois soube compartilhar seus espaços e conquistas com ativistas de diferentes
causas, todas justas, como a dele, sem holofotes ou claques para sua
autopromoção. Esses fatos só se tornaram conhecidos depois de anunciada a sua
eternização.
Sua
obra derradeira foi um filme recordista de bilheteria, com mais de 12 milhões
de espectadores, lançado pouco antes do isolamento social imposto pela
covid-19. Então, o filme de certo ‘bispo’ integrante das hordas do ódio e do
fascismo caquético tentou chegar perto, com farta distribuição gratuita a membros
de sua comunidade, mas o mais curioso é que muitos desses ‘irmãos’ assistiram e
se deliciaram com Paulo Gustavo.
Talvez
por isso um nefasto ‘pastor’, desses fundamentalistas frustrados, tenha postado
uma ‘oração’ (sic) carregada de ódio
e recalque semanas atrás, em que desejava que o ator perdesse sua renhida luta
contra a infecção pelo coronavírus e se jactava com a tragédia das vítimas da
covid-19 e suas famílias e amigos. Como todo hipócrita leviano que segue os
ditames do fascistazinho porcaria que só despreparo, desequilíbrio e, pasmem, covardia
vem demonstrando desde sempre, ‘pediu desculpas’ no afã de não ter que responder
judicialmente pelo crime cometido.
O
Brasil chega a 414 mil vidas ceifadas pela covid-19 - cada uma delas
com seus sonhos, compromissos, famílias e histórias - diante da
apatia de alguém que se diz líder e, no entanto, não manifesta empatia nem
gestos concretos para liderar “com hombridade” o enfrentamento à pandemia. No
país em que um impostor, ‘rei Midas’ às avessas - tudo o que
ele toca ou a que ele se refere vira contra si e a população -, é o
canhestro ocupante do Planalto, a autenticidade de um comediante é o irreverente
caráter do verdadeiro messias, libertador de almas e de corpos da opressão dos
hipócritas adoradores do deus mercado, sinônimo de dinheiro, usura, ganância,
cobiça.
Aplausos
e gratidão a Paulo Gustavo, que nos revelou com gargalhadas e na prática a mais
pura e efetiva chave da emancipação popular do obscurantismo fundamentalista
aliado a um neofascismo caquético totalmente decadente. Ele, sim, humilde e
eterno messias da nação brasileira, sem hipocrisias, fanatismos e tiranetes
fraudulentos.
Ahmad Schabib
Hany
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