sexta-feira, 14 de maio de 2021

SABAH, A ALVORADA QUE DESCORTINOU HORIZONTES

SABAH, A ALVORADA QUE DESCORTINOU HORIZONTES

Estudiosa desde a infância, a Psicóloga Sabah Robban se eterniza num momento em que, como nunca, a abnegação e o altruísmo com que sempre se caracterizou são as maiores carências de uma sociedade silenciada pelo individualismo destes tempos sombrios.

Corumbá ficou muito mais pobre nesta quinta-feira, dia 13. A Psicóloga Sabah Robban, exemplo de profissional e de ser humano dedicado à educação inclusiva, se eternizou em consequência de problemas cardíacos. Além de ter trabalhado por décadas a fio na APAE de Corumbá, foi uma referência na pioneira plêiade de profissionais corumbaenses voltadas para a inclusão de pessoas com deficiência, procurando sempre se atualizar para desenvolver com plenitude seu nobre ofício baseado na ciência e no humanismo.

De personalidade forte e muito sincera, Sabah foi membro, há quase duas décadas, de diversos conselhos de controle social, quando, ao lado de colegas como a Psicóloga Marilza Pinheiro e as Professoras Iliane Esnarriaga e Ruth Esnarriaga, contribuiu para a efetivação de políticas públicas sociais em Corumbá. Foi nessa oportunidade que pude testemunhar sua sinceridade e compromisso com a qualidade de vida e a efetiva inclusão das pessoas com deficiência em um dos mais antigos centros urbanos do Brasil.

Filha de imigrantes sírios, Sabah fez de Corumbá sua razão de ser, sua família. Dedicou seu conhecimento e sua própria existência à população que acolheu com generosidade e hospitalidade a sua Família, como a todos os imigrantes que fazem do coração do Pantanal e da América do Sul um centro cosmopolita há mais de 150 anos. Tanto Sabah como seus Irmãos têm dedicado suas vidas e a de seus descendentes ao desenvolvimento com qualidade de vida do povo corumbaense nas diversas atividades em que atuam.

Sabah em árabe significa Manhã, semanticamente se remete ao alvorecer do dia, quando a claridade abre os horizontes da humanidade. Independentemente da religião, nacionalidade ou cultura, é da tradição das famílias do Oriente Médio, ao escolher o nome de uma filha ou de um filho, proporcionar um sentido, um ‘destino’ benfazejo a seu/sua descendente. E a Psicóloga Sabah deu sentido ao seu nome, à sua existência, ao propiciar às pessoas pelas quais dedicou sua Vida uma manhã alvissareira, promissora, com melhor qualidade de vida e condições de trabalho que assegurassem sua dignidade humana.

Sua breve, mas intensa, existência foi provedora de oportunidades, transformações, sonhos, esperanças e realizações para diversas gerações e inúmeras pessoas que se depararam com algum tipo de deficiência, mas que puderam se sobrepor a elas com a generosa participação profissional da incansável Psicóloga e Educadora (com letras maiúsculas) que, em tempo integral, fazia de seu ofício sua própria razão de ser.

Sabah se eterniza no momento em que a sociedade carece de abnegação e altruísmo que a caracterizaram. Seu legado de empatia e generosidade permanece vívido e fecundo junto às gerações que conviveram e testemunharam seu proceder profissional e humano. Nossa solidariedade e sinceros sentimentos à sua querida Família neste momento de luto e profunda dor.

Até sempre, Professora Sabah, e obrigado - chucran! - pelas incontáveis lições de sinceridade e generosidade compartilhadas ao longo de sua Vida!

Ahmad Schabib Hany

3 comentários:

Tereza E. disse...

Não a conheci. Mas pelo seu lindo texto deve ter sido alguém que fez diferença nesta vida.
Que siga na luz.

Estela Márcia disse...

Estamos em uma fase das nossas vidas (quem tem mais de 50) que contar as histórias de lutadores e lutadoras é um desafio revolucionário. Que bom que temos você, Schabib!

O caminho se faz ao caminhar disse...

Obrigado, de coração, queridas Amigas-Irmãs Estela e Tereza!
Há pessoas que costumam fazer preces em silêncio e até em voz baixa (alguns, de acordo com a sua denominação religiosa, em voz alta). Desde criança, costumo escrever sobre a pessoa que se eterniza, numa tentativa de perenizar sua presença na memória coletiva (a bem da verdade, sobretudo na minha cada vez mais precária memória).
Enquanto estiver em atividade, é o que farei. Mas é hora que as novas gerações encontre formas de fazer seu registro para a posteridade, pois é o mínimo que podemos fazer com as pessoas que dedicaram seus melhores momentos para a coletividade, muitas vezes abrindo mão de sua própria Vida "normal"...
Grande abraço, e a esperança de que tudo o que esses/as verdadeiros/as gigantes, como Vocês, consigam efetivar o que programaram, possam realizar tudo aquilo a que generosamente se dedicaram anônima e discretamente, porque (confesso que com muita dor), quando vejo os rumos que a humanidade vem tomando, a minha geração fracassou nesse sentido, ainda que tivéssemos tentado incansavelmente.