sábado, 20 de março de 2021

'QUANDO A CABEÇA NÃO PENSA, O CORPO PADECE'

‘QUANDO A CABEÇA NÃO PENSA, O CORPO PADECE’

É o que ensina a sabedoria popular. Em outras palavras, quando o governo não presta, o povo paga. Se antes da pandemia a coisa já estava ruim por deliberada falta de plano e diretrizes de governo, agora o caos toma conta de uma realidade insólita, degradante e desumana, sobretudo para as camadas populares, historicamente preteridas pelas elites tupiniquins...

Que o Brasil historicamente nunca foi o país da justiça social, isso não é novidade. No entanto, os quase 14 anos de políticas públicas sociais implementadas nos governos de Lula e Dilma o tornaram um país respeitado e reconhecido no concerto das nações como ‘potência da paz, da justiça social e do combate à fome’.

Também não é preciso dizer que desde maio de 2016, quando o golpista Michel Miguel Elias Temer Lulia ascendeu ao topo do Executivo brasileiro, todas as políticas sociais em curso foram de alguma maneira à deriva. Aliás, depois da posse do ex-capitão, políticas sociais viraram sinônimo de conspiração no governo atabalhoado dos ‘salvadores da pátria’...

E não é que o detentor do maior salário do Brasil teve a cara de pau de determinar seus prepostos da Advocacia Geral da União (AGU) para acionar o Supremo Tribunal Federal (STF) contra três governadores (do Distrito Federal, Rio Grande do Sul e Bahia) pela coragem cívica de decretar ‘lockdown’ em seus respectivos estados para tentar conter a proliferação descontrolada do novo coronavírus?

O que alega o governo federal é que essa é prerrogativa dele, ao confundir com “estado de sítio” ou de “estado de defesa”. Longe disso, a medida desses governadores está circunscrita ao que as medidas sanitárias restritivas pós-pandemia, estabelecidas em lei e decisão do STF, para conter a circulação do vírus nos municípios e estados brasileiros.

Logo ele, que em mais de dois anos de mandato ainda não disse a que veio. Ou melhor, desde a sua posse, manteve-se focado na propagação de outro vírus, o das fake news (do ódio e da mentira), para ‘alimentar’ seu rebanho e levar o país para o brejo, ou melhor, o caos...

Logo ele, que desde o primeiro registro de infectado por covid-19 em território pátrio dá uma de Pantaleão Patoaparte (personagem caricaturesca de Walt Disney dos anos 1970, caracterizada pelo comportamento ridiculamente quixotesco) e durante todo o ano da pandemia vem conspirando contra toda e qualquer tentativa séria de enfrentar o novo coronavírus por meio da ciência e da sensatez.

Logo ele, que dois dias depois de o Brasil ter atingido o tristemente inédito patamar de quase três mil óbitos por dia teve a infeliz atitude - por sinal, nada cristã, solidária e de respeito -, de fazer uma live para fazer piada de paciente com falta de ar (quando é seu governo o maior responsável pela tragédia vivida atualmente pelo povo brasileiro, cuja maioria o escolheu por ter acreditado em sua conversa).

Logo ele que, depois de ter ‘baixado a bola’ quando Queiroz, o ex-assessor faz-tudo do filho Flávio, foi descoberto foragido no escritório do próprio advogado do filho-senador, volta de novo com delírios golpistas, até por conta da proximidade da data emblemática a todos os órfãos e viúvos da ditadura, o primeiro de abril...

Logo ele que, sem qualquer demonstração de respeito à dor alheia, prevarica e tripudia da coletividade ao minimizar a importância e postergar deliberadamente a adoção de medidas como auxílio emergencial para pessoas, pequenas empresas e entes federativos poderem dar uma resposta minimamente digna à avassaladora crise que não poupa ninguém.

Por conta disso, na sexta-feira, 19 de março, o subprocurador-geral do Ministério Público Federal (MPF), Lucas Furtado, fez ao Tribunal de Contas da União (TCU) pedido de afastamento temporário do presidente e dos ministros da Saúde, Economia e Casa Civil (e seus respectivos secretários-executivos) das decisões administrativas, determinando ao vice-presidente a imediata substituição, com poderes de nomear outros ministros e assessores.

“O momento presente, então, em que a desídia e a inércia das autoridades federais ameaçam o sacrifício do valor supremo para qualquer sociedade civilizada - a vida humana - põe o TCU diante da tarefa urgente de, superando eventuais acanhamentos e com a coragem que a tragédia requer, reconhecer que cabe sua intervenção administrativa, que a população clama e requer, por todos e quaisquer meios que tiver a seu alcance, mesmo os mais extremos, para garantir a prestação mínima de serviços à população, ainda que a proteção ao erário não apareça em primeiro plano.”

Esse é um dos parágrafos do arrazoado que embasa o pedido de afastamento temporário desse ‘salvador da pátria’, que com o canto da sereia e o ajutório do aparelho ideológico de Steve Bannon, a matilha de doninhas domesticadas pelo Departamento de Justiça dos EUA (que atende pelo nome de trepanação leva jeito), os órfãos e viúvos da ditadura e os bispos neopentecostais fundamentalistas Crivela, Malafaia e Macedo, ‘levou no bico’ boa parcela do povo brasileiro, hoje refém desse nefelibata.

Ahmad Schabib Hany

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