DIA INTERNACIONAL DAS MULHERES: LUTA E LUTO
Nossa geração testemunhou a celebração, a partir
de 1976, do Dia Internacional das Mulheres, que antes era no singular. No
entanto, desde o golpe de 2016, no Brasil, passou a ser também dia de luta e de
luto, sobretudo depois que o fascismo foi inoculado no centro do Planalto
Central...
Lembro-me
como se fosse hoje. Em 1975, Ano Internacional da Mulher (no singular), cuja Conferência
Mundial, patrocinada pela ONU e realizada na Cidade do México, definiu esta
data em reconhecimento da imolação de mulheres tecelãs em Nova York, em 8 de março
de 1857.
Este
fato está presente não por acaso: nós (Juvenal Ávila de Oliveira, então
radialista; João de Souza Alvarez, à época fotógrafo, e eu, aprendiz de cidadão,
secundaristas da Escola Estadual Júlia Gonçalves Passarinho, orientados pelo
saudoso Professor Octaviano Gonçalves da Silveira Júnior) decidíramos criar
naquele ano um jornal intercolegial, “O Clarim Estudantil”, razão pela qual
registramos tudo que nos parecia importante. Por isso passamos a acompanhar,
entre outros/as, as grandes Jornalistas Irede A. Cardoso, Martha Alencar,
Heloneida Stuart, Moema Wiezer (autora de “Se me deixam falar”, com base em um
depoimento de Domitila Chungara, viúva de dirigente sindical mineiro da Bolívia
perseguido pela ditadura sanguinária de Hugo Banzer Suárez) e Oriana Fallaci
(em cuja juventude era progressista e libertária, diferentemente que quando
chegara à terceira idade, conservadora e profundamente eurocêntrica).
Obviamente,
antes e depois houve muitas conferências mundiais para tratar dos direitos das
mulheres e da infância na sociedade contemporânea. Tratar da emancipação
social, política, econômica e cultural das mulheres e do proletariado no mundo.
Entretanto, 1975 foi emblemático, pois a agenda política em todos os países
passou a incluir o tema como questão prioritária. Não houve Conferência Mundial
mais debatida que
ela, houve, sim, uma igualmente debatida, a Rio-92, que produziu a Agenda 21 e
que representou outra revolução silenciosa em nossas vidas.
O
Brasil, tanto na questão dos direitos das mulheres, da infância e adolescência,
do meio ambiente, da cultura, do trabalho e do combate à fome, foi modelo,
exemplo. Isso até 2016, quando democratas arrependidos se aliaram às hordas
fascistas, de milicianos e fundamentalistas neopentecostais para golpear não
Dilma Rousseff, Lula ou o PT, mas o Estado Democrático de Direito, construído
com muita luta ao longo do século XX. Hoje está comprovado o ardil não apenas
na autobiografia da caricatura de Amigo da Onça, Michel Miguel Temer Lulia, e
no livro-depoimento do general conspirador Vilas-Boas, mas nas revelações
comprometedoras da Vaza Jato, que deixaram expostos os fétidos glúteos
impregnados de sujeira da quadrilha que posava de “liga da justiSSa” (com dois “s”,
por sua formação nazifascista e pouco apreço ao vernáculo), os lavajatistas de
fazer inveja a Odorico Paraguaçu e a surreal Sucupira do genial Dias Gomes.
Pois
neste 8 de Março, permito-me reverenciar a luta das mulheres mediante as
mártires de todos os tempos nas pessoas de Marielle Franco, cuja execução ainda
não elucidada respinga em muitas figuras que participaram do golpe de 2016 (por
ação ou omissão), as mulheres que tombaram na pandemia, pela explícita omissão
dos genocidas que dizem governar mas não assumem as responsabilidades inerentes
aos mais altos cargos da República, nas pessoas da técnica de enfermagem Rosemeiri
Ajala, as matriarcas Camba e Guató Lucinda Surubi Arteaga e Sebastiana da Silva,
a Professora Vilma Cavalheiro de Souza (presidente do Centro Espírita Bezerra
de Menezes, eternizada no dia 7 de março), e as vítimas de violência empresária
Liane Arruda e médica Luz Mila Ledezma Ramallo, cujas honradas memórias
iluminam os horizontes civilizatórios da humanidade e inspiram a inesgotável
luta por melhores dias para todas e todos.
Ainda
mais nestes sombrios e autoritários tempos, em que autoproclamados arautos da “moral
e dos bons costumes” teimam em impor sua verdade a despeito da realidade ser
muito diferente da que veem, são as mulheres, incansáveis guerreiras de luz,
luta e labuta, a consolidar com firmeza e candura a necessária solidez de um
novo raiar, de um novo tempo, em que liberdade não seja uma palavra vã, como profetizou
o saudoso poeta e advogado libertário Ricardo Brandão nos anos 1970.
Longe
de estarmos num embate mesquinho, porque medieval, “do bem contra o mal”,
estamos, sim, em mais uma etapa de superação civilizatória, em que o
fundamentalismo terá que dar lugar à dinâmica, dialética, realidade, sem amos
nem senhores, mas iguais nas diferenças, semelhantes na diversidade, próximos
na variedade. Então, os patéticos seres que tomaram de assalto não passarão de
resíduos sólidos execrados pela História, como Adolf Hitler, Benito Mussolini,
António Salazar, Francisco Franco, Augusto Pinochet e Rafael Videla o foram...
Marielle
Franco presente, e com ela todas as mártires da covid-19, dos feminicidas, dos
milicianos, dos fascistas e todos os demais criminosos, que retornem ao lixo de
onde não deveriam ter saído!
Ahmad Schabib
Hany
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